Em uma série de reportagens, Estadão denuncia a criação de um orçamento secreto com cerca de R$ 3 bi em emendas que beneficiam parlamentares do Centrão que defendem o desgoverno Bolsonaro no Congresso  

Publicado: 10 Maio, 2021 – Escrito por: Redação CUT

Em troca do apoio do Centrão no Congresso Nacional, o presidente Jair Bolsonaro (ex-PSL) criou, no final de 2020, um orçamento secreto com cerca de R$ 3 bilhões em emendas que beneficiam especialmente os parlamentares que apoiaram os candidatos do governo nas eleições para as presidências da Câmara (Arthur Lira, do PP de Alagoas) e do Senado (Rodrigo Pacheco, do Dem de Minas Gerais), releva reportagem exclusiva do jornalista Breno Pires, do jornal o Estado de S. Paulo.

Entre os que mais conseguiram recursos do esquema que turbinou as verbas que os parlamentares têm direito de enviar às suas bases eleitorais para ações voltadas a atender prefeituras e associações aliadas, está o ex-presidente do Senado Davi Alcolumbre (DEM-AP), um dos mandachuvas do Bolsolão, como o esquema denunciado está sendo chamado nas redes sociais.

Todos os anos, os parlamentares têm direito a indicar, no máximo, R$ 8 milhões, cada um, para bancar suas emendas. O valor corresponde à metade da cota total de emendas impositivas individuais que deputados e senadores têm direito a enviar. A outra metade deve ir, obrigatoriamente, para a saúde. Essa regra vale para todos os 513 deputados e 81 senadores.

Com o Bolsolão, só Alcolumbre determinou a aplicação de R$ 277 milhões de verbas públicas do Ministério do 

Desenvolvimento Regional. Mandou mais que o ministro Rogério Marinho. Se fosse liberar a verba pelas vias convencionais, o ex-presidente do Senado levaria 34 anos, já que cada parlamentar tem direito a direcionar apenas R$ 8 milhões ao ano, aponta a reportagem.

Alcolumbre enviou R$ 81 milhões à Codevasf, estatal sob seu controle. Os documentos ainda mostram que o senador destinou R$ 10 milhões para obras e compras fora do Amapá. As máquinas seriam destinadas a prefeituras para auxiliar nas obras em estradas nas áreas rurais e vias urbanas e também nos projetos de cooperativas da agricultura familiar no Paraná.

As reportagens revelam que o Bolsolão comprou tratores e equipamentos agrícolas por valores até 259% acima do preço de referência no mercado. Os dados do esquema, semelhante ao dos Anões do Orçamento – grupo de congressistas que, entre 1980 e 1990, fraudaram recursos do Orçamento da União -, foram encontrados em 101 ofícios enviados por deputados e senadores ao Ministério do Desenvolvimento Regional. Esses ofícios, de acordo com o jornalista, mostram que esse esquema também atropela leis orçamentárias, já que são os ministros e não os parlamentares que deveriam definir onde aplicar os recursos.

O esquema atropelou pelo menos três itens da Lei das Diretrizes Orçamentárias (LDO) e posições assumidas por Bolsonaro na campanha campanha e já no exercício do mandato diz o repórter Breno Pires: 1) a lei determina que sejam estabelecidos critérios para definição das localidades beneficiadas; 2) sejam apresentados indicadores socioeconômicos ao distribuir os recursos; e, 3) os recursos devem priorizar a continuidade de obras iniciadas.

Bolsolão, segundo o Estadão, turbinou Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf), estatal loteada pelo Centrão. O grupo vai aplicar cerca de um terço dos recursos repassados por imposição dos políticos que a controlam. O jornal lembra que a Codevasf foi criada durante a ditadura militar e tem uma história marcada por corrupção e fisiologismo. Neste ano, conseguiu um orçamento recorde de R$ 2,73 bilhões, composto principalmente por emendas, mas o governo fez cortes, diz a reportagem. 

Os mandachuvas do Bolsolão

Além de Alcolumbre, os outros mandachuvas do Bolsolão são o presidente do PP e líder da tropa de choque bolsonarista na CPI da Covid Ciro Nogueira, e a secretária de Governo de Bolsonaro, Flávia Arruda (PL-DF), ainda segundo o Estadão. Outros membros do esquema já identificados são os deputados: Lúcio Mosquini (MDB-RO), Ottaci Nascimento (SD-RR), Bosco Saraiva (SD-AM) Rodrigo Cunha (PSDB-AL) e Vicentinho Junior (PL-TO).           

Para a colunista Rosângela Bittara série de reportagens do jornalista Breno Pires sobre “verbas secretas, superfaturamento, direcionamento de valores acima da referência para aquisição de determinados itens do cancioneiro parlamentar, como tratores e retroescavadeiras”, nada mais é do que “um clássico da corrupção com recursos do Orçamento Federal”.

 

 

 

 

A UFRJ iniciou campanha em busca de doação para a recuperação do prédio da reitoria, atingido por um segundo incêndio em abril. Com arquitetura arrojada e galerias envidraçadas, o prédio – que chegou a ser premiado em bienal internacional – mostra sinais de abandono que traduzem o tamanho do drama financeiro da universidade.

A situação é tão grave que a reitora Denise Pires de Carvalho foi aos jornais anunciar que a maior universidade da rede de federais pode fechar as portas nas próximas semanas. Falta dinheiro para despesas básicas como luz, água, segurança e limpeza. A UFRJ não tem como continuar funcionando com o orçamento disponível.

Nesses tempos de pandemia é repetitivo insistir na importância da universidade pública para a sociedade. A experiência vivida por centenas de servidores da UFRJ revela impulso solidário que salva vidas nos nossos hospitais e a busca na ciência as alternativas em defesa da vida.

O movimento é desafiador para a UFRJ. Na história recente da instituição não há precedente da gravidade da situação imposta pela excrescência de um governo que despreza a ciência, a saúde pública, a cultura, as artes e todos os trabalhadores envolvidos no dia a dia da educação pública.

A campanha de doação para recuperar a joia arquitetônica que é o prédio da reitoria é também o momento de construirmos um vigoroso movimento de engajamento da comunidade universitária em defesa da universidade.

 

 

O novo app lançado pelo governo federal para unificar em uma única plataforma os diversos acessos aos serviços públicos digitais, denominado “SouGov”, entrou em operação ontem. A apresentação, em live anunciada incessantemente pelo Sigepe, confunde mais do que explica. Para piorar, o app apresentou problemas no cadastramento de e-mails funcionais e servidores que tentaram acessá-lo relataram “travamentos”. Em suma, um fracasso.

O objetivo do sistema, segundo a apresentação, é promover uma relação direta entre o governo e os servidores, dispensando a intermediação das áreas de gestão de pessoal dos órgãos e autarquias. Na prática, o governo avança na centralização e, no caso das universidades, restringe a autonomia administrativa, passando a processar serviços e solicitações diretamente.

Do ponto de vista da proteção dos dados, o aplicativo já possui acesso a diversos bancos de dados do governo (TSE, Denatran, Sigepe…) . Temos motivos de sobra para desconfiar de uma iniciativa que coloca mais informação e poder nas mãos de um governo inimigo dos trabalhadores.

Não existe urgência no cadastramento, posto que o aplicativo do Sigepe ficará no ar por mais 30 dias. No entanto, com a centralização dos serviços, o “SouGov” será a única plataforma disponível para o servidor acessar desde informações triviais, como consulta à prévia do contracheque, até procedimentos mais complexos.

Em suma, o cadastramento é inevitável, mas é fundamental que as entidades nacionais – Fasubra, Andes e Andifes – busquem maior compreensão do impacto da iniciativa e estudem eventuais medidas que impeçam o estrangulamento da autonomia universitária.

O Sintufrj seguirá debatendo os desdobramentos do tema e promoverá, nas próximas semanas, uma live para discutir os reflexos da plataforma na vida dos servidores e da universidade.

Sintufrj – Gestão Ressignificar

 

 

 

Por Bernardo Cotrim e Noemi Andrade

A favela do Jacarezinho, na zona norte do Rio de Janeiro, amanheceu ao som de helicópteros e tiros. A restrição explícita que vigora desde junho de 2020, quando o STF suspendeu operações policiais em favelas (salvo hipóteses absolutamente excepcionais, e com obrigação de comunicar o Ministério Público), foi aparentemente driblada pela Polícia Civil, já que a comunicação ao MPRJ aconteceu horas depois do início da ação. A Operação Exceptis, que investiga o aliciamento de crianças e adolescentes para ações criminosas, mobilizou enorme contingente policial para a favela. 

O saldo da barbárie é, até agora, de 25 mortes, configurando a mais sangrenta operação policial já realizada no estado. Entre as vítimas fatais, um policial e “vinte e quatro suspeitos”. A polícia, no entanto, não informou as identidades nem as circunstâncias em que foram mortos.

Os relatos dos moradores e as cenas que circulam pela rede falam por si: dois passageiros foram atingidos no metrô, na altura da estação de Triagem; uma gestante, com parto marcado, foi impedida de sair de casa; uma noiva perdeu o próprio casamento. Em frente a unidade básica de saúde de Manguinhos, uma fila de pessoas que aguardava a vacinação contra COVID-19 correu a procura de abrigo depois que a unidade de saúde teve a abertura inviabilizada pela operação. Famílias inteiras trancadas em casa, intoxicadas pelo gás das bombas atiradas pela polícia, enquanto um rio de sangue corria pela favela. Mortos com marcas de tiros nas costas, um salão de beleza destruído pela polícia na perseguição e execução de um suspeito; Uma pessoa já baleada deitada no chão, sem oferecer risco, foi assassinada com mais quatro tiros. No registro mais impactante, o corpo de uma vítima foi colocado sentado em uma cadeira com o dedo na boca. Barbárie. 

Na coletiva de imprensa, realizada ao final da operação, faltou explicação nas declarações do delegado Oliveira, que é subsecretário operacional da Polícia Civil, mas sobraram autoelogios e verborragia ideológica reacionária, com a complacência grotesca dos presentes.

“Não estamos comemorando, mas tiramos vários criminosos de circulação”; “a polícia sempre se fará presente para defender a sociedade de bem”; “o ativismo judicial prejudica a ação policial e fortalece o tráfico”; “a Polícia Civil não irá se furtar a garantir o direito de ir e vir da sociedade de bem” foram algumas das pérolas proferidas pelo comandante da Polícia Civil, entremeadas com críticas aos “pseudoespecialistas em segurança pública” e bravatas diversas contra “ativistas e ongs”, chegando ao cúmulo de responsabilizar estes setores pela morte do policial civil na operação. 

A coletiva foi encerrada abruptamente com um seco “o combinado não sai caro” proferido pelo delegado no momento em que acabaram as perguntas dos repórteres de programas sensacionalistas e jornalistas de outros veículos se preparavam para apresentar suas questões.

A falência da política de guerra às drogas não é novidade. Em vigor no estado há décadas, sem interrupção, não há sinal de enfraquecimento do poder do tráfico. Assusta, no entanto, a banalidade da violência: uma operação contra a cooptação de crianças e adolescentes pelo tráfico, organizada para cumprir 21 mandados de prisão, invadiu a favela com blindados e helicópteros e deixou um rastro de 25 mortos. Mandados cumpridos? Apenas 6. Mas, na opinião da Polícia Civil, a operação foi “um sucesso”, e lamenta-se apenas a morte do policial. O restante, “24 vagabundos”, são vidas descartáveis, em um conceito elástico que incorpora cada vez parcelas maiores da juventude negra e favelada nos seus limites. 

O relatório final da CPI realizada no Senado, em 2016, atesta o massacre de jovens negros em curso no Brasil. Segundo o texto, “a quantidade de jovens mortos no Brasil é um problema social que demanda a adoção de providências urgentes, profundas e multidimensionais. Além disso, também se concluiu que o Estado brasileiro precisa se debruçar mais atentamente sobre o racismo existente de maneira estrutural nas políticas públicas de modo geral. Se nada for feito, nossos jovens, sobretudo a nossa juventude negra, continuarão sendo mortos precocemente, deixando famílias desprovidas de seus filhos e o Brasil privado de toda uma geração de crianças e adolescentes”.

 De lá pra cá, o problema se agravou. A ascensão da extrema direita, com a vitória de Bolsonaro para a presidência, e de Wilson Witzel para governador do Rio de Janeiro, endossou a barbárie e promoveu, na prática, uma licença para matar: Em 2019, foram 1.814 mortos pela polícia fluminense; destes, 86% são negros. 

A alta de mortes continuou durante a pandemia, motivando a proibição de operações policiais pelo STF. Mesmo assim, em outubro de 2020, houve um aumento de 415% de mortes, obrigando o Supremo a cobrar explicações do governador em exercício (com o afastamento de Witzel) Claudio Castro.

Agora governador em definitivo, com a conclusão do impeachment de Witzel, Claudio Castro mostra seu cartão de visitas. A operação no Jacarezinho aconteceu no dia seguinte à agenda que reuniu o governador, o comandante do Gabinete de Segurança Institucional Marcelo Bertolucci e o presidente Jair Bolsonaro. O alinhamento absoluto entre governador e presidente promete novos atos de delinquência. E a ação de hoje, que registra o maior número de mortos em uma única operação no Rio de Janeiro, poderá durar pouco tempo no topo do ranking da morte.

O Rio de Janeiro vive uma crise civilizatória que, há muito, decretou o fracasso do nosso modelo de sociedade. Escolher entre a vida e a morte tornou-se um imperativo, ou o ciclo de violência continuará alimentando o tráfico, as milícias e aqueles que lucram com os corpos empilhados, ao passo em que uma parcela expressiva da população, não obstante a convivência forçada com a negação de direitos, engrossa a macabra estatística da negação da vida.

  • Bernardo Cotrim é jornalista e Noemi Andrade é diretora do Sintufrj e da CUT-RJ

 

Na oficina de corte e costura da Casa do Trabalhador de Manguinhos, a arte imita a vida

Servidores públicos de todo o País, entidades do movimento sindical e social, centrais sindicais, sindicatos e partidos de esquerda travam uma grande luta contra a aprovação da PEC 32/20, a reforma administrativa do governo Bolsonaro. 

A proposta foi enviada ao Congresso Nacional em setembro do ano passado e, neste ano, é uma das prioridades do governo. A reforma Administrativa representará na prática, se aprovada, mudança substantiva do papel do Estado na sociedade brasileira. 

Desde 26 de abril a Câmara dos Deputados realiza audiências públicas sobre o tema. A PEC 32/20 se encontra na Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania (CCJ) que analisa sua constitucionalidade. Diversos especialistas e parlamentares já alertaram para a inconstitucionalidade da matéria e os riscos da reforma administrativa para os serviços públicos e para a população. 

É o que vem sendo feito na CCJ, mas nas audiências realizadas até o momento, governistas tem se fechado ao debate e se recusam a ouvir especialistas e lideranças de servidores que têm apresentado argumentos sólidos de contestação à proposta que altera a Constituição e ataca direitos do funcionalismo.

O relator da proposta, deputado Darci de Matos (PSD-SC), afirma que “o texto será aprovado até o fim do primeiro semestre e da forma como está”.

Campanhas

Entidades se movimentam contra a reforma. A pressão sobre parlamentares é fundamental. E para isso ferramentas do mediatismo tem sido montadas nas redes para poder pressionar nominalmente cada deputado.

Há a campanha “Não à reforma administrativa” divulgada no site Na Pressão, lançada pela CUT, para pressionar parlamentares do Congresso Nacional. 

Cancela a Reforma é a campanha criada pela Condsef/Fenadsef, em conjunto com suas filiadas, para ajudar a divulgar os perigos da PEC 32/20. 

A Frente Parlamentar Mista do Serviço Público pôs nas redes um abaixo assinado para pressionar o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), a suspender a tramitação da PEC 32/20.

Nesta sexta-feira, 7, ocorrerá a quinta audiência pública na CCJ sobre a PEC 32/20. Na próxima semana acontecerá a sexta audiência, na segunda-feira, 10/5, e a sétima e última na sexta-feira, 14/5.

Conheça os deputados do Rio que estão na CCJ

Carlos Jordy (PSL) – titular

Christino Aureo (PP) – suplente

Gurgel (PSL) – suplente

Hugo Leal (PSD) – suplente

Sóstenes Cavalcante (DEM) – suplente

Aureo Ribeiro (Solidariedade) – suplente

Chico D´Angelo (PDT) – suplente

 

 

 

A reitora da UFRJ, Denise Pires de Carvalho, diz em artigo na edição desta quinta-feira, 6 de maio, de O Globo, que com o orçamento disponível para este exercício, a universidade não tem como continuar funcionando. “A UFRJ fechará suas portas por incapacidade de pagamento de contas de segurança, limpeza, eletricidade e água”, anuncia Denise, no texto também assinado pelo vice-reitor Carlos Frederico Leão Rocha. 

Segundo eles, “o orçamento discricionário aprovado pela Lei Orçamentária para a UFRJ em 2021 é 38% daquele empenhado em 2012”. Denise e Carlos Frederico encerram o artigo com um triste vaticínio. “A universidade está sendo inviabilizada. Em dez anos, nos restará perguntar onde estará a capacidade de resposta na próxima emergência sanitária e qual será a opção terapêutica milagrosa que colocarão à venda.”

Confira o artigo aqui

 

 

A Operação da Polícia Civil trouxe uma manhã intensa de tiroteio na comunidade da Zona Norte

A decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) em suspender as Operações Policiais nas favelas do Rio de Janeiro durante a pandemia do coronavírus não impede as intervenções dos agentes nas comunidades. Na manhã desta quinta-feira (06), a Operação Exceptis, da Polícia Civil, vitimou, ao menos, 25 pessoas em chacina no Jacarezinho. O número de pessoas vitimadas em ação que viola a “ADPF das Favelas” ainda está em atualização.

Os relatos dos moradores nas redes sociais evidenciam a vulnerabilidade social das favelas do Rio de Janeiro. As intervenções dos agentes têm sido uma constância mesmo com a decisão de suspender as ações durante a pandemia do coronavírus. Segundo as primeiras informações sobre a Operação Exceptis, ao menos 27 pessoas foram alvejadas por disparos de armas de fogo. Entre esses, três policiais civis, sendo que um deles não resistiu ao ferimento. O Policial Civil André Frias, de 45 anos, recebeu um projétil na cabeça. Ele chegou a ser levado para o Hospital Municipal Salgado Filho, no Méier, mas veio ao óbito.

A fragilidade social e a violência da ação também alcançaram dois passageiros que estavam no trem. Rafael M. Silva, de 33 anos, e Humberto Gomes V. Duarte, de 20, foram alvos de balas perdidas durante a operação policial. Segundo as informações da Secretaria Municipal de Saúde, Rafael foi levado para o Salgado Filho e deixou a unidade à revelia. Humberto foi levado para o Hospital Municipal Souza Aguiar, no Centro, e possui estado de saúde estável.

Em resposta à operação, a Comissão dos Direitos Humanos da Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj), representantes da Defensoria Pública do Rio e lideranças comunitárias do Jacarezinha estão reunidos neste momento no Jacarezinho. Moradores protestam contra a violência nas ruas da comunidade.

De acordo com a Polícia Civil, cerca de 200 agentes participam da operação para cumprir mandados de prisão contra traficantes que estão aliciando menores para o tráfico e outras ações criminosas, como assassinatos, roubos e sequestros de trens da SuperVia.

Questionada pela reportagem do Voz das Comunidades sobre a atuação da Operação Exceptis, a Polícia Civil do Rio de Janeiro alegou que prestará balanço sobre a ação em coletiva marcada para hoje, após o desfecho da intervenção policial na comunidade.

 

Foto: Fabiano Rocha/Divulgação

 

Alinhado com Bolsonaro, governador do Amazonas desconsiderou isolamento para expor população ao vírus. “Genocídio declarado”, denunciam lideranças

O vice-governador do Amazonas, Carlos Almeida Filho (sem partido) afirma que, após pressão do presidente Jair Bolsonaro, o estado adotou uma “experiência” em busca da chamada imunidade de rebanho contra a covid-19. Atendendo desejo do presidente, alegando querer evitar problemas econômicos, o governador Wilson Lira (PSC) não decretou medidas de isolamento e permitiu que a população circulasse livremente. O objetivo seria de expor as pessoas ao novo coronavírus ao máximo.

O resultado foi trágico: Manaus viveu dois momentos de colapso de seu sistema de saúde. O primeiro, entre março e abril de 2020 e um segundo, no início de 2021, quando faltou até oxigênio hospitalar, causando mortes de pacientes por asfixia. A mortalidade no Amazonas é a maior do Brasil, mais de 315 vítimas por 100 mil habitantes; em todo o país, essa relação é de 118 para 100 mil. Se fosse um país, o estado teria a maior taxa de mortalidade de todo o mundo. “Quando houve envolvimento do governador na operação, a estratégia foi mostrar alinhamento com Bolsonaro. Uma coisa era clara, a política era de afirmar que se tinha uma imunidade de rebanho”, disse Almeida Filho à Folha de S.Paulo.

A estratégia é considerada criminosa por cientistas. Colocar vidas em risco em larga escala pode ter levado, inclusive, a uma mutação do coronavírus. Manaus é creditada como celeiro da cepa P1 do vírus, uma variante que se dissemina com maior velocidade e com indícios de que seja mais mortal. Com o surgimento da P1, detectada pela primeira vez no Japão, o Brasil passou a ser visto pelo mundo como uma ameaça, conforme comunicado da Organização Mundial de Saúde (OMS). A partir daí, a imensa maioria dos países do mundo fecharam as fronteiras com o Brasil.

Morte e cloroquina

Em andamento, a CPI da Covid investigas possíveis crimes de Bolsonaro contra o povo brasileiro, por sua gestão da pandemia. Em três dias de depoimentos, iniciados na segunda-feira (4), já ficaram evidenciadas e documentadas ações do presidente e de integrantes de sua família para atrapalhar o combate à covid-19. Até o momento, as acusações foram centralizadas na ideia de imunidade de rebanho e na indicação de medicamentos ineficazes contra a covid-19, como cloroquina e ivermectina.

Desde o início da pandemia, em março do ano passado, Bolsonaro e seus seguidores insistem em indicar o “tratamento precoce” contra a doença. Existe, porém comprovações científicas de que cloroquina, hidroxicloroquina e ivermectina não funcionam contra a covid-19. Além disso, podem provocar efeitos colaterais graves, como paradas cardíacas e hepatites medicamentosas. Da mesma forma, não existe tratamento preventivo contra doenças provocadas por vírus.

Hoje (6) também foi divulgada pelo jornal O Globo a informação de que a secretária de Gestão do Trabalho do Ministério da Saúde, Mayra Pinheiro, conhecida como “Capitã Cloroquina”, esteve na capital do Amazonas, sob comando de Bolsonaro, para pressionar a adoção do “kit covid” pelo sistema público de saúde à população local. A investida ocorreu em janeiro, pouco antes do colapso por falta de leitos e insumos básicos, como oxigênio. A “Capitã Cloroquina” também foi convocada para depor na CPI da Covid.

Convocação

Os fatos sobre o Amazonas levados à luz hoje repercutiram intensamente nas redes sociais e também na CPI da Covid. Foi aprovado um requerimento de autoridades amazonenses para comparecer ao Senado. O senador Humberto Costa (PT-CE) foi um dos que pressionou para o chamamento. “Houve uma aliança para que em Manaus fosse feita a experiência da imunidade de rebanho. Ou seja, não fazer nada para que as pessoas se contaminassem em grande escala. Assim, ninguém gasta dinheiro com oxigênio, teste, vacina e hospital. Por isso, também peço para ouvir o vice-governador do Amazonas. Isso caracteriza dolo eventual. Arriscou-se provocar essa tragédia”, disse Costa, durante oitiva da CPI com o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga.

Repercussão

Diferentes lideranças e nomes relevantes da sociedade civil se manifestaram sobre a CPI e também sobre as ações danosas de Bolsonaro. “Vice governador do Amazonas confirma: Bolsonaro e seus aliados impuseram a “imunização de rebanho”, que levou Manaus ao colapso. É genocídio declarado”, sentenciou o líder do Movimento dos Trabalhadores sem Teto (MTST), Guilherme Boulos.

A ex-deputada federal que foi candidata à vice-presidência em chapa com Fernando Haddad (PT) em 2018, Manuela D’Ávila, compartilhou a indignação. “O vice-governador do Amazonas, Carlos Almeida Filho, confirmou que Bolsonaro e Wilson Lima usaram Manaus como experimento para testar ‘imunização de rebanho’, levando a cidade ao colapso e matando centenas de pessoas. GENOCÍDIO!”

A deputada federal Fernanda Melchiona (Psol-RS) endureceu o discurso e pediu a detenção do presidente. “Bolsonaro deveria sair algemado do Palácio do Planalto neste exato momento! O vice-governador do AM confirmou que o presidente e o governador Wilson Lima combinaram de usar Manaus como exemplo de “imunidade de rabanho” e isso levou à morte de centenas de pessoas”, disse.

 

 

 

Universidade sofre sucessivos cortes que parecem querer inviabilizar a ciência

Por:  “UFRJ – Universidade Federal do Rio de Janeiro” – Perfil oficial da UFRJ no Medium

Na última quinta-feira, 29/4, a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) recebeu do governo federal a notícia de que R$ 41,1 milhões de seu orçamento discricionário haviam sido bloqueados. Orçamento discricionário é a verba que a instituição tem para bancar seu custeio (água, luz, limpeza, segurança etc) e investimento (infraestrutura física). A notícia dramática não é nenhuma novidade frente à via crucis orçamentária que a maior universidade federal do país atravessa desde 2012.

Fato é que a regressão orçamentária da UFRJ se apresenta outra vez. De 2012 para cá, foram cortes sucessivos. Naquele ano, a Universidade tinha R$ 773 milhões em caixa. Desde então, mesmo com a inflação e aumento de vagas e de sua estrutura, o ciclo de subfinanciamento prosseguiu: em 2013 caiu para R$ 735 milhões; em 2014, para 611; depois, 606; em seguida, 541; 487; 430; 389; 386; e, agora em 2021, R$ 299 milhões. Em valores brutos, houve uma perda de, pelo menos, R$ 474 milhões de 2012 até agora.

A história continua: os R$ 299 milhões até então aprovados para a UFRJ não estão a salvo. Na verdade, somente R$ 146,9 milhões foram liberados, sendo que R$ 65,2 milhões já foram utilizados, restando apenas R$ 81,7 milhões. Isso significa que R$ 152,2 milhões estão indisponíveis porque aguardam suplementação do Congresso Nacional, que não tem data para apreciação. Desse montante, o governo federal bloqueou R$ 41,1 milhões. Ou seja, se o Congresso Nacional aprovar a suplementação orçamentária, só R$ 111,1 milhões serão disponibilizados à UFRJ, perfazendo, assim, um orçamento de R$ 258 milhões — um regresso da Universidade a seu orçamento real de 2008 (e nominal de 2011). Mas como era a UFRJ de 2008? Naquele ano, cerca de 34 mil alunos de graduação tinham vínculo com a instituição. Já agora, o número passa de 57 mil. A expansão da universidade foi nítida com o Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais (Reuni).

Para a reitora Denise Pires de Carvalho, é preciso mais orçamento, e urgente. “As universidades públicas brasileiras são responsáveis por mais de 90% da geração de conhecimento no país e têm sido instituições fundamentais no enfrentamento da COVID-19 por meio dos seus hospitais universitários e laboratórios de pesquisa. Há, hoje, 4 vacinas brasileiras em fases avançadas de testes clínicos sendo desenvolvidas por universidades públicas. No entanto, todo esse sistema educacional de nível superior está fortemente ameaçado pelos cortes orçamentários de 2021 — que vêm acontecendo de forma progressiva ao longo dos anos. Se compararmos o orçamento de 2021 com o orçamento de 2015, por exemplo, a UFRJ tem apenas metade do valor de custeio e não tem nenhum orçamento de capital para investir na sua infraestrutura física. Ou seja, temos metade do orçamento de custeio numa universidade que expandiu as suas atividades, que tem 9 hospitais e unidades de saúde funcionando, que demandam limpeza, segurança e medicamentos, além dos mais de 1.450 laboratórios de pesquisa. E nós precisamos pagar a luz, a água, a limpeza”, afirma.

Ao invés de subir, orçamento desce

“Neste ano de pandemia, esperávamos um aumento, um orçamento suplementar de, pelo menos, 20%. Jamais esperaríamos esse corte. Se pensarmos que o dólar aumentou muito nos últimos anos, temos um orçamento em dólar assustadoramente menor, o que inviabiliza o funcionamento dessas importantes instituições de estado no Brasil”, diz Denise.

Para ela, “é uma escolha que o país está fazendo, que é abandonar suas instituições públicas de ensino, pesquisa e extensão, a casa do saber, o local de geração do conhecimento, que pode trazer uma perspectiva de um futuro melhor para o nosso país com o almejado desenvolvimento socioeconômico”.

Por conta da situação orçamentária, a saída do ensino remoto fica prejudicada. “Sem dúvida nenhuma, o cenário afeta drasticamente o futuro retorno presencial porque todos esses cortes que se somam fazem com que seja impossível ampliar contratos de limpeza e de segurança. Muito pelo contrário, vamos ter que reduzir os contratos de limpeza, isso sem falar nas refeições dos estudantes. O Restaurante Universitário, voltando ao seu pleno funcionamento em uma época de possível retorno presencial, também é mais uma dificuldade. Além disso, existe a necessária adaptação de infraestrutura física, compra de álcool 70%, compra de equipamentos de proteção individual (EPIs) e aumento nos contratos de limpeza — iniciativas básicas que ficam inviabilizadas com os cortes, gerando atraso na possibilidade de retorno presencial”, afirma a reitora, que admite que a necessidade de redução ou revogação de contratos de serviços terceirizados “com certeza implicará demissões, aumentando ainda mais o número de desempregados em um país que já tem altíssimas taxas de desemprego, talvez das maiores taxas em termos históricos”.

“Situação muito crítica”

Segundo Eduardo Raupp, pró-reitor de Planejamento, Desenvolvimento e Finanças da UFRJ, o cenário é desolador.

“É uma situação muito temerária para o nosso funcionamento. Nós temos poucos meses de fôlego, cerca de dois ou três, com base no orçamento livre. E mesmo com o orçamento condicionado vindo a ser aprovado, diante desse bloqueio a gente tem orçamento, no máximo, até o mês de agosto ou setembro. É uma situação muito crítica”, aponta.

“Mesmo com essa situação, estamos, no âmbito da UFRJ, fazendo todos os esforços para continuar assegurando as bolsas assistenciais e as bolsas acadêmicas. Vamos ter que revisar novamente todos os contratos e serviços, considerando o novo cenário. É uma situação ainda mais crítica que a do ano passado — quando o orçamento já era insuficiente, mas estava integralmente liberado para utilização e havia, pelo menos, recursos emergenciais para o combate à COVID-19, que, neste ano, já foram descartados pelo governo. Vamos ter que lidar com essa situação, possivelmente atingindo áreas que conseguimos preservar no passado, como assistência hospitalar e outras atividades essenciais da Universidade. Este é o trabalho que estamos fazendo agora: examinando os impactos para análise do corpo diretivo da UFRJ em todas as suas instâncias e compartilhando informações para que possamos tomar as melhores decisões”, conclui Raupp.