Para minar resistência da população em relação à privatização das estatais, órgão do Ministério da Economia lança documento comparando salários nessas empresas com a iniciativa privada

Matéria retirada do site da CUT. 

Com o título “Estudo mostra paraíso salarial em estatais” estampado na manchete de um dos maiores jornais do país, o governo neoliberal de Jair Bolsonaro (ex-PSL) tenta mais uma vez colocar a população brasileira contra  os trabalhadores e as trabalhadoras das empresas públicas. O objetivo é abrir caminho para a privatização, minando resistências à venda do patrimônio dos brasileiros. Pesquisa Datafolha de agosto de 2019 mostrou que 67% (dois em cada três brasileiros), são contrários a qualquer tipo de privatização.

A reportagem, baseada na análise do Relatório Agregado das Empresas Estatais Federais (RAEEF), da Secretaria Especial de Desestatização, Desinvestimento e Mercados e Secretaria de Coordenação e Governança das Empresas Estatais, ligada ao ministério da Economia, compara os salários pagos entre a iniciativa privada e as estatais, traz diversos pontos que merecem uma revisão mais apurada.

Alegando números elevados e excessivos de empresas, altos salários pagos aos trabalhadores, ineficiência e peso negativo sobre as contas públicas, o relatório não condiz com a realidade atual e ainda despreza o papel e a contribuição dessas empresas para o desenvolvimento do país, bem como a alta qualificação dos trabalhadores e trabalhadoras das estatais, afirma o  economista do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), da subseção da Federação Única dos Petroleiros (FUP) , Cloviomar Cararine.

“O governo Bolsonaro desconsidera a importância das empresas estatais e públicas. São empresas que atuam em diversos setores e atividades de políticas públicas. Não é objetivo gerar lucro, mesmo gerando”.

O economista diz que o estudo divulgado pelo governo não leva em consideração algumas questões importantes como:

– os valores apresentados pelo estudo do governo não são em relação aos salários, e sim à remuneração total, que incluem outros benefícios como adicionais de periculosidade, sobreaviso e outros;

– apresenta um valor médio de remuneração e não mostra a imensa desigualdade salarial entre os trabalhadores de uma mesma estatal. No caso da Petrobras, por exemplo, a maior remuneração mensal é de R$106.189,00, do presidente da estatal, Roberto Castello Branco, e a menor é de R$1.510,00, representando assim uma diferença de 70 vezes;

O economista reforça que os trabalhadores brasileiros de maneira geral são muito mal remunerados, e no caso da Petrobras, vale uma comparação também com a remuneração de outras petroleiras, estatais ou privadas, no mundo. Os trabalhadores brasileiros recebem a menor média de remuneração anual (em US$) por trabalhador, como mostra o quadro abaixo.

“Quando compara a remuneração de trabalhadores estatais com a média nacional, o governo Bolsonaro inverte a questão central. Não são os trabalhadores das estatais que ganham muito e sim a média nacional que é pequena. Os trabalhadores no Brasil são muito mal remunerados”, reforça Cloviomar.

Ainda de acordo com o economista do Dieese, o relatório do governo desconsidera o processo histórico de luta de décadas que culminaram em  conquistas de direitos, com melhores salários e outros benefícios recebidos.

“Após 2016, ano do golpe contra a ex-presidenta Dilma, a difusão de informações parciais e enviesadas sobre as estatais como estratégia se tornaram recorrentes, para tentar criar ambiente de revolta na população”, alerta o economista do Dieese.

 

 

Durante a pandemia, quantidade de doações caíram em até 50%

Brasil de Fato | São Paulo (SP) | 25/11/2020

Nesse contexto, doar sangue, neste período pandêmico, faz-se ainda mais necessário para ajudar a salvar vidas – Foto: Erasmo Salomão/MS

O Dia Nacional do Doador de Sangue é celebrado nesta quarta-feira (25), em meio a um período de diminuição dos estoques nos hemocentros de todo o país. De acordo com a Fundação Pró-Sangue, durante a pandemia de coronavírus, houve uma diminuição de até 50% nas doações em algumas regiões do país.  

É nesse contexto que a campanha Somos todos do mesmo sangue, realizada pela Fundação Pró-Sangue e hemocentros de todo o país, está alertando para a demanda de doações.   

Como doar?


É preciso cumprir alguns requisitos básicos. A pessoa doadora precisar estar em boas condições de saúde, ter entre 16 e 69 anos e pesar no mínimo 50kg. Além disso, antes da doação é necessário estar descansado, o que significa ter dormido pelo menos seis horas no último período, estar alimentado e não ter ingerido alimentos gordurosos nas últimas quatro horas. No ato da doação é exigida a apresentação de um documento de identidade com foto. 

Também é necessário esperar um período de 60 dias entre uma doação e outra, para homens; e 90 dias, para mulheres.

A pessoa doadora também precisa observar os períodos dos chamados impeditivos temporários, que são os prazos estabelecidos em situações específicas. Por exemplo, é preciso esperar sete dias após os sintomas de um resfriado. No caso de gravidez são 90 dias após parto normal e 180 dias após cesariana e amamentação. Há também impeditivo temporário em casos de ingestão de bebida alcoólica nas últimas 12 horas, além de realização de tatuagem ou maquiagem definitiva nos últimos 12 meses, entre outros.

Por outro lado, também existem os impeditivos definitivos, que proíbem a doação em qualquer período da vida, como hepatite após os 11 anos de idade, hepatites B e C, AIDS (vírus HIV), doenças associadas aos vírus HTLV I e II, Doença de Chagas, malária e Mal de Parkinson.

DÚVIDAS SOBRE DOAR SANGUE?

Disque 0800 2820 708

 

 

Anualmente, o Brasil registra mais de 50 mil casos de violência verbal; 48% das vítimas apontam companheiro como autores

Matéria retirada do Brasil de Fato. 

 

Nesta quarta-feira (25) é celebrado o Dia Internacional de Combate à Violência Contra a Mulher. A data busca conscientizar pessoas em todo o mundo de que a violência contra mulheres é uma violação de direitos humanos enraizada em séculos de dominação masculina.

Este ano, uma campanha global realizada pela Babbel, uma empresa de ensino de idiomas, em parceria com o Movimento Me Too Brasil e o Instituto Maria da Penha, ajudará a amplificar vozes femininas em vários países com o intuito de estabelecer a consciência linguística de que a violência muitas vezes começa em palavras.

No Brasil, a Lei Maria da Penha enquadra agressões psicológicas. O crime de violência verbal, que afeta profundamente a saúde mental, é registrado, anualmente, cerca de 50 mil vezes.

48% das vítimas apontam namorados, cônjuges ou ex-parceiros como autores, segundo dados do Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan), do Ministério da Saúde.

Para Isabel Del Monte, formada em direito pela Universidade de São Paulo (USP), que atua na defesa e expansão dos direitos de mulheres e demais grupos minorizados, os maiores agressores de mulheres são os parceiros amorosos.

“Cônjuges e ex-cônjuges, companheiros ou ex-companheiros, também é comum que haja violência cometida pelo pai, filho, um neto e até mesmo por vizinhos em moradias de coabitação”, diz ela.

Del Monte, que também é consultora em equidade, cofundadora da Rede Feminista de Juristas e coordenadora do MeToo Brasil, afirma que é preciso expor que a violência psicológica não é natural e não é aceitável.

“É necessário que haja um desenvolvimento das capacidades emocionais dos homens e também das mulheres, primeiro para que os homens parem de cometer esse tipo de violência e, segundo, para que as mulheres consigam identificar rapidamente esse tipo de violência e se retirar dessa relação”, resume.

Confira abaixo a entrevista:

Brasil de Fato: Isabel, o que podemos classificar como violência psicológica?

Isabel Del Monte: A violência psicológica e moral, normalmente, se manifesta pela fala ou depreciação de coisas que são importantes para a vítima, como a sua fé, família, amigos ou o seu trabalho.

Ela se traduz em forma de xingamentos, humilhações e falas que deixam essa mulher para baixo e faz com que ela se sinta com menos valor. Para isso, o agressor usa xingamentos e também manipulações emocionais.

Em um dia o agressor diz que ama a vítima, no outro, diz que odeia e vai passando o tempo, ele oferece uma série de mensagens, falas e comportamentos contraditórios, ou seja, que você não tem certeza no que pode acreditar, se é no amor ou no ódio.

É como se a vítima vivesse uma eterna sensação de estar “pisando em ovos”

E essa manipulação funciona, ela encontra terreno fértil, porque é assim que a nossa psique funciona. Nós tendemos a ficar envolvidos em manipulações emocionais, justamente, porque elas se baseiam nessa contradição.

Logo, é muito comum ouvirmos mulheres vítimas de violência psicológica dizerem: “Mas às vezes ele também é um anjo, me trata muito bem, diz que me ama, me dá presentes”. Isso não é nada excepcional. Normalmente, o agressor tem, de fato, essas condutas contraditórias e instáveis.

É como se a vítima vivesse uma eterna sensação de estar “pisando em ovos”. Não é possível identificar qual é o gatilho, o que desperta uma reação violenta, uma reação destemperada por parte do companheiro, do pai, do filho, enfim, do sujeito que está ali cometendo agressões.

Logo, é importante ter essa visão mais macro do que é essa violência.

Quem são comumente os agressores dessas mulheres? São os cônjuges?

Infelizmente sim. Os maiores agressores de mulher são cônjuges e ex-cônjuges,  companheiros ou ex-companheiros, também é comum que haja violência cometida pelo pai, por filho, um neto, e até mesmo por vizinhos em moradias de coabitação.

É importante destacar que essa informação é comprovada por dados, como por exemplo, o Fórum Brasileiro de Segurança Pública [FBSP], IPEA [Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada], IBGE [Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística], Dieese [Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos]  e demais órgãos de produção de pesquisa e dados do Brasil. E não apenas no Brasil, mas também fora daqui, porque a violência, normalmente, acontece por companheiro ou ex-companheiro contra a mulher.

Como as vítimas de violência psicológica podem procurar ajuda e quais tipos de provas elas podem ter contra o agressor?

Normalmente, as vítimas têm algum tipo de registro. O agressor pode mandar mensagem cometendo a violência. Logo, o print dessas mensagens valem, o relato que se faz para amigas, quando se está em uma situação dessas, seja pessoalmente ou por mensagem, isso é prova.

É o que chamamos de testemunha indireta . Ou seja, a pessoa não estava no local do fato quando a violência psicológica aconteceu, mas ela foi a primeira pessoa procurada pela vítima para desabafar. Isso é um tipo de prova válida.

Além disso, ela pode fazer um diário relatando: dia x, hora x, no local x, isso aconteceu. Isso é prova de memória.

Se a vítima tem uma anotação de janeiro, outra de fevereiro, uma de abril, outra de maio e resolve procurar ajuda em junho, você já tem um registo de memória que pode ser usado como prova.

Conte com uma advogada, uma psicóloga que vão te apoiar na criação de um conjunto provas que evidencie perante o judiciário a situação de violência

Além disso, é muito comum que seja feita uma varredura do histórico do agressor pela defensora da vítima. Então, ela também pode contatar outras mulheres que se relacionaram com esse homem de modo a comprovar – caso seja o caso evidentemente –, que ele tem um comportamento em série. Que ele agride mulheres psicologicamente em série. O que, normalmente, e infelizmente, se comprova.

Há pesquisas também que revelam que o comportamento abusivo em relacionamentos se inicia na adolescência. Raramente um homem adulto acaba cometendo uma violência doméstica pela primeira vez. Ele vai cometendo isso ao longo de todos os seus relacionamentos.

É importante também que a gente estabeleça que nesse crime, que acontece em um ambiente privado – como a violência doméstica e a violência sexual – são crimes em que a palavra da vítima tem especial relevância. O judiciário brasileiro já está mais acostumado com isso e de toda forma é muito importante que qualquer mulher vítima de violência doméstica procure ajuda especializada.

Essa ajuda pode ser encontrada no MeToo Brasil, na Rede Feminista de Juristas, no Projeto Justiceiras, já existem várias redes gratuitas que as mulheres podem procurar ajuda acerca dos seus direitos.

Conte com uma advogada, uma psicóloga que vão te apoiar na criação de um conjunto provas que evidencie perante o judiciário a situação de violência.

Os dados estatísticos apontam que as mulheres estão denunciando mais os casos de violência psicológica?

Na pandemia, houve sim um aumento da busca, um aumento exponencial da busca por ajuda. Então, redes como o Projeto Justiceiras tiveram o aumento da procura na pandemia. No entanto, alguns dados que mostram que reduziu o número de denúncias formalizadas perante a polícia.

Entretanto, isso não é uma surpresa na medida em que por conta da pandemia, o isolamento social enclausurou as vítimas na mesma casa que o seu agressor, e evidentemente, o medo de fazer uma denuncia aumenta. Afinal de contas, a vítima vai até a delegacia fazer um boletim de ocorrência e vai voltar pra onde depois? Para a mesma casa onde está o agressor.

E esse agressor vai ficar sabendo, ele vai ser intimado para falar no processo de investigação, na fase de inquérito policial. Por isso, as vítimas estão com muito medo de formalizar a denúncia porque elas não encontram no aparato público uma estrutura de segurança que as protejam e, principalmente, que protejam seus filhos.

A gente teve um retrocesso de 30 anos das mulheres no mercado de trabalho em apenas sete meses de pandemia

Uma grande preocupação das mulheres vítimas de violência – e uma preocupação justíssima – é a segurança e a subsistência ao seus filhos. Então, muitas mulheres também perderam o emprego na pandemia. Há também vários dados que mostram que a gente teve um retrocesso de 30 anos das mulheres no mercado de trabalho em apenas sete meses de pandemia.

Logo, essa mulher se encontra em uma situação onde ela está desempregada, sem autonomia financeira e isso, evidentemente, a desestimula de denunciar na medida que ela vê no próprio agressor a fonte de renda. É uma situação extremamente cruel.

Então, uma das necessidades que a gente tem no Brasil hoje é um maior investimento público em políticas para a segurança de mulheres e crianças, e infelizmente, não é o que a gente está vendo.

Para se ter uma ideia, na esfera federal o orçamento da pasta de mulheres que era de R$ 290 milhões em 2015 , caiu para 48,8 milhões de reais em 2019. O que você faz com R$ 49 milhões junto a 110 milhões de mulheres e meninas?

Nada. Não se implementa política pública com esse valor. E em janeiro deste ano, o orçamento do executivo previu uma redução de 2 milhões de reais ainda desse orçamento já muito diminuto.

Só teve um aumento do orçamento, quando o Congresso Nacional, diante da situação de emergência da pandemia destinou emendas parlamentares para o Ministério da Mulher [da Família e dos Direitos Humanos]. Com isso, se não me engano, o orçamento passou para a casa de 110, 120 milhões de reais.

Mas mesmo assim, o ministério da Mulher, conduzido pela ministra Damares, não está fazendo os devidos investimentos. Inclusive, ela tem respondido a questionamentos tanto do Congresso, quanto do Ministério Público a respeito da sua falta de investimento em políticas públicas para mulheres em um momento de extrema emergência

Falando especificamente da campanha: por que focar na questão da violência psicológica e verbal e quais são os desafios mais complexos para combater esse tipo de crime?

Como surgiu a campanha?

A campanha surgiu como iniciativa do Babbel, que é um aplicativo destinado a idiomas. Então, tem a ver com a temática desenvolvida pelo aplicativo e nós, como Movimento MeTooBrasil, nos interessamos em apoiar essa campanha, primeiro porque a gente sabe que a violência psicológica e moral é a primeira violência.

Muito raramente, muito raramente mesmo você vê uma violência doméstica começar com uma agressão física ou com a tentativa de feminicídio ou com feminicídio consumado. Existe uma escala: ela começa com xingamento, com uma agressão verbal.

Logo, se a gente joga luz para essa fase, para esse momento da violência, nós podemos trabalhar no fortalecimento de mulheres para que elas consigam sair dessas relações de violência e também atingir a reflexão masculina à respeito desses comportamentos.

Outro motivo para a gente jogar luz para esse problema é que esse tipo de violência ainda é muito naturalizado. Há muitas pessoas que acham que a violência doméstica é só violência física e não é. E por que é naturalizado?

Porque nós crescemos em uma sociedade, nós vivemos em uma sociedade em que a opressão do homem contra a mulher, do gênero masculino contra o gênero feminino, ou a masculinidade contra as mulheres é naturalizada.

O que se reflete nas falas de dizerem: “Homem é assim mesmo; homem se comporta assim; homem é agressivo; homem sente raiva; você tem que entender”. E assim natutaliza o xingamento, como se o xingamento, a humilhação, uma depreciação fossem fatos normais de um relacionamento amoroso, assim como é o sexo, assim como é fazer programa junto, conhecer as famílias.

Então, nós queremos expor que isso não é natural, não é aceitável. É necessário que haja um desenvolvimento das capacidades emocionais dos homens e também das mulheres, primeiro para que os homens parem de cometer esse tipo de violência e, segundo, para que as mulheres consigam identificar rapidamente esse tipo de violência e se retirar dessa relação.

Um tipo de violência psicológica, por exemplo, o cara mandar você sair do carro quando ele está dirigindo e vocês estão brigando e está de madrugada, no meio da rua, ele abre a porta do carro e fala: sai.

Ele não te bateu, ele não te empurrou, ele só mandou a mulher sair. Por que isso é uma violência psicológica? Porque ele está deixando aquela mulher sozinha, na rua, de madrugada, numa situação de perigo, já que sabemos que a rua de madrugada não é um lugar acolhedor para uma mulher sozinha. Deveria, mas infelizmente não é.

Logo, é sobre essas questões que precisamos jogar luz. Sobre o comportamentos que são, historicamente, tidos como comportamentos normais como comportamentos comuns dentro de uma relação amorosa. Não é normal. Não é comum. É violência. E toda relação tem que ser focada em parceria, respeito, troca e reciprocidade, e amor evidentemente.

Quanto aos principais desafios que a gente enfrenta atualmente é um governo anti-mulheres, anti-direitos humanos, anti-equidades, mas que tenho esperanças de que estamos avançando no debate da sociedade com relação a esse tema e muitos dos desafios que a gente encontra está na cultura, tanto a brasileiro quanto de outros países.

Isso porque a cultura ainda é segmentada na ideia de prevalência física, intelectual e financeira de homens sobre mulheres e é justamente um desafio grande que a gente enfrenta no sentido de desnaturalizar essa estrutura.

Houve, durante muito tempo, por exemplo, o mito de que as mulheres da pré-história eram mulheres que ficavam dentro das cavernas cuidando das crianças e hoje os cientistas descobriram que na verdade não, as mulheres eram tão caçadoras, tão coletoras, tão ativas na vida da comunidade quanto eram os homens.

Então, essa estrutura que nós vivemos hoje é uma estrutura construída social e culturalmente. O que a gente tem desejado é a transformação dessa estrutura para isso a gente precisa contar com o trabalho de escolas, jornais, imprensa como um todo, da cultura, então, novelas, cinemas, séries.

Quem sedimentou determinados estereótipos sobre mulheres, por exemplo, foi a música, foi a televisão, foram as novelas, foram as notícias de jornais. E agora precisamos de um novo olhar, que trabalhe para a disrupção desses estereótipos.

Outras iniciativas

Em alusão à data, a Articulação de Mulheres Brasileiras (AMB) lançou uma série de cards e também uma carta de posicionamento em suas redes sociais. A ideia é provocar a reflexão quanto aos casos de violência contra as mulheres, no Brasil, em diversos formatos.

O material possui quatro eixos temáticos: Violência contra as mulheres negras; Violência contra a mulher e as lideranças religiosas; Violência contra as mulheres lésbicas; O Judiciário e o patriarcado.

Outra iniciativa trata-se de um evento internacional, intitulado “Unidas: Mulheres em Diálogos“, que une diversas nacionalidades e trajetórias, todas com o intuito de promover ações que fortaleçam a luta feminina e feminista.

Assim, até 28 de novembro , Salvador e Berlim serão cidades-sedes do evento, realizado pela UNIDAS, Goethe-Institut e Ministério Alemão das Relações Exteriores.

O encontro terá transmissão na internet e uma programação intensa dividida em quatro blocos temáticos: “Interseccionalidade”, “Direitos das Mulheres e Igualdade de Gênero”, “Violência contra as Mulheres” e “Prevenção de Crises”.

 

 

“Universidade para os trabalhadores: um projeto para uma gestão democrática” foi o tema da minipalestra apresentada nesta terça-feira, 24, por cinco dos 10 integrantes do Grupo de Trabalho Universidade para os Trabalhadores. A atividade fez parte da programação do VIII Seminário de Integração dos Técnicos-Administrativos em Educação da UFRJ (Sintae), evento que prossegue até sexta-feira, 27, com transmissão disponível pelo canal do YouTube da Pró-Reitoria de Pessoal (PR-4). 

O GT Universidade para os Trabalhadores busca resgatar a base da proposta do projeto Universidade para os Trabalhadores do Sintufrj, que foi criado há 34 anos, e mostrá-lo à categoria. O objetivo final é fazer com que os trabalhadores participem das discussões direcionadas à redefinição da universidade pública, por meio de uma proposta ampla de participação democrática no seu interior. 

Seres críticos e atuantes

“Repensar a universidade em bases autônomas e democráticas, cuja produção do saber venha a servir à construção de uma sociedade mais justa e menos desigual” é o que quer o GT, que também pretende debater como formar técnicos-administrativos com visão crítica e atuante na construção da universidade e da sociedade.

A coordenadora de Educação do Sintufrj, Damires França, que faz parte do GT Universidade para os Trabalhadores, fez um relato das reformulações feitas pelo Sindicato no projeto original Universidade para os Trabalhadores, em 2018 e 2019, adequando-o à necessidade de mais especialização e capacitação da categoria. Para estimular o senso crítico, a entidade investiu em publicações voltadas a temas como gênero, raça, assédio moral e carreira – sempre presentes nos movimentos e lutas da categoria. 

“O Sintufrj tem promovido ações que fazem com que os técnicos-administrativos dialoguem e troquem ideias sobre questões presentes na nossa realidade, dentro e fora da universidade. Atuamos para estimular a politização da categoria, para que construam um pensamento crítico dos fatos do seu cotidiano”, afirmou Damires. Segundo a dirigente, a categoria possui saberes que podem ultrapassar os muros da universidade e contribuir para um mundo melhor. 

O papel dos técnicos na universidade

Uma das autoras e ex-coordenadora do Sintufrj, Ana Maria Ribeiro, fez um relato histórico do projeto, e destacou a necessidade de se conquistar a participação democrática de todos os segmentos, em todas as instâncias da UFRJ.

“Nosso objetivo é sensibilizar as novas gerações sobre o papel predominante que a gente tem que ter na atuação da universidade. Queremos que o técnico-administrativo tenha uma participação com o mesmo peso do estudante e do professor, seja respeitado igualmente e que também tenha uma postura crítica perante a realidade em que vive”, afirmou Ana Maria, que faz parte do quadro de servidores do Centro de Filosofia e Ciências Humanas (CFCH).

De acordo com ela, essa postura crítica desejada tem a ver com a atuação do técnico-administrativo. “A nossa universidade tem a sua função na sociedade, e nós, técnicos-administrativos, temos de dar nossa contribuição para dar conta de que as desigualdades e opressões sejam banidas. Então, a nossa ideia de universidade para os trabalhadores passa por isso. Nós temos um papel a cumprir, mas para isso precisamos ser formados”, acrescentou a palestrante. 

Educação e liberdade

“O projeto Universidade para os Trabalhadores trata exatamente da educação como algo libertador”, observou o integrante da Câmara de Políticas Raciais, Rogério Silva. 

“Precisamos discutir nosso fazer e a nossa prática para que sejam valorizados e vistos como parte do funcionamento da universidade. Temos na instituição uma multiplicidade de atores, e é sobre isso que queremos debater com todo o corpo social da UFRJ e com outras universidades e institutos. Queremos trazer todo mundo para discutir com a gente. Quem quiser e tiver disponibilidade”, afirmou Luiz Felipe Cavalcanti, da Escola de Educação Física e Desportos da UFRJ.

Alessandra Monteiro, do Centro de Ciências Jurídicas e Econômicas (CCJE), provocou: 

“Se você quer exercer a democracia, você precisa participar. Não adianta colocar sobre o ombro de outro uma responsabilidade que é nossa. Além de estarmos aqui defendendo o poder crítico do técnico-administrativo e políticas da universidade que nos integrem e façam com que a gente alavanque a nossa carreira e, obviamente, alavanque a sociedade e a universidade, estamos aqui para motivar a categoria a participar desse projeto. Fazer vocês acreditarem que a universidade não é só um balcão de carimbo e processos eletrônicos.”

 

 

Mais de 100 escolas municipais no Rio de Janeiro estão com casos de Covid-19 e esse número pode aumentar com o novo levantamento que o Sindicato Estadual dos Profissionais de Educação do Rio de Janeiro (Sepe-RJ) esperava concluir na terça-feira, 24, à noite. Diante do quadro, o sindicato reivindica a imediata suspensão das atividades pedagógicas presenciais.

O levantamento foi resultado de denúncias de profissionais, estudantes, país e responsáveis. Na segunda-feira, 23, a direção da entidade enviou ofício à Secretaria Municipal de Educação (SME) com os nomes das unidades reivindicando o fechamento imediato de toda a rede e a suspensão das atividades presenciais, visando diminuir o risco de transmissão da Covid-19.

Riscos não foram considerados

A Secretaria Municipal de Educação definiu a volta às aulas presenciais para alunos do Ensino Fundamental do 9º ano e do último ano do Programa de Educação de Jovens, nas escolas públicas municipais cariocas no dia 17 de novembro. Essa decisão envolveria 61 mil alunos em 427 unidades escolares. Mas, segundo o Sepe, a Prefeitura do Rio informou à entidade que somente 5% dos alunos voltaram às aulas.

O Sindicato encaminhou à Secretaria Municipal de Educação a relação das 103 unidades escolares de todas as Coordenadorias Regionais de Educação (CRE) do município que foram fechadas, devido a casos comprovados ou com suspeita de Covid-19. Diante do quadro grave de contaminação, exposto pelo número de escolas fechadas e determinadas a realização de reuniões presenciais com profissionais da educação e responsáveis nas unidades escolares, o sindicato solicitou o imediato fechamento e a suspensão de atividades presenciais.

Esse foi o terceiro ofício enviado à SME nos quais o Sepe denuncia a situação e pede providências contra a má estrutura da rede e a exposição de profissionais e estudantes ao risco de contaminação pelo novo coronavírus.  

Segundo Izabel Costa, da Coordenação-Geral do Sepe-RJ, a lista só aumenta, porque estão chegando na entidade novas denúncias da categoria. E a situação atinge todas as regiões, da Zona Sul à Zona Oeste. 

COORDENADORA do Sepe-RJ, Izabel Costa

Ao todo, o município conta com 1.540 unidades. Com a lista que seria divulgada nesta terça-feira, 24, Izabel previa que se chegasse a 10% das escolas com casos ou suspeita de vítimas do vírus. “Levando em conta que só 427 escolas abriram para atender ao 9º ano, então o percentual é maior ainda. Mesmo assim tem casos de Covid-19 em escola com educação infantil que não tem alunos, mas professores e funcionários foram chamados para cumprir horário. É desastroso, Realmente um quadro absurdo”, constata a dirigente sindical. 

Assembleia 

Desde o dia 10 de agosto, os profissionais de educação estão em greve contra o retorno presencial às escolas, mas mantém as aulas remotas. Nesta terça-feira, 24, a categoria realizou nova assembleia. Segundo Izabel, a assembleia da rede municipal é virtual e acontece em duas partes: na primeira ocorrem os debates (etapa que conta com participação expressiva da categoria) e, na segunda, à tarde, na plataforma de votação.

“Houve (na primeira etapa) um relato de toda pressão que estamos fazendo. Temos mais de 100 escolas fechadas na rede municipal por conta de suspeita ou de casos de Covid-19, desde que voltaram a acontecer reuniões presenciais e a entrega ostensiva de materiais, como tênis, apostilas e livros para os responsáveis. Há relatos de casos como não houve durante todo período da pandemia”, contou Izabel. Segundo a sindicalista, uma semana depois do início das atividades presenciais, “pipocaram” casos nas escolas. “Não são profissionais que estavam em casa e pegaram a Covid-19, mas os que estavam trabalhando”, denunciou.

A assembleia pôs em votação a continuidade da greve em defesa da vida, contra o retorno presencial, mas mantendo as atividades remotas. “Continuamos atendendo nossos alunos porque nossa greve é contra o retorno presencial. Não estamos nos negando a continuar o trabalho com alunos”, fez questão de reafirmar a coordenadora do Sepe-RJ. 

A votação estava prevista para acontecer até às 20h e Izabel acreditava que seria aprovada a manutenção da greve e a continuidade da pressão sobre a SME para a negociação do abono dos dias de fechamento das escolas. 

 “Estamos pressionando todos os dias. Entramos em contato com juristas e com o Ministério Público para que tenham uma posição. Não é possível mais a omissão diante do quadro da pandemia no Rio”, afirmou Izabel. Ela também informou que o Sepe-RJ levou à entidades científicas como a Fiocruz e a UFRJ, dados demonstrando que mesmo que os níveis da pandemia estivessem baixos, boa parte das escolas da rede não teriam condições de reabertura e que também não há fiscalização. 

Rede privada

Segundo Izabel, que também é diretora do Sindicato dos Professores do Município do Rio de Janeiro e Região (Simpro-RJ), as aulas presenciais na rede particular foram autorizadas pela Prefeitura do Rio em outubro. Mas, depois de mais de 100 dias de greve, os profissionais aprovaram em assembleia unificada a suspensão do movimento no dia 28 de outubro, com manutenção de “estado de greve e alerta sanitário em vigilância pela vida”. Os professores, conta Izabel, resistiram o quanto puderam, mesmo assim o Simpro mantém  visita às escolas e intensificou o envio de denúncias sobre as irregularidades ao Ministério Público e à Vigilância Sanitária.

 

 

No Brasil, como resultado das eleições municipais, a maioria das câmaras de vereadores vai ter um número menor de partidos políticos, a partir de 2021.

O Brasil tem 33 partidos políticos, entre direita e esquerda, situação e oposição, grandes e nanicos.

As câmaras municipais refletem essa variedade. As coligações com partidos grandes ajudavam os pequenos a conquistar cadeiras de vereador. Mas essas coligações não são mais permitidas. A mudança começou a valer agora, nesta eleição de 2020, e isso já está redesenhando o mapa partidário no Brasil.

O pesquisador Guilherme Russo, do Centro de Política e Economia do Setor Público da Fundação Getúlio Vargas (Cepesp), calculou como o número de partidos nas câmaras municipais mudou.

Nas cidades com até cinco mil habitantes, as câmaras tinham, em média mais de 5 partidos após a eleição de 2016. Em 2020, essas cidades elegeram vereadores de menos de 4 partidos, em média.

Nos municípios que têm população entre cinco mil e dez mil habitantes, o número médio de partidos representados no Legislativo caiu de 6 para 4. O mesmo movimento de queda aconteceu nas cidades que têm entre dez mil e 20 mil e entre 20 mil e 50 mil habitantes.

Já nas cidades maiores, onde vivem 70% dos brasileiros, o número de partidos representados nas câmaras não variou muito.

“A gente está vendo uma redução no número de partidos nas cidades menores, enquanto nas cidades maiores esse efeito não existiu justamente porque não existiram tantas coligações para vereador nas cidades grandes. A gente tem um Legislativo muito fragmentado e um eleitorado que tem muita dificuldade de entender quais são os partidos e, depois, elencar esses partidos e representam quais ideias. Então, a diminuição é positiva”, disse Guilherme Russo.

O fim das coligações foi estabelecido pela Emenda Constitucional 97, aprovada pelo Congresso em 2017. A emenda também restringiu a distribuição do fundo partidário – dinheiro público usado para financiar campanhas eleitorais e pagar despesas dos partidos como viagens e aluguel. O texto também limitou os partidos aptos a participar da propaganda gratuita no rádio e na televisão.

Para ter acesso ao fundo e à propaganda, as legendas precisaram atingir um desempenho mínimo na eleição para Câmara dos Deputados em 2018. Por exemplo: conseguir, ao menos, 1,5% dos votos válidos.

Nove partidos não atingiram esse mínimo e perderam força na eleição municipal: Rede, PCB, PSTU, PCO, PMB, PMN, PRTB, PTC e DC.

A diminuição de partidos nas câmaras municipais produziu um efeito colateral: segundo levantamento do G1, em 14 cidades haverá vereadores de um único partido. Em 12 delas, eles serão do mesmo partido do prefeito.

“A gente se esquece que Poder Legislativo não tem a função só de legislar, tem uma função de fiscalização do Executivo. No momento em que a Câmara tem o mesmo partido do prefeito municipal corre um grande risco de ter um julgamento puramente político, visando aí interesses políticos, deixando de lado questões essenciais de fiscalização, sem ter esse contraponto da oposição que, muitas vezes, é necessário para fiscalizar”, explicou Maria Fernanda Pessatti de Toledo, professora de direito eleitoral.

 

 

 

Crise prolongada e falta de medidas do governo Bolsonaro para aquecer a economia aumenta pessimismo no país. Pesquisa mostra que, de cada 3 brasileiros, 2 acreditam que o desemprego vai aumentar

Matéria retirada do site da CUT. 

Lucas Guilherme Cena, 23 anos, funcionário de uma loja de calçados em Ribeirão Preto, no interior de São Paulo, está trabalhando, mas tem medo de ficar desempregado. Ele teve o salário reduzido durante o isolamento social para conter a pandemia do novo coronavírus (Covid-19) e mesmo depois da reabertura da economia não tem certeza de que seu emprego está garantido.

“Eu continuei empregado, mas alguns colegas foram demitidos. A gente não vê aquele movimento que tinha antes e o que se fala dentro da loja é que precisa cortar gastos”, diz Lucas se referindo ao temor de – mais cedo ou mais tarde – entrar para a lista dos desempregados, que já atinge quase 14 milhões de trabalhadores e trabalhadoras, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

A angústia de Lucas é a realidade de 67% dos trabalhadores e trabalhadoras. De cada três brasileiros, dois estão pessimistas e acreditam que o desemprego vai aumentar nos próximos tempos. É o que mostra um estudo feito pela Associação Nacional das Instituições de Crédito, Financiamento e Investimento (Acrefi), divulgado pelo jornal Folha de S Paulo.

A longa estagnação da economia, que ‘patina’ desde o golpe de 2016, e se agravou com a pandemia e a falta de medidas por parte do governo de Jair Bolsonaro (ex-PSL), que em quase dois anos de mandato não apresentou uma proposta sequer de desenvolvimento econômico, é sentida pelos brasileiros que pagam a conta da crise, avalia o secretário de Relações do Trabalho da CUT, Ari Aloraldo do Nascimento.

Desde 2016, lembra o secretário, as taxas de desemprego não são inferiores a 10%. Com Bolsonaro, dispararam para mais de 14% e nada foi feito para reverter a situação.

“Desde o início do mandato, as ações do governo Bolsonaro têm se sido insuficientes para alavancar a economia e, em alguns casos, pior que isso: são contrárias ao desenvolvimento”, diz o secretário.

“A redução de gastos sociais do governo, o não cumprimento da regra de valorização do salário mínimo, o desmonte da previdência são fatores que demonstram a política desastrosa que vivemos e que penaliza os trabalhadores. A pandemia somente intensificou o processo”, completa Ari.

E o cenário não deve melhorar. De acordo com o economista da subseção do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos da CUT, Clovis Scherer, a taxa de desemprego, que hoje está em 14,4%, tende a aumentar porque muitas pessoas perderam o emprego durante a pandemia e não buscaram uma nova colocação no mercado de trabalho.

“Esses trabalhadores deixam a condição de ‘inativos’ e passam para a de desempregados. Sem uma recuperação da atividade econômica, o resultado vai ser de muitas pessoas procurando emprego sem demanda de trabalho para absorver essa mão de obra”, diz o economista.

De acordo com a metodologia do IBGE, se uma pessoa está sem trabalho, mas não procura emprego, por medo da Covid-19, ela não é computada como desempregada.

Segundo Clóvis, o setor serviços, maior empregador, tem vários segmentos que ainda não apresentam bons sinais de retomada. “Isso pode demorar a acontecer, então a perspectiva não é muito animadora” ele conclui.

 

Expectativa X realidade

O economista do Dieese vê uma grande incerteza sobre uma melhora no mercado de trabalho. “Depende da vacinação, quando ela ocorrerá, e da condução da política econômica a partir de janeiro. Isso porque não se sabe se o governo vai manter medidas de estímulo”.

Uma dessas políticas é o auxílio emergencial. Resultado da luta da CUT, partidos de oposição e movimentos sociais tem data marcada pelo governo  Bolsonaro para terminar. O governo já reduziu para R$ 300,00 e dezembro deve ser o último mês do programa.

O auxílio emergencial garantiu renda para o sustento de mais de 60 milhões de brasileiros durante a pandemia. Clovis Scherer afirma que o fim do programa vai obrigar mais trabalhadores, em especial os mais pobres, a saírem do isolamento para buscar uma colocação no mercado.

Tanto o auxílio emergencial quanto outros programas de transferência de renda, como o Bolsa-Família, dependem do teto de gastos (EC-95), que será uma barreira a essas medidas.

“É compreensível, portanto, que as pessoas estejam pessimistas tanto em relação ao emprego quanto em relação ao consumo. O teto dos gastos influencia na execução de obras e programas sociais, que resultam em maior movimentação econômica e consequente aumento de demanda e de empregos”, diz Clovis.

Para Ari Aloraldo, o pessimismo dos brasileiros “mostra que as pessoas começam a sentir na pele a visão elitista do Estado, que faz de tudo para os mais ricos enquanto que para os mais pobres são desmontadas as políticas deixando-os à deriva, lutando para suprir necessidades”.

 

Outros dados

A pesquisa “Perspectivas 2020: Expectativa dos Brasileiros com o Cenário Político & Social” mostra que em outubro do ano passado, menos pessoas demonstravam pessimismo em relação ao futuro no trabalho. O percentual era de 55%.

Dos 2.000 entrevistados, apenas 18% dizem estar tranquilos sobre estabilidade no emprego. Outros 59% dizem estar preocupados e 23% já estão desempregados.

O estudo mostra ainda o nível de satisfação com a economia. Levando em consideração a soma entre ruim e péssimo, a avaliação sobre a condução da economia pelo governo é negativa. Mais da metade da população não está satisfeita.

Boa: 9%

Regular: 38%

Ruim: 32%

Péssima: 19%

 

Em nota, entidade repudia o crime ocorrido no Carrefour, revelador do “racismo estrutural da sociedade brasileira”

Matéria retirada do Brasil de Fato.

Em nota de repúdio ao assassinato de João Alberto Silveira Freitas por seguranças do Carrefour em Porto Alegre, na quinta-feira (19), o Comitê em Defesa da Democracia e do Estado Democrático de Direito se coloca ao lado das diversas entidades nacionais e internacionais que exigem a rigorosa investigação e punição dos autores do crime.

“Nesse ato brutal, que por certo não ocorreria da mesma forma com um cidadão branco, manifesta-se o racismo estrutural da sociedade brasileira, claramente comprovado pelos índices mais elevados, na população negra, das estatísticas oficiais relativas ao desemprego, à baixa renda, à menor expectativa de vida, ao maior índice de morte por Covid 19, à violência contra as mulheres, à mortalidade entre jovens, à população carcerária e a outros tantos indicadores sociais”, diz trecho da nota.

O texto critica ainda o presidente Jair Bolsonaro que, ao referir-se à morte de João Alberto, afirmou a inexistência de racismo no Brasil. “Alheio ao clamor público nacional e internacional, manteve-se calado diante do crime”, pontua. “Combater com firmeza e vencer o racismo é uma condição para que o Brasil se torne uma nação justa e democrática”, afirma o Comitê.

Abaixo, a nota na íntegra:

Nota de repúdio ao brutal espancamento e morte de um cidadão negro em Porto Alegre

O Comitê em Defesa da Democracia e do Estado Democrático de Direito vem a público manifestar o seu mais veemente repúdio à morte por espancamento de João Alberto Silveira Freitas, cidadão negro, por seguranças no supermercado Carrefour da zona norte de Porto Alegre, no dia 19 de novembro.

João Alberto foi espancado até a morte no estacionamento do supermercado, ao qual foi conduzido por seguranças que, segundo relatos e vídeos divulgados pela imprensa, impediram a aproximação de pessoas que apelavam pela interrupção da violência.

Nesse ato brutal, que por certo não ocorreria da mesma forma com um cidadão branco, manifesta-se o racismo estrutural da sociedade brasileira, claramente comprovado pelos índices mais elevados, na população negra, das estatísticas oficiais relativas ao desemprego, à baixa renda, à menor expectativa de vida, ao maior índice de morte por Covid 19, à violência contra as mulheres, à mortalidade entre jovens, à população carcerária e a outros tantos indicadores sociais.

De costas para as estatísticas oficiais, o vice presidente da República, ao referir-se à morte de João Alberto, afirmou a inexistência de racismo no Brasil e o presidente da República, alheio ao clamor público nacional e internacional, manteve-se calado diante do crime.

Após mais de 130 anos da abolição da escravatura, o Brasil continua incapaz de garantir à população negra, que representa hoje mais de 50% dos brasileiros, o acesso aos benefícios sociais criados com a riqueza produzida por seu próprio trabalho. Nem é capaz de lhe garantir o respeito das instituições, principalmente na área de segurança pública.
Agentes de segurança, públicos e privados, não são treinados como deveriam para manter a ordem social protegendo a vida e respeitando os cidadãos, independentemente de sua condição racial e social, registrando-se inúmeros episódios que vão da humilhação à tortura e morte principalmente da população negra.

Consciente dessa realidade, o Comitê em Defesa da Democracia e do Estado Democrático de Direito se soma ao clamor de entidades nacionais e internacionais que exigem a rigorosa investigação e punição dos autores do assassinato de João Alberto Silveira Freitas, um deles um “policial militar temporário”, situação profissional considerada inconstitucional, e dos demais responsáveis pela segurança que assistiram a violência e morte sem interrompê-la, com a cobrança da responsabilidade do supermercado Carrefour e da empresa de segurança Vector, incapaz de exercer seu trabalho garantindo a vida e a integridade dos cidadãos.

Combater com firmeza e vencer o racismo é uma condição para que o Brasil se torne uma nação justa e democrática.

Desde o 20 de novembro, manifestantes tomam as ruas em todo o país por justiça a João Alberto, brutalmente assassinado em Porto Alegre – Pedro Stropasolas/Brasil de Fato

 

 

 

Ao Brasil de Fato, liderança do movimento negro no país defendeu subir o tom em protestos: “Acabou a paciência”

Matéria retirada do Brasil de Fato. 

Uma das lideranças do movimento negro no Brasil, Douglas Belchior está incomodado. Quando chegou à manifestação da última sexta-feira (20), na avenida Paulista, em São Paulo, que deveria ser um ato pelo Dia da Consciência Negra e se tornou mais um protesto em repúdio à morte de um homem negro, o militante disparou. “Até quando? Está insuportável.”

Na noite anterior, João Alberto Silveira Freitas, de 40 anos, foi espancado até a morte por dois seguranças privados e terceirizados do Carrefour, em uma unidade da multinacional francesa em Porto Alegre (RS). Os dois agentes são funcionários do Grupo Vector e trabalhavam irregularmente, de acordo com a Polícia Federal (PF). Ambos foram presos.

“O que se viu no mercado dos playboys da Pamplona foi legítima defesa”, explica Douglas Belchior – Foto: Pedro Stropassolas

No dia seguinte, por volta de 18h, o movimento negro marchou da avenida Paulista até a unidade do Carrefour na rua Pamplona, nos Jardins, zona nobre de São Paulo (SP). Lá, um grupo se destacou e entrou no supermercado, destruindo e incendiando a unidade. Ninguém ficou ferido durante a ação e nenhum militante foi preso.

Douglas Belchior, fundador da Uneafro e da Coalizão Negra por Direitos, explica que a ação não estava planejada.

“O que houve durante a marcha e a ação no Carrefour, a ocupação e a ação direta, não foi articulada ou combinada. Foi ação espontânea de parte dos que estavam na marcha, pessoas negras e brancas revoltadas, indignadas, e com toda razão”, enfatiza.

Para Belchior, esse deve ser o novo tom adotado pelo movimento negro daqui em diante. “Protestamos em legítima defesa de nossas vidas. E é um protesto absolutamente desproporcional. Eles nos matam. Nós escrevemos notas de repúdio, organizamos caminhadas, fazemos protestos pacíficos, denunciamos na ONU [Organização das Nações Unidas]. Até quando deve durar nossa paciência?”, questiona o militante.

Confira a entrevista na íntegra:

Brasil de Fato: Douglas, a ação de ontem foi articulada pelo movimento negro?

Douglas Belchior: A Marcha da Consciência Negra é uma ação organizada por entidades do movimento negro já há 17 anos. Isso sim foi articulado. O que houve depois, durante a marcha e a ação no Carrefour, a ocupação e a ação direta, não foi articulada ou combinada. Foi ação espontânea de parte dos que estavam na marcha, pessoas negras e brancas revoltadas, indignadas, e com toda razão.

Douglas, você está nas ruas têm 20 anos. Inúmeros protestos e reuniões com representantes do poder público. Você cansou?

Não se trata de eu ter cansado. Não sou um militante avulso e não atuo a partir da minha vontade individual. Sou organizado em um movimento. Me submeto à construções e decisões coletivas. O movimento do qual sou parte é uma das organizações responsáveis pela marcha e não houve qualquer orientação dessas instâncias no sentido de que se deveria ocupar o supermercado.

Eu, particularmente, sou a favor do diálogo. Acredito no poder das ideias e na capacidade que os seres humanos têm de resolver problemas com inteligência e sabedoria. Mas também acho que tudo tem limite e que a população negra brasileira, por conta da história de violência permanente que sofre, tem muitas razões para perder a paciência. Acabou a paciência. Albert Camus, filósofo franco argelino dizia que “a violência não é patrimônio dos exploradores. Os explorados também podem empregá-la”. E eu concordo com ele.

Por quê você acha que o ataque ao mercado começou?

O Carrefour atacou primeiro. João Alberto foi espancado até a morte na frente da esposa. Pediu socorro e não foi atendido. O que se viu no mercado dos playboys da Pamplona foi legítima defesa, assim como em Recife. O que sê vê nos protestos que estão acontecendo em todo país é legítima defesa.

Até quando deve durar nossa paciência? Até matarem o último negro?

Protestamos em legítima defesa de nossas vidas. E é um protesto absolutamente desproporcional. Eles nos matam. Nós escrevemos notas de repúdio, organizamos caminhadas, fazemos protestos pacíficos, denunciamos na ONU. Até quando deve durar nossa paciência? Até matarem o último negro?

Sempre organizamos ações e protestos em que ocupamos shoppings ou ruas com muitas lojas de departamento, quase sempre sem nenhum incidente. Eu estava no chão e acompanhei a marcha toda, do Masp [Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand] até o Carrefour da Pamplona, sempre à frente da caminhada.

Um mercado é pouco. Há motivos para pôr fogo no mundo!

Foi uma ação espontânea. A expressão “à flor da pele”, da nossa pele preta, cabe como nunca. Havia um clima de chega, de basta, de não aguento mais. Quando se percebeu, as pessoas já estavam dentro do supermercado. E lá, agiram em legítima defesa. Um mercado é pouco. Há motivos para pôr fogo no mundo!

O tom de reivindicação do movimento negro tende a se manter elevado daqui para frente?

O tom da reivindicação do movimento negro vem aumentando nos últimos anos. O movimento pautou a sociedade no último período. Em especial neste ano de 2020 no Brasil, o debate politico ficou em torno da pandemia do corona vírus e do racismo.

O que são vidraças e prateleiras diante do sofrimento de uma família, filhos, esposa, mãe, que perde o pai, o marido o filho, por conta da violência racial? 

A pressão imposta pelo movimento negro e por parte da sociedade que nos apoia, nos levou a avanços institucionais importantes. O TSE [Tribunal Superior Eleitoral] e o STF [Supremo Tribunal Federal] terem acatado a reivindicação dos movimentos e obrigado os partidos a distribuir recursos para candidaturas negras – por mais pouco eficaz que tenha sido; a eleição de vereadoras e vereadores negras e negros Brasil afora; e agora o fato de altos executivos virem se desculpar em público pelo racismo de suas empresas, isso tudo é fruto da radicalização do movimento negro. Eu espero que seja daqui para mais, nenhum passo atrás.

Leia Mais.: Racismo e morte no Carrefour são a ponta de um iceberg envolvendo multinacionais

Dessa vez, a oposição aos protestos violentos foi bem menor do que em outros momentos. Ainda assim, como você leu a crítica dos que classificam como vandalismo a ação de sexta-feira?

Temos uma sociedade e especialmente uma imprensa que criminaliza lutas sociais, lideranças e ativistas. A cobertura jornalística brasileira olha para manifestações contra o racismo nos EUA e os chama de protestos. Olham para as pessoas e os chamam de manifestantes.

Aqui, as manifestações contra o racismo são tratadas como baderna, depredação e as pessoas como vândalos e criminosos. Mas o que é vandalismo num país que mata um jovem negro a cada 23 minutos? Porque o patrimônio vale mais do que uma vida humana?

Esse país é um barril de pólvora. E o povo negro é a faísca, é o fósforo. É bom que saibam disso

O que são vidraças e prateleiras diante do sofrimento de uma família, filhos, esposa, mãe, que perde o pai, o marido o filho, por conta da violência racial? Estamos num estágio tão avançado do genocídio negro que, talvez, parte das pessoas brancas estejam começando a perceber. Quero acreditar nisso. Esse país é um barril de pólvora. E o povo negro é a faísca, é o fósforo. É bom que saibam disso.

A esquerda negra avançou em representatividade no legislativo em todo o país. Como você acha que esse recado de sexta-feira vai ecoar nos gabinetes dos parlamentares eleitos?

Pessoas negras, sobretudo aquelas alinhadas às pautas e agendas dos movimentos negros, ocupam esse lugar para fazer a diferença. Para dar voz às demandas históricas que carregamos nas costas, para radicalizar o exercício parlamentar e executivo em favor do povo negro.

Estamos numa virada de página da história. Acredito que nossos parlamentares em todo país tem essa percepção e colocarão seus mandatos a serviço desta tarefa histórica, que é fazer avançar as lutas do povo negro nos espaços institucionais e, ao mesmo tempo, fortalecer os movimentos em sua tarefa de pressionar a sociedade nas ruas, custe quantas vidraças e prateleiras custar.

 

 

Bolsonaro foi ao Amapá 19 dias após o 1º apagão para ligar os geradores termoelétricos que reestabeleceriam a eletricidade no estado. Além de não resolver o problema, o presidente provocou tumulto e foi vaiado

Matéria retirada do site da CUT. 

Depois de 21 dias de apagão causado por um incêndio em um transformador da empresa privada Isolux, a população do Macapá (AP), sofreu neste domingo (22) com a chuva mais intensa do ano, que alagou vários pontos da capital e provocou a explosão e curto-circuito na rede elétrica do bairro Brasil Novo, Zona Norte de Macapá.

Indignados com o descaso e a incompetência do governo de Jair Bolsonaro (ex-PSL), que não resolveu o problema e demorou 19 dias desde o primeiro apagão para ir ao estado demonstrar alguma solidariedade, os amapaenses não perdoaram o presidente no último sábado (21) quando ele desfilou na porta de uma carro anunciando a  “solução”, que não chegou, para o problema.

Bolsonaro foi ao estado para ligar os geradores termoelétricos nas subestações de Santana e Santa Rita, que reestabeleceriam a eletricidade. Mas tudo deu errado.

Testando sua popularidade, o presidente desfilou em carreata com o corpo para fora de um veículo, o que é proibido pelas leis de trânsito do país. Ouviu  vaias e xingamentos como “Fora Bolsonaro!”, “Miliciano”, “ seu merda”, “Filho da p*”.” e “Vai tomar no c*”. Moradores da cidade  também exigiram sua saída da Presidência da República.

Explosões na rede elétrica e fortes chuvas

Horas depois da visita presidencial, na noite deste domingo (22) houve uma explosão e curto-circuito na rede elétrica do bairro Brasil Novo, Zona Norte da capital Macapá, deixando o bairro às escuras. Moradores registraram em vídeo a explosão na rede elétrica. Também há relatos de que o rodízio de energia continua e não funciona nos horários estabelecidos pelo governo.

A desculpa para as novas explosões é a forte chuva que caiu sob a capital. Segundo a Companhia de Eletricidade do Amapá (CEA) o problema na rede elétrica foi causado pelo atrito entre dois cabos de alta tensão, devido à ventania.

Em Macapá, casas foram totalmente inundadas, invadidas pela água da chuva e também do esgoto. Em menos de uma hora choveu 74 milímetros enquanto que a previsão do Núcleo de Hidrometeorologia e Energias Renováveis (NHMet) era de 45 milímetros – foi a maior chuva registrada no ano.