Mulheres camponesas participam de luta contra a sobrecarga de trabalho no meio rural

Raquel Setz. 28 de Outubro de 2021

Desde 2014, a campanha incentiva a participação dos homens do campo no cuidado com a casa e os filhos – Campanha pela Divisão Justa do Trabalho Doméstico

Se todo mundo sentar no sofá e eu for cuidar, eu paro o que estou fazendo e vou para o sofá também

Acordar antes do sol nascer e trabalhar pesado o dia todo: a vida no campo não é moleza para ninguém. E menos ainda para as mulheres. É o que explica Domênica Rodrigues, do Grupo de Trabalho de Mulheres da Articulação Nacional de Agroecologia (GT de Mulheres da ANA). 

“Ela vai cuidar do roçado, vai cuidar da hortinha que tem no quintal de casa, vai cuidar dos meninos. Então ela tem uma sobrecarga maior porque ela divide o trabalho no roçado, e dentro de casa ela faz sozinha, não tem divisão. Quando nasce uma menina, é como se fosse um alívio pra essa mulher, porque essa menina desde pequenininha —5, 6, no máximo 7 anos de idade — já vai estar com essa mãe dividindo o trabalho que essa mãe faz dentro de casa”, explica. 

A sobrecarga de trabalho doméstico nas mãos de mulheres e meninas é um problema generalizado no Brasil. Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE), as mulheres se dedicam, em média, a 21 horas de trabalhos domésticos por semana. A média dos homens é de 11 horas por semana. 

Embora não haja dados específicos sobre o meio rural, Domênica aponta que o machismo é ainda muito forte no campo, especialmente entre os homens mais velhos. 

Para mudar essa realidade, nasceu a Campanha pela Divisão Justa do Trabalho Doméstico, que começou em 2014, reunindo várias organizações, como a ANA e a Casa da Mulher do Nordeste. Após um hiato de dois anos, a iniciativa voltou com força total no meio de 2020, durante a pandemia. O desafio é mudar hábitos culturais arraigados, como explica Domênica. 

“O marido foi pra roça, foi pro roçado. Quando ele voltar, ele vai descansar porque tá cansado. E ela, nesse lugar de cuidado, ela garante que esse marido descanse a ponto dele nem precisar levantar da cadeira pra pegar um prato”, exemplifica. 

A agricultora Maria Sueli da Silva diz que na época da mãe e da avó dela era bem assim: todo o trabalho doméstico ficava por conta das mulheres. Mas com ela, a história já é outra. 

“Eu digo logo: ‘Hora de cuidar, vamos cuidar. Eu vou pra cozinha, você vai fazer isso, você vai fazer aquilo’. Divido as tarefas para todo mundo dentro de casa. Se todo mundo sentar no sofá e eu for cuidar, eu paro o que estou fazendo e vou para o sofá também”, afirma. 

Mas a mudança não surgiu do nada. Desde 2015, ela e outras mulheres do município de São José do Egito, no sertão pernambucano, fazem parte da campanha. Por meio de peças de teatro de rua e de panfletagens nas feiras, elas conseguiram quebrar muitos tabus. 

“Não é fácil você mudar a cabeça de um homem. Também do filho, porque tem aquele filho acomodado, que espera que a mãe faça tudo: cozinhar lavar, passar, arrumar menino, fazer a comida, ir pro campo, tudo mais. Foi complicado, muito complicado no início tentar mudar essas pessoas”, relata.  

Antes da pandemia, agricultoras ligadas à campanha organizaram encontros, peças de teatro e panfletagens em feiras em São José do Egito (PE) / Acervo pessoal Maria Sueli da Silva

Para levar a transformação adiante, a campanha aposta nas redes sociais. Para isso, criaram até zapnovelas – que são como aquelas radionovelas antigas, só que compartilhadas pelo WhatsApp. 

A mulherada chegou cedo à associação pra organizar a feira com produtos produzidos por elas. E olha que pra chegar cedo elas acordam antes do galo cantar. Fazem a comida, limpam a casa, cuidam dos filhos, trabalham no quintal e, aí sim, sem perder o ânimo, partem para a associação. E é isso que a gente vai contar  

Domênica está satisfeita com os resultados que vem aparecendo, especialmente entre os homens. 

“A gente tem um retorno do seu Francisco, que é do sertão da Bahia. Ele foi ouvir a zapnovela, e percebeu, com a história de Rosa, que ele fazia igualzinho ao marido de Rosa. E como isso deixou ele constrangido. Quando ele terminou de ouvir, ele levantou pra botar a água do café pra fazer, que era uma coisa que ele não fazia de jeito nenhum, imaginava que era algo só de mulher”, relata.  

Maria Sueli afirma que a divisão das tarefas domésticas tem sido boa para todo mundo: melhora a vida conjugal do casal e deixa a relação familiar mais harmoniosa. 

“Tá bem melhor. Quando a gente divide as tarefas, temos tempo para o lazer, pra sair domingo com a família. Temos tempo pra assistir um jornal, uma novela, um filme, uma série todo mundo junto”.  

Quem quiser conhecer melhor a campanha e ouvir as zapnovelas, basta acessar o Instagram @divisaojustadotrabalho. 

Edição: Daniel Lamir

 

 

 

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28 de Outubro: Dia do Servidor Público – Um dia de luta em defesa dos serviços públicos, em defesa da população, em defesa de direitos. Temos um encontro marcado nesta quinta, às 16h, na Candelária, no ato contra a “reforma” administrativa!

 

 

Em Brasília, protesto contra reforma Administrativa está marcado para às 9h no Espaço do Servidor, na Esplanada dos Ministérios. Presidente da CUT afirma que a reforma é uma tragédia para todos os brasileiros

Publicado: 27 Outubro, 2021. Escrito por: Andre Accarini

ARTE: EDSON RIMONATTO/CUT

O dia 28 de outubro é o dia em que se celebra o Dia do Servidor Público, mas a categoria não tem nada o que comemorar. Pelo contrário, a data será marcara por luta contra uma proposta de devastação tanto da carreira e da estabilidade dos servidores como do serviço público do país, mais um ataque do governo de Jair Bolsonaro (ex-PSL) à categoria e ao povo brasileiro.

A Proposta de Emenda à Constituição (PEC 32), da chamada reforma Administrativa, está em tramitação no Congresso e servidores de todo o país estão mobilizados para que ela não seja aprovada. E isso interessa a todos os brasileiros que podem ficar sem serviços público gratuito e de qualidade.

“Essa reforma é uma tragédia não só para os servidores, mas para todos os brasileiros”, alerta o presidente nacional da CUT, Sérgio Nobre, que participará do ato na capital federal. O dirigente ainda ressaltou a luta da categoria.

Pressão, resistência, luta e todo reconhecimento e respeito à categoria, essencial para um país mais igual e justo

– Sérgio Nobre

Dia de luta

A luta no Dia do Servidor Público começa cedo, às 9h da manhã desta quinta-feira, será realizado um ato em Brasília, no Espaço do Servidor – bloco C da Esplanada dos Ministérios. Outros atos, paralisações e protestos também serão realizados em várias cidades do país.

Mobilização da categoria

As entidades nacionais ligadas à CUT, que defendem o serviço público estão em campo para pressionar deputados a votarem contra a reforma Administrativa. Nas últimas semanas, em todas as terças, quartas e quintas-feiras, Condsef, Confetam (serviço público municipal), CNTSS (seguridade social), Proifes (ensino superior), CNTE (trabalhadores em educação), entre várias outras ocupam os aeroportos tanto de Brasília como de outras cidades que são as bases dos deputados.

Nesta semana, a pressão aumentou ainda mais já que os trabalhos no Congresso voltaram a ser presenciais.

Tramitação

O presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), aliado ao (des)governo Bolsonaro tenta manobrar com deputados para colocar a PEC em votação. Ciente de que não tem os 308 votos necessários, nos bastidores tenta convencer aliciar parlamentares que que votem a favor da PEC.

Mas a pressão das entidades tem feito parlamentares que votariam a favor, entenderem que o povo brasileiro vai se lembrar deles nas eleições do ano que vem como traidores do Brasil e agentes da destruição dos serviços públicos – saúde e educação, por exemplo, que são essenciais à população, em especial, aos mais pobres. É o “se votar, não volta”.

Live dos servidores

Também nesta quinta-feira, as entidades representativas dos servidores públicos e a CUT Brasil se unirão em uma live que denunciará mais uma vez os prejuízos que serão causados aos serviços públicos e aos servidores caso a PEC 32 seja aprovada, além de fazer um balanço das atividades nos estados e no Distrito Federal contra a PEC 32.

Participam:

▶Sergio Nobre – Presidente da CUT Nacional

▶Rogerio Correia – Deputado Federal (PT/MG)

▶Marcelo Freixo – Líder da Minoria na Câmara (PSB/RJ)

▶Erika Kokay – Deputada Federal (PT/DF)

▶Fausto Augusto Junior – Coordenador-Técnico do Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos (Dieese)

Edição: Marize Muniz

 

 

 

Nas ruas e nas redes, servidores e trabalhadores de outras áreas vão defender o serviço público, o servidor a as empresas públicas brasileiras

Publicado: 27 Outubro, 2020. Escrito por: Redação CUT

ARTE: EDSON RIMANATTO/CUT

 

A CUT, demais centrais e as entidades que representam os servidores e as servidoras de todas as esferas – federal, estadual e municipal – realizarão manifestações nas ruas e nas redes em todo o país, nesta quarta-feira (28), Dia do Servidor Público.

Os atos serão em defesa do serviço público de qualidade para a população, das empresas públicas que estão na mira da privatização, como os Correios, Banco do Brasil, Petrobras, Caixa Econômica e Eletrobras, pela valorização do servidor público, e contra a Proposta de Emenda à Constituição (PEC 32/2020), encaminhada pelo presidente jair Bolsonaro (ex-PLS) ao COngresso Nacional, que prevê uma reforma Administrativa, que pode acabar com o serviço público no Brasil.

Reforma Administrativa desconhece realidade de servidores públicos do Brasil

“Neste 28 de outubro não temos o que comemorar”, disse o diretor Executivo da CUT, Pedro Armengol, se referindo aos ataques do governo federal contra a categoria e contra o serviço público.

Um dos ataques é a PEC 32 que, se aprovada, pode acabar com o serviço público no Brasil, pois prevê uma profunda mudança no papel do Estado no Brasil, com a precarização do serviço público, retirada de direitos dos servidores e o início do modelo de Estado mínimo e que deixará milhares de pessoas sem acesso a serviços básicos essenciais, avalia o dirigente. Confira aqui a entrevista completa.

Confira onde vai ter ato:

Rio de Janeiro

No Rio, servidores públicos municipais, estaduais e federais vão fazer um ato na Candelária, no centro da capital, às 16

Bahia

Em Salvador, às 9h, tem ato presencial na praça da piedade, centro da capital.

Ceará

Em Fortaleza, ato começa às 9h, em frente a sede da Receita Federal

Distrito Federal

Em Brasília, além de debates conjunturais e falas políticas, a atividade contará com apresentações artísticas diversas. A transmissão será a partir das 18h pela TV Comunitária ─ Canal 12 na NET ─ e pelas páginas do Facebook das entidades que compõem o movimento.

Goiás

Em Goiânia, tem carreata às 9h, com concentração ao lado do Terminal Padre Pelágio.

Maranhão

Em São Luís, o aniversário de 30 anos do Sindsep-MA, que é no dia 1º, será celebrado neste dia 28 com uma live, das 16h às 18h, com ato político e atividade cultural (música e poesia) com filiados do próprio sindicato, que antecipa a comemoração do aniversário e, junto, faz a luta política contra a reforma Administrativa. A live será transmitida na TV Alternativa, canal 19.1 e também na página do Facebook da entidade – facebook.com/sindsep.ma

Mato Grosso do Sul

Em Campo Grande, tem ato a partir das 9h na Rua 14 de Julho, esquina com a Rua Barão do Rio Branco. 

Minas Gerais

Em Belo Horizonte, vai ter pedágio nos órgãos públicos para que os dirigentes sindicais e servidores públicos possam falar da importância dos serviços públicos.

Paraíba

Em João Pessoa, a mobilização acontecerá a partir das 9h no Ponto de Cem Réis

Pernambuco

Em Recife, a agenda começa com panfletagem na Estação Central do Recife, às 7h. Depois, tem um ato simbólico, às 14h30, na Avenida Guararapes.

Piauí

Em Teresina, tem Ato Público em Defesa dos Serviços e Servidores Públicos, em Defesa das Empresas Públicas e Contra a Reforma Administrativa, em Apoio a Greve dos Trabalhadores de Transporte Público.

– A concentração começa às 8h, na Praça Rio Branco, depois caminhada pelas principais ruas do centro da capital, com parada em pontos específicos.

Rio Grande do Sul

Em Porto Alegre, tem ato público, às 14h, será em frente à Prefeitura. Às 11h, s entidades que representam federais, estaduais e municipais, que participam das mobilizações contra a reforma administrativa, dão uma coletiva.

Santa Catarina

Em Florianópolis, concentração começa às 10h30, na Catedral, no centro da capital catarinense.

Em Joinville, ato começa  às 17h, na Praça da Bandeira.

São Paulo

Em São Paulo, o Macrossetor do Serviço Público da CUT-SP vai realizar um ato, às 13h30,  na Praça do Patriarca, no centro da capital.  O uso de máscaras e os cuidados de autoproteção, como manter o distanciamento, será obrigatório entre os participantes.

 

 

 

 

As particularidades do Instituto Nacional de Educação de Surdos (Ines) – único em âmbito federal — foram solenemente ignoradas pelo desembargador Marcelo Pereira da Silva, do Tribunal Regional Federal da 2ª Região (TRF2) ao determinar que, em 15 dias sejam retomadas as aulas presenciais nas universidades e institutos federais. 

E nota oficial, a direção-geral do Ines expõe a sua realidade, que está muito longe da letra fria de posicionamentos equivocados e que parece seguir a cartilha em voga de ignorar as desigualdades e as diversidades existentes em nossa sociedade. 

“É importante destacar, ainda, as particularidades da língua usada na instituição por alunos, professores e servidores — a Língua Brasileira de Sinais (Libras) –, que faz com que os riscos de contaminação aumentem, já que a Libras apresenta características próprias: em muitos sinais faz-se necessário que os alunos levem a mão ao rosto e, em especial, à boca, o que potencializa o risco de contágio. Além disso, há alunos que estão no processo de aprendizagem da Libras e precisam da leitura labial para auxiliar o entendimento em algumas situações, o que é inviável com uso de máscaras”, explica a nota.

Retorno só após imunização de todos

 Assim como a UFRJ e outras universidades e institutos federais, o Ines orienta-se pelas manifestações técnicas de um comitê emergencial de crise formado por profissionais da área da saúde e da educação que busca contextualizar os riscos que implicam qualquer decisão institucional no âmbito pandêmico. Este comitê interno recomenda a abertura do instituto para aulas presenciais somente ocorra após a vacinação completa de toda a comunidade do Ines (de acordo com a vacina, uma ou duas doses), considerando que:

a) a população pela própria condição da surdez se constitui um grupo de risco (deficiência);
b) além da surdez, grande parte do grupo apresenta outros fatores de risco em saúde associados ou comorbidades (múltiplas deficiências, hipertensão, diabetes); e
c) há risco ocupacional, considerando que apenas 7,98% reside na região do instituto (zona sul do Rio de Janeiro) de acordo com o censo institucional de 2020 do INES.  Estas pessoas precisam se deslocar diariamente em transporte público.

O ines ressalta que as atividades acadêmicas estão sendo oferecidas de forma remota por meio de sistemas de sala de aula online e materiais impressos, enquanto o corpo administrativo trabalha de maneira híbrida (presencial e remotamente). “Houve reestruturação administrativa e pedagógica, investimento e formação em tecnologias para redimensionar o ensino e impedir que as aulas fossem interrompidas no período pandêmico. Em 2022 todos os alunos terão seu retorno completo ao modelo presencial desde o início do ano letivo, conforme calendário já definido pela instituição”, diz a nota.

Pioneirismo

O Ines ocupa importante centralidade na educação de surdos, tanto na formação e qualificação de profissionais na área da surdez, por meio da educação superior –graduação e pós-graduação, pesquisa e extensão – quanto na construção e difusão do conhecimento, por meio de estudos e pesquisas, fóruns de debates, publicações, seminários e congressos, cursos de extensão e assessorias em todo o Brasil. É pioneiro no que faz no país e na América Latina. 

Atende em torno de 600 alunos, da Educação Infantil até o Ensino Médio. A arte e o esporte completam o atendimento diferenciado do instituto aos seus alunos. O ensino profissionalizante e os estágios remunerados ajudam a inserir o surdo no mercado de trabalho. O Ines também apoia o ensino e a pesquisa de novas metodologias para serem aplicadas no ensino da pessoa surda e ainda atende a comunidade e os alunos nas áreas de fonoaudiologia, psicologia e assistência social.

O Instituto promove fóruns, publicações, seminários, pesquisas e assessorias em todo o território nacional. Possui uma vasta produção de material pedagógico, fonoaudiológico e de vídeos em língua de sinais, distribuídos para os sistemas de ensino. Além de oferecer, no seu Colégio de Aplicação, Educação Precoce e Ensinos Fundamental e Médio, o Ines também forma profissionais surdos e ouvintes no Curso Bilíngue de Pedagogia, experiência pioneira no Brasil e em toda América Latina.  

Na área de saúde, o Ines realiza avaliação audiológica de seus alunos e ainda atende à comunidade na detecção precoce da surdez, com cerca de mil procedimentos mensais, por meio de exames como a audiometria, o “teste da orelhinha” e a indicação e adaptação de prótese auditiva. Também é feita a orientação aos responsáveis sobre a surdez e o encaminhamento pedagógico e fonoaudiológico quando necessário. Além disso, os alunos do Colégio de Aplicação contam com o Núcleo de Orientação à Saúde do Surdo (NOSS), projeto que funciona como um espaço de reflexão, discussão e orientação, com ênfase na saúde sexual e reprodutiva.

 

Foto: Ana Branco/ AGÊNCIA O GLOBO

 

 

 

Só no mês de outubro, Jair Bolsonaro cortou mais de R$ 600 milhões da pasta

Ana Carolina Vasconcelos/Brasil de Fato | Belo Horizonte (MG) | 27 de Outubro de 2021

Ato reuniu estudantes de graduação e pós-graduação em defesa da ciência e da pesquisa no Brasil – Carol Custódio

Aconteceu nesta terça (26), em frente à Assembleia Legislativa de Minas Gerais, um ato que reuniu estudantes de graduação e pós-graduação em defesa da ciência e da pesquisa no Brasil. A manifestação faz parte do dia nacional de mobilização convocado pela Associação Nacional de Pós-graduandos (ANPG), pela União Nacional dos Estudantes (UNE) e por outras 25 entidades.

No dia 15 de outubro, foi sancionado pelo presidente da República, Jair Bolsonaro, um corte de R$ 600 milhões no setor científico, a pedido do Ministério da Economia. Esse valor corresponde a 92% dos recursos para a ciência, tecnologia e inovação, aprovado pelo Congresso Nacional, a pedido do Ministério da Economia. A decisão afeta diretamente as bolsas de apoio à pesquisa e projetos já previstos pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). 

“Uma atitude que não podemos aceitar, especialmente neste momento do país, que enfrenta uma crise sanitária, econômica e social”, afirma as entidades que convocaram o ato em manifesto, intitulado “Quanto Vale a Ciência?”, em referência aos recursos do Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT). 

Atualmente, o FNDCT tem cerca R$ 2,7 bilhões para serem liberados e utilizados ainda em 2021, porém, entidades denunciam que a liberação da verba tem sido dificultada pelo governo federal. Segundo Lívia Macedo, da ANPG, o cenário é preocupante. “Nós já denunciamos o apagão da ciência que é resultado dos sucessivos ataques à universidade. A cada ano, o orçamento da ciência vai diminuindo”, preocupa-se.

Impactos dos cortes de recurso

Além dos recentes cortes de investimento, bolsas de estudo de pós-graduandos estão há oito anos sem reajuste.  Para Lívia, esse contexto deixa os pesquisadores sem perspectivas. “O pesquisador pós-graduando que está em processo de formação e, ao mesmo tempo, contribui com a produção científica no Brasil, está sendo sobrecarregado, cobrado e pressionado para cumprir prazo de produtividade. Só que ele está cada vez mais desvalorizado porque, além de tudo, ao sair da pós-graduação, não existe uma incorporação por parte do Estado desse pesquisador”, afirma.

Segundo Lívia, as entidades querem que o orçamento do FNDTC seja recomposto e investido no reajuste de bolsas de jovens pesquisadores.  “Queremos a criação de políticas públicas que ofereçam perspectivas para os jovens doutores. E isso não tem a ver só com as condições para os pesquisadores porque a ciência vai muito além da discussão sobre os direitos de quem produz ciência. Quando a gente fala em ciência, estamos falando de uma chance do nosso país sair dessa crise”.

Atualmente, o valor das bolsas de mestrado é R$ 1.500 e de doutorado é R$ 2.200.

Na foto a coordenadora da Associação de pós graduando da PUC Minas, Bruna Camilo. “Estamos em frente a ALMG contra os cortes dos governos Bolsonaro e Zema”, declara a estudante. / Divulgação

Conquista dos pesquisadores

Na segunda (25), a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (Fapemig) anunciou o reajuste de 25% no valor das mensalidades das bolsas de formação, que beneficiará um total de 4.368 bolsistas de iniciação científica, mestrado, doutorado e pós-doutorado.

Para Stella Gontijo, vice-presidenta da ANPG, há uma tendência em Minas Gerais de seguir a política federal de desvalorização da ciência e dos pesquisadores, considerando os sucessivos atrasos no pagamento desde 2019. “O reajuste é uma grande vitória em nosso estado, resultado de muita luta”, comemora. 

Programas para licenciatura também estão em risco

A estudante de pedagogia da Universidade Estadual de Minas Gerais (UEMG) e diretora da UNE Paula Silva enfatiza que o dia de luta é muito importante. Além da defesa da ciência e do fortalecimento das agências de fomento, como a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) e o CNPq, estudantes das licenciaturas estão mobilizados em defesa do Programa de Iniciação à Docência (Pibid) e das Residências Pedagógicas. 

“O Pibid e as Residências Pedagógicas são fundamentais para a formação de professores e professoras. Os programas fazem com que a gente forme profissionais com mais qualidade”, avalia Paula. As Residências Pedagógicas são ações que integram a Política Nacional de Formação de Professores e têm por objetivo aperfeiçoar a formação prática nos cursos de licenciatura, promovendo a imersão do licenciando nas escolas de educação básica.

Os estudantes que participam dos programas recebem bolsas para desempenhar suas atividades. Porém, neste mês os licenciandos ainda não receberam a bolsa. “Isso coloca em risco a manutenção da vida desses estudantes e a permanência dos programas”, aponta Paula.

Próximos passos

Ainda nesta semana, no dia 28 de outubro, entidades retornam às ruas contra a Reforma Administrativa do Governo Federal.

Repercussão online

Na internet, diversas lideranças políticas e pesquisadores demonstraram indignação com a falta de valorização da ciência. Utilizando a hashtag #sosciência, reivindicam mais investimento na ciência e na educação.

 

 

 

Minas Tênis Clube anuncia rescisão do contrato com o central, que agora terá que buscar outra equipe para jogar

Igor Carvalho/Brasil de Fato | São Paulo (SP) | 27 de Outubro de 2021 

Maurício Souza não é mais jogador da seleção brasileira de vôlei – Foto: CBV

Na tarde desta quarta-feira (27), o Minas Tênis Clube anunciou a demissão do central Maurício Souza. A rescisão ocorreu após as declarações homofóbicas do atleta. O clube aguardava que o esportista se retratasse e fizesse uma declaração pública imediata, o que ocorreu, mas com ironia.

“Vim aqui para pedir desculpas a todos que se sentiram ofendidos com a minha opinião, por eu defender aquilo que eu acredito. Não foi a minha intenção. Assim como vocês defendem o que vocês acreditam, eu também tenho o direito de defender o que eu acredito”, afirmou o atleta, nesta manhã.

A direção do clube, pressionada por patrocinadores, torcedores e mídia esportiva, decidiu demitir Souza. Em suas redes sociais, no dia 12 de outubro, Souza criticou o anúncio, feito pela DC Comics, de que o novo Super-Homem, filho de Clark Kent, se descobrirá bissexual nas próximas edições da história em quadrinhos.

“Ah é só um desenho, não é nada demais. Vai nessa que vai ver onde vamos parar”, publicou Souza, em suas contas nas redes sociais. A publicação foi repercutida por diversos bolsonaristas, entre eles, o filho do presidente, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP).

Entre os jogadores de vôlei, a declaração foi mal recebida. O ponteiro da seleção brasileira, Douglas Souza, que faz parte da comunidade LGBTQIA+, repudiou a declaração. “Homofobia é crime, não é opinião.”

Ainda nas redes sociais, atletas do vôlei apoiaram Douglas Souza e criticaram Maurício Souza, como Gabi Guimarães, Carol Gataz, Erika Coimbra, Fabi Alvim e Sheilla Castro. Ato contínuo, os patrocinadores do Minas Tênis Clubes pressionaram a entidade a tomar atitudes contra o central.

A Gerdau, uma das empresas que financia a equipe, exigiu a demissão de Souza. “Entendemos a necessidade de remoção dos conteúdos recentemente divulgados pelo atleta. A Gerdau aguarda o cumprimento dessas iniciativas. A empresa reforça seu compromisso com a diversidade e a inclusão, um valor inegociável para a companhia e, ainda, que repudia qualquer tipo de manifestação de cunho preconceituoso e homofóbico”, informou, em nota, a empresa.

Maurício Souza com Jair Bolsonaro e Eduardo Bolsonaro, em encontro no Palácio do Planalto / Foto: Reprodução/Instagram

Ao vivo, na Rede Globo, o ex-jogador Walter Casagrande foi ainda mais contundente nas críticas à Maurício Souza.

“Eu não me surpreendo, porque esse cara é homofóbico, é um cara que foi mau caráter comigo. Parabéns a todos os atletas que se posicionaram. Esse cara, Mauricio Souza, é um homofóbico, preconceituoso, possivelmente racista, covarde e mau caráter.”

A pá de cal veio nesta tarde. O técnico da seleção brasileira de vôlei, Renan dal Zotto, fechou as portas da equipe para Souza.

“Fiquei decepcionado. É inadmissível este tipo de conduta do Maurício e eu sou radicalmente contra qualquer tipo de preconceito, homofobia, racismo. Em se tratando de seleção brasileira, não tem espaço para profissionais homofóbicos. Acima de tudo preciso ter um time e não posso ter este tipo de polêmica no grupo.”

Edição: Leandro Melito

 

 

No próximo dia 31 é celebrado o Dia do Saci Pererê, um dos mais importantes símbolos da cultura popular do Brasil

Da Redação/27 de Outubro de 2021

Saci está no campo e na cidade pregando peças em quem cruza seu caminho – Arquivo/EBC

 

Meu recado para o Saci é: que o vento que ele faz traga novos tempos!

Menino negro, com uma perna só, que tem uma carapuça vermelha mágica e adora pitar seu cachimbo e aprontar travessuras por aí. Não há dúvida sobre quem a edição de hoje (27) do Radinho BdF vai falar: o Saci Pererê, um dos principais símbolos da cultura do país, cujo dia é comemorado no próximo 31 de outubro.

“O saci ele mora em floresta, fuma cachimbo e roda no vento”, contou Naomi Gomes de Almeida, de 4 anos, que mora em São Luís do Paraitinga (SP). “O Saci é um menino muito levado. Ele puxa o rabinho do porco, usa uma carapuça vermelha, fuma cachimbo e é muito divertido e travesso”, completou a Ísis Elias Gonçalves, de 9 anos, que também mora em São Luís do Paraitinga.

O Saci está no campo e na cidade pregando peças em quem cruza seu caminho. Ele esconde a chave de casa, coloca açúcar no feijão, deixa a bicharada em polvorosa, bagunça a lição de casa, derruba os chapéus e ainda dá risada quando vê a confusão que arrumou. Mas para além disso, ele é um dos principais protetores das matas no folclore brasileiro.

O saci defende as florestas e os animais, que mais do que nunca estão ameaçados por incêndios, pelas mudanças no clima e pela ação de pessoas e empresas que derrubam as matas para lucrar com os recursos da natureza.

Conta a história que o principal alvo das travessuras do saci são aqueles que derrubam as matas e caçam os animais. Rápido como uma flecha, pulando em uma perna, só ele confunde os caçadores, esconde os machados, desarma as armadilhas e depois dá um assobio alto para mostrar quem é que manda.

Causos do saci

Tem gente que já viu. Tem gente que jura que já viu, mas não viu. Tem gente que morre de vontade de ver, mas nunca viu e tem gente que não quer ver de jeito nenhum. Mas com certeza alguém próximo a você tem alguma história envolvendo com esse moleque tão travesso e tão querido.

“Quando meu tio Juca era pequeno ele teve que ser batizado pelo irmão mais velho dele, porque ele é o sétimo filho homem da família. Se o sétimo filho homem se não for batizado pelo irmão mais velho ele vira Saci”, contou o Gustavo William Pereira Cassiano, que tem 10 anos e mora em São Luís do Paraitinga. “O Saci Pererê gosta muio de falar que não existe, porque assim ele apronta mais com as pessoas.”

Um desses causos virou até a história dessa edição de hoje do Radinho BdF, contada por Plínio Macedo, mais conhecido como Prosinha, que se dedica a contar histórias sobre o Saci no interior de São Paulo. Para acompanhar as histórias dele é só acessar seu canal no Youtube, o Prosinha História.

Saci perpassa gerações e é personagem central de causos em diversas regiões do país / Arquivo/EBC

Criadores de saci em defesa da cultura popular

Ao longo de tantos anos de travessuras, o Saci conquistou muitos amigos dispostos a ajudá-lo a continuar protegendo as matas. Alguns deles criaram associações para reunir os apaixonados pelo Saci e incentivar e fortalecer a cultura popular brasileira.

“Minha infância foi toda tentando pegar o Saci. A gente ficava de olho no vento, nos rodamoinhos, e saíamos correndo com uma peneira para tentar pegar o Saci, mas ele sempre foi muito mais espero que a gente”, contou Regis de Toledo Souza, presidente da Associação dos Observadores de Saci (SoSaci). “Nós adorávamos brincar com esse ser mágico, que traz a história do país e denuncia processos exploratórios”.

Um dos processos exploratórios citados pelo Régis é a opressão contra o povo negro. Algumas pessoas ligadas ao Saci defendem que há muitos e muitos anos ele era um menino escravizado, que teve a perna amputada talvez como um castigo, talvez para se libertar de uma corrente que o prendia pelo pé.

“As histórias que envolvem o Saci contam que ele foi uma criança negra que foi castigada. Esse ser resiste a isso e se transforma. Ele passa a proteger a natureza, a brincar com a sociedade e a denunciar tudo aquilo que foi feito com ele e que ainda é feito com a população negra desse país. Meu recado para o Saci é que ele continue denunciando a exploração, a dominação e que o vento que ele faz traga novos tempos”, completou Regis.

Porém, alguns especialistas em Sacis não acreditam que ele tenha perdido a perna amputada. Para eles o menino já nasceu assim, afinal uma perna é exatamente o que ele precisa para pular ligeiro pela matas e florestas.

“O Saci não faz maldades, faz travessuras”, pontou o José Osvaldo Guimarães, presidente da Associação Nacional dos Criadores de Saci (ANCS). “O importante para não ter problema com o Saci é cuidar do ambiente onde ele vive, preservando a natureza, mas também cuidando da nossa casa, escola, clube e igreja, para que a gente tenha ambiente saudável, onde as pessoas contem e ouçam histórias.”

Festa do Saci

Para celebrar o Saci, a Sosaci organiza todo ano, no mês de outubro, a Festa do Saci de São Luís do Paraitinga. Neste ano e no ano passado, a programação foi online, por causa da pandemia do coronavírus. Ainda assim, dá para curtir muita coisa legal pela página do festival.

“A festa do Saci tem muitas brincadeiras, histórias e músicas. As pessoas compram carvão, macetam até virar pó, passam no rosto, colocam uma toquinha e começa a festa”, contou o Gustavo. “Já fui várias vezes e fiquei pulando um montão. Eu fui com um cachimbinho que eu tinha e uma carapuça que ganhei”, disse a Ísis.

Saci inspira músicas e brincadeiras

Não faltam músicas em homenagem a esse personagem tão especial da cultura brasileira. Por isso, o Radinho BdF põe para tocar “Saci Pererê”, de Luiz Melodia, “Olha que eu vi o Saci”, do grupo Girassonho e diferentes músicas do grupo Tempo de Brincar, que canta o Saci em diversas composições.

Os integrantes do grupo, inclusive, deram uma entrevista exclusiva para o Radinho BdF sobre o Saci Pererê e ensinaram uma brincadeira especial para pegar o moleque com uma peneira, uma garrafa e uma rolha, com uma cruz desenhada.

Toda quarta-feira, uma nova edição do programa estará disponível nas plataformas digitais. / Brasil de Fato / Campanha Radinho BdF

Sintonize

O programa Radinho BdF vai ao ar às quartas-feiras, das 9h às 9h30, na Rádio Brasil Atual. A sintonia é 98,9 FM na Grande São Paulo e 93,3 FM na Baixada Santista. A edição também é transmitida na Rádio Brasil de Fato, às 9h, que pode ser ouvida no site do BdF.

Em diferentes dias e horários, o programa também é transmitido na Rádio Camponesa, em Itapeva (SP), e na Rádio Terra HD 95,3 FM.

Assim como os demais conteúdos, o Brasil de Fato disponibiliza o Radinho BdF de forma gratuita para rádios comunitárias, rádios-poste e outras emissoras que manifestarem interesse em veicular o conteúdo. Para fazer parte da lista de distribuição, entre em contato pelo e-mail: radio@brasildefato.com.br.

Edição: Sarah Fernandes