Tony Figueiredo, o diretor da Divisão de Enfermagem do Hospital do Fundão, relata o impacto da epidemia no dia a dia de um profissional de saúde

No olho do furacão das ações relacionadas ao combate do coronavírus no Hospital Universitário Clementino Fraga Filho (HUCFF), Tony Figueiredo têm vivido dias intensos. Diretor da estratégica Divisão de Enfermagem (DEN) do hospital, este enfermeiro intensivista, pai de uma menina diabética de 8 anos, expressa a alma despojada de milhares de profissionais de sáude que, num solavanco do destino, foram colocados num cotidiano de incerteza trazido pelo vírus desconhecido.

Tony está na direção da DEN desde dezembro de 2017. Na UFRJ há 14 anos. Outra parte de sua jornada de trabalho ele cumpre no Hospital Universitário Antônio Pedro (HUAP, da UFF), desde 1994.

Nesta terça-feira, 12 de maio, se comemora o Dia Internacional do Enfermeiro. Tony deseja com a efeméride inspire a sociedade a valorizar a profissão, cuja importância ganhou visibilidade na crise sanitária.

“Falando como enfermeiro, também tenho família, uma filha de 8 anos que é diabética. Tem um mês que não a vejo. Está com meus pais, isolados, em Arraial do Cabo”, conta. A sua esposa também é enfermeira. Os dois tomaram a decisão de deixar também os outros dois filhos com os avós.

Preocupação com quem a gente ama

“A gente fica com muito medo, não é nem tanto por nós, profissionais de saúde”, disse, tentando esconder a emoção. “O maior medo é de contaminar pessoas que a gente ama. Sabemos do nosso dever, da nossa responsabilidade social neste momento. A população precisa da gente. Por isso que a gente pede: evite sair de casa para evitar a circulação do vírus e a gente possa controlar essa pandemia”.

O enfermeiro lamenta a resistência ao isolamento social no Rio de Janeiro e em outras partes do país.

Na cadeia de preocupações de um líder de equipes em hospital em tempos de epidemia, além, claro, da assistência aos pacientes, estão incluídas a atenção aos profissionais que atuam na linha de frente, a forma correta do uso do equipamento de proteção individual (EPI), e o treinamento (inclusive com os colegas novos, recrutados no calor do combate à covid-19)

Há muitos profissionais afastados por conta de casos suspeitos ou confirmados de contaminação ou porque são da população vulnerável (cerca de 300, só na enfermagem). “Tentamos adequar os profissionais que têm certa vulnerabilidade ou idade avançada aos locais que não requerem atenção a pacientes acometidos por Covid-19”, conta Tony.

O HUCFF foi dividido em alas. Uma é dedicada aos pacientes acometidos por covid-19 e outra para os demais. Há novos profissionais contratados que ainda estão se adaptando à rotina.

DIA INTERNACIONAL DO ENFERMEIRO

O 12 de Maio, o Dia Internacional da Enfermagem é celebrado mundialmente desde 1965. Porém, oficialmente esta data só foi estabelecida em 1974, a partir da decisão do Conselho Internacional de Enfermeiros.

O Colégio de Gestores de Comunicação (Cogecom) da Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes) divulgou nesta segunda-feira, 11, o resultado de uma pesquisa sobre as ações de enfrentamento à Covid-19 realizadas pelas universidades federais.

O levantamento traz dados como números de leitos disponibilizados pelos hospitais universitários, volume de álcool gel distribuído, quantidade de equipamento de proteção individual (EPI) produzidos, número de testes realizado e pesquisas científicas desenvolvidas.

Este levantamento, que será atualizado constantemente, resultou em uma mostra significativa de atividades de ensino, pesquisas e extensão voltadas para o enfrentamento emergencial da pandemia no Brasil. Das 67 instituições federais de ensino superior (Ifes) brasileiras, 46 responderam à pesquisa, entre elas a UFRJ. Outras universidades que não participaram ainda poderão disponibilizar as suas informações e os dados serão atualizados.

Os dados da pesquisa foram anunciados em coletiva de imprensa feita remotamente pelo presidente da Andifes e reitor da Universidade Federal da Bahia (UFBA), João Carlos Salles Pires da Silva.

HUs

Os Hospitais Universitários (Hus) do país, de acordo com o levantamento, estão disponibilizando 2.228 leitos normais para tratamento da pandemia e 489 leitos de UTI, sendo que o número total inclui leitos próprios e outros viabilizados em parcerias para a construção e a operacionalização de hospitais de campanha.

O papel dos Hus no enfrentamento à pandemia foi destacado pelo presidente da Andifes no levantamento. Segundo Salles, o sistema das universidades federais, que é referência em diversas áreas, está impactado pelo colapso do Sistema Único de Saúde (SUS) devido à pandemia.

Números

Há 283 pesquisas sobre o coronavírus em andamento nas Ifes e 96 ações de produção de álcool gel e 912 mil litros de álcool líquido. Houve 104 ações de produção de EPIs, sendo produzidos, até o momento, 162.964 protetores faciais, 85.514 máscaras de pano, 20.200 unidades diversas, 6 mil aventais e 2 mil capazes.

Testagem

As ações de testagem do Coranavírus chegam a 53, com números de 2.600 testes diários e de 55.001 testes realizados. Até o momento foram feitas 697 campanhas educacionais e 341 ações solidárias.

Parcerias

Além disso, a pesquisa ainda mostrou que foram desenvolvidas 287 outras ações expressivas. As Ifes realizaram 198 parcerias com prefeituras e com governos estaduais.

Pesquisas

Sobre a evolução e o estágio das pesquisas desenvolvidas pela Ifes, há uma grande variedade de iniciativas pelo Brasil. E nelas importantes estudos relativos a vacinas e testes. “Há 823 pesquisas em andamento. Basicamente está sendo feito a identificação do genoma viral, o que permite depois de estabelecer uma vacina. Outros grupos estão trabalhando em um sistema informatizado para detecção de casos. Há iniciativas buscando maneiras de realizar testes com preços mais baixos”, informou a reitora da Universidade de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA), Lúcia Pellanda.

Contribuição poderia ser maior

De acordo com o presidente da Andifes, o levantamento teve como objetivo divulgar o volume das respostas das Ifes durante o período de pandemia, mesmo diante da falta crônica de verbas.

“As universidades públicas, assim como o SUS, têm conseguido dar as respostas mais eficazes neste momento. Evidentemente que estão atuando com as condições que têm. Estamos sofrendo uma defasagem orçamentária que, se não houvesse, possibilitaria respostas mais robustas. Elas estão respondendo atualmente a isso com uma seriedade imensa, que pode ser observado a partir dos números apresentados”, declarou João Carlos Salles.

Salles disse ainda que há também ações apoiadas pela Secretaria da Educação Superior (Sesu) do MEC.