Faz um Faz um anoBolsonaro deu 69% para si mesmo e ministros (*)
Há exatamente um ano, neste mesmo mês de maio, o presidente Jair Bolsonaro e seus ministros passaram a receber salários com um aumento de até 69%. O aumento foi dado pelo próprio Bolsonaro por meio de uma portaria editada em abril de 2021 e, em maio, a diferença salarial já havia sido implantada. A mudança permitiu que o presidente, o vice-presidente, Hamilton Mourão, ministros e assessores passassem a receber acima do teto constitucional de R$ 39,2 mil. Na prática, o teto total para essas pessoas passou a ser de R$ 78.586,64 por mês.
Antes da medida, Bolsonaro recebia R$ 30,9 mil pela função de presidente e mais R$ 10,7 mil em outros benefícios. Mas o seu salário final tinha um corte de R$ 2.300 para que o teto fosse obedecido. Com a norma aplicada no ano passado, a remuneração bruta do presidente passou de R$ 39,3 mil para R$ 41,6 mil. Já o general da reserva, Hamilton Mourão, passou a receber R$ 63,5 mil, diferença de 62%. Entre os ministros militares, o maior salto no salário foi o do então chefe da Casa Civil, Luiz Eduardo Ramos. A sua remuneração passou a ser de R$ 66,4 mil, em uma alta de 69%.
Mas além do aumento salarial, Jair Bolsonaro coleciona regalias de um milionário. Apenas entre os últimos dias 1º de abril e 5 de maio, a conta do seu cartão corporativo foi de R$ 4,2 milhões.
E os servidores?
Enquanto isso, a massa dos servidores federais está há mais de cinco anos sem nenhum tipo de reposição salarial e o governo se nega a negociar com seus representantes. Desde janeiro de 2022 que os trabalhadores iniciaram a sua campanha salarial e passaram a reivindicar uma recomposição salarial emergencial de 19,99%, percentual referente apenas às perdas inflacionárias do período de três anos de governo Bolsonaro.
Integrantes da equipe do ministro da Economia, Paulo Guedes, receberam os representantes dos servidores em apenas dois momentos. Um deles para dizer que não teria reposição salarial e no outro para afirmar que não haveria negociação com os servidores.
Esta é a palavra de ordem da nova Agenda de Lutas da campanha salarial dos servidores públicos federais. O governo insiste em não negociar com os trabalhadores e segue com anúncios via mídia sobre a sua proposta de míseros 5% linear para todo o funcionalismo e ou propostas diferenciadas para categorias específicas, como a da Segurança, divulgando ainda que sua decisão deverá ser oficializada até o fim desse mês de maio.
Quinta-feira, 19, é Dia Nacional de Mobilização pelo Reajuste Salarial. Atos em defesa do Reajuste Já! serão realizados em todo o Brasil. Diante da falta de diálogo, os servidores seguem ampliando a pressão por negociações e uma reposição emergencial justa para todo o funcionalismo. Não dá para conviver com o aumento da inflação e do custo de vida, a falta de investimentos no setor público, o congelamento salarial de mais de cinco anos e o arrocho salarial com perdas de 19,99% em três anos impostos por esse governo.
Por isso, o Fonasefe (Fórum das Entidades Nacionais dos Servidores Públicos Federais), do qual a Fasubra nossa federação paz parte, joga peso para intensificar a mobilização pela abertura imediata de negociação salarial. A agenda está pegando fogo com ato nacional dia 19 de maio, reunião ampliada da educação federal dia 21 de maio e novo #OcupaBrasília dias 31de maio e 1º de junho.
A assembleia simultânea do Sintufrj em três campi (Fundão, Praia Vermelha e Macaé), nesta quarta-feira, 18 de maio, 14h, irá discutir nossa campanha salarial – Especial da Campanha Salarial está disponível no site – e a pauta interna de reivindicações da categoria. Para tanto diversas reuniões de base foram realizadas. Antecedendo a assembleia foi realizada nessa terça-feira, 18, reuniões na Faculdade de Letras, Centro Cirúrgico do HUCFF, CAP e Escola de Serviço Social.
Sem garantias
Um possível reajuste de 5% que seria a partir de 1º julho, é o que vem sendo veiculado, e caso isso se oficialize, o índice não superaria nem a inflação do ano de 2022 – que tem uma estimativa média de 7,65%. Muito menos a nossa perda acumulada destes últimos anos (19,99%). O prazo final para concessão de qualquer aumento de despesa com pessoal por força da legislação se encerra dia 4 de julho.
Mais nada está oficializado. Nos últimos dias, rumores voltaram a circular de que o governo Bolsonaro está debatendo a possibilidade de enviar ao Congresso Nacional propostas diferenciadas para categorias específicas “insatisfeitas”. A decisão, ainda segundo informações vindas da imprensa, seria divulgada por Bolsonaro até o dia 22 de maio “para ter segurança jurídica”.
A tática de Bolsonaro vem sendo a de empurrar a crise com o funcionalismo enquanto seu governo ganha tempo usando a mídia para testar a reação dos servidores a propostas que vão sendo ventiladas sem nenhum respaldo formal. Um “bônus” de R$ 400 nos tickets alimentação foi outra possibilidade jogada na mídia. Bolsonaro pode também não dar nada, mesmo precisando de votos para a eleição de outubro. Deste governo pode-se esperar tudo!
Mobilização cresce enquanto o governo se recusa em negociar
Os servidores do Banco Central chegaram a suspender a paralisação na tentativa do diálogo, mas o silêncio do governo permaneceu e no dia 3 de maio voltaram ao estado de greve por tempo indeterminado. Os companheiros do INSS e Ministério do Trabalho e Previdência também seguem em greve.
Na segunda-feira, 16, a categoria dos Servidores Federais da Educação Básica, Profissional e Tecnológica (Sinasefe) deflagou greve. O Comando Nacional de Greve foi instalado em Brasília e servidores do IFBA, do IFMG, do IFPE e do IF Sul-RS estão paralisando suas atividades, com greve deflagrada por aprovações em assembleias de base. Além das greves já iniciadas, diversas categorias estão participando das mobilizações pelo reajuste.
Reunião ampliada debaterá Greve Unificada da Educação
Entidades Nacionais da Educação – Fasubra Sindical, Andes-SN e Sinasefe – realizarão no dia 21, a partir das 14h, Reunião Ampliada Unificada da Educação. O objetivo é consolidar o chamamento da Greve da Educação de forma unificada e articular a construção de uma pauta de reivindicações da Educação Federal. O governo insiste em não negociar com as categorias e a mobilização será intensificada.
Após aprovação do piso nacional da enfermagem na Câmara dos Deputados, na última quarta-feira (4), a categoria segue mobilizada para evitar que o presidente Jair Bolsonaro (PL) vete a proposta e atrase o reajuste. Sinalizações de parlamentares durante a votação do projeto sugerem que o texto pode encontrar barreiras no Palácio do Planalto, que argumenta não ter caixa para bancar o reajuste.
Segundo o relatório aprovado pelos parlamentares, o novo piso deve entrar em vigor já na data da publicação da lei. O objetivo dos enfermeiros é fazer com que a medida seja efetivada no mercado de trabalho o quanto antes.
O projeto de lei (PL) 2.564, de 2020, estabelece um piso de R$ 4.750 para enfermeiros, 70% desse valor como piso para técnicos em enfermagem e 50% para auxiliares de enfermagem e parteiras.
“A enfermagem está exausta. A cada etapa que conseguimos vencer, o governo e os seus representantes dentro do Congresso Nacional apresentam novos obstáculos”, desabafa a presidenta da Federação Nacional da Enfermagem (FNE), Shirley Morales.
A declaração da dirigente se refere a polêmicas sobre o custo desse reajuste aos cofres públicos, assunto que dominou os debates no Legislativo.
Também pesou a pressão de empresários da rede privada de saúde, em sintonia com o lobby contrário a medida de prefeitos e governadores.
Caso seja vetado, a proposta de um novo piso para a enfermagem retornará ao plenário do Congresso Nacional, para que possíveis vetos sejam avaliados por deputados e senadores.
Polêmicas na Câmara
Durante a votação do projeto, o líder do governo na Casa, Ricardo Barros (PP-PR), orientou correligionários a votarem contra o PL, reforçando a já conhecida rejeição do governo federal a proposta. O Palácio do Planalto argumenta que não há condições fiscais para bancar reajustes salariais na rede pública de saúde.
“Nós queremos votar o projeto, mas queremos entregar no contracheque dos enfermeiros o valor. Então espero que até o final desta votação nós encontremos uma solução que viabilize a fonte para esses recursos, para que todos saiam daqui com a certeza de que de fato foi uma vitória”, bradou Barros no plenário, durante a votação.
O deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), filho do presidente, esteve entre os 12 deputados que votaram contra o projeto. Ainda assim, ele foi aprovado por ampla maioria, com 449 votos favoráveis.
“Foi uma demonstração de insensibilidade deles com a categoria. Eles deram declarações explícitas de que são contrários. Em geral, quando fazem isso, é para preparar um posicionamento de veto por parte do presidente, por isso neste momento a coisa mais importante é a mobilização pela sanção”, diz o relator do PL, Alexandre Padilha (PT-SP).
Custeio
Em paralelo à tramitação do PL, permanecem tratativas sobre o financiamento do novo piso da enfermagem. Mesas de negociação ocorridas nas prévias da última votação apontaram alguns caminhos para viabilizar a matéria.
Um deles, é um acordo feito no Congresso para primeiro assegurar o financiamento e depois enviar o texto agora para sanção presidencial, como forma de facilitar a aprovação.
Além disso, senadores apresentaram uma Proposta de Emenda Constitucional (PEC) para dar amparo legal a pauta. A PEC insere o novo valor do piso na Constituição, para evitar possíveis questionamentos por falta de previsão constitucional. A mobilização agora é para acelerar a aprovação desta proposta, que precisa passar por dois turnos de votação nas das Casas Legislativas do Congresso.
Em paralelo, parlamentares discutem outras possibilidades de custeio do piso. “O que se discute é a importância de se ter uma fonte de financiamento para compensações. Uma parte dos parlamentares votou no PL com a expectativa de que haja uma compensação financeira. É um debate que a Câmara vai fazer. E, claro, tudo que vier de mais recursos para saúde é positivo, é importante”, diz Padilha.
“Não tem nenhuma proposta definida, mas o piso é viável. Ele representa menos de 5% de tudo que é investido no SUS. Se pegarmos apenas o valor de enfermeiros que são pagos por estados, municípios e pelas Santas Casas, isso representa menos de 3% de todo o orçamento do SUS. Se pegarmos o valor total, significa menos de 4% do faturamento dos planos de saúde”, defende o ex-ministro da Saúde.
Subfinanciamento e Teto de Gastos
O líder da bancada do PT na Câmara, Reginaldo Lopes (MG), vê como “absurda” a postura dos críticos do PL. Em sintonia com o discurso do relator, ele afirma que os setores privado e público absorveriam a nova demanda orçamentária com facilidade.
“Com o tanto de dinheiro no orçamento, não há dificuldade alguma do ponto de vista dos municípios, dos estados, da própria União. A dificuldade que existe é com os hospitais filantrópicos, que incluem 1.700 hospitais, mas não é por causa do piso”, observa.
O petista menciona como problema o subfinanciamento da saúde, iniciado especialmente pelo governo de Michel Temer (MDB) por meio do ajuste fiscal que ficou conhecido como Teto de Gastos. “E o governo Bolsonaro vem dando continuidade a essa política, agravando esse abismo que se criou para o futuro do país”, critica o líder.
Lopes rejeita a ideia de que o reajuste dependa de novas receitas. “Isso não existe. A receita é o orçamento geral da União. Você tem que sempre preservar as relações dos entes subnacionais, aumentar os repasses, mas não pode usar esse argumento, tanto é que não se diz ‘vou dar o piso para uma categoria, mas vou criar um imposto pra pagá-lo’”, argumenta.
Para o parlamentar, a aplicação do piso no contracheque da categoria é uma realidade cada vez mais próxima devido ao apoio que a pauta conquistou. “A vitória já veio e a oposição seguirá vigilante para finalizar esse processo o quanto antes”, encerra.
Bolsonaro é o 1º presidente a deixar o salário mínimo valendo menos do que quando entrou. Corretora calcula perda de 1,7% no poder de compra e queda no piso de R$ 1.213,84 para R$ 1.193,37 até dezembro de 2022
O governo de Jair Bolsonaro (PL) é o primeiro desde o Plano Real, em 1994, em que o salário mínimo do Brasil perdeu o poder de compra. Quando terminar o mandato, em dezembro de 2022, Bolsonaro deixará o piso salarial valendo menos do que quando entrou, segundo informações são do jornal O Globo.
Desde 1994, o país teve sete governos, dois de Fernando Henrique Cardoso, do PSDB; dois de Lula, do PT; um de Dilma Rousseff, do PT; um que começou com Dilma e terminou com o golpista Michel Temer, do MDB, que deu o golpe para assumir a presidência da República; e agora o de Bolsonaro. Com exceção de Blsonaro, todos os presidentes, até o ilegítimo Temer, conseguiram reajustar o salário mínimo com valores acima da inflação, ou seja, garantiram o poder de compra.
Sob o governo Bolsonaro, o Brasil terá uma perda de 1,7%, até o final do ano, segundo os cálculos da corretora Tullet Prebon Brasil. A baixa, contudo, ainda pode ser maior se a inflação acelerar mais do que o previsto pelo mercado no Boletim Focus, do Banco Central, usado como base das projeções da corretora. Há 16 semanas, as previsões vêm sendo revisadas para cima.
A perda percentual significa uma queda no piso salarial de R$ 1.213,84 para R$ 1.193,37 entre dezembro de 2018 a dezembro de 2022. De acordo com o relatório da corretora, a perda inédita está relacionada ao ajuste fiscal que mostra o impacto de reajustes no piso em uma gama de outras despesas da União, como benefícios sociais e gastos com Previdência. Mas há, principalmente, uma relação também direta com a aceleração da inflação. A avaliação é de que a reposição da inflação passada que o governo Bolsonaro vem promovendo não garante a preservação total do poder de compra do salário mínimo diante do aumento dos preços cada vez maior de um ano para o outro.
Brasil tem o segundo pior mínimo
Desde que assumiu, Bolsonaro vem seguindo à risca o abandono da política de valorização real do piso salarial, criada nos governos de Lula e Dilma. Há três anos, não há aumento real do piso como previa a regra de correção, que considerava a inflação mais a variação do Produto Interno Bruto (PIB) de dois anos antes. De 2019 para cá, o governo apenas reajusta a perda resultante da inflação anual acumulada, que é obrigatória por norma constitucional.
O valor do mínimo, sem qualquer ganho real de poder de compra, já havia rendido ao Brasil, no começo deste ano, o posto de segundo país com o menor salário mínimo. A perda foi constatada pelo estudo da plataforma CupomValido, que levou em comparação os 35 países membros da OCDE. México oferece o pior piso, seguido pelo Brasil. Antes de Bolsonaro, no governo de Michel Temer (MDB) o aumento real acumulado do mínimo foi de 0,79% ante o 0% com o atual presidente.
Mas a reposição já chegou a ser de 59,21% durante os governos petistas, de abril de 2003 a janeiro de 2016. No período, Lula se tornou o presidente que maior aumento real concedeu ao salário mínimo desde a sua criação, em 1º de maio de 1940.
Confira a história da exitosa política de valorização do salário mínimo
Em 2004, a CUT e demais centrais sindicais, em um movimento unitário, lançaram a campanha pela valorização do salário mínimo. Nesta campanha, foram realizadas três marchas conjuntas a Brasília com o objetivo de pressionar e, ao mesmo tempo, convencer os poderes Executivo e Legislativo sobre a importância social e econômica da proposta de valorização do salário mínimo.
Também como resultado dessas negociações, foi acordado, em 2007, uma política permanente de valorização do salário mínimo.
Desde 2003 até 2017, segundo o Dieese, o ganho real, ou seja, acima da inflação foi de 77,01%.
A partir de 1º de janeiro de 2017, o salário mínimo era de R$ 937,00. Este valor representou 6,48% sobre os R$ 880,00 em vigor durante 2016 e não correspondeu à variação anual do INPC, em 2016, que foi de 6,58%.
Caso o índice tivesse sido aplicado integralmente, o valor teria ficado em R$ 938,00. Uma vez que o PIB em 2015 não registrou crescimento, seguindo a regra em vigor, não foi aplicado este ganho adicional.
Já em 2018, o reajuste do salário mínimo foi o menor em 24 anos. Subiu apenas 1,81%,ficando em R$ 954,00.
Em 2019, a alta foi de 4,61%, de acordo com a inflação do ano anterior mais a variação do PIB dos dois anos anteriores, e chegou a R$ 998,00.
Ex-presidente participou do lançamento do Movimento Juntos Pelo Brasil, na manhã deste sábado. Lula reforçou o compromisso de fazer o Brasil voltar a ser o país dos brasileiros
“Fui vítima de uma das maiores perseguições políticas e jurídicas da história deste país, fato reconhecido pela Suprema Corte Brasileira e pela Organização das Nações Unidas”, afirmou o ex-presidente Lula (PT) em seu discurso no lançamento do Movimento Juntos pelo Brasil, realizado no Expo Center Norte, em São Paulo, manhã deste sábado (7), se referindo a farsa processual montada pelo ex-juiz Sérgio Moro, que o condenou à prisão, sem crime e sem prova.
“Mas não esperem de mim ressentimentos, mágoas ou desejos de vingança. Primeiro, porque não nasci para ter ódio, nem mesmo daqueles que me odeiam”, continuou o petista que falou de reconstrução, de esperança e de um Brasil para todos os brasileiros, como a maioria dos convidados do evento, entre eles o presidente Nacional da CUT, Sérgio Nobre, que falou sobre as prioridades do próximo presidente neste dia que considerou histórico, e o o ex-ministro-chefe da Casa Civil, Gilberto Carvalho, que se referiu as eleições deste ano como “uma batalha duríssima, mas vitoriosa”.
E a batalha será dura mesmo, como disse o ex-presidente, porque é preciso restaurar a democracia e reconstruir o país.
A tarefa de restaurar a democracia e reconstruir o Brasil exigirá de cada um de nós um compromisso de tempo integral. Não temos tempo a perder odiando quem quer que seja
Na abertura do evento, a história da trajetória do Brasil com Lula na presidência foi relembrada, desde sua eleição em 2002 até os momentos mais sombrios de sua vida quando sua liberdade e direitos políticos foram caçados e o ex-presidente foi cruelmente perseguido pelo extremismo da direita e por parte da Justiça e da mídia nacional. A maior campanha de mentiras já promovida contra um líder popular foi lembrada com imagens da vigília Lula Livre naqueles 580 dias de prisão arbitrária na Superintendência da Polícia Federal em Curitiba, um tempo em que os brasileiros, assim como Lula, não abriram mão de lutar para provar a inocência do melhor presidente da história do país, como constataram várias pesquisas.
Após a transmissão do vídeo do ex-governador Geraldo Alckmin (PSB), que será vice de Lula na chapa e não comparecu porque contraiu Covid-19, e acompanhando pelas lideranças dos partidos, centrais e movimentos que se uniram pelo Brasil, o ex-presidente começou seu pronunciamento abrindo o coração para reafirmar a sua missão de reconstruir o Brasil e devolver o sonho de um futuro melhor aos brasileiros e brasileiras.
“É para conduzir o Brasil de volta para o futuro, nos trilhos da soberania, do desenvolvimento, da justiça e da inclusão social, da democracia e do respeito ao meio ambiente, que precisamos voltar a governar este país”, disse o ex-presidente, após detalhar a situação atual do país e reforçar que a soberania do Brasil é ponto chave na retomada do desenvolvimento.
Além das forças políticas que já fazem parte do movimento, Lula conclamou todos aqueles que defendem a democracia do país a se unirem nessa luta para combater e derrotar o extremismo que assolou o país com o governo de Jair Bolsonaro (PL).
“Queremos unir os democratas de todas as origens e matizes, das mais variadas trajetórias políticas, de todas as classes sociais e de todos os credos religiosos para enfrentar e vencer a ameaça totalitária, o ódio, a violência, a discriminação, a exclusão que pesam sobre o nosso país”, disse Lula em seu discurso.
Queremos construir um movimento cada vez mais amplo de todos os partidos, organizações e pessoas de boa vontade que desejam a volta da paz e da concórdia ao nosso país
O ex-presidente lembrou de alguns dos princípios que nortearam sua atuação no comando do país. Um deles, artigo raro hoje em dia, é o diálogo, não somente entre as instituições democráticas do país (os poderes Executivo, Legislativo e Judiciário), mas também com a sociedade. Nos governos de Lula e Dilma, a participação popular foi base para a formulação de inúmeras políticas públicas que beneficiaram milhões de pessoas.
“Quando governamos o país, o diálogo foi a nossa marca registrada […]E agora precisamos de novo mudar o Brasil. Vamos precisar convocar tudo outra vez. Chamar todas as pessoas”, disse.
O sonho de Lula e do povo brasileiro
Ao tomar posse na presidência da República, em 2003, Lula afirmou que se, ao final se seu mandato, se todos os brasileiros tivessem condições de ter ao menos três refeições diárias, ele teria cumprido a missão da sua vida. No governo Lula o Brasil saiu do Mapa da Fome. Depois do golpe voltou ao triste ranking da pobreza e da desgraça do povo.
Com o Brasil e volta ao mapa da fome, sofrendo com o desemprego e falta de renda, com milhões de brasileiros sem expectativa de uma melhora nas condições de vida, Lula se vê, novamente, diante do mesmo desafio.
“Tudo o que fizemos e o povo brasileiro conquistou está sendo destruído pelo atual governo. O Brasil voltou ao Mapa da Fome da ONU, de onde havíamos saído em 2014, pela primeira vez na história. É terrível, mas não vamos desistir, nem eu nem o nosso povo. Quem tem uma causa jamais pode desistir da luta” disse Lula
Travamos contra a fome a maior de todas as batalhas, e vencemos. Mas hoje sei que preciso cumprir novamente a mesma missão
Para realizar esse sonho do Brasil, cumprir essa missão, Lula diz que um presidente, um governante, precisa ter empatia, “ter a capacidade de viver em sintonia com as aspirações e os sentimentos das pessoas, especialmente das que mais precisam”.
Citando esses sentimentos, Lula falou da alegria com a melhora da qualidade de vida do povo, com as conquistas como a casa própria e a realização do sonho de ver o filho se tornar doutor depois de ter acesso à universidade.
“Mas não basta ao bom governante sentir como se fossem suas as conquistas do povo sofrido. Para governar bem, ele precisa ter também a sensibilidade de sofrer com cada injustiça, cada tragédia individual e coletiva, cada morte que poderia ser evitada. Infelizmente, nem todo governante é capaz de entender, sentir e respeitar a dor alheia”, disse Lula.
Soberania
De maneira propositiva, Lula apontou questões que precisam ser retomadas de forma urgente. Após o golpe de 2016 contra a presidenta Dilma Rousseff, conforme a CUT e forças democráticas já afirmavam, a democracia e a soberania estariam sob ataque, assim como os direitos sociais e trabalhistas. Com o governo Bolsonaro, essa ofensiva foi intensificada e, pior, com autoritarismo.
“O artigo 1° da nossa Constituição enumera os fundamentos do Estado Democrático de Direito. E o primeiro fundamento é justamente a soberania. No entanto, a nossa soberania e a nossa democracia vêm sendo constantemente atacadas pela política irresponsável e criminosa do atual governo. Ameaçam, desmontam, sucateiam, colocam à venda nossas empresas mais estratégicas, nosso petróleo, nossos bancos públicos, nosso meio ambiente”, disse Lula.
O ex-presidente elencou os principais ataques, entre eles a entrega do patrimônio público, das nossas riquezas naturais, da destruição do meio ambiente e à falta de garantia de direitos fundamentais como à alimentação, bom emprego, salário justo, direitos trabalhistas e acesso à saúde e educação”.
Lula defendeu também a integração da região – países da América do Sul, América Central e Caribe, fortalecendo Mercosol, UnaSUL e os BRICS.
O Brasil é grande demais para ser relegado a esse triste papel de pária do mundo, por conta da submissão, do negacionismo, da truculência e das agressões a nossos mais importantes parceiros comerciais, causando enormes prejuízos econômicos ao país
Ainda sobre o tema da soberania Lula pontou os constantes aumentos de preços em alimentos e produtos, serviços como a energia elétrica e, em especial, os combustíveis, reiterando que a Petrobras deveria voltar a ser uma grande empresa nacional a serviço do povo brasileiro e não de seus acionistas.
Para Lula, soberania também passa pelo cuidado com a geração de energia elétrica. Por isso, citou a tentativa de privatização da Eletrobras como mais uma das frentes de ataque ao Brasil
“Perder a Eletrobrás é perder Chesf, Furnas, Eletronorte e Eletrosul, entre outras empresas essenciais para o desenvolvimento do país. É perder também parte da soberania sobre alguns dos nossos principais rios, como o rio Paraná e o São Francisco. É dizer adeus a programas como o Luz para Todos, responsável por trazer para o século 21 cerca de 16 milhões de brasileiros que antes viviam na escuridão”, disse o ex-presidente.
E, para o povo brasileiro, no dia a dia, é “aumentar ainda mais a conta de luz, que hoje já pesa não apenas no bolso do trabalhador, mas também no orçamento da classe média”.
Além disso, Lula defendeu os bancos públicos que são fundamentais para dar crédito barato “a quem quer produzir e gerar empregos”; a agricultura familiar que produz 70% dos alimentos que vão à mesa dos brasileiros todos os dias; investimentos em saneamento; e um atenção especial à educação.
Para ele, é inadmissível que um país trate com descaso as universidades, persiga professores e cientistas e corte recursos para o setor – tudo o que o governo atual tem feito.
Lula terminou reafirmando que o caráter do Movimento Juntos Pelo Brasil. “Mais do que um ato político, essa é uma conclamação. Aos homens e mulheres de todas as gerações, todas as classes, todas as religiões, todas as raças, todas as regiões do país. Para reconquistar a democracia e recuperar a soberania”, disse.
Frases de Lula
Em um discurso claro, sincero e objetivo Lula deu o tom da conversa para indicar o motivo da criação do movimento em torno de sua candidatura, ou seja, reconstruir o Brasil, o que para milhões de brasileiros significa sobrevivência em um país onde se possa ter uma expectativa de futuro, ter emprego, ter o que comer.
E, em sua fala, alguns pontos se destacam. São frases marcantes, que neste momento crítico do país, em um ano de eleições que vão definir esse futuro almejado pelos brasileiros, se tornam históricas. O PortalCUT separou algumas delas.
A luta
“A causa pela qual lutamos é o que nos mantém vivos, é o que renova nossas forças e nos rejuvenesce. Sem uma causa, a vida perde o sentido. Eu e todos nós que estamos juntos nessa hora, temos uma causa: restaurar a soberania do Brasil e do povo brasileiro.”
Emprego
“Este país precisa voltar a criar oportunidades, para que as pessoas possam viver bem, melhorar de vida e tornar seus sonhos realidade”
Educação
“Não haverá soberania enquanto a educação continuar a ser tratada como gasto desnecessário, e não como investimento essencial para fazer do Brasil um país desenvolvido e independente”.
Saúde
“Não fossem o SUS e os corajosos trabalhadores e trabalhadoras da saúde, a irresponsabilidade do atual governo nessa pandemia teria custado ainda mais vidas”
Cultura
“Não haverá soberania enquanto o atual governo continuar tratando a cultura e os artistas como inimigos a serem abatidos, e não como geradora de riqueza para o país e um dos maiores patrimônios do povo brasileiro.”
Democracia
“É para conduzir o Brasil de volta para o futuro, nos trilhos da soberania, do desenvolvimento, da justiça e da inclusão social, da democracia e do respeito ao meio ambiente, que precisamos voltar a governar este país.”
Ideologia
“Dizia o nosso querido Paulo Freire: ‘É preciso unir os divergentes, para melhor enfrentar os antagônicos’”.
Atuação
“Mas não esperem de mim ressentimentos, mágoas ou desejos de vingança. Primeiro, porque não nasci para ter ódio, nem mesmo daqueles que me odeiam. Mas também porque a tarefa de restaurar a democracia e reconstruir o Brasil exigirá de cada um de nós um compromisso de tempo integral.”
Conflito entre os poderes
“É imperioso que cada um volte a tratar dos assuntos de sua competência. Sem exorbitar, sem extrapolar, sem interferir nas atribuições alheias.”
Autoritarismo
“Queremos voltar para que ninguém nunca mais ouse desafiar a democracia. E para que o fascismo seja devolvido ao esgoto da história, de onde jamais deveria ter saído.”
Povo
“É preciso mais do que governar – é preciso cuidar. E nós vamos outra vez cuidar com muito carinho do Brasil e do povo brasileiro.”
O que é o movimento Juntos Pelo Brasil
“O Movimento Juntos Pelo Brasil é uma ação que reúne partidos políticos (PT, PSB, PCdoB, Solidariedade, PSOL, PV e Rede), centrais sindicais (CUT, Força, UGT, CTB, NCST, Intersindical Central da Classe Trabalhadora e Pública Central do Servidor), além de movimentos sociais e personalidades do meio artístico, acadêmico, jurídico e religioso em torno da pré-candidatura de Lula à presidência da República.”
Economia brasileira não registrava patamares tão elevados desses índices desde 2016
Cristiane Sampaio Brasil de Fato | Brasília (DF) |
O Brasil divide com a Turquia o posto de países com as mais altas taxas de juros, inflação e desemprego, segundo levantamento divulgado neste domingo (8) pelo portal G1. Dados da agência de classificação de risco Austin Rating apontam que somente os dois países apresentam os três indicadores acima dos 10%.
Na comparação com outras nações, a pesquisa mostra que Espanha e África do Sul, por exemplo, registram índice de desemprego acima do verificado no Brasil, mas têm juros e inflação mais baixos. Ao mesmo tempo, Rússia e Argentina vivem os cenários de juros básicos e inflação mais elevados do globo, mas com desemprego abaixo dos 10%.
Assim, apenas Brasil e Turquia apresentam números desfavoráveis nos três indicadores, fundamentais para balizar análises econômicas. Os dados consideram a realidade de março e abril de 2022, porém avaliando também meses anteriores.
Uma análise em retrospectiva mostra que o Brasil não registrava patamares tão elevados desses índices desde 2016, quando uma recessão trouxe diversos desafios econômicos para o país.
A agência Austin Rating aponta que essa combinação de altas taxas ocorreu ao longo de um período de quatro meses, na época. A análise considera os dados compilados pela Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), desde 2012.
A deputada estadual pelo PCdoB-SP, atualmente no 3º mandato, cantora e compositora com 46 anos de carreira, concede uma entrevista à Marie Claire sobre suas expectativas acerca de um 4º termo na política, o intenso embate anunciado na próxima disputa, intolerância religiosa no parlamento e compromisso com o povo
Quando foi eleita deputada estadual pelo PCdoB-SP – a segunda mulher negra a ocupar o cargo -, Leci Brandão reuniu todos os discos gravados desde 1974 para ver o que tinha cantado até então. “Peguei aquilo e pensei: ‘Essa vai ser a minha plataforma de mandato, voltada às questões sociais’”, relembra à Marie Claire. “Graças a Deus estamos no terceiro, vamos ver se ele permite a caminhada.”
A deputada não confirma a candidatura nas eleições de 2022: “Sei que meu partido só tem a mim como representante, mas temos também a questão da federação que ainda não resolveu.” Porém, sustenta na fé e no desejo popular a possibilidade de dar continuidade ao compromisso iniciado em 2010, quando venceu a primeira disputa.
“Posso assegurar que esta eleição vai ser dificílima, porque o embate é muito sério; não será tranquila. As pessoas vão lançar mão de qualquer coisa para chegar lá, mas vamos continuar com o que começamos”, conta.
Leci Brandão diz que seus mandatos sempre foram voltados às questões sociais, com a missão de construir projetos de lei compromissados com a demanda do povo. “Eu sou popular e é um mandato que segue esta linha.”
Atualmente, a deputada estadual com mais de 40 leis aprovadas tem em trâmite, desde setembro passado, o PL 509, que prevê a criação de um percentual de vagas de estágio de nível superior, nos órgãos e entidades de administração pública em São Paulo, para pessoas negras e pardas, com deficiência, travestis e transexuais.
“Temos muita dificuldade em aprovar e dar continuidade a esses assuntos, mas não desistimos. Podemos apresentar em um segundo momento e já temos essa prerrogativa: caso não passe agora, aproveitamos um novo mandato e damos sequência”, explica. Atualmente, o Projeto de Lei está na Comissão de Constituição, Justiça e Redação.
Caminho de fé
As falas da deputada são ancoradas na fé. As religiões de matriz africana, uma importante parte de sua vida, frequentemente são atacadas no parlamento, pontua. “Existem bancadas de outras religiões que não gostam, mas a minha preocupação não é com isso, e sim com a minha sinceridade e caráter. É isso que eu quero que o povo enxergue e é ele que me anima em dar continuidade.”
Leci destaca que em uma Assembleia com 96 deputados, é possível contar “em uma mão” quem defende determinadas pautas. “Preto, pobre, mulher, candomblé, umbanda e LGBTQIA P+: quem é conservador, não gosta. O país é definido pelo conservadorismo.”
Entretanto, nos últimos anos, a deputada estadual construiu um espaço de resistência na ALESP com seu gabinete, o Quilombo da Diversidade. O nome, como explica, vem da presença de pessoas “de todas as caminhadas.”
“Não faço política, cumpro missão”
A parlamentar é conhecida por sua defesa de ideias progressistas e, segundo a própria, não é adepta ao partidarismo. “Dialogo com parlamentares, não toco muito a questão das siglas, mas das ideias. Eu tenho por hábito votar favoravelmente quando tem qualquer processo que seja comprometido com o povo”, revela.
“Hoje tem isso de partido ‘X’, ‘Y’; mas comigo, não. Fiz grandes amizades dentro da Assembleia, a maior da América Latina”, afirma Leci Brandão, que se descreve como uma pessoa simples, que respeita todos e não tem discurso ‘politiquês’. “Eu defendo os meus, não ataco ninguém. É dessa forma que caminho”, diz. “Não faço política, cumpro missão.”
Com a proximidade das eleições, a deputada destaca que a ideia de ingressar na política não partiu dela, mas de um convite – com o qual relutou inicialmente. “Mas os movimentos Negro e Feminista disseram que eu tinha que ir, que eu já fazia política com a arte, que sempre discuti problemas das pessoas e fui punida por defender a democracia e as minorias”, diz sobre a marca que lhe acompanha nos 46 anos de carreira.
Antes de transformar sua realidade – ou de dar continuidade ao que começou na música -, voltou-se à fé. “Fiz minha consulta espiritual e a resposta que recebi é que eu tinha que aceitar o desafio, que era importante para mim ter maiores condições de defender aquilo que sempre cantei.”
Por fim, sobre a disputa eleitoral deste ano, a deputada estadual espera que os eleitores analisem as propostas de quem está, ou quer entrar, no poder. “É só fazer uma observação do que é feito e você chega em suas conclusões, sem agredir e sem ódio”, afirma. Amiga de muitos parlamentares, independentemente de partido, Leci Brandão conclui: “Não é por aí. O Brasil não pode permitir que essas coisas aconteçam.”
É o futuro que nos acena com esperança quando a juventude responde ao chamado de se habilitar ao voto. O presidente do Tribunal Superior Eleitoral, ministro Edson Fachin, anunciou que o prazo de regularização dos títulos de eleitor para o pleito deste ano chegou ao fim com incremento de 2,042 milhões de adolescentes de 16 a 18 anos aptos a votar. A mobilização intensa — do TSE aos famosos locais e estrangeiros, passando por coletivos de juventude e brasileiros comuns, todos preocupados com o destino de uma democracia sob permanente ataque — impactou brasileiras e brasileiros menores de idade, que disseram “sim” à participação política, mesmo desobrigados de ir às urnas.
— A juventude brasileira foi convocada a participar das eleições em outubro, e a resposta foi impressionante — festejou Fachin.
Nesta semana, o ministro já tinha proferido no Supremo Tribunal Federal (STF) discurso contundente contra a atmosfera golpista que emana do Planalto:
— O respeito entre as instituições e a harmonia entre os Poderes dependem hoje não só da abertura para o diálogo, mas também de uma posição firme: não transigir com as ameaças à democracia; não aquiescer com informações falsas e levianas; não permitir que se corroa a autoridade do Poder Judiciário.
O engajamento da juventude do Brasil ao processo eleitoral é bem-vindo e necessário. Lembrou muito a corrida à Casa Branca, em 2020, quando a participação de eleitores jovens, negros e latinos bateu recorde e foi essencial para eleger a chapa democrata, de Joe Biden e Kamala Harris. Lá, chamou a atenção a atuação da advogada negra Stacey Abrams. Em 2018, ela perdeu a eleição para o governo da Georgia por margem pequena de votos, após 53 mil eleitores, 70% afro-americanos, terem o registro suspenso por uma norma feita sob medida para excluí-los. Os nomes nas listas de votação tinham de estar exatamente iguais às identidades estaduais, sem um acento ou hífen fora do lugar.
Após a derrota, Abrams fundou a organização Fair Fight (Luta Justa, em tradução livre) para denunciar falhas no sistema eleitoral e atrair jovens e minorias étnicas para votar. Dois anos atrás, às vésperas do pleito que livrou os EUA da reeleição de Donald Trump, o movimento conseguira registrar 800 mil novos eleitores na Georgia, dos quais 45% negros e igual parcela de jovens com menos de 30 anos. O estado deu maioria aos democratas pela primeira vez desde 1992, quando Bill Clinton se elegeu presidente.
Num Brasil em que, a cada eleição, cresce o total de abstenções, votos nulos e brancos, o engajamento do eleitorado jovem é auspicioso. A faixa etária está mergulhada em problemas e carece de políticas públicas. Pesquisa da FGV Social sobre percepções da juventude mostrou que o índice de felicidade dos jovens despencou de 7,3 (de zero a dez) em 2013 para 6,4 em 2020. Foi o mais baixo nível de satisfação com a vida já registrado no grupo. Ao todo, 59% se declaravam preocupados, outro recorde; e 32% com raiva. A satisfação com o sistema educacional, que atingira 56% em 2018, caiu para 41% no primeiro ano da pandemia. “Dos jovens brasileiros, 30% não acreditam que podem subir na vida com trabalho. Foi o pior resultado entre países latino-americanos. No Peru, a proporção era de 3%”, informou o economista Marcelo Neri, da FGV Social.
Na convocação geral à juventude para as eleições 2022, houve muita ênfase na escolha do próximo presidente. Mas é preciso lembrar a moças e rapazes que o Brasil escolherá também governadores, um terço do Senado Federal (27 nomes, um por unidade da Federação), deputados federais, estaduais e distritais. São todas funções essenciais à elaboração e à aplicação de leis e políticas públicas. Quatro anos atrás, além de Jair Bolsonaro, presidente, e Hamilton Mourão, vice, o Brasil escolheu para a Câmara dos Deputados, entre 513 parlamentares, 77 mulheres e 125 pretos e pardos. Quase um terço da casa do povo tinha entre 51 e 60 anos. Somente em 2018 o Brasil elegeu a primeira deputada federal indígena, Joenia Wapichana (Rede-RR). Antes dela, só o cacique xavante Mário Juruna (PDT-RJ), em 1982.
Os brasileiros de 15 a 29 anos beiram um quarto da população. Têm capacidade de contribuir para aumentar a representatividade de gênero, raça e idade nos espaços de poder. Não por acaso, a Uneafro, organização do movimento negro, anunciou instalação de 25 comitês Brasil afora para debater participação política e agenda antirrascista nas eleições 2022. Coalizão Negra por Direitos e PerifaConnection, entre outras entidades, lançaram campanha pelos dez anos da Lei de Cotas, marco reparatório que viabilizou a entrada na universidade pública de milhares de jovens negros e de baixa renda.
O coletivo Engajamundo ocupou ruas de Rio de Janeiro, São Paulo, Recife, Porto Alegre, Belém e Fortaleza com ações para incentivar o eleitorado jovem a tirar o título de eleitor.
— Somos 50 milhões de jovens no Brasil. Temos o poder de mudar o resultado das eleições. Para isso, é preciso trazer os jovens para participar ativamente da construção de um país que tenha nossa cara, idade e linguagem — disse Larissa Pinto Moraes, diretora executiva.