Cerca de 600 mil pessoas foram às ruas nas 26 capitais, no Distrito Federal e em centenas de cidades do Brasil e do exterior no quarto dia nacional de mobilização “fora, Bolsonaro”, realizado no sábado (24).
No Minuto a Minuto da CUT é possível ver informações e imagens de centenas de atos realizados em todo o mundo e no Mapa dos Atos a lista de cidades onde o povo foi às ruas.
O presidente Nacional da CUT, Sérgio Nobre, disse na Avenida Paulista, em São Paulo, onde milhares de pessoas foram pedir o impeacment de Jair Bolsonaro (ex-PSL) que os protestos continuarão até que Bolsonaro caia.
Além do impeachment do presidente Jair Bolsonaro (ex-PSL) por crimes contra a democracia e contra a vida, a pauta dos 509 atos realizados também abordou em faixas, cartazes e discursos temas como as denúncias de pedido de propina nas negociações para compra de vacinas, que atrasaram a entrada do imunizante no Brasil, contribuindo com a morte de milhões de brasileiros. A pauta teve ainda pedido de pagamento do auxílio emergencial de R$ 600 até o fim da pandemia, foi contra a reforma Administrativa e as privatizações.
Em várias capitais, os manifestantes homenagearam os quase 550 mil mortos em decorrência da Covid-19, doença provocada pelo novo coronavírus, e várias pessoas levaram cartazes lamentando a morte de parentes e côngujes que não tiveram tempo de esperar a vacina ou afirmando que o tratamento precoce com remédios ineficazes recomentado por Bolsonaro matou um parente, como no cartaz desta esposa quu vive um luto doloroso, sem despedida, sem velório, como os parentes dos 550 mil mortos em decorrência da Covid-19 no país.
As lideranças da Campanha Nacional Fora Bolsonaro, formada pelas frentes Brasil Popular e Povo sem Medo, centrais sindicais como a CUT, movimentos sociais como o MST e partidos políticos avaliam que os atos de sábado ganharam capilaridade em relação aos atos anteriores.
Em 29 de maio, foram realizados atos em ao menos 227 cidades do Brasil e 14 do exterior, com cerca de 420 mil pessoas. No segundo protesto, em 19 de junho, foram 427 atos em 366 cidades do Brasil e em 42 cidades do exterior em 17 países, com um público total de 750 mil pessoas.
Já no ato do 3 de julho, antecipado por causa das denúncias de corrupção feitas na CPI da Covid do Senado, 800 mil pessoas foram às ruas em 352 atos em 312 cidades do Brasil, em todos os estados e no Distrito Federal, e 35 no exterior em 16 países.
Data é parte de atividades do Julho das Pretas, mês em que se dá visibilidade especial na luta contra o racismo, o machismo e a discriminação de classe que vitimizam de maneira mais cruel as mulheres negras
O Dia da Mulher Negra, celebrado em 25 de julho, este ano, tem um peso especial para a luta das mulheres negras por dignidade e melhores condições de vida. A pandemia do novo coronavírus acentuou as desigualdades na sociedade e no que se refere a essas mulheres o impacto foi ainda maior do que para o restante da população.
A data, chamada oficialmente de Dia Internacional da Mulher Negra Latino Americana e Caribenha faz parte das atividades do Julho das Pretas, mês em que a luta ganha visibilidade. No Brasil, pela Lei nº 12.987/2014, sancionada pela presidenta Dilma Rousseff, a data também passou a ser o Dia Nacional de Tereza de Benguela e da Mulher Negra. Tereza de Benguela foi uma líder quilombola do século 18
E este julho, de 2021, é um mês de denúncia ainda maior sobre uma situação que já existia antes da pandemia e que a crise sanitária escancar. A afirmação é de Juneia Batista, secretária da Mulher Trabalhadora da CUT.
“Com a pandemia ficaram escancaradas a desigualdade e a condição da mulher, em especial das mulheres negras, periféricas que são as que estão morrendo e lutando para dar o que comer para seus filhos. E, mais que nunca, estamos levantando a voz para dizermos que essa situação não pode continuar”, diz a dirigente.
Os governos não podem estar acima da vida das pessoas. A pandemia trouxe a dificuldade pela questão econômica, mas ainda faltam políticas públicas de proteção às mulheres negras
– Junéia Batista
Levantamento feito pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), com base na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad-Contínua), mostra que o desemprego foi um dos fatores que mais as afetaram as mulheres negras (28,1% ), apesar delas representarem apenas 17,3% dos ocupados em 2020 – maior número por camada de desempregados no país.
Na pandemia esse quadro piorou. A taxa de desocupação subiu para 21,4% em 2021. Cerca de 700 mil mulheres negras ficaram desempregadas. Grande parte das que conseguiram se manter no emprego ainda amargam a condição de estar em trabalhos precarizados e com os menores níveis de renda.
De acordo com o levantamento, 48,4% das mulheres negras são assalariadas formais, 24,1% assalariadas informais e 22,1% trabalham por conta própria, ou seja, fazendo bicos. A renda média das trabalhadoras negras é menos da metade da média salarial de homens brancos. Enquanto elas ganham R$ 1.617, os brancos ganham R$ 3.540.
Esses números, aliados a outros fatores sociais, reforçam tanto o racismo estrutural na sociedade quanto o desafio do movimento sindical, movimentos de mulheres e movimentos negros no combate à desigualdade.
Para Anatalina Lourenço, secretaria de Combate ao Racismo da CUT, a mulher negra sofre com os piores índices possíveis, não só no desemprego, mas em relação à discriminação e a violência. Dados do Atlas da Violência 2020, feito pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) em parceria com o Fórum Nacional de Segurança Pública, mostram que em 2018, 68% das mulheres assassinadas no Brasil eram negras.
“Esses índices têm de servir de base para a construção de políticas públicas de proteção e combate à violência contra a mulher”, ela afirma a secretaria ressaltando que não se trata apenas de dados estatísticos e sim da vida das mulheres negras.
Rosana Fernandes, secretária Adjunta de Combate ao Racismo da CUT observa ainda que a causa dos piores índices é o racismo, o machismo a a questão classista – características que resultam, de fato, na violência contra a mulher negra
“A gente costuma falar sempre que não existe bala perdida e sim bala que é achada no corpo da mulher negra”, diz Rosana.
Descoberta pessoal
O processo de empoderamento e resistência da mulher negra não é uma tarefa fácil. Carmen Foro, Secretária-Geral da CUT, contou sua experiência em um programa especial transmitido pelas redes sociais da CUT e entidades filiadas, neste domingo (25).
Na Roda de Conversa Mulheres Negras em Defesa do Bem Viver, Carmen disse que as crianças nascem sem saber a cor da pele, chegam ao mundo sem noção das crueldades do ser humano.
“Todo dia me descubro uma mulher negra. Todos os dias vejo quanta diferença há em ser negra. E quando se é negra e pobre, isso dói muito mais”, disse.
Assim como para a maior parte das meninas e mulheres negras, o preconceito pela cor de pele, do cabelo, pela classe social torna a trajetória delas um tanto mais difícil – ainda mais quando se trata de mulheres e o machismo está envolvido.
“Me sentia objetificada e não tinha consciência disso”, disse Carmen, afirmando que hoje a luta é fazer com que as pessoas negras ser reconheçam e exijam o lugar na sociedade que lhes é de direito.
Todos os dias eu vivo e me reconheço como negra e isso vai reforçando a consciência de que esse mundo é racista e o mundo para as mulheres negras é mais cruel ainda
– Carmen Foro
Ainda na live, a primeira vereadora negra eleita em Curitiba, Ana Carolina Dartora (PT), afirmou que essa crueldade é comprovada pela própria colocação das mulheres negras na pirâmide social brasileira.
“Estar na base da pirâmide social demonstra a violência que a gente sofre, a sub-representação política, a falta de políticas públicas. Somos as desempregadas ou precarizadas, e no trabalho doméstico ainda como um resquício do período da escravidão”, disse a vereadora.
Quando a sociedade estiver boa pra uma mulher negra viver, estará bom para todos viverem
– Ana Carolina Dartora
Jaqueline Santos, consultora do Geledés Instituto da Mulher Negra, explica que o Brasil, historicamente, ainda continua em um processo de colonização e o racismo permeia todas as ações da sociedade.
Anatalina Lourenço diz ainda que o racismo organiza a sociedade e opera em diferentes instâncias, e que “este é o momento de discutir políticas necessárias para destruir a pirâmide e romper com o histórico de manter a mulher negras nesses espaços”, se referindo às piores condições de trabalho e renda.
Empoderamento
Exemplos de negros em lugares de destaque não são muitos mas devem servir de referências para a luta por igualdade. As Olimpíadas de Tóquio trouxeram dois emblemas para essa luta. Um deles é a tenista Naomi Osaka, filha de mãe japonesa e pai haitiano, que foi convidada a abrir os jogos de 2021.
Naomi é personagem que carrega bagagem no ativismo contra a discriminação racial. Também protagoniza passagens importantes em sua própria história como ter abandonar o torneio de Roland Garros após ser punida por não querer participar de entrevistas coletivas, que segundo ela não faziam nem bem à sua saúde mental. Sim, a tenista sofre de depressão e fala abertamente sobre isso.
“Eu já estou me sentindo vulnerável e ansiosa então pensei ser melhor exercitar o autocuidado e abandonar as coletivas…quando for a hora, realmente quero discutir formas de fazermos o melhor para os jogadores, imprensa e fãs”, disse ela no Twitter
Outro exemplo e motivo de muito orgulho para os brasileiros é a ginasta Rebeca Andrade que garantiu, neste domingo – dia da Mulher Negra – vaga em três finais individuais – no solo, no salto e no individual geral.
Ao som de o “Baile da Favela”, música de MC João, Rebeca causou furor nas redes sociais, que não se renderam ao encanto e a atitude da atleta, de 22 anos de idade.
Mas o Brasil ainda tem a prata no skate. Rayssa Leal tem apenas 13 anos de idade, um sorriso despretensioso, de aparelho nos dentes, que simboliza a esperança que toda criança negra deveria ter no país.
Natural de Imperatriz, no Maranhão, a jovem ganhou seu primeiro título em 2019. Incentivada pelos pais, ganhou uma prata no mundial de São Paulo, cidade em que durante muitos anos, o skate, esporte praticado, predominantemente por jovens de periferia, foi marginalizado.
Janio Quadros, quando prefeito da capital paulista, em 1988, proibiu a circulação de skatistas na cidade, afirmando que se tratava de ‘coisa de vagabundo’.
Foi a prefeita Luiza Erundia, então do PT, que anos mais tarde não só revogou o decreto de Jânio como incentivou a prática do esporte. Tanto que recebeu, direto de Toquio, um agradecimento de outro skatista brasileiro – Kelvin Hoefler – um agradecimento especial.
“Obrigado por acreditar no skate”, disse Kelvin, que também ganhou prata no street skate no Japão.
É prova de que simples ações do poder público podem render um futuro para os jovens negros e de periferia. Mas é um caminho ainda longo a ser trilhado.
“Em casa, a gente ensina a todo momento que nossos filhos têm que se amar, do jeito que são e o que mais dói é que vai chegar um tempo em que a gente terá de dizer que ele deverá ter cuidado na rua, que não pode se expressar de forma brusca porque será alvo da PM. O poder público que deveria proteger, é quem mais tira a vida dos nossos filhos”, lamentou Rosana Fernandes.
O presidente Jair Bolsonaro se encontrou com a deputada alemã Beatrix von Storch, no Palácio do Planalto. Neta de um ministro de Adolf Hitler, ela integra o partido Alternativa para a Alemanha, sigla neonazista alemã de ultradireita.
Uma foto do encontro, que não estava previsto na agenda oficial, foi publicada pela parlamentar em seu perfil no Instagram nesta segunda-feira. “Um encontro impressionante no Brasil: gostaria de agradecer ao Presidente brasileiro a amistosa recepção e estou impressionada com sua clara compreensão dos problemas da Europa e dos desafios políticos de nosso tempo”, escreveu Beatrix. ]
Ela é investigada pelo serviço de Inteligência alemão por propagar ideias neonazistas, xenofóbicas e extremistas. Na foto, além da parlamentar e de Bolsonaro, também está o marido de Beatrix, Sven von Storch.
Na semana passada, Beatrix já havia se reunido com os deputados federais Eduardo Bolsonaro (PSL-DF) e Bia Kicis (PSL-DF), presidente da Comissão de Constituição e Justiça da Câmara. Tanto o Museu do Holocausto quanto a Confederação Israelita do Brasil criticaram o encontro, sem citar os nomes dos envolvidos. Beatrix é neta de Lutz Graf Schwer, que foi ministro das Finanças de Hitler.
“Alternativa para a Alemanha é um partido político alemão de extrema-direita, fundado em 2013, com tendências racistas, sexistas, islamofóbicas, antissemitas, xenófobas e forte discurso anti-imigração”, disse o Museu do Holocausto em nota no dia do encontro de Beatriz com Bia Kicis. “É evidente a preocupação e a inquietude que esta aproximação entre tal figura parlamentar brasileira e Beatrix von Storch representam para os esforços de construção de uma memória coletiva do Holocausto no Brasil e para nossa própria democracia.”
“A Conib lamenta a recepção dada a representante do partido Alternativa para a Alemanha (AfD) em Brasília. Trata-se de partido extremista, xenófobo, cujos líderes minimizam as atrocidades nazistas e o Holocausto. O Brasil é um país diverso, pluralista, que tem tradição de acolhimento a imigrantes. A Conib defende e busca representar a tolerância, a diversidade e a pluralidade que definem a nossa comunidade, valores estranhos a esse partido xenófobo e extremista”, afirma a Conib.
Autor do quarto gol da seleção brasileira na vitória por 4 a 2 sobre a Alemanha, pela estreia da seleção brasileira masculina de futebol nos Jogos Olímpicos de Tóquio, o atacante Paulinho comemorou com um gesto simbolizando uma flecha sendo atirada. A celebração tem um significado profundo para o jogador: trata-se da flecha, ou ofá, de Oxóssi, orixá que o protege no Candomblé.
Autor do quarto gol da seleção brasileira na vitória por 4 a 2 sobre a Alemanha, pela estreia da seleção brasileira masculina de futebol nos Jogos Olímpicos de Tóquio, o atacante Paulinho comemorou com um gesto simbolizando uma flecha sendo atirada. A celebração tem um significado profundo para o jogador: trata-se da flecha, ou ofá, de Oxóssi, orixá que o protege no Candomblé.
— O mito mais famoso diz que em certa ocasião, ele salvou um reino tendo uma só flecha. Matou um pássaro enviado pelas feiticeiras para trazer a fome para aquele reino — diz.
Muito conectado ao Candomblé e à Umbanda, Paulinho, filho de Oxóssi, chegou a sofrer ataques de intolerância religiosa em suas redes sociais após comemorar a volta à seleção olímpica com a frase “Nunca foi sorte, sempre foi Exu. Laroyé!”. Firme em suas posições, Paulinho ganhou apoio e foi convidado para desfilar pela Mocidade Independente no ano que vem, em desfile que homenageará seu orixá protetor.
— Sou muito agarrado à minha fé. Minha família sempre teve muita conexão com o candomblé e a umbanda. Quando comecei a entender, gostei muito dessa filosofia de vida. Evito focar nesses comentários, que vêm da ignorância, da falta de informação — disse o atacante a Aydano André Motta, na série do GLOBO #nuncaésóesporte.
Para Simas, o gesto de Paulinho é importante no combate ao preconceito às religiões afro-brasileiras, e que emana representatividade na posição de um ídolo do esporte, em especial às crianças.
— É importante pela representatividade. A gente teve um avanço muito forte de designações neopentecostais que demonizam as religiões afro-brasileiras, e isso repercutiu muito no futebol. Quando um jogador faz uma comemoração dessas, evocando uma entidade do Candomblé que o protege, é muito bonito. Imagino uma criança de terreiro de Candomblé, que sofre um preconceito cotidiano por causa da religião, vendo um ídolo do futebol numa Olimpíada marcando um gol e fazendo a flecha de Oxóssi. É muito bonito.Serviçlos & Agenda Cultural – 26 de julho
Em 1968, foi realizada a I Feira Paulista de Opinião, que buscava dar respostas, em forma de posicionamento artístico/político, à conjuntura política do país na época e, ao mesmo tempo, observar as possibilidades de rumos para o Brasil. Nela, o dramaturgo Augusto Boal estabeleceu como mote a pergunta “O que pensa você do Brasil de hoje?”, provocando artistas das várias linguagens a se manifestarem. Hoje, mais de cinquenta anos depois, a pergunta ainda tem grande valor e não só para os artistas. Todos os brasileiros devem ser convidados a respondê-las.
O Parangolé da Cultura na Universidade, colóquio que debate ações de cultura nas universidades, entendendo a cultura por aspecto amplo da vida em sociedade, considera fundamental observar essa pergunta como uma das mais importantes para as ciências sociais aplicadas e por isso volta o colóquio para tentar respondê-la, repassando-a para os economistas, advogados, administradores, diplomatas, querendo saber como os pesquisadores e profissionais dessa área de pensamento consideram o seu fazer na conjuntura que ambienta nossas vidas neste importante país da América do Sul.
Nesse sentido, o colóquio se propõe a debater o tema: “O que pensam as Ciências Sociais Aplicadas sobre o Brasil de hoje?”, em forma de pergunta. O evento acontece no dia 27 de julho, terça-feira, às 15 horas, pelo link https://is.gd/ParangolepensasobreoBrasil
Aqueles que tiverem interesse em receber certificação pelas horas devem se inscrever como perguntadores, colocando uma provocação no formulário: http://bit.ly/perguntadoresparangolé
Num debate mediado pela coordenadora-geral Gerly Miceli, a Ebserh foi o tema da live realizada nesta quinta-feira, 22 de julho, organizada pelo Sintufrj. Os convidados foram Wladimir Tadeu Baptista Soares, médico, advogado e professor de Medicina da UFF; Antônio (Toninho) Alves Neto, coordenador-geral da Fasubra e do sindicato dos trabalhadores da Unicamp; Cleiton Magno, estudante de Medicina da UFRJ e coordenador do CACC e Nelson Souza e Silva, professor emérito da Faculdade de Medicina. Confira:
Do total de 211,7 milhões de brasileiros, 116,8 milhões conviviam com algum grau de Insegurança Alimentar e, destes, 43,4 milhões não tinham alimentos em quantidade suficiente e 19 milhões passavam fome, revelou a pesquisa realizada em dezembro de 2020 pela Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar (Rede PENSSAN).
Estamos em julho de 2021 e a situação perdura, com o agravante de que os alimentos durante a pandemia só fizeram aumentar de preço. Isso tem a ver com às políticas para a área alimentar e de agricultura, empreendidas a partir do golpe que destituiu a presidenta Dilma Rousseff e que favoreceu o agronegócio priorizando as exportações em detrimento do pequeno produtor e do mercado interno. É o que afirma o coordenador do Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA), Beto Palmeira.
“A pandemia só fez acelerar algo que vinha acontecendo desde 2015, que é a destruição das políticas públicas ligadas a diversos programas de governo destinados direta ou indiretamente à agricultura familiar, como o Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE), o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) e o Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf)”, acrescenta Beto.
Histórico do MPA
O Movimento dos Pequenos Agricultores nasceu em 1995, no contexto dos massacres de Carajás e Corumbiara, e está presente em 18 estados do Brasil. O MPA preserva a terra e defende a produção de pequenos agricultores da agricultura familiar que não tem acesso às grandes redes de distribuição. No Rio de Janeiro envolve 150 famílias, mas a pandemia criou dificuldades para essas famílias rurais que passaram a ter problemas para a comercialização dos seus produtos.
“Os supermercados foram os que mais lucraram na pandemia”, atesta o coordenador do MPA.
O Sintufrj apoia o movimento e vem incentivando a compra da cesta básica camponesa de alimentos saudáveis, organizado pelo MPA. Por quê? Porque a agricultura familiar é feita por famílias e emprega como mão de obra seus integrantes. A produção de alimentos, sem agrotóxicos, acontece em suas pequenas propriedades de terra e se destina a sua subsistência e ao mercado interno do país. No Brasil, a atividade envolve aproximadamente 4,4 milhões de famílias e é responsável por gerar renda para 70% dos brasileiros no campo segundo informações do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA).
Para quem não sabe, a maioria da produção alimentícia para os brasileiros, que vai para a mesa da população, é feita por esses camponeses através da agricultura familiar. Segundo o Censo Agropecuário do IBGE de 2017, esses pequenos agricultores são responsáveis por produzir cerca de 70% do feijão nacional, 34% do arroz, 87% da mandioca, 60% da produção de leite e 59% do rebanho suíno, 50% das aves e 30% dos bovinos.
Para o coordenador do MPA, a agricultura familiar poderia reduzir a fome que assola o Brasil.
“Só a agricultura familiar tem capacidade de produzir alimento suficiente para alimentar o povo brasileiro. É preciso priorizar a venda nos mercados locais, feiras, restaurantes populares. Somos enraizados na terra e cuidamos da natureza. Nós precisamos da floresta em pé e da preservação do meio ambiente para podemos produzir alimentos agroecológicos, variados, de qualidade e sem veneno”, defende.
O Movimento dos Pequenos Agricultores almeja a soberania alimentar, isto é, o país ser capaz de produzir alimentos variados, saudáveis, incentivando a agricultura familiar, valorizando a agroecologia e a produção nacional e local.
“Nosso conceito é produzir o que nós precisamos. O Brasil hoje importa feijão, o que o torna mais caro. Nossa prioridade é atender a soberania alimentar através de políticas públicas que atendam às necessidades da população. Na pandemia os EUA, por exemplo, priorizaram o básico abastecendo seu mercado para depois exportar. Nós aqui não”, observa Beto Palmeira.
Esse modelo de produção tradicional contrasta com as grandes produções do agronegócio que produzem em massa um único gênero alimentar, como soja ou milho, destinado à exportação e a alimentação de animais para pecuária.
“O Brasil vende a preço de dólar para fora. Isso para beneficiar o agronegócio e os grandes produtores que não têm nenhum compromisso com o país”, sustenta o coordenador do MPA.
Apoio
Para fortalecer a agricultura familiar e ajudar aos camponeses se cadastre no site Cesta Camponesa de Alimentos Saudáveis (https://www.cestacamponesa.com.br/) e faça suas escolhas num cardápio variado de frutas, legumes, frios, produtos de padaria artesanal entre outros.
Você terá acesso a uma cesta de alimentos sem agrotóxico, semanalmente, a preços abaixo ou nunca superiores aos que são cobrados no mercado convencional de varejo, e ainda vai garantir o escoamento da produção da agricultura familiar!
A Coalizão Negra por Direitos denunciou o atual presidente da Fundação Cultural Palmares, Sérgio Camargo, à Comissão de Direitos Humanos da Organização das Nações Unidas (ONU), por violações de direitos humanos e dos interesses da população negra, nesta quinta-feira (22/07).
A articulação, que reúne mais de 200 organizações do movimento negro, pede que a ONU notifique o Estado brasileiro acerca das denúncias apresentadas a fim de “garantir o exercício de direitos da população negra no Brasil e a proteção da memória e patrimônio cultural que estão sob tutela da Fundação Palmares”.
No documento, a Coalizão atrela a Camargo um comportamento “totalmente adverso ao escopo institucional que se espera da conduta e lisura” de quem ocupa a Fundação.
“O atual presidente age de modo impessoal e desonesto, claramente movido por ideologia política pessoal, buscando atingir por meio deles a desvalorização da luta histórica contra o racismo estrutural”, afirma no documento enviado à ONU.
Luta racial
Em primeiro lugar, a Coalizão cita algumas tentativas de Camargo que caminham no sentido de apagar e esvaziar a memória e a luta racial no Brasil.
Entre estes ataques, está a ameaça de excluir parte das obras do Acervo da Biblioteca da Fundação. Na época, a Coalizão Negra por Direitos ingressou com uma Ação Civil Pública para impedir a exclusão.
Naquele momento, a organização defendeu que Camargo incorreu em improbidade administrativa ao promover “ações deliberadas que podem ensejar a perda irreversível e imensurável do patrimônio cultural e histórico da população negra”.
A Coalizão também relembra a tentativa de alterar a lista de Personalidades Negras, na qual são encontrados nomes como de André Rebouças, Carolina Maria de Jesus e Conceição Evaristo.
Para os movimentos, tratou-se de uma tentativa de fazer uma “lista póstuma da Fundação Palmares sob falaciosa justificativa de ‘moralizá-la’”.
Por fim, cita a postura de Camargo de ataques a jornalistas e à imprensa como um todo. Em maio de 2020, por exemplo, o presidente da Fundação chamou o jornalista Pedro Borges, fundador do portal Alma Preta, de “vitimista, segregacionista, antibranco” que “defende bandidos e cultua Marielle (Franco)”.
Em outro momento, ao comentar a Chacina do Jacarezinho, que causou a morte de 29 jovens, majoritariamente negros, Carmargo disse que “parcela significativa dos jornalistas é usuária cocaína” a fim de descredibilizar a denúncia de violência policial e racismo institucional latentes na chacina.
Repete comportamento de Bolsonaro
Camargo também repete o comportamento do presidente Jair Bolsonaro ao bloquear o acesso aos seus perfis em redes sociais, utilizadas frequentemente como uma espécie de Diário Oficial da União pelos membros do governo Bolsonaro.
Nesse sentido, escreve a organização na denúncia, Camargo “tem ferido a Constituição Federal, bem como descumpre com os compromissos ratificados na Declaração Universal dos Direitos Humanos. Sua atuação tem sido pautada em ações violadoras de direitos, contrárias à ética profissional e escopo institucional da Fundação Cultural Palmares, merecendo repúdio”.
O documento foi protocolado às 9h da manhã desta quinta-feira (22/7) e remetido à Relatora Especial da ONU Tendayi Achiume, que atua em casos sobre formas contemporâneas de racismo, discriminação racial, xenofobia e intolerância, e à Relatora Especial da ONU Irene Kahn, cujo trabalho se debruça sobre proteção do direito à liberdade de expressão.
A 1ª Vara da Fazenda Pública e Autarquias Municipais da Comarca da cidade mineira de Juiz de Fora determinou na quarta-feira (21) a retirada de painéis que integram a exposição “Democracia em Disputa”, que desde o dia 17 estão instalados na fachada do Centro Cultural Bernardo Mascarenhas.
A exposição foi promovida pelo Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia, Democracia e Democratização da Comunicação (INCT/IDDC).
Segundo nota à imprensa assinada pelo professor e coordenador do INCT/IDDC, Leonardo Avritzer, o magistrado deferiu a ação com o argumento de que os painíes fotográficos constituem “engenhos de publicidade” e que as imagens mostradas “aviltam o patrimônio público”.
Avritzer contesta a alegação com veemência. “Os painéis veiculam imagens fotográficas documentais de momentos históricos da construção democrática brasileira e foram selecionadas por alguns dos principais historiadores do país com base em critérios técnicos e históricos. As contestadas imagens registram, portanto, passagens fundamentais da construção democrática brasileira. Nada mais distante de peças publicitárias.”
Vai recorrer
Por sua vez, a prefeitura de Juiz de Fora, administrada por Margarida Salomão (PT), anunciou nesta quinta-feira (22) que vai recorrer da decisão do juiz de primeira instância Marcelo Alexandre do Valle Thomaz.
De acordo com assessores, uma foto específica – registro da passagem da faixa presidencial de FHC para Lula, em 2003 –, despertou a ira de bolsonaristas da cidade, que passaram a acusam toda a exposição de ser “propaganda comunista financiada por uma prefeitura do PT”.
O professor explica que a exposição “Democracia em Disputa” conta a história da democracia no Brasil reunindo imagens que narram mais de meio século de episódios cruciais para a construção das instituições políticas nacionais.
“Entre nossa primeira experiência democrática, em 1945, e a crise atual, a democracia brasileira passa por momentos de avanços e também de retrocessos, retratados nas fotografias selecionadas por meio de curadoria técnica e artística”, completa Avritzer.
Sem danos
Para tentar dar ares de seriedade à frágil argumentação, os autores da ação popular afirmam ainda que a instalação não poderia ocorrer na fachada daquele centro cultural, cuja sede é um prédio tombado pelo Patrimônio Histórico.
Porém, em seu perfil no Twitter, a prefeitura da cidade esclarece que toda a estrutura do local foi conservada e mostra que a alegação carece de fundamentos. “A instalação dos painéis ocorreu sem dano à fachada. O prédio do Espaço Cultural Bernardo Mascarenhas sempre foi utilizado para manifestações artísticas, como a Cantata de Natal, sem que houvesse qualquer dano ao patrimônio histórico.
A Exposição integra a programação cultural da 73ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência, realizada na (Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) e vai percorrer diversas cidades do Brasil e do Mundo, com destacada valorização pela sua relevância.
O instituto da democracia
Segundo a nota distribuída à imprensa, o INCT/IDDC reúne, desde 2017, pesquisadores de renome nacional e internacional para aprofundar a discussão sobre a democracia brasileira, sua organização, hábitos democráticos da população e organização da mídia no país.
São mais de quarenta pesquisadores associados presentes no Brasil, Argentina, Espanha, França, Estados Unidos, Portugal e em outros países. Nos últimos anos, o INCT/IDDC publicou 129 artigos em periódicos, 117 capítulos de livros, 133 trabalhos técnicos, mais de 1000 apresentações em congresso, entre outros produtos.