Nas universidades, cresce a adesão de docentes à greve iniciada por técnicos nas instituições federais de ensino

Até sexta-feira(19) professores de 26 universidades e institutos já haviam entrado em greve e docentes de 11instituições se preparavam para aderir ao movimento – iniciado pelos técnicos-administrativos em educação, em 11 de março, por orientação da Fasubra.
A informação foi dada pela vice-presidenta do Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições de Ensino Superior no Rio de Janeiro (Andes-RJ)), Claudia Piccinini, durante o ato promovido pela Adufrj – Seção Sindical nas escadarias do prédio do Ministério da Fazenda, no Centro da cidade.
Segundo a dirigente, a pauta de reivindicações da categoria foi protocolada em 2023 e depois de um ano de lutas, não houve até agora efetiva negociação com o governo.
Os docentes reivindicam reajuste salarial e recomposição orçamentária para as universidades e institutos federais, e revogaço de portarias e resoluções, especialmente dos governos de Temer e Bolsonaro, como as relacionadas à reforma do Ensino Médio e a Instrução Normativa nº 15, que cortou os adicionais de periculosidade e insalubridade.

“Os prédios estão caindo nas nossas cabeças na UFRJ”, denunciou Piccinini, lembrando o desabamento de parte do teto da Faculdade de Educação Física e Desportos ocorrido em setembro de 2023, por falta de manutenção.

Além dos problemas graves na infraestrutura e nas instalações hidráulicas e elétricas das unidades acadêmicas e administrativas, a vice-presidenta da Andes-RJ disse que falta recursos para pagamento de fornecedores, de água, energia elétrica e demais despesas, como salários de prestadores de serviços e terceirizados.

“É preciso ir às ruas para que essas pautas andem. A Mesa de Carreira é importante para os jovens professores como também para os demais. O processo de reconstrução da nossa unidade é importante para reforçar a luta que a Fasubra deflagrou em março. O movimento tem o apoio dos estudantes e nós, docentes,  precisamos nos posicionar. Conclamo a Adufrj a realizar um debate e chamar uma assembleia para discussão com seriedade sobre a nossa adesão à greve”, propôs a sindicalista.

“Eu amo a UFRJ”

Uma faixa com a frase em destaque “Reajuste zero é desrespeito” cobriu os degraus no centro da escadaria da representação do Ministério da Fazenda no Rio de Janeiro, na Rua Primeiro de Março, e balões coloridos em formato de coração com reivindicando “Mais verbas”, “Condições dignas de trabalho” e “Por mais bolsas” completavam o cenário do ato de protesto da Adufrj. Botons com a palavra de ordem da campanha “Eu amo a UFRJ”, lançada pela entidade, foram amplamente distribuídos.

“Um ato de amor” foi como definiu a manifestação a presidenta da Adufrj, Mayra Goulart, falando no megafone. Segundo a dirigente sindical, o local foi escolhido para sensibilizar operadores e políticos para o projeto que a categoria defende, que é uma universidade inclusiva e de excelência”, que ofereça condições de trabalho, mas que para isso era preciso que “o Brasil cuidasse da gente”.

O estudante de História e coordenador do DCE Mário Prata, Andrei, defendeu que a mobilização era importante. “Vivemos um cenário na UFRJ, com a estrutura dos prédios, que todos percebem. E se a gente não lutar por orçamento, não teremos a UFRJ com a nossa cara”. Gabriel Batista, da Associação dos Pós-graduandos (APG), disse que “estavam ali para manter a unidade das categorias do funcionalismo para lutar por orçamento e mostrar ao Ministério da Fazenda que a UFRJ está agonizando”.

“Este é um ato de afirmação em prol da educação pública de qualidade, transformadora e até revolucionária. A educação precisa ser reconhecida. Nós precisamos mudar os rumos desse país com ensino, ciência e tecnologia”, afirmou o reitor Roberto Medronho, chamando a atenção para a existência da extrema direita que “está muito viva e quer destruir o Brasil”.

O reitor reconheceu que é fundamental a valorização da carreira dos técnicos-administrativos e dos professores e a recomposição salarial das duas categorias de servidores.

Rodrigo Fonseca Nunes, diretor da UFRJ-Macaé, manifestou-se contra a adesão à greve em curso. Segundo ele, a universidade tem problemas, mas é preciso ter responsabilidade com os alunos e manter a UFRJ aberta. E propôs que todos divulgassem a campanha “Eu amo a UFRJ” pelo Instagram.

Manifesto

O ato foi encerrado com a leitura do manifesto “Nós amamos a UFRJ” pela vice-diretora da Adufrj, Nadir do Espirito Santo.  “Exigimos mais verbas, melhores salários, condições de trabalho dignas e mais bolsas para nossos estudantes”, diz o texto.

MANIFESTAÇÃO ORGANIZADA PELA ASSOCIAÇÃO DE DOCENTES exibe faixa com a queixa “reajuste xero é desrespeito!” Foto de Elisângela Leite
REITOR ROBERTO MEDRONHO no ato nas escadarias do antigo prédio do Ministério da Fazenda Foto de Elisângela Leite

Maio dos trabalhadores e trabalhadoras da UFRJ: comemoração e luta

 O Sindicato dos Trabalhadores em Educação da Universidade Federal do Rio de Janeiro, doravante denominado SINTUFRJ, torna público o presente Edital para abertura de inscrições para o processo seletivo para cessão de espaços, com fins alimentícios, no evento que ocorrerá em 10 de maio de 2024, das 14h às 21h, no Espaço Cultural do Sintufrj situado na Praça Jorge Machado Moreira –s/n, Ilha do Fundão, Cidade Universitária, Rio de Janeiro, para a celebração da luta por uma universidade pública e de qualidade

 

Acesse o EDITAL nº 02/2024 aqui

 

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A proposta feita pelo governo aos trabalhadores da educação não foi aceita por nenhuma das entidades representativas – Fasubra, Sinasefe. Os representantes das categorias em greve saíram indignados da reunião realizada na manhã desta sexta-feira, 19 de abril, no Ministério da Gestão e Inovação em Serviços Públicos (MGI). A proposta feita pelo governo foi considerada muito aquém das reivindicações do movimento e será submetida para avaliação das bases.

Apesar de propor a reestruturação da carreira com reposição salarial, o governo manteve 0% de reajuste este ano, penalizando mais ainda os aposentados. Segundo o governo, a reestruturação com reposição seria em torno de 22,97% incluído o reajuste de 9% concedido ano passado. Somente em 2025 haveria 9% de reajuste e 3,5% em 2026. Algumas mudanças foram propostas na estrutura da carreira e serão detalhadas para a categoria.

“A proposta apresentada não foi aceita por nenhuma das entidades. Até porque as direções junto com os comandos de greve terão de debater e a proposta será enviada para avaliação nas assembleias de base. O governo propôs reestruturação da carreira com reposição salarial, que seria em torno de 22,97% incluído o reajuste emergencial de 9% concedido ano passado. Para esse ano 0% de reajuste, 9% em 2025 e 3,5% em 2026 o que não chega a 13%. Em relação a estruturação colocaram a tabela lateralizada com piso do nível superior”, informou a coordenadora-geral da Fasubra, Cristina del Papa.

“Não tem orçamento para 2024. A proposta está aquém e foi rebaixada. Não representa o tamanho da nossa greve”, afirmou a coordenadora-geral da Fasubra, Loiva Chansis.

“Para os aposentados é nada mesmo em 2024 já que eles estão excluídos do aumento dos benefícios. A proposta como um todo está muito aquém da valorização que precisamos. Não é possível um governo que vai para a mídia dizer que vai valorizar a educação não o faz na prática. Então continuamos em greve e vamos avaliar com a categoria”, ressaltou a coordenadora-geral da Fasubra, Ivanilda Reis.

“Mais uma vez o governo demonstra não conhece as especificidades do fazer dos trabalhadores técnico-administrativos em educação. Por isso é muito importante que a nossa greve tenha força para arrancar do governo os recursos que precisamos para deixarmos de ser a tabela mais baixa do serviço público federal”, observou o integrante da Comissão Nacional de Supervisão da Carreira, Marcelo Rosa

“Colocamos na mesa que a categoria do PCCTAE estrou em greve porque recebe a pior remuneração do serviço público. Na proposta apresentada pelo governo continuamos com o pior salário do serviço público. Vamos fortalecer essa luta para na próxima mesa exigir que o governo coloque mais dinheiro”, frisou o coordenador-geral do Sinasefe, David Lobão

O que fazer agora

O Comando Nacional de Greve iniciou o debate sobre os próximos passos do movimento para decidir o que será apresentado às bases em nova rodada de assembleias. Aqui na UFRJ, o Comando Local de Greve (CLG) se reúne na manhã de quarta-feira (24). A assembleia simultânea (Fundão (CT), Macaé (local a definir) e Praia Vermelha – auditório Manoel Maurício.) será às 14h.

ANDES

Os docentes vão discutir nas suas bases a proposta do governo apresentada em reunião em separado na tarde de sexta-feira. Da mesma forma do que foi proposto aos técnicos-administrativos, o governo insistiu nos 0% de reajuste para docentes do Magistério Federal em 2024. Como contrapartida, prometeu reajuste de 9% apenas em 2025 e 3,5% para 2026.

BRASÍLIA OCUPADA POR MANIFESTANTES que acompanham de perto as negociações pressionando o governo.FOTOS: RENAN SILVA

VIGÍLIA DURANTE A REUNIÃO DA MESA cujo resultado frustrou as expectativas dos trabalhadores da educação FOTO: RENAN SILVA

Com faixas, bandeiras e cartazes dezenas de estudantes da UFRJ marcharam da Faculdade de Letras até a Ponte do Saber que foi fechada por vários minutos na manhã desta sexta-feira(19)   Representantes do Sintufrj e do Andes-SN participaram do ato.

A manifestação – deliberada em assembleia do DCE Mário Prata – tem um nome característico de campanha: SOS UFRJ: a Educação grita por verbas!

Foi um protesto ruidoso e colorido contra o sucateamento e a restrição progressiva de recursos da universidade,  exigindo verbas para a sua sobrevivência. “Educação não é gasto, é investimento!”, dizia um dos cartazes.

“A nossa luta unificou. É o estudante junto com trabalhador!”

 “Nas ruas, nas praças, quem disse que sumiu. Aqui está presente o movimento estudantil!”

   

Paralisação Estudantil DCE Mario Prata.
Rio,19/04/24
Fotos de Elisângela Leite
Paralisação Estudantil DCE Mario Prata.
Rio,19/04/24
Foto de Elisângela Leite

Em uníssono nas palavras de ordem ou nas falas que se sucederam, os manifestantes denunciaram a gravidade da situação da UFRJ, exigindo recomposição orçamentária, na passeata que saiu da Faculdade de Letras, ocupando todas as pistas da Avenida Horácio Macedo (no sentido da Reitoria) e da Avenida Pedro Calmon até a ponte.

Olha pra cá!

“Queremos uma sociedade diferente, que não tenha ninguém que passe fome e que não tenha condições de estar aqui. Defendemos que a universidade deve estar aberta para todo mundo”, disse o representante do DCE Alex Borges, puxando uma palavra de ordem, acompanhado pelo enorme grupo: “Olha para cá! Estou na rua, para o seu filho estudar”.

Segundo ele, o DCE realizou nesta sexta-feira, 24 horas de paralisação com atividades políticas e ações descentralizadas e que o ato no Fundão contou com a participação de todos os centros.

Ele contou que, no dia anterior houve paralisação na Praia Vermelha, com o fechamento do Avenida Venceslau Brás, com o apoio dos Centros Acadêmicos (CAs). E que a unidade dos CAs com o DCE cresce cada vez mais. Os cursos estão realizando assembleia e em breve o DCE irá convocar assembleias gerais para debater sobre a mobilização e defesa da universidade.

Jogral na ponte

“Nós somos estudante e trabalhadores da UFRJ em defesa da educação pública, gratuita e de qualidade. O nosso futuro não será precarizado. Queremos dignidade para estudar e para trabalhar, e não seremos coagidos porque essa é primeira das muitas manifestações que a UFRJ vai protagonizar enquanto a gente não tiver uma recomposição orçamentária que de conta dos nossos sonhos,”, disse a representante do DCE e do CA de Engenharia Camile Gonçalves, repetida em jogral por dezenas de estudantes, em meio a aproximação de policiais em uma viatura e duas motos no intuito de desobstruir o acesso à Linha Vermelha.

Crescendo

Eles chegavam à Letras, local da concentração, em grandes grupos, e se juntavam aos demais, vindos de diferentes unidades do CCS, do HU, Educação Física, EBA, FAU. Seus representantes se revezavam no microfone, denunciando a precariedade dos prédios, como na EBA que teve o ateliê Pamplonão fechado por falta de condições, o do IFCS que contam estar sob risco de um incêndio pela fragilidade das instalações, unidades cujos terceirizados sofrem com atrasos de salários e estudantes sem acesso a bolsas fundamentais para sua permanência.

“A UFRJ vai parar”

Representante o Sintufrj, a coordenadora Marly Rodrigues lembrou que o futuro da universidade estava ali. “Os técnicos-administrativos estão em greve desde o dia 11 de maio, numa luta que é de vocês também. E dos professores que ainda não entenderam por que a gente tem que lutar. Mas vão entender. Se a gente não parar esta universidade, ela é que vai parar sem condições de manter seus alunos. Sem bandejões ou moradia. Hoje temos uma universidade sucateada, e o governo diminui o orçamento. Precisamos fazer este movimento para mostrar para a sociedade que não é um mar de rosas. Esta é a maior universidade federal do país, mas que esta ‘sendo sucateada a cada dia”.

Claudia Piccinini, representante da Regional do Andes, contou que o Sindicato em Nacional está em greve e, aplaudida pelos estudantes, que mais da metade das ifes estão na greve. “Vamos fazer uma grande greve da Educação neste país, porque o governo está nos empurrando para a greve. Estamos juntos nesta luta com a Fasubra e o Sinasefe”, afirmou.

Os dirigentes do Diretório Central dos Estudantes comemoravam o crescendo da mobilização.

O vice-presidente do CA de Engenharia, Samuel Carvalho apontou a redução de recursos para educação e saúde públicas para favorecer a privatização de serviços em que a população pobre não poderá ter acesso. Ele citou dados levantados pelo DCE: a UFRJ perdeu de 2012 a 2024 quase R$400 milhões e já tem esse ano um déficit que não permitirá nem o funcionamento adequado muito menos a expansão. Os orçamentos para as universidades sofreram uma redução de R$ R$310 milhões, enquanto a verba para pagamento da dívida pública é de R$2,5 trilhões e o previsto para as emendas parlamentares é de R$ 44,6 bilhões.

 

Os estudantes comemoraram o sucesso do ato que foi concluído em frente a escadaria da Reitoria.

A coordenadora do Sintufrj Marly Rodrigues na manifestação dos estudantes que percorreu as vias do Fundão e fechou a Ponte do Saber no dia 19 de abril 

Abaixo, o trânsito parado no chegada à ponte. Policiais se aproximas mas os estudantes, em jogral, mandam seu recado:  “Essa é primeira das muitas manifestações que a UFRJ vai protagonizar enquanto a gente não tiver uma recomposição orçamentária que de conta dos nossos sonhos!”

Com 239 votos favoráveis e 138 contrários, os professores da Universidade Federal Fluminense (UFF) decidiram entrar em greve a partir da segunda-feira, 29 de abril. Com isso já soma 24 instituições federais de ensino com professores que aderiram ao movimento. A greve na educação foi puxada inicialmente pelos trabalhadores técnico-administrativos.

FOTO: Luis Fernando Nabuco