Longa dirigido por Ana Maria Magalhães e coproduzido pelo Metrópoles pode ser assistido no Itaú Cultural Play, após cadastro simples
Ranyelle Andrade -29/3/2022
Depois de estrear nos principais festivais do país, Já que Ninguém Me Tira pra Dançar, documentário sobre Leila Diniz, chega ao Itaú Cultural Play, plataforma de streaming gratuita dedicada ao cinema e ao audiovisual brasileiro. O longa já está disponível no catálogo e, para assisti-lo, basta fazer um cadastro simples e concordar com a política de privacidade no site do serviço (clique aqui para ser redirecionado).
Produzido e dirigido por Ana Maria Magalhães e coproduzido pelo Metrópoles, o documentário é um registro da participação revolucionária de Leila Diniz na cultura brasileira, 50 anos após sua morte, aos 27 anos, em um desastre aéreo. Para traçar um perfil sobre a breve mas marcante vida da artista, Ana utilizou gravações inéditas e remasterizou entrevistas que personalidades deram sobre Leila.
Em conversa com o portal, a cineasta comemorou a oportunidade de apresentar o legado da artista e melhor amiga às novas gerações.
“É uma alegria enorme saber que Já que Ninguém Me Tira Pra Dançar está correndo pelo streaming, para que os jovens conheçam sua história e para que as gerações anteriores possam lembrá-la. Também estou muito contente por recuperar um filme que estava praticamente perdido justamente no cinquentenário da passagem de Leila. Ela era uma pessoa atual, com um pensamento contemporâneo e que levou as mulheres a questionarem sua liberdade”, frisa a cineasta.
Além dela, o trabalho contou com a coordenação de Fábio Fraccarolli, que esteve à frente da recuperação de obras como O Bandido da Luz Vermelha e Terra em Transe, e do produtor Lino Meireles, do Metrópoles, a quem Ana foi apresentada pelo saudoso fotógrafo Orlando Brito.
“O Orlando, que acabou de nos deixar, é um amigo muito querido. Foi ele que fez as fotos da Leila se divertindo no Hotel Nacional, em Brasília, nos anos 1970. Certo dia, ele me disse que eu tinha que conhecer o Lino, que na época estava produzindo um filme sobre o Festival de Cinema de Brasília, o Candango”, lembra.
“Quando retomei o documentário da Leila, procurei o Lino. Sabia que, além de fã da Leila, ele gostava de restauro. E foi uma decisão muito bacana, o Lino é uma pessoa ótima. Estou muito feliz com essa parceria.”
Único documentário sobre a atriz
Autêntica e espontânea, Leila Diniz foi porta-voz de uma geração censurada. Ao mesmo tempo que conquistou fãs, gerou hostilidade dos defensores da moral e dos bons costumes, principalmente após posar de biquíni para uma revista, aos oito meses de gravidez.
Morreu aos 27 anos, em um acidente de avião na Índia, quando voltava de um festival de cinema na Austrália, onde recebeu o prêmio de Melhor Atriz.
Dez anos após a tragédia, Ana Maria foi convidada a dirigir um documentário sobre a amiga.
“Relutei, porque não tinha o distanciamento necessário. Por outro lado, tinha consciência da importância de transmitir o legado de Leila, sabia que seus amigos poderiam expor cada uma de suas facetas, e aceitei a missão porque eu conhecia muito bem o seu modo de pensar, agir e se relacionar. E, até aqui, este é o único documentário que existe sobre ela”, lembra a cineasta carioca.
Os depoimentos foram colhidos quando a lembrança de Leila ainda estava fresca na memória de jornalistas, familiares e artistas de quem Leila era amiga — entre elas, Martha Alencar, Maria Gladys, Marieta Severo, Paulo José e outros.
Assim que as filmagens foram iniciadas, o Centro Cultural Cândido Mendes, que idealizou o projeto para ser exibido na Mostra Leila Diniz, desistiu de produzi-lo por falta de recursos. Ana Maria, então, seguiu investindo seu próprio dinheiro e trabalho.
Ela explica que o esforço visa não só homenagear a melhor amiga como retratar o modo de ser e viver dos artistas e das jovens brasileiras nos anos 1960, plenos de entusiasmo e ingenuidade.
“As novas gerações não sabem quem foi Leila, atriz que valorizou a verdade, a liberdade e o amor, porque acreditava que as pessoas podem realizar as suas melhores potencialidades e não as piores”, conclui a diretora.