Projeto define que legislação deve durar até 2032. Especialistas destacam urgência no tema. Eles consideram a reserva de vagas essencial para ampliar o acesso ao ensino, mas alertam as profundas desigualdades sociais exigem mais políticas públicas
FONTE: Por Luana Patriolino, do Correio Braziliense/9/12/2021
A Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara dos Deputados aprovou, na quarta-feira (8/12), o projeto que prorroga a Lei de Cotas nas universidades federais. A revisão da legislação visa estender o prazo para 2032. As cotas reservam vagas nas instituições do governo para pessoas de baixa renda, pretas, pardas e indígenas.
O presidente do colegiado, deputado federal Carlos Veras (PT-PE), comemorou a aprovação. “Foi uma grande vitória para a continuidade das políticas de cotas, essenciais para reparação histórica à população negra e de enfrentamento ao preconceito e à discriminação”, disse.
Para virar lei, o projeto, de autoria do deputado Birá do Pindaré (PSB-MA), e de relatoria da deputada Vivi Reis (Psol-PA), ainda precisa ser aprovado pelas comissões de Educação e de Constituição e Justiça (CCJ).
Racismo estrutural
Na avaliação do advogado constitucionalista e cientista político Nauê Bernardo de Azevedo, a proposta é fundamental para combater o racismo e igualar as oportunidades. “Mais do que a importância das cotas em si, é essencial que o Brasil reconheça e enfrente o racismo olhando para o fenômeno”, afirma. “As cotas sozinhas não resolvem o problema, mas contribuem para tirar a situação de “debaixo do tapete”. A cura para o racismo estrutural só virá após o diagnóstico e o devido enfrentamento, e as cotas são apenas parte do remédio”, defende Azevedo.
O advogado Beethoven Andrade, presidente da Comissão de Igualdade Racial da Ordem dos Advogados do Brasil do Distrito Federal (OAB-DF), destaca que a política de cotas no país é um tema ainda sensível. “Pois, em que pesem os avanços palpáveis, que conseguimos identificar com o acesso de pessoas negras, pardas, indígenas, dentre outros grupos racialmente identificados e tidos como minorias, às universidades e ao mercado de trabalho, o Brasil não superou as diferenças impostas para as pessoas integrantes dos grupos minoritários”, aponta.
“A prorrogação, sobretudo nesse momento, em que o ensino médio trará um novo cenário para o ingresso de estudantes pretos, pardos, indígenas e pessoas com deficiência, que são a maioria no ensino público, é a medida mais urgente que se impõe”, avalia Andrade.
Palavra de especialista
“A aprovação — pela Comissão de Direitos Humanos — para que a avaliação das Leis de Cotas seja realizada a cada 20 anos é um avanço de grande relevância. Nós, do movimento negro, já tínhamos um acúmulo de que essa política na verdade deveria ser de 30 anos.
O professor Hélio Santo pontua que para cada 10 anos de Brasil, sete ocorreram sobre o signo da escravidão. Nesse sentido, uma política como a de cotas em 10 anos não dá conta de reparar uma geração. Além disso, é importante colocar que para além da lei de contas, precisamos pensar também na política de permanência. Não é sobre apenas garantir o ingresso, mas possibilitar que esse estudante negro tenha condições de seguir com sua vida acadêmica.
Compartilho, por exemplo, a minha experiência, enquanto aluna da Universidade Federal Fluminense (UFF), tinha que fazer um malabarismo entre passagem e alimentação, considerando que eu saía da Praça Seca (Zona Oeste) e me deslocava até Niterói, em um curso que era integral.”
Tainá de Paula, Arquiteta, Urbanista e Ativista das Lutas Urbanas. Vereadora eleita pelo PT-RJ
Na última década, houve aumento de 30,3% na taxa de detecção do vírus em mulheres grávidas. Diagnóstico muitas vezes só é conhecido após o parto, e ativistas alertam para a falta de um olhar mais atento à relação entre maternidade e saúde sexual
FONTE: Por Agnes Sofia Guimarães*, do Gn. 9/12/2021
Uma vez, Júlia** ouviu de um companheiro que deveria aceitar as brigas e as agressões físicas como as únicas manifestações de amor que ela seria capaz de receber no dia a dia. Aceitou, continuou e, posteriormente, rompeu. Depois, em outro relacionamento, se viu presa no mesmo ciclo, em que amor e violência precisavam compor a mesma fórmula de barganha, diante de sua condição como mulher que convive com o vírus HIV.
“Depois do diagnóstico, eu ainda tive muitos companheiros, e ainda ouvi, de boa parte deles, que eu deveria estar grata por estar ali, porque ninguém aceitaria se relacionar com uma mulher com HIV. Parece que por isso eu merecia apanhar, ser xingada. Até em abrigo fui parar com meus filhos depois de ter sofrido violência doméstica”, conta.
Segundo boletim epidemiológico divulgado pelo Ministério da Saúde no dia 1º de dezembro – data que marca a Conscientização Mundial pelo Combate à Aids – houve uma diminuição de 25% de novos casos em 2020 em comparação a 2019 – 32.701 registros no último ano, diante de 43.312 notificações do anterior. A queda, adverte o Ministério da Saúde, pode estar relacionada a uma possível subnotificação, devido ao momento emergencial da pandemia.
Homens ainda apresentam mais infecção por HIV do que mulheres: de 2007 até junho de 2021, foram notificados 266.360 (69,8%) casos em homens e 115.333 (30,2%) em mulheres. São 28 diagnósticos entre homens para cada 10 mulheres. Entre os homens, 39,4% são brancos e 51,7%, negros. Já entre as mulheres, 35,9% dos casos concentram-se em brancas e 55,1%, em negras.
O boletim também aponta que, nesta última década, houve aumento de 30,3% na taxa de detecção de HIV em gestantes. Em 2020, ela passou a ser de 2,7 casos para mil nascidos vivos. Entre 2000 e junho de 2021, foram 141.025 casos. A pasta atribui o aumento dos números à ampliação do diagnóstico, já possível no pré-natal, e aos avanços para evitar a transmissão vertical (da mãe para o filho). Em 2021, 64,4% das gestantes diagnosticadas com o vírus são negras; até junho deste ano, elas contabilizaram 2758 dos 4280 casos já registrados.
Gestantes com o vírus HIV em 2021
Pandemia e recortes raciais
Coordenadora-geral da Gestos – Soropositividade, Comunicação e Gênero, Alessandra Nilo aponta que o período abordado pelo boletim do MS acentuou uma falta de percepção sobre a necessidade de atenção completa ao combate e à prevenção ao vírus HIV que, segundo ela, ficou por vezes muito restrita à facilitação do acesso aos remédios – resolução excepcional do Ministério permitiu que prescrições tivessem validade indeterminada durante o período mais crítico da pandemia. Dessa forma, os pacientes podiam retirar medicamentos em maior quantidade, saindo menos de casa e evitando consultas médicas apenas para receber novas receitas.
“Foi o momento em que observamos uma dificuldade geral de acesso à saúde, mais preocupante no caso do HIV quando lembramos que, para o tratamento, é preciso muito mais do que acesso a medicamentos, mas sim uma atenção continuada de médicos, laboratórios. E no caso da prevenção, nós também ficamos preocupados porque foi algo que deixou de ser pauta no momento em que foi preciso fazer escolha sobre para qual pandemia olhar”, lamenta.
Segundo o relatório da UNICEF HIV and Aids Global Snapshot, pelo menos 300 mil crianças foram infectadas pelo HIV em 2020, ou uma criança a cada dois minutos. No mesmo período, outras 120 mil crianças morreram de causas relacionadas à AIDS, ou uma criança a cada cinco minutos. Os dados são um alerta para um problema que, de acordo com ativistas, sempre foi invisibilizado e acabou potencializado com a pandemia: a relação entre o vírus HIV e a saúde materna.
Ativista do Movimento Nacional das Cidadãs Posithivas, Silvia Aloia acredita que, apesar do período apontar uma preocupação menor com campanhas pela prevenção ao HIV para a população de modo geral, mulheres sempre foram invisibilizadas nas campanhas mesmo antes da pandemia.
“Não colocar a mulher no centro ajuda até a reforçar estigmas sobre qual tipo de atenção uma mulher pode receber da saúde. É como se, quando ela não está no que é considerado grupo de risco, não é profissional do sexo ou usuário de drogas, ela não precisasse fazer testagens durante o parto ou conhecer outros métodos de prevenção. Nesses momentos, é uma invisibilidade da saúde integral daquela mulher, que só é vista como reprodutora, e esquecem que é necessário também, cuidar da sua sexualidade”, critica.
Alessandra Nilo também destaca que, como consequência da falta de atenção aos casos de HIV em mulheres, muitas delas recebem um diagnóstico tardio que pode gerar complicações para a gestação e para a saúde da criança.
“Temos muitos casos, na Gestos, em que as mulheres faziam testes durante a gravidez, mas só sabiam do resultado depois do parto. É algo sintomático de como ainda não temos a devida atenção à saúde materna no Brasil como todo, sobretudo no período do pré-natal”, critica.
Hoje, Júlia está concluindo um curso técnico de enfermagem. Durante o processo, ela, que tem a pele clara e sempre ouviu de amigos e familiares que era “morena”, também se descobriu negra – o que a fez pensar sobre o tratamento que recebeu em relacionamentos abusivos e nas várias vezes em que buscou acesso à saúde ou emprego.
“Eu só me descobri negra aos 30 anos, mas isso para mim é o bastante para entender como marcou meu convívio com o próprio HIV e com as minhas experiências de vida. Agora eu sei e conto aos meus filhos que eles também são negros, porque acredito que quando a gente sabe, entende porque as coisas acontecem da forma como aconteceram, e também sobre como vai ser meu olhar como mulher e como profissional quando eu começar a trabalhar”, pontua.
“NÃO COLOCAR A MULHER NO CENTRO AJUDA ATÉ A REFORÇAR ESTIGMAS SOBRE QUAL TIPO DE ATENÇÃO UMA MULHER PODE RECEBER DA SAÚDE. É COMO SE, QUANDO ELA NÃO ESTÁ NO QUE É CONSIDERADO GRUPO DE RISCO, NÃO É PROFISSIONAL DO SEXO OU USUÁRIO DE DROGAS, ELA NÃO PRECISASSE FAZER TESTAGENS DURANTE O PARTO OU CONHECER OUTROS MÉTODOS DE PREVENÇÃO. NESSES MOMENTOS, É UMA INVISIBILIDADE DA SAÚDE INTEGRAL DAQUELA MULHER, QUE SÓ É VISTA COMO REPRODUTORA, E ESQUECEM QUE É NECESSÁRIO TAMBÉM, CUIDAR DA SUA SEXUALIDADE”
– Silvia Aloia, ativista do Movimento Nacional das Cidadãs Posithivas
A coordenadora da Gestos também alerta para a necessidade de trazer a questão racial para o centro da discussão quando se observam os casos de HIV no Brasil.
“Mulheres negras acabam somando com mais gravidade problemas que já estão acentuados em todas as mulheres. Por uma questão de estigma, observamos como elas acabam sendo mais expostas a várias situações de violências, que já começam com uma dificuldade maior de negociar o uso de preservativo com seus companheiros, as agressões nos relacionamentos, que também podem resultar na infecção do vírus, e a dificuldade para o acesso à informação”, enumera Nilo.
Estratégias combinadas de prevenção ao vírus HIV
Acesso à prevenção combinada
Durante o mês de dezembro, as campanhas de conscientização ao combate da AIDS buscam destacar a importância do uso de preservativos, combinados a outras estratégias de prevenção, sempre adequada às condições de vida da pessoa. Entre elas, destacam-se o uso de preservativos, testagens e de acompanhamento, no caso de gestantes, para evitar a transmissão vertical do vírus HIV. As atenções também estão voltadas para as PREPs (Profilaxias Pré-Exposição) e PEPs (Profilaxias Pós-Exposição).
As PREPs são usos contínuos de remédios combinados (tenofovir + entricitabina), de fórmula similar aos medicamentos usados no tratamento de pessoas já diagnosticadas com o vírus HIV, e que podem reduzir em mais de 90% as chances de infecção. Elas são oferecidas desde que o paciente realize, a cada três meses, exames de acompanhamento do seu uso, além de testes para infecções sexualmente transmissíveis (ISTs).
Já as PEPs são recursos emergenciais e utilizados, principalmente, em casos de relações sexuais desprotegidas, e são compostos por medicamentos retrovirais similares às PREPs.
Segundo o Ministério da Saúde, homens gays e que fazem sexo com outros homens (definição utilizada pela pasta para bissexuais ou para homens que não se declaram homossexuais) e mulheres cis são os grupos que mais recebem atendimentos com PEPs. Em relação às PREPs, o primeiro grupo é o que mais demanda pelo serviço.
Médica infectologista do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, Karen Morejon trabalha diariamente com a oferta de PrEP e PEPs. Ela diz que ainda falta às pessoas o conhecimento sobre estes métodos, pois poderiam ser uma porta de entrada para atenção maior à saúde sexual, principalmente para as mulheres que ainda têm dificuldades em assimilar problemas em relações sexuais desprotegidas. Para ela, quando pacientes conhecem as opções desse tratamento, passam a ter mais chances de compreender a importância da prevenção como um todo, integrada a outros métodos, como o uso dos próprios preservativos.
“Muitas mulheres acabam sendo mais vulneráveis, já que estão presas em situações em que seus parceiros se recusam a usar qualquer tipo de preservativo durante a relação. Conhecer a prevenção combinada poderia ser importante para que pudessem entender melhor que estão em risco, já que nem sempre elas conseguem se enxergar dessa forma”, explica.
*Agnes Sofia Guimarães é repórter da Gênero e Número
** O nome da entrevistada foi alterada para preservar sua identidade
Em decisão unânime, durante reunião extraordinária realizada hoje, o Iphan (Conselho Consultivo do Patrimônio Cultural do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) declarou as matrizes tradicionais do forró como patrimônio cultural do Brasil.
O conselho, formado por representantes de instituições públicas, privadas e da sociedade civil, também elegeu o forró como um super gênero musical, por reunir ritmos nordestinos, entre eles, o xote, xaxado, baião, chamego, a quadrilha, o arrasta-pé e o pé-de-serra.
O pedido de registro para tornar o forró patrimônio cultural foi feito em 2011 pela Associação Cultural Balaio do Nordeste, do estado da Paraíba.
Nos últimos dez anos, em parceria com comunidades detentoras, foi realizada a descrição detalhada das matrizes tradicionais com registro documental e audiovisual.
A relatora da proposta
A conselheira Maria Cecília Londres, relatora da proposta, fez uma ampla explanação sobre as origens do ritmo musical nordestino e da palavra forró.
A relatora destacou a relevância do forró por englobar atividades como artesanatos, orquestras sanfônicas, escolas de dança, preservação de instrumentos (rabeca, sanfona, triângulo, pífanos, zabumba etc).
Maria Cecília citou também a importância das organizações de forrozeiros, criadas em vários estados para manter vivo o forró.
Ao concluir seu voto, a relatora disse ser plenamente a favor do registro das matrizes tradicionais do forró como patrimônio cultural do Brasil.
O EncenaAÇÃO, projeto desenvolvido no CAp desde 1997 com estudantes das 3 turmas de Artes Cênicas do 2o ano do Ensino Médio e com a participação de bolsistas de Direção Teatral, Dança e Indumentária, chega ao seu 25º ano com o seu segundo espetáculo virtual.
Desta vez, escolhemos adaptar algumas cenas dos textos Torquemada e Revolução na América do Sul, de Augusto Boal, articulando-as com o momento atual.
Assim como em 2020, o espetáculo deste ano foi montado integralmente de forma remota, em plataformas e mídias digitais. Foi mais um ano desafiador para nós, docentes, equipe e, principalmente, para o grupo de estudantes-atrizes/atores. Afinal, o ensino remoto os lançou na complexa arte de, além da trabalharem na construção de seus personagens, criarem seus ambientes-cenário e seus figurinos a partir do que tinham em casa, sob a cuidadosa orientação de diretorxs e figurinista. Ademais, o desafio de participar dos encontros síncronos e ensaios remotos, enfrentando enormes dificuldades de conexão, continuou.
Mesmo assim, Dionísio, deus do teatro, que está sempre conosco, provou o quão ricos foram os encontros, mesmo que à distância. Evoé!
O resultado vocês verão, ao vivo, na estreia dia 11/12.
Como parte da campanha 16 + 5 Dias de Ativismo Pelo Fim da Violência Contra as Mulheres, o Centro de Referência para Mulheres Suely Souza de Almeida (CRM-SSA) convida você para o webinário Violência Patrimonial – Dificuldades no Processo de Responsabilização, que ocorrerá no dia 9 de dezembro, às 14h, no canal do Youtube do CRM-SSA.
Para debater o tema, convidamos:
– Cristiane Brandão – Professora da FND/UFRJ e do Programa de Pós-Graduação do NEPP/DH/UFRJ, pós-doutora em Estudos de Gênero, coordenadora do Grupo Pevige e do curso de Pips.
– Jeanne Freitas Bezerra – Empresária da área de Offshore
As inscrições deverão ser feitas pelo link abaixo:
O projeto de extensão realizado em parceria com o Sintufrj oferece vagas para o curso preparatório para a prova do Encceja, possibilitando a obtenção do certificado de conclusão do Ensino Fundamental e/ou Médio.
Não aceitamos que a categoria seja submetida a supletivos privados de procedência duvidosa, gerando mil constrangimentos e ações judiciais.
Para nós, educação é coisa séria. O projeto é coordenado por técnicos, apoiado pelo sindicato e conta com estudantes da UFRJ como bolsistas.
Modalidade do Curso: À distância
Público-alvo: Trabalhadores que não concluíram o ensino fundamental e/ou Ensino médio.
Data de Início: 13/12/2021
Data de Término: 03/06/2022
Horário: segunda a sexta, de 14 às 17 horas.
Proposta do GAET só é boa para os patrões. Precariza o trabalho, cria insegurança jurídica e tira dos sindicatos a tarefa legítima de representação coletiva da classe trabalhadora
O governo Bolsonaro engatilha mais um ataque à classe trabalhadora ao acenar com uma nova reforma trabalhista, apesar de o país sofrer com desemprego recorde e enfrentar crise econômica e social sem precedentes na história recente.
Dessa vez, o presidente negacionista quer basear seu projeto em estudo encomendado e elaborado por “especialistas” na medida exata para satisfazer somente patrões e precarizar ainda mais a vida da classe trabalhadora e as relações no mundo do trabalho.
“Toda a lógica dessa proposta é voltada a dar a máxima proteção e segurança jurídica apenas às empresas e nada aos trabalhadores, legalizando a precarização do trabalho e até protegendo a fraude trabalhista”, afirma o presidente nacional da CUT, Sérgio Nobre, para definir o relatório elaborado pelo GAET (Grupo de Altos Estudos do Trabalho), criado pelo governo (por meio da portaria 1.001, de 4 de setembro de 2019) e entregue, ao governo Bolsonaro, em 29 de novembro, para subsidiar uma nova proposta de reforma trabalhista.
Para Sérgio Nobre, “o objetivo principal desse relatório é concluir o serviço sujo feito contra a classe trabalhadora pela reforma trabalhista aprovada em 2017, no então governo ilegítimo de Michel Temer. (MDB-SP). O GAET, segundo o governo, é “composto por ministros, desembargadores e juízes da justiça do trabalho, procuradores, economistas, pesquisadores, além de advogados especialistas em relações do trabalho”. “A maioria ligada ou representativa do setor patronal”, conforme o presidente nacional da CUT.
“O governo Bolsonaro convocou especialistas ligados a empresários e elaborou um documento de mudanças trabalhistas sem ouvir, consultar, enfim, sem nenhuma participação dos representantes legítimos da classe trabalhadora”, critica Sérgio Nobre.
O documento elaborado pelo GAET, que, segundo o governo, “está em avaliação”, apresenta propostas de mudanças na CLT e na Constituição. Traz pelo menos 330 alterações em dispositivos legais, a inclusão de 110 regras, alteração de 180 e revogação 40.
“São 262 páginas de relatório, que eu posso resumir assim: retira direitos da classe trabalhadora, flexibiliza contratações, precariza o trabalho, cria insegurança jurídica, exclui e reduz o papel do sindicato”, afirma o presidente nacional da CUT, ao lembrar que a reforma trabalhista de 2017 “foi criada sob a falsa justificativa de gerar 6 milhões de empregos, mas só causou destruição”.
Essa proposta, reitera Sérgio Nobre, visa fechar as brechas que flexibilizam, precarizam e legalizam a precarização e as formas de contratação e criam mais garantias para as empresas contra questionamentos que surgiram após a aprovação da reforma trabalhista de Temer, há quatro anos. Por isso, complementa o dirigente, a proposta do GAET objetiva dar garantia jurídica para que as empresas possam fazer contratações precárias sem serem questionadas pela Justiça como vem ocorrendo.
O presidente nacional da CUT explica: “em diferentes instâncias da Justiça do Trabalho, muitas negociações coletivas, ações do Ministério Público do Trabalho e de vários órgãos da sociedade questionaram aspectos da reforma de 2017; agora, o governo quer fechar as portas que o Judiciário e o MPT tentaram abrir questionando aquela reforma”.
Outro mote dessa proposta precarizante, segundo o presidente nacional da CUT, é concluir a reforma naquilo que não foi tratado há quatro anos”. Por exemplo: a regulação do trabalho por aplicativo e a regulamentação dos trabalhos aos domingos.
“Não é aceitável um estudo voltado a subsidiar uma proposta de reforma que estipula que o trabalhador tenha que trabalhar sete domingos seguidos para ter direito a folgar apenas um e que proíbe o vínculo empregatício a prestadores de serviço por aplicativos”, afirma o presidente nacional da CUT.
Ataque aos Sindicatos
As mudanças apresentadas pelo GAET ao governo federal querem tirar os sindicatos do mundo do trabalho. “O objetivo é ampliar as iniciativas que excluem os sindicatos da tarefa de representação coletiva, restringindo, ao máximo, a atuação sindical”, explica Sérgio Nobre. Pela proposta, o sindicato só poder representar o associado.
Para o presidente nacional da CUT, o resultado do relatório do GAET não representa todos os empresários do país, porque parte do setor patronal não concorda com as mudanças propostas, porque sabem que, se implementadas, e provocarão uma desorganização sindical que vai gerar mais conflitos entre trabalhadores e empresas.
“Imagina só se cada agência bancária tiver três sindicatos diferentes, com quem o patrão vai negociar. O governo quer promover um pseudopluralismo cujo único objetivo é fragilizar a organização sindical”, exemplifica.
Sérgio Nobre afirma que a CUT, assim como o Fórum das Centrais Sindicais que integra, estão preparados para a luta contra esse conjunto de propostas que pode vir a ser usado pelo governo para disparar uma nova reforma trabalhista. “Vamos denunciar, resistir, lutar e vencer, como fizemos contra a Medida Provisória 1.045, que não passou no Congresso graças a nossa mobilização”.
A MP 1045 foi e seus “jabutis” (dispositivos estranhos ao texto) foram arquivadas em setembro deste ano. Derrotada no Senado, a medida previa uma nova reforma trabalhista com a criação de regimes de contratação sem a garantia de direitos previstos na CLT para legalizar a precarização.
“Foi uma importante vitória para a classe trabalhadora, conseguida por meio da nossa atuação institucional realizada dentro do Congresso Nacional, com muita pressão sobre os parlamentares, e da luta da base sindical, que foi para as ruas e redes sociais, os aeroportos e bases parlamentares, dizer não a essa medida inconstitucional”, lembra o presidente nacional da CUT.
“A rejeição da MP 1.045 pelo Senado foi resultado do trabalho institucional muito bem feito e bem organizado pelo movimento sindical dentro do Congresso Nacional, uma conquista da unidade das centrais sindicais”, afirma Sérgio Nobre.
“Vamos fazer tudo de novo, se essa proposta vier a ser feita pelo governo, porque não me cansarei de repetir: trabalho sem direitos é escravidão”, completou o presidente nacional da CUT.
O tema central a ser discutido no país, afirma Sérgio Nobre, é a geração de empregos de qualidade, a inclusão social, a defesa da democracia e a recuperação da soberania. Esse é o centro do debate a ser feito, essa é a discussão prioritária e urgente para a classe trabalhadora e para todos os brasileiros e brasileiras.”
Estudos preliminares da BioNTech e Pfizer demonstram que três doses de sua vacina contra a covid-19 neutralizam a variante ômicron do coronavírus. Segundo comunicado das empresas divulgado na quarta-feira (8), o resultado obtido um mês após a terceira dose é comparável ao observado após duas doses contra outras cepas.
No comunicado, os fabricantes também explicaram que duas doses da vacina resultaram em um número de anticorpos neutralizantes significativamente mais baixo, mas que uma terceira dose aumenta a quantidade em 25 vezes.
Ainda de acordo com a Pfizer e BioNTech, mesmo com a queda dos anticorpos neutralizantes após duas doses, o imunizante segue protegendo contra as formas graves da doença. “Embora duas doses da vacina ainda possam oferecer proteção contra forma grave causada pela cepa ômicron, a partir desses dados preliminares está claro que a proteção é melhorada com uma terceira dose”, disse Albert Bourla, presidente e CEO da Pfizer.
A aplicação das três doses da Pfizer, no Brasil, está liberada desde novembro, após a autorização concedida pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). A dose de reforço é indicada para maiores de 18 anos e deve ser aplicada seis meses depois da segunda aplicação.
Especialistas comentam
O pesquisador e divulgador científico Atila Imarino reforça a necessidade da vacinação diante da facilidade da ômicron conseguir circular mais entre vacinados do que as outras linhagens do coronavírus. “Primeiros resultados de Omicron contra as vacinas saindo, com sinais de que ela escapa parcialmente da imunidade da Pfizer com duas doses, mas não completamente. Curados que tomaram duas doses continuaram mais protegidos. Ou seja, tome sua dose de reforço e, mesmo se teve Covid, se vacine”, tuitou.
Para a biomédica e coordenadora da Rede de Análise Covid-19, Mellanie Fontes-Dutra, a notícia divulgada pela Pfizer é mais um ponto para que seja feito o reforço vacinal no Brasil. Por meio de seu perfil no Twitter, ela explicou como funciona o “escape parcial de anticorpos neutralizantes”.
“Isso significa que a variante, por exemplo, consegue ‘driblar’ alguns anticorpos. Não todos. Ou seja, tem ainda muito anticorpo que se liga e neutraliza ela. Isso não significa perda de proteção. A proteção imunológica não é só anticorpo neutralizante. Há vários outros tipos de anticorpos que tem relevância. Ainda, temos as células do sistema imunológico, que são muito menos dribláveis, cujas zonas de reconhecimento seguem bem conservadas (ou seja, bem ‘parecidas’ entre as variantes). O sistema imune soma muitas camadas de defesa, e nós devemos nos inspirar nisso e fazer o mesmo”, afirmou a cientista.
O Brasil registrou oficialmente 233 mortes ligadas à covid-19 nesta quarta-feira (8), segundo dados divulgados pelo Conselho Nacional de Secretários da Saúde (Conass).
Também foram confirmados 10.055 novos casos da doença. Com isso, o total de infecções reportadas no país chega a 22.167.781, e os óbitos oficialmente identificados somam 616.251.
Diversas autoridades e instituições de saúde alertam, contudo, que os números reais devem ser ainda maiores, em razão da falta de testagem em larga escala e da subnotificação.
A média móvel de novas mortes (soma dos óbitos nos últimos sete dias e a divisão do resultado por sete) está em 184 e a média móvel de novos casos, em 8.844.
Já a taxa de mortalidade por grupo de 100 mil habitantes subiu para 293,2 no Brasil, a 11ª mais alta do mundo, atrás apenas de alguns pequenos países europeus e do Peru.
Em números absolutos, o Brasil é o segundo país do mundo com mais mortes, depois dos Estados Unidos, que somam mais de 790 mil óbitos. É ainda o terceiro país com mais casos confirmados, após EUA (49,3 milhões) e Índia (34,6 milhões).
O Conass não divulga o número de recuperados. Segundo o Ministério da Saúde, 21.386.271 pacientes haviam se recuperado da doença no Brasil até a noite de terça-feira.
No entanto, o governo não especifica quantos desses recuperados ficaram com sequelas ou outros efeitos de longo prazo. A forma como o governo propagandeia o número de “recuperados” já foi criticada por cientistas, que classificam o número como enganador ao sugerir que os infectados estão completamente curados da doença após a fase aguda ou alta hospitalar.
Estudos no exterior estimaram que entre 10% e 38% dos infectados sofrem efeitos da “covid longa” meses após o vírus ter deixado o organismo. Um estudo alemão apontou que sequelas podem surgir até meses depois da fase aguda da doença. Já uma pesquisa da University College London em 56 países listou mais de 200 sintomas observados em pacientes com sequelas pós-covid.
Ao todo, mais de 266,8 milhões de casos de infecção foram registrados no mundo desde o início da pandemia. Também foram confirmados 5,26 milhões de mortes em decorrência da doença, segundo contagem da Universidade Johns Hopkins, dos EUA.
As Centrais Sindicais unem-se a movimentos populares e organizações da sociedade na luta para garantir alimentos, neste final de ano, à população vulnerável, desempregada e em insegurança alimentar, um contingente que já ultrapassa 125 milhões de brasileiros e brasileiras. De 10 de dezembro a 6 de janeiro, CUT, Força Sindical, UGT, CTB, CSB, NCST, CSP-Conlutas, Intersindical Central da Classe Trabalhadora, Intersindical Instrumento de Luta da Classe Trabalhadora e Pública Central do Servidor e seus sindicatos filiados irão se somar à campanha nacional “Natal Sem Fome: cultivando a solidariedade”, impulsionada pelo MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra).
O objetivo é arrecadar recursos financeiros e alimentos para montagem de cestas básicas com produtos da agricultura familiar para distribuição às famílias em situação de insegurança alimentar e apoiar as cozinhas comunitárias e marmitas solidárias que atendem desempregados e população de rua.
O Brasil sob o desastroso governo de Jair Bolsonaro chega ao final de 2021 em meio à sua mais grave crise social e econômica, o pior momento da história recente para a classe trabalhadora.
Mais da metade (59,3%) da população – 125,6 milhões de brasileiros – sofrem hoje algum grau de insegurança alimentar. Desse total, pelos menos 20 milhões acordam e dormem sem ter o que comer, ou seja, passam fome. O desemprego recorde, a pandemia da Covid-19 negada por Bolsonaro e a alta geral nos preços empurraram o Brasil de volta ao Mapa da Fome, de onde o país havia saído em 2014, por meio de programas e ações exitosas adotadas nos governos de Lula e Dilma.
Além de negar a pandemia, incentivar o uso de tratamentos ineficazes, boicotar o isolamento e a vacina, o governo Bolsonaro, ao acabar com o Programa Bolsa Família e o Auxílio Emergencial, deixou 29,4 milhões de brasileiros pobres sem nenhum apoio. Essa é a diferença entre o número de pessoas atendidas pelos programas que terminaram e aquelas que terão acesso ao Auxílio Brasil.
As Centrais Sindicais, desde o início da pandemia, convocaram e mobilizaram os seus sindicatos de base a realizar campanhas de doação de alimentos e itens essenciais à sobrevivência da população em situação vulnerável, em especial, trabalhadores desempregados. Em todo o Brasil, o movimento sindical atendeu o chamado, arrecadou e distribuiu milhares de toneladas de alimentos, produtos de limpeza e de higiene, vendeu gás de cozinha e combustível a preço justo, usando as estruturas dos sindicatos. Não trata-se de assistencialismo, mas sim de ação solidária no momento em que falta comida e falta governo ao Brasil.
A proximidade das celebrações de fim de ano e o agravamento da crise social exige que nossas ações sejam intensificadas. Não bastasse a fome e o desemprego, vemos, nas últimas semanas, intensificarem-se as ameaças de despejo de famílias em ocupações no campo e na cidade. A solidariedade da classe trabalhadora nunca foi tão necessária e o movimento sindical responderá como sempre tem respondido, junto ao povo e pelo povo.
Brasil, 6 de dezembro de 2021
Sérgio Nobre, presidente da CUT (Central Única dos Trabalhadores)
Miguel Torres, presidente da Força Sindical
Ricardo Patah, presidente da UGT (União Geral dos Trabalhadores)
Adilson Araújo, presidente da CTB (Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil)
José Reginaldo Inácio, diretor da NCST (Nova Central Sindical de Trabalhadores)
Antônio Neto, presidente da CSB, (Central dos Sindicatos Brasileiros)
Atnágoras Lopes, secretário Executivo Nacional da CSP-Conlutas
Edson Carneiro Índio, secretário-geral da Intersindical (Central da Classe Trabalhadora)
José Gozze, presidente da Pública, Central do Servidor
Emanuel Melato, coordenação da Intersindical Instrumento de Luta