Governo quer oferecer R$ 25 bi para 10 milhões de trabalhadores informais que até dezembro receberão o auxílio emergencial. Economista da UFRJ diz que medida como forma de retomar a economia é piada

Matéria retirada do site da CUT. 

O fim do auxílio emergencial de R$ 300,00 marcado para 31 de dezembro deste ano deve deixar 67 milhões de desempregados, informais e microempreendedores individuais (MEIs), sem nenhum socorro do governo de Jair Bolsonaro (ex-PSL), para enfrentar a crise econômica agravada pela pandemia do novo coronavírus (Covid 19).

Sem política pública voltada ao social e sem saber como colocar de pé o “Renda Cidadã” ou “Renda Brasil” (nem o nome oficial do programa o governo consegue decidir), em substituição ao Bolsa Família, criado pelo ex-presidente Lula, a atual equipe econômica vê como saída oferecer uma linha de crédito de R$ 25 bilhões. A ideia é disponibilizar microcrédito de R$ 1 mil a R$ 5 mil para 10 milhões de informais que puderem pagar. Nada foi oferecido aos 57 milhões de pessoas que também deixarão de receber o auxílio emergencial. Nem um empréstimo.

Em uma situação de crise como a atual, usar o microcrédito como uma política de estímulo econômico soa apenas como argumento de retórica do governo que quer mostrar que não está parando, não fazendo nada, critica o economista, Eduardo Costa Pinto, professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

Para ele, a oferta de microcrédito soa até como piada num momento de recessão econômica. Embora uma política de crédito acessível seja bem-vinda em qualquer momento, o valor anunciado de R$ 25 bilhões, não fará sequer “cócegas”, na recuperação da economia, já que o auxílio emergencial de R$ 600,00, valor pago até setembro, colocou em circulação R$ 50 bilhões por mês, o que dinamizou o consumo das famílias e impediu que a economia entrasse em colapso.

“O corte do auxílio pela metade já refletiu na queda do consumo, das vendas no varejo, inclusive nos supermercados. Por isso que disponibilizar somente R$ 25 bi terá efeito mínimo na reativação da economia”, analisa o Costa Pinto.

Como vai funcionar a linha de crédito

As formas de pagamento, as garantias, o prazo e quais bancos estarão aptos para disponibilizar o microcrédito para os informais, ainda estão sendo discutido entre os ministros da Cidadania Onyx  Lorenzoni , da Economia, o banqueiro Paulo Guedes, e o presidente do Banco Central (BC), Roberto de Oliveira Campos Neto.

A Caixa Econômica Federal deverá ser um dos bancos que vai oferecer R$ 10 bilhões dos R$ 25 bilhões da linha de crédito, mas o seu presidente Pedro Guimarães, já declarou em entrevista ao “Estadão/ Broadcast que “o valor que a CEF disponibilizará será destinado a quem puder pagar de volta”.  

Como defesa do programa de microcrédito, a equipe econômica alega que este dinheiro ajudaria em parte os 31 milhões de ‘invisíveis’, como o governo chama os trabalhadores e trabalhadoras informais, a legalizarem seus negócios e se tornarem Microempreendedores Individuais (MEIs).

A ideia do governo é que os tomadores dos empréstimos, ao se formalizarem com esse registro, possam contribuir ao Instituto Nacional do Seguro Social (INSS )e, assim, ter acesso a benefícios previdenciários, como auxílio-doença e aposentadoria.

Para Costa Pinto, esta avaliação do governo nada mais é do que precarizar ainda mais as relações de trabalho, aumentando a pejotização, expondo a máxima do capitalismo neoliberal de que todo mundo pode se tornar um empresário e que a culpa do desemprego é do próprio trabalhador.

É como transformar motorista de Uber em empresário. É a lógica do empreendedorismo levada ao extremo, de que o desemprego é culpa do trabalhador. Os informais estão nesta situação por falta de política pública que gere desenvolvimento e empregos

– Eduardo Costa Pinto

“O atual governo quer criar instrumentos de pejotização, como a carteira verde e amarela e tudo que dê algum grau de formalização aos informais, mas retira direitos de quem está dentro da formalidade com as reformas da Previdência e Trabalhista”, completa.

O professor da URFJ reforça que uma política de microcrédito é importante, mas isto não é estimulo à economia num momento de recessão, porque nem mesmo uma grande empresa vai abrir fábricas e contratar quando o nível de utilização de sua capacidade produtiva está baixa. O mesmo acontece com os informais que não devem se arriscar a tomar empréstimos mesmo que sejam de baixo valor.

“Este tipo de política tem efeito a longo prazo e está longe de substituir o auxílio emergencial. Como o governo quer manter o teto de gastos públicos, ele tenta evitar que os índices de desemprego cresçam ainda mais porque as pessoas serão obrigadas a ir em busca de um trabalho, mesmo sabendo que dificilmente irão encontrar”, conclui Eduardo Costa Pinto.

 

 

Em entrevista ao Brasil de Fato, a vereadora mais votada de Aracaju comemora o resultado das urnas: “Momento histórico”

Matéria retirada do Brasil de Fato. 

 

Um dia após o resultados das eleições, Linda Brasil não esconde o tom alegre em sua voz. Não é para menos: com 5.773 votos, a candidata do PSOL foi a vereadora mais votada de Aracaju, em Sergipe.

Linda se soma a outras 24 pessoas trans que foram eleitas em 22 municípios do país em um pleito histórico.

Em 2016, de acordo com levantamento da Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra), somente 8 candidatos chegaram às casas legislativas. Um aumento de 200%.

Em entrevista exclusiva ao Brasil de Fato, Linda comemora o resultado das urnas. “Foi como se a população tivesse dado uma resposta a esse reacionarismo e ao fascismo que querem tomar conta. É muito simbólico, um momento histórico”, afirma.

Morando no centro da capital sergipana, ela conta que consegue ver a Câmara Municipal de Aracaju da janela de sua casa. Animada, Linda fala sobre os projetos e planos que ganharão vida naquele espaço que se tornará mais representativo em 2021, assim como em outras cidades brasileiras.

“É um sopro de esperança nesse momento conturbado da política brasileira. Um sopro de esperança para que outras pessoas comecem a acreditar na política, que não se desmotivem, que acreditem que podemos contribuir com a transformação da nossa sociedade”, diz.

Além de Linda, a Professora Duda Salabert (PDT) também foi a candidata mais votada em Belo Horizonte (MG).  Apesar do estado do Sergipe ser o primeiro do Nordeste e o segundo do Brasil em número de assassinatos de pessoas trans e travestis, de acordo com dados da Rede Trans de 2019, a vereadora relata que a campanha foi muito bem recebida pela população.

Para ela, a eleição expressiva das candidaturas trans abre caminho para a renovação do sistema político.

“Não tem mais volta. Isso mostra pra sociedade que não vamos voltar mais para as esquinas e nem para os armários. Chegou a nossa vez de ocupar os espaços que sempre nos foram negados. O significado disso tudo é que não vamos retroceder e que vamos provocar transformações efetivas na política do Brasil”, ressalta a ativista, que também é mestre em Educação.

Confira a entrevista na íntegra.

Brasil de Fato – Como recebeu a notícia de que se tornou a primeira vereadora trans e a candidata mais votada de Aracaju? O que sua eleição representa?

Linda Brasil – Foi surpreendente. Eu estava confiante porque já tinha sido candidata em 2016 e não fui eleita por causa da legenda. Em 2018 fui candidata a deputada estadual e tive uma votação expressiva, fui votada em todos os municípios.

Eu estava confiante mas quando fecharam as urnas e saiu que, além de ser eleita eu era a mais bem votada, foi como se a população tivesse dado uma resposta a esse reacionarismo e ao fascismo que querem tomar conta.

É muito simbólico, um momento histórico. Estou aqui sem encontrar uma palavra para definir o que está acontecendo não só comigo mas no Brasil com 25 pessoas trans.

É um sopro de esperança nesse momento conturbado da política brasileira. Um sopro de esperança para que outras pessoas comecem a acreditar na política, que não se desmotivem, que acreditem que podemos contribuir com a transformação da nossa sociedade.

A minha eleição e as de outras pessoas trans no país todo representam uma renovação. O início de uma transformação efetiva na política brasileira que sempre foi dominada pelas mesmas elites e pelas mesmas pessoas.

É como se a população tivesse dado uma resposta ao reacionarismo e ao fascismo 

Ocupamos esses espaços que sempre nos foram negados, principalmente os espaços de decisão, e sendo uma mulher feminista, aguerrida, que não vai aceitar essa estrutura construída à base de tanto machismo, racismo, LGBTfobia, de tanta exploração e opressão.

Significa que é um novo momento na política brasileira, em especial aqui em Aracaju.

Foram duas capitais do Brasil com pessoas trans como as mais votadas. A Duda é professora, eu também. Lutadoras LGBTIA+. Isso é muito significativo e importante. É fantástico. Uma vitória gloriosa.

A base da LGBTfobia é a misoginia, o sexismo e a falta de educação

É uma responsabilidade muito grande. Nunca quis ocupar esse espaço por ocupar, para ser mais uma. Quero ocupar para fazer a diferença, para provocar a transformação e o diálogo. Ainda assim elegemos uma bancada conservadora aqui, pastores… mas vou tentar também, a partir do trabalho que já faço em escolas sobre conscientização, sensibilizar os parlamentares que se elegeram sobre a importância desse debate.

Sobre a importância da desconstrução do machismo, das discussões e estudos de gênero para diminuirmos a violência. Para mim, a base da LGBTfobia é a misoginia, o sexismo e a falta de educação.

Como mestre em Educação, posso contribuir com colegas e parlamentares, aqueles que estiverem abertos, evidentemente, para construirmos projetos nessa forma. Projetos inovadores, ligados à área dos direitos humanos no geral, focando na educação.

Só vamos construir uma sociedade que respeita os direitos humanos em uma sociedade com acesso à informação, em que se consiga pensar e refletir sobre papéis transformadores. Que possibilite às pessoas se empoderarem, terem consciência de seus direitos, da importância da luta, das políticas públicas que beneficiam toda a população.

É com esse sentimento que eu me coloquei na disputa e estou aqui para chegar no legislativo de Aracaju.

 

O Estado do Sergipe é o primeiro do Nordeste e o segundo do Brasil em número de assassinatos de pessoas trans e travestis, de acordo com dados da Rede Trans de 2019. Como sua campanha foi recebida na capital? Houve algum tipo de agressão, algum percalço?

[Minha eleição] é uma resposta a esse dado, a esse comportamento transfóbico que acontece em Sergipe. Mas a campanha, em geral, me surpreendeu. Além das redes sociais, em que focamos muito, estava receosa de ir nas ruas.

Mas quando ia no centro, região em que eu moro, toda vez que eu descia e estava com um cartaz em que bordei meu número, as pessoas vinham e me chamavam pra tirar foto.

Senti a necessidade de ir nos bairros da periferia, de conversar, de conscientizar sobre a importância de votar e tive uma receptividade incrível. Fui com medo em alguns bairros mas tive uma boa receptividade. E por isso esse resultado expressivo.

A questão da campanha não é só ir atrás de voto, é acreditar que o processo político pode despertar a consciência das pessoas sobre a importância do voto. O voto é nossa única arma para termos uma sociedade com garantia de direitos, votando em pessoas conscientes que vão apresentar e votar em projetos que beneficiem a todos.

:: Vereadoras negras e trans estão entre as candidaturas mais votadas em 13 capitais ::

Aqui na periferia temos uma dificuldade muito grande em relação ao saneamento básico, ao esgoto. Muitos bairros sem tratamento. E nós sabemos como um vereador pode contribuir para que as pessoas tenham o mínimo de condições de sobrevivência e de oportunidade.

Eu fui empurrada para viver na prostituição. Já me fingi de morta para sobreviver a ataques de violência que já sofri na vida. Estou com 47 anos e digo que sou sobrevivente. Já sobrevivi 12 anos porque a expectativa de vida da população trans no Brasil é de 35 anos.

Nosso sentimento é o de proporcionar, por meio da fiscalização e cobrando o Executivo, políticas públicas que deem oportunidade às pessoas. Que elas não precisem se expor tanto a fazer algo como eu fiz. E não fui [para a prostituição] de forma consciente, não tive escolha. Eu quero que as pessoas tenham escolha, que elas possam sonhar.

Quando comecei a assumir minha identidade de gênero, pensei na dificuldade que teria na minha vida. Antes disso eu tinha o sonho de ser arquiteta, sempre gostei de desenho, de criar. Esse meu sonho foi, de certa forma, quebrado. Ele sumiu, desapareceu.

Ser travesti, ser uma mulher trans, é um caminho para a prostituição. Eu achava que ser travesti era ser prostituta, fui iludida para isso. Não quero mais que as pessoas se iludam.

Já me fingi de morta para sobreviver a ataques de violência que sofri na vida. Estou com 47 anos e digo que sou sobrevivente. Sobrevivi 12 anos porque a expectativa de vida da população trans no Brasil é de 35 anos

Como muitas vezes acontecem com jovens que são evadidos de espaços escolares porque a educação não é um local acolhedor, que estimula a presença dos jovens. Temos muitos projetos pensando nisso, em dar oportunidade para que todos possam decidir os caminhos a seguir e termos uma sociedade com mais igualdade e justiça social.

E o que te levou a entrar para a política? Qual sua trajetória até chegar à Câmara de Aracaju?

Em 2013, quando sai da prostituição, eu fiz o Enem [Exame Nacional do Ensino Médio] e fui a primeira mulher trans a entrar na Universidade Federal de Sergipe [UFSE]. E quando eu entrei, no primeiro dia de aula, lembro como hoje, 5 de março de 2013, estava ansiosa sobre a questão do nome social.

Não tinha retificado ainda. Procurei a instituição para utilizar o nome social porque não queria ser constrangida, de me chamarem por um nome que não correspondia a minha identidade de gênero. E a instituição se negou, disse que o sistema puxava do CPF e me aconselharam a pedir a cada professor, em cada semestre, uma média de 7 a 8, que colocassem do lado meu nome social.

Fiquei indignada de ter que ficar explicando a situação mas foi isso que eu fiz. No primeiro dia de aula, foram 3 aulas. As duas primeiras foram professoras super receptivas. Uma delas já tinha percebido e por isso que é muito bom o professor ver as questões individuais dos alunos.

Mas o terceiro professor, quando fui conversar com ele sobre o uso do meu nome social, gritou bem alto na frente de quarenta alunos: “Mas se seu nome é esse, e gritou meu nome de registro antigo, como vou te chamar de Linda Brasil?” e repetiu o nome.

Aquilo me causou uma indignação tão forte que pensei: “Se está acontecendo em uma universidade pública federal, imagine o que não estava acontecendo no ensino médio e fundamental?”.

Eu processei a universidade e, por meio desse processo, acabou sendo criada uma portaria que regulamentou o uso do nome social. A partir daí comecei a entrar na luta estudantil para que outros estudantes tenham condição de se manter na universidade.

Entrei em um coletivo de mulheres de Aracaju e fui a primeira mulher trans a entrar em um coletivo de mulheres cis. Conheci militantes feministas de Sergipe, aguerridas, que faziam ato no 8 de março, na Marcha das Vadias e isso me incentivou.

Me despertou a necessidade de me filiar partidariamente. Eu tinha uma afinidade muito grande com o PSOL por causa do Jean Wyllis, Marcelo Freixo… parlamentares que fazem denúncias, que não querem reproduzir o sistema que está aí.

Eu nunca pensei em minha vida em ser política. Conhecendo as militantes feministas do PSOL, isso me incentivou. Em 2016 eu já me coloquei como candidata pela primeira vez como vereadora, tive 2.308 votos e não fui eleita por causa da legenda. Tive mais votos que quatro vereadores que foram eleitos.

Em 2018, fui candidata a deputa estadual, tive 10.107 votos e fui votada em todos os 75 municípios. E agora veio essa conquista histórica.

Quais serão as principais bandeiras do mandato e os desafios já sinalizados?

Eu estou comprometida com a Agenda Marielle Franco, desenvolvida pelo Instituto Marielle Franco, construída a partir das práticas políticas de seu legado. A agenda tem como base a questão dos direitos humanos, as políticas públicas em relação às mulheres, creches e turnos diferenciados, as bandeiras da população LGBT, da população negra e principalmente periférica.

E nisso as políticas públicas ligadas à arte serão desenvolvidas. Temos vários projetos na área da educação, para levar debates e discussões para toda a sociedade, não só para alunos, mas também professores e gestores precisam de informação, até mais que os próprios jovens.

Na campanha tive uma receptividade dos jovens muito grande. Desde que eu entrei na UFSE em 2013, faço palestras, debates, rodas de conversa.

Já participei em muitas escolas públicas e privadas no estado. Só o fato de entrar nesse espaço e conversar, os professores me davam o feedback de que começava um processo de desconstrução, de diálogo e de pergunta dos alunos.

São formas de levarmos não só de um jeito formal, dos conceitos, mas de levar a informação por meio da arte, que tem um poder muito grande de conscientizar, como a música e o teatro.

Outra questão é a da saúde, da garantia do Sistema Único de Saúde (SUS). Percebemos que aqui no município estão iniciando um desmonte do SUS em algumas unidades de saúde.

Temos também projetos ligados ao meio ambiente, como a questão das ciclovias, do transporte público, projetos ligados a passagem gratuita aos desempregados. A questão da moradia, faço um trabalho nas ocupações do MTST [Movimento dos Trabalhadores Sem Teto], tenho uma ligação com as pessoas que ali moram, principalmente mulheres e LGBTs dos acampamentos.

Uma coisa importante é que criamos um formulário na pré-candidatura. “O que você pensa para Aracaju?”. Através dele, várias pessoas que acreditavam e acreditam no nosso projeto, apoiadores, apresentaram sugestões, propostas, que foram catalogadas e filtradas.

O desafio é justamente fazer com que as pessoas voltem a acreditar na política

Junto com a Agenda Marielle, vamos ver projetos Brasil afora que deram certo e foram inovadores. Eu acredito em um mandato de forma coletiva, participativa, com diálogo para construirmos esses projetos. Não impô-los para a sociedade mas que possamos discutir com ela, principalmente nas periferias, quais são as demandas mais importantes para cada localidade e região.

O desafio é justamente fazer com que as pessoas voltem a acreditar na política. No processo da campanha eu senti que as pessoas estavam muito desacreditadas. “Todos são ladrões, ninguém presta, nada vai mudar”.

Também vamos promover muitas audiências públicas debatendo pautas importantes em que as pessoas possam se sentir ouvidas e partícipes do Legislativo. Que elas possam ocupar esses lugares e reivindicar políticas públicas para suas comunidades.

Qual a perspectiva para essa onda de diversidade na política em meio à forte presença da direita?

Não tem mais volta. Isso [as candidaturas eleitas] mostra pra sociedade que não vamos voltar mais para as esquinas e nem para os armários. Chegou a nossa vez de ocupar os espaços que sempre nos foram negados. O significado disso tudo é que não vamos retroceder e que vamos provocar transformações efetivas na política do Brasil.

 

Vereadora eleita, Benny terá o desafio de ampliar o debate de raça, classe e gênero na Câmara de Niterói – Foto: Rafael Lopes

Nesta quarta-feira, 18, a van do Sintufrj estará à disposição das trabalhadoras e trabalhadores do Instituto de Atenção à Saúde São Francisco de Assis (ex-Hesfa), das 10h às 16h. Com atendimento jurídico, administrativo, sobre convênios, entre outros serviços prestados à categoria pela entidade. Coordenadores sindicais estarão no plantão dialogando com os servidores.

Na quinta-feira, 19, a van do Sintufrj fará mais um plantão no Hospital Universitário Clementino Fraga Filho (HUCFF), das 10h às 16h.

 

O SINTUFRJ VAI ATÉ VOCÊ: os trabalhadores do Centro de Ciências da Saúde (CCS) foram os primeiros desta semana a serem atendidos pela van do Sintufrj

 

 

A Reitoria estendeu até 30 de novembro, o prazo para envio de contribuições coletivas ao Plano de Desenvolvimento Institucional (PDI), que deveria ter sido encerrado no dia 13. A solicitação foi feita pelas entidades representativas dos três segmentos na universidade: Sintufrj, Adufrj e DCE Mário Prata. A nova data contempla também todo público interno da instituição e o público externo. 

Segundo o site do PDI (https://pdi.ufrj.br/consulta-publica/) a entidade ou grupo pode debater e responder um único formulário que retrate a opinião de todos. O prazo para as contribuições individuais, tanto para o público interno e externo, terminou conforme a data prevista: 13 de novembro. A previsão da Comissão Elaboradora do Plano é que o texto seja apresentado ao Conselho Universitário no dia 10 de dezembro.

O PDI é o planejamento estratégico das instituições federais de ensino para um período de cinco anos, mas o correto é que sejam revisados anualmente para incorporação de novas metas ou alteração das previstas. O último PDI da UFRJ foi feito em 2006 e está valendo até hoje, sem nenuma modificação.

Calendário

. Sujeito a modificações conforme o andamento das etapas previstas, informa a comissão.

2020

13/10 a 30/11 – Consulta pública (contribuições coletivas).

16/11 a 2/12 – ajustes após as contribuições da consulta pública.

1 a 4/12 – Leitura do texto pelo pró-reitor e pela Reitora.

7/12 – Envio ao Conselho Universitário.

10/12 – Apresentação no Conselho Universitário. 

2021

1 a 15 de fevereiro – Apreciação pelo Conselho Universitário.

16 de fevereiro a 2 de março – Ajustes oriundos das discussões no Conselho Universitário. 

Na primeira reunião, em março, o Conselho Universitário deliberará sobre o PDI. 

Até 30 de março – Edição final do texto do PDI e sua publicação.

Participação 

A comissão tabula regularmente as contribuições que chegam. Até o dia 11 de novembro, os números eram os seguintes:

Docente: 104

Técnico-administrativo: 97

Discente: 37

Público externo: 38

Coletivo (interno e externo): 6

Total de comentários: 282

Boa participação

De acordo coma Maria de Fátima Bruno de Faria, superintendente de Planejamento Institucional e responsável pela coordenação do grupo que elabora, monitora e avalia as propostas, integrantes da comissão especialistas em consultas públicas consideram expressiva o interesse do público interno e externo no PDI. Em muitos casos, ela informa, os comentários versavam sobre vários temas, embora se concentrassem em apenas um dos capítulos do formulário de contribuições. 

Maria de Fátima Bruno, superintendente de Planejamento Institucional

Nova consulta 

O PDI, segundo Maria de Fátima, tem que ser elaborado a cada cinco anos. O da UFRJ, de 2006, por estar atrasado impactaria em alguns aspectos a vida acadêmica e institucional. Como, por exemplo, na renovação de curso, na atribuição de pontuação da universidade nos programas de pós-graduação e graduação e no Plano de Desenvolvimento de Pessoas, entre outras situações. “Para a universidade é muito negativo não ter PDI”, diz a professora, “principalmente para a avaliação institucional externa”, alerta. 

O texto base do PDI levado para a consulta pública, segundo a superintendente foi elaborado por cerca de 10 a 20 pessoas, portanto, por várias mãos, das pró-reitorias, pelo Escritório Técnico e a Prefeitura Universitária. “Concluído todo o processo, a gente tem um PDI para submeter a todas as etapas de avaliação institucional”, afirma. 

Com o novo PDI em vigor, as metas serão revistas anualmente, adianta ela, que projeta para o futuro o estabelecimento de um canal permanente de interação para que a comunidade universitária contribua com a atualização necessária do plano. A proposta da superintendente é que logo após a aprovação do texto final do novo PDI da UFRJ, previsto para ocorrer no início de 2021, um novo processo de consulta ao público interno da universidade seja iniciado.

Serviço

Para conhecer a proposta do PDI ou participar da consulta pública com uma contribuição coletiva acesse: www.pdi.ufrj.br. A equipe também divulgou o e-mail pdi@pr3.ufrj.br que, segundo informaram, chega a todos os membros da equipe e as dúvidas são prontamente respondidas.

Formulário

Além de registrar o nome da entidade, grupo ou representação e o e-mail, quem acessa o formulário deve escolher os capítulos sobre os quais vai comentar entre os 13 temas expostos: perfil institucional, projeto pedagógico institucional, gestão e organização administrativa, perfil do corpo docente e de tutores de educação à distância, perfil do corpo técnico-administrativo, políticas de atendimento aos discentes, serviços terceirizados, infraestrutura e instalações acadêmicas, aspectos financeiros e orçamentários, entre outros. E há também espaço para mais comentários.

 

 

Nesse dia, às 15h, será transmitido pelo Facebook e Youtube da CUT Brasil, a live O racismo estrutural, a democracia racial e o papel dos sujeitos brancos. O ex-presidente Lula também vai mandar seu recado, assim como outras organizações, artistas e representantes de diversas entidades sindicais.  

Racismo estrutural, democracia racial e o papel dos sujeitos brancos são os três eixos da atividade online da CUT no Dia da Consciência Negra, quando também a Central celebrará os 10 anos do Estatuto da Igualdade Racial.

Serão duas horas de programação com cultura, música e muita informação de combate ao racismo e dados sobre a realidade da população negra no mundo do trabalho e na vida. A atividade será apresentada pelas secretárias de Combate ao Racismo da CUT, Anatalina Lourenço e Rosana Sousa Fernandes. O âncora será o jornalista e radialista, Andre Accarini.

Festival Brasil Que Lê

Do dia 7 e 28 de novembro, sempre às 19h, no Facebook e canal do Youtube da Rede Nacional de Bibliotecas Comunitárias, que promove o evento, o ‘Festival Brasil Que Lê’ celebra a arte, a leitura e a literatura. A programação é composta por oito lives com debates, poesias, artes e músicas evidenciando o Brasil indígena, negro, periférico, LBGTQIA+, da ciranda, do jongo, do carimbó, das bibliotecas comunitárias, dos movimentos sociais e culturais periféricos. 

Entre os convidados estão Bel Santos, educadora social e coordenadora do Instituto Brasileiro de Estudos e Apoio Comunitário (Ibeac); Lia de Itamaracá, mestra da cultura popular, rainha da ciranda e reconhecida como Patrimônio Vivo de Pernambuco; o escritor Daniel Munduruku e o cantor Chico César.

Participam também representando às bibliotecas comunitárias: Maria Chocolate do Rio de Janeiro, Victoria Dias e Lilian da Conceição da Bahia, Fábio Rogério de Pernambuco, Natália Reis e Leydmilla Alves da Baixada Fluminense do Rio de Janeiro, Suilan de Sá e Cris Lima de São Paulo, Eduardo Peixoto de Porto Alegre e Alana Lima de Belém. 

A transmissão online é gratuita. A Rede Nacional atua pela democratização do acesso ao livro, à leitura, à diversidade e às bibliotecas com atuação em diversas cidades do território brasileiro. São 119 bibliotecas da rede nas regiões Norte, Nordeste, Sul e Sudeste, que atendem um público médio de 30 mil famílias.

Virada da Consciência 2020

De 17 a 22 de novembro, na semana da Consciência Negra, a Universidade Zumbi dos Palmares promove a Virada da Consciência 2020. O evento será promovido via digital, com mesas de debates sobre o racismo estrutural e protagonismo negro em diversas áreas. O homenageado da virada será George Floyd e o tema, portanto será: É Floyds..! – Os joelhos invisíveis que estão por aí. 

O evento também contempla a Flink Sampa, que este ano homenageia Ruth Guimarães e trata sobre literatura e cultura negra. Confira a programação completa em: https://viradadaconsciencia.com.br/

Semana Respeita o Nosso Sagrado

No dia 18/11, quarta-feira, às 19h, Yá Meninazinha de Oxum e Babá Adailton de Ogum participam da live A trajetória da campanha Liberte O Nosso Sagrado. A mediação é dos diretores do documentário Nosso Sagrado, Fernando Sousa e Jorge Santana, que ficará com acesso liberado entre os dias 12/11 e 1º de dezembro. Transmissão é pelo canal do Youtube da Quiprocó Filmes.

A iniciativa faz parte da Semana Respeita o Nosso Sagrado, realizada em comemoração ao Dia Nacional da Consciência Negra, e reunirá lideranças religiosas do movimento Liberte Nosso Sagrado para falarem sobre a luta contra o racismo e o preconceito religioso. 

Os participantes contarão também o desenrolar da história da coleção que ainda leva o nome de Museu Magia Negra e o processo para libertar mais de 500 objetos sagrados que estavam há mais de 100 anos no antigo DOPs do Rio de Janeiro, e hoje já se encontram no Museu da República.

A Semana Respeita o Nosso Sagrado, produzida pela Quiprocó Filmes, conta com uma programação que envolve debate sobre a liberdade religiosa, memória e identidade das religiões de matrizes africanas. Além disso, haverá o lançamento do vídeo sobre o processo de assinatura do termo de cessão e a transferência dos objetos sagrados do Museu da Polícia Civil para o Museu da República.

Artistas Meritienses fazem live 

Klein e Marcos Lamoreux, ambos de São João de Meriti, fazem live no Dia da Consciência Negra, 20 de novembro, para falar sobre racismo e genocídio da população negra.

Durante a transmissão, Klein realizará um Graffiti enquanto discute assuntos como racismo, genocídio da população e encarceramento em massa. A programação vai ao ar no canal do cineasta Marcos Lamoreux no Youtube, onde é possível também encontrar alguns trabalhos realizados pelo artista.

A live se chama “É só uma pintura” e combina graffiti com outros elementos visuais. Dia 20 de novembro, às 20h. Confira no endereço https://youtube.com/MarcosLamoreux

 

 

Moradores relatam pane em equipamentos eletrônicos e até casas que pegaram fogo por conta da oscilação de energia

Matéria retirada Brasil de Fato. 

O estado do Amapá completa nesta terça-feira (17), 15 dias do apagão de energia elétrica que atingiu 13 dos 16 municípios do estado. A Companhia de Eletricidade do Amapá (CEA) mantém o sistema de rodízio com o prazo de 26 de novembro para a normalização da energia.

A população, sobretudo da periferia, relata prejuízos financeiros como equipamentos eletrônicos queimados e até residências que pegaram fogo.

Na última segunda-feira (16) cerca de 37 geradores termelétricos levados de Manaus, no Amazonas, chegaram ao Amapá, pelo Rio Amazonas como solução temporária para o problema. A medida definitiva virá com o transformador trazido de Laranjal do Jari, que ainda está em trânsito para Macapá, segundo informações da Linhas de Macapá Transmissora de Energia (LMTE).

Prejuízos

Segundo Rozineide Cardoso, moradora da comunidade da 10ª Avenida do Congós, localizada em uma área de palafita, na periferia de Macapá, capital do estado, o racionamento de energia proposto pela CEA não cumpre o cronograma estipulado.

Ela, que é comerciante, e mora há mais de 20 anos no Congós relata ao Brasil de Fato que nunca imaginou viver uma situação como essa.

“A luz fica por três horas, depois ela vai embora e depois demora para voltar, principalmente à noite”, conta.

Cardoso afirma que sua renda caiu drasticamente tanto pela oscilação de energia, que impossibilita a venda de mercadorias, quanto pela insegurança já que não há clientes, porque os moradores se recolhem antes do anoitecer.

“Ficamos na escuridão, só na vela, e a gente tem que se recolher, porque somos obrigadas. Somos obrigadas a desligar tudo, porque a hora em que chega pode queimar os aparelhos e o prejuízo é para a gente. Ninguém faz nada. O povo amapaense está abandonado”, desabafa.

SOS Amapá

Nas últimas duas semanas, os moradores fizeram diversos protestos pela cidade, sendo dois deles em frente ao Palácio do Setentrião, sede do governo do estado. Nesta quarta-feira (18) acontecem mais dois protestos na zona sul, onde mora boa parte das pessoas da periferia da capital Macapá e em Santana, segunda maior cidade do estado.

Marta da Silva, militante do Levante Popular da Juventude, diz que os locais foram escolhidos justamente porque o racionamento em Macapá não chega até eles. “A ideia é mobilizar a população nessas duas manifestações simultâneas”, diz.

Daniel Lima, um dos organizadores do Movimento SOS Amapá afirma que a população está esgotada e preocupada com os muitos prejuízos que estão amargando por conta do apagão. Morador de São Lázaro, bairro situado na zona norte de Macapá, ele diz que passou a última noite em claro.

“A energia simplesmente ia e voltava. Eu tava na casa de uma amiga anteontem no Buritizal, na zona sul, do outro lado da cidade e também durante o dia a energia ia e voltava. Então, existe uma instabilidade muito grande que gera uma aflição maior na população“, conta.

Ele afirma que tem acompanhado diversos relatos dos moradores e que os mais prejudicados são as pessoas que já viviam em condições de vulnerabilidade, como os moradores de palafitas. “Inclusive houve uma casa que pegou fogo na semana passada, segundo a moradora, por causa da energia estar indo e voltando”, conta.

“É importante lembrar que eles colocaram umas chaves nos postes para evitar com que os eletrodomésticos das pessoas queimem, quando a energia voltar, o problema é que nem toda cobertura de energia é regular”, diz ele explicando que os moradores dessas áreas vivem diversas privações.

Brasil de Fato entrou em contato com a Companhia de Eletricidade do Amapá (CEA) sobre a queima de aparelhos eletrodomésticos. Eles informaram que as pessoas que se sentirem lesadas devem procurar o atendimento da CEA e fazer o registro de queima de equipamento. “A companhia vai seguir o regulamento da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) de fazer inspeção, gerar laudo e, caso se confirme que houve de fato a queima por oscilação, providenciaremos o ressarcimento”, diz a assessoria.

 

 

 

O sacrifício é todo do trabalhador, que tem de trabalhar mais e ganhar um valor menor de aposentadoria. Já os devedores de bilhões ao INSS, não pagaram nenhum centavo nem foram cobrados pelo governo

Matéria retirada do site da CUT. 

A reforma da Previdência proposta por Jair Bolsonaro (ex-PSL) e aprovada pelo Congresso Nacional, que aumentou o tempo de contribuição, diminuiu o valor da aposentadoria, prejudicando trabalhadores, trabalhadoras, viúvas e órfãos, completou um ano na semana passada. E este aniversário não há nada a ser comemorado porque o presente foi de grego e está sendo pago com o suor dos trabalhadores.

O discurso do governo federal de que o sacrifício deveria ser de todos não se concretizou. Os militares ficaram de fora da reforma e os 500 maiores  devedores do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) continuam devendo trilhões aos cofres públicos. As medidas previstas para acelerar a recuperação de dívidas com a Previdência, em uma estratégia para neutralizar discursos contrários à reforma, ficaram somente no discurso.

O último levantamento, divulgado pelo senador Paulo Paim (PT/RS) mostra que somente os maiores devedores do caixa da Previdência são as empresas Vale do Rio Doce, JBS, Itaú, Caixa Econômica Federal, Banco Bradesco, e alguns outros deviam juntos, em 2015, segundo o Ministério da Fazenda, R$ 426,07 bilhões.

“Essa dívida ocorre por causa da inadimplência e do não repasse das contribuições previdenciárias, além da morosidade da justiça”, declarou Paim à época do levantamento.

Uma lista com os 500 maiores devedores do INSS, com dados atualizados até 2017, também foi divulgada pela Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional (PGFN) – Entre os maiores devedores estão companhias de aviação, bancos, grandes frigoríficos, entre outros.

O economista Eduardo Fagnani é categórico ao afirmar que o governo Bolsonaro não deu nenhum passo e não vai dar para receber esses valores, mesmo com a dívida ativa (débitos com o governo), crescendo.

“Os grandes devedores da Previdência são parte do problema da dívida ativa que já está na casa dos R$ 3 trilhões, o que equivale a 35% do Produto Interno Bruto (PIB), mas sem esforço de fiscalização essa dívida só vai crescer”, afirma Fagnani.

Segundo o professor, a dívida dos maiores devedores do INSS é três vezes maior do que a economia que o ministro, Paulo Guedes, diz que vai fazer em 10 anos, na Previdência.

No Brasil, o sonegador é premiado por refinanciamentos. Ele não paga a Previdência porque espera refinanciamento em 10 anos, mas paga somente seis meses, para e de novo vai tentar refinanciar

– Eduardo Fagnani

A técnica do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Diesse/ subseção CUT), Adriana Marcolino reforça que a propaganda do governo dizia que a reforma da Previdência resolveria o problema fiscal do país e, como não resolveu, Paulo Guedes, volta a falar em sistema de capitalização

“Neste primeiro ano os trabalhadores ainda não sentiram de fato o peso da reforma. Vai levar 10 anos para os novos aposentados e pensionistas sentirem o baque. O Chile acordou depois de 30 anos quando a população percebeu que o sistema privado estava matando os idosos de fome”, diz Adriana,  lembrando que a revolta popular culminou com um plebiscito aprovando a realização de uma nova Constituição naquele país para corrigir o drama dos idosos que morrem na miséria por causa do sistema de capitalização da Previdência.

Adriana se baseia nos dados sobre o número de pessoas que se aposentaram e os valores recebidos ao comparar o período de setembro de 2019 com setembro deste ano, último mês divulgado pelo Boletim Estatístico da Previdência Social, da Secretaria de Políticas de Previdência Social. A variação nos últimos doze meses foi muito pequena.

 

SET/ 2020 CONCEDIDOS EMITIDOS NO ANO
Benefícios Valores pagos (R$) Valor médio do benefício (R$) Benefícios Valores pagos (R$) Valor médio do benefício (R$)
Total de benefícios emitidos 35.778.958 48.292.171.000 1.349,74 5.191.239 7.559.239.000 1.456,15
Urbano 26.183.562 39.246.697.000 1.498,91 4.414.384 6.784.288.000 1.536,86
Rural 9.595.396 9.046.074.000 942,75 775.855 774.950.000 998,83
SET/ 2019 EMITIDOS CONCEDIDOS NO ANO
Benefícios Valores pagos (R$) Valor médio do benefício (R$) Benefícios Valores pagos (R$) Valor médio do benefício (R$)
Total de benefícios emitidos 35.373.791 45.438.693.000 1.284,53 5.123.777 7.062.463.000 1.378,37
Urbano 25.800.505 36.847.233.000 1.428,16 4.268.557 6.246.594.000 1.463,40
Rural 9.573.286 8.591.460.000 897,44 855.220 815.869.000 953,99

 

 

 

Fonte: Boletim Estatístico da Previdência Social, da Secretaria de Políticas de Previdência Social (últimos dados disponibilizados).

OBS: Os benefícios emitidos são aqueles que foram efetivamente pagos, de janeiro a setembro. Os benefícios concedidos são os novos que foram pagos a partir de setembro.

“A avaliação de uma reforma da Previdência é de longo prazo porque nos primeiros anos há regras de transição e quem estava prestes a se aposentar consegue depois de alguns meses o benefício”, explica Adriana.

Na avaliação do economista Eduardo Fagnani ,a reforma da Previdência já demonstrou tudo aquilo que os seus críticos diziam: que ela afetaria apenas os mais pobres e vulneráveis. Segundo ele, o INSS foi o sustentáculo das rendas das famílias mais pobres durante a pandemia do novo coronavírus (Covid 19).

“Se pensarmos que 35 milhões de pessoas recebem pouco mais de um salário mínimo, e se cada beneficiário sustentar três pessoas em sua casa, já são 90 milhões de pessoas sobrevivendo dos benefícios do INSS”, diz.

“Quem não se aposentou em novembro do ano passado, já faz as contas e sente na pele que a porque a aposentadoria ficou mais longe, com regras mais duras e valores menores”, conclui Fagnani.

Clique aqui para entender o que mudou com a reforma da Previdência

 

 

Discurso da extrema direita começa a ser derrotado, mas o eleitor caminha no sentido do centro, avaliam cientistas políticos. Para Camila Rocha e William Nozaki, pandemia reflete o resultado das urnas

Matéria retirada do site da CUT.

O resultado das urnas no primeiro turno das eleições municipais deste domingo (15) mostra que o eleitor brasileiro caminha mais em direção ao centro, deixando de lado a pauta dos costumes e o discurso da violência pregado por Jair Bolsonaro (ex-PSL) e a extrema direita, mas ainda aliado ao neoliberalismo e desconfiado das lideranças da esquerda.

Em síntese, esta é a análise feita pelos cientistas políticos William Nozaki, professor na Faculdade de Sociologia de São Paulo e por Camila Rocha, pesquisadora do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (Cebrap), que estuda junto com a professora Esther Solano, desde 2017, a extrema direita e o bolsonarismo no país.

Para eles, o fato do presidente ter conseguido ajudar a eleger apenas sete dos seus 45 candidatos a vereador, e apenas dois dos seus 13 candidatos a prefeito passarem para o segundo turno, (Marcelo Crivella do Republicanos, no Rio de Janeiro  e Capitão Wagner, do Pros, em Fortaleza), significa que o bolsonarismo e a extrema direita foram os principais derrotados, mas eles não morreram.

Na análise de William Nozaki, as urnas revelaram o cansaço da “nova política” que o presidente representa e, que se demonstrou desastrosa para as políticas públicas, principalmente em relação à pandemia do novo coronavírus (Covid-19). Bolsonaro, negacionista da doença, tem entrado em conflito com a ciência ao criticar a obrigatoriedade de vacinação para a população, é contra o distanciamento social e chamou os brasileiros que temem a Covid -19 de “maricas”, entre outros embates.

“Teve uma reação da sociedade contra este projeto que não ofereceu o resultado esperado, sobretudo na pandemia. Isto não significa que as forças da extrema direita estão derrotadas. Há ainda candidatos que não tiveram apoio explicito do presidente, nas foram eleitos para as câmaras municipais. Seu filho Carlos, apesar de ter conquistado menos votos do que na última eleição, ainda teve votação expressiva no Rio de Janeiro. O bolsonarismo sofreu derrota, mas nem de longe está acabado”, diz o professor de ciência política.

A atuação do presidente na pandemia foi o principal desgaste do bolsonarismo, principalmente entre as mulheres e os mais jovens, acredita a pesquisadora do Cebrap, Camila Rocha.

Em seu estudo publicado em junho deste ano, com o título “Bolsonarismo em crise” ? , em co-autoria com a professora Esther Solano, que teve como fonte a pesquisa de caráter qualitativo com eleitores do presidente  (faixas C e D de rendimentos, residentes na Região Metropolitana de São Paulo), já se percebia que as narrativas sobre o coro­navírus  ser uma “gripezinha” não convencia nem mesmo os bolsonaristas mais fiéis.

“Esses eleitores, no entanto, olharam nesta eleição para a dinâmica municipal e consideraram que não deveriam levar a sério as suas indicações. Mas como eles gostam muito do presidente eu não apostaria no desgaste da imagem de Bolsonaro”, diz Camila.

Na eleição da capital de São Paulo, ao analisar outro extrato de eleitores de faixa de renda das classes A e B, que apoiam Bolsonaro 100%, a pesquisadora do Cebrap acredita que esses votos migraram para Bruno Covas (PSDB/SP) e não para Celso Russomano (Republicanos-SP) que teve o apoio presidencial.

“Além da pandemia, o fato de Bolsonaro não ter conseguido montar um partido próprio, nem constituir alianças sólidas, e ter sido praticamente coagido a indicar candidatos como foi o caso de Crivella, no Rio [o presidente declarou que apoiava o atual prefeito, mas que ninguém era obrigado a votar nele] levou o seu eleitor, até mesmo o mais fiel, a não levar a sério suas indicações”, afirma Camila Rocha.

O voto dos jovens e dos mais velhos

Dois elementos também refletiram nos resultados das urnas, segundo William Nozaki: o aumento da abstenção, em função da pandemia, e dos votos brancos e nulos.

“Este calendário eleitoral foi assoberbado pela discussão da pandemia e muitos eleitores mais velhos deixaram de votar. Também já vínhamos numa trajetória de muita abstenção e votos nulos, pelo desencantamento de parte do eleitorado. Por outro lado, muitos jovens foram votar. Um exemplo é o eleitor do Boulos [Guilherme Boulos –PSOL], que recebeu mais votos dos jovens e de parte da classe média com  mais estudo. Mas este eleitorado jovem também se dividiu e está se deixando levar pelo discurso neoliberal do Arthur ‘Mamãe Falei’ “, afirma Nozaki ao analisar as eleições municipais de São Paulo.

O candidato ‘Mamãe Falei’ ficou em quinto lugar na disputa pela prefeitura da capital paulista. Em 2018, a abstenção foi de 20% e este ano subiu para 23%. A porcentagem representa mais de 45 milhões de eleitores.

Reflexos nas eleições de 2022

William Nozaki alerta que o resultado desta eleição deixou claro a tendência que já mostrava que o PSDB não tem capacidade de dirigir o centro e a direita,  abrindo flanco para o DEM e o PSD ocuparem este espaço.

Para o cientista político, é preciso aguardar o resultado do segundo turno de três capitais: São Paulo, Porto Alegre e Recife, em que os candidatos da esquerda têm boas chances de vencer para fazer uma análise mais profunda de como essas eleições municipais refletirão em 2022, quando Bolsonaro tentará a reeleição para a Presidência da República.

“O PT perdeu a hegemonia da esquerda, mas há um volume significativo do eleitorado a ser disputado. São três trincheiras importantes e pelo tamanho do peso politico e regional elas são as mais relevantes. O desafio é a aglutinação das forças progressivas contra a direita e a extrema direita. O foco da esquerda tem de ser a derrota do neoliberalismo e do bolsonarismo”, diz Nozaki.

As três trincheiras são: Porto Alegre (RS) em que Manuela D’Ávila (PCdo B) disputa o segundo turno com Sebastião Melo (MDB); Recife (PE) em que Marilia Arraes (PT) concorre com João Campos (PSB) e a capital de São Paulo onde Guilherme Boulos (PSOL) disputa a prefeitura contra Bruno Covas (PSDB).

“O alerta principal para o próximo período é que o bolsonarismo sofreu um revés, mas não necessariamente o neoliberalismo. Por isso, a esquerda não pode se descuidar”, analisa Nozaki.

A união das esquerdas também foi um dos resultados da pesquisa de Camila Rocha. Os eleitores mais progressistas acreditam que o bolsonarismo pode ser derrotado com a união das forças de esquerda.

“As pessoas estão frustradas com as lideranças políticas, mas veem numa aliança progressista, que incluam mais partidos além do PT e PSOL, uma forma de derrotar o bolsonarismo”, diz Camila.

Por outro lado, mesmo os arrependidos ou que tem críticas à gestão de Bolsonaro na pandemia, dizem que podem votar novamente no presidente por falta de opção em 2022.

“Para as faixas de classes de rendimentos mais baixos, que combina a classe média baixa e os empobrecidos, trabalhadores precarizados, que moram nas periferias das cidades, nenhuma candidatura anima particularmente para 2022,  por isso que a união da esquerda é importante para fazer frente à extrema direita”, conclui a pesquisadora do Cebrap.

Extrema direita no mundo

Para William Novak ainda há esperança que a extrema direita diminua sua influência na política em todo o mundo. Ele lembra que os resultados nas eleições nos Estados Unidos, com a vitória de Joe Badin sobre Donald Trump e a vitória do peronista Alberto Fernández sobre o liberal Mauricio Macri, na Argentina, tem enfraquecido os neoconservadores que têm tido dificuldade em se reeleger. Isto também pode ocorrer no Brasil nas eleições de 2022.

 

 

Vilmar Kalunga estará à frente da prefeitura de Cavalcante (GO) e dezenas de quilombolas ocuparão as câmaras municipais

Matéria retirada do Brasil de Fato. 

A participação expressiva de quilombolas nas eleições municipais deste ano rendeu bons resultados. Segundo a Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas (Conaq), 58 quilombolas foram eleitos em diversos estados do Brasil neste domingo (15).

Dos cerca de 500 quilombolas que concorreram, 56 foram eleitos vereadores, número comemorado pela organização.

“É um número muito significativo”, comemora Antônio Crioulo, coordenador executivo da Conaq que acompanhou de perto a pauta das candidaturas quilombolas.

“Com esse poder, entendemos que essas pessoas vão estar em seus municípios continuando na luta em defesa dos territórios, das comunidades”, afirma.

Leia também: Raio-x eleitoral: onde a esquerda cresceu, onde a direita liberal manteve hegemonia

Crioulo ressalta a importância dos resultados alcançados na atual conjuntura política do país e mesmo em meio às dificuldades materiais para colocar as candidaturas e as campanhas de pé. Para ele, as eleições de lideranças quilombolas representam a ruptura com um sistema político tradicional onde a compra de votos, por exemplo, é uma prática corriqueira.

“Vamos tentar nos organizar para que as ações desses mandatos sejam alinhadas com o pensamento da Conaq e das comunidades quilombolas, que é sempre a defesa do coletivo, do território, o fortalecimento da identidade e a resistência a um sistema opressor”, destaca a liderança quilombola.

Quilombolas eleitos

Para o Executivo, foram eleitos o quilombola Vilmar Kalunga  como prefeito da cidade de Cavalcante, em Goiás, e Nivaldo Araujo, em Alcântara, no Maranhão, como vice-prefeito.

A maioria dos quilombolas que estarão nas câmaras municipais em 2021 foram eleitos também no Maranhão, onde ocuparão 14 cadeiras.

Em Goiás, 9 candidaturas quilombolas foram eleitas, sendo 6 somente na cidade de Cavalcante.

Os números também são representativos nos demais estados: Na Bahia, 8 quilombolas foram eleitos. Em Pernambuco e Minas Gerais, 7 em cada estado.

No Tocantis, foram 4. Em Sergipe e no Piauí, foram 2 em cada estado. Pará e Ceará elegeram um quilombola cada um.

Os números ainda podem ser atualizados conforme a Conaq receber mais informações de candidatos em regiões mais distantes.

 

 

A reforma administrativa de Bolsonaro é sinônimo de aprofundamento do desmonte dos serviços públicos, que já ocorre lentamente. A saúde e a educação são os setores mais atingidos, embora imprescindíveis à população, principalmente para as mais pobres, que também são as mais penalizadas pela retirada de direitos, como ocorreu com a reforma trabalhista e a nova lei da terceirização: o trabalho precarizado passou a valer também para as atividades-fim.  

Na UFRJ, os trabalhadores das áreas de recursos humanos (RHs) são os que mais padecem no dia a dia hde trabalho com as quase diárias mudanças de rotina nos seus fazeres, em consequência da imposição, pelo governo federal, de novas resoluções, legislações, portarias, instruções normativas. Esses profissionais, cada vez em menor número nos setores, portanto, cumprindo jornadas extensas e sem gratificações, dão o jeito deles para atender às demandas dos servidores, e sem errar. Tudo isso em meio à pandemia do novo coronavírus.

Ler e reler os documentos recém-enviados por Brasília e ter que dizer não para um colega, por conta de mudanças nas leis do benefício que ele ou ela considerava garantido, é um estresse diário, como o que ocorre em relação às instruções normativas (INs) 28 e 65, que afetam direitos. Outros problemas que os RHs enfrentam atualmente estão relacionados à migração dos processos do meio físico para o Sistema Eletrônico de Informação (SEI) e a contagem de tempo especial para quem recebe adicional ocupacional, resultado da recente conquista histórica da categoria, em processo movido pelo Sintufrj. 

Mas driblar dificuldades com experiência e dedicação é com os profissionais de recursos humanos da universidade.Veja alguns depoimentos:   

Déficit de pessoal 

Advogada e especialista em direito público e controladoria, com 38 anos de UFRJ, Maria Efigênia Henriques Moutinho é a diretora adjunta de Recursos Humanos do Instituto de Atenção à Saúde São Francisco de Assis (ex-Hesfa), uma unidade com 170 trabalhadores. Ela lamenta que na universidade já tenha se tornado normal conviver com déficit de mão de obra no setor e a não qualificação para o exercício das tarefas, por falta de capacitação. Segundo ela, tudo isso provoca a sensação de que o problema está no DRH.

Um dos problemas apontados pela técnica-administrativa é o despreparo para uso das novas tecnologias, que se tornou mais explícito com a Covid-19, pela adoção necessária do trabalho remoto, no qual ela se inclui por fazer parte do grupo de risco. “Não estávamos preparados para enfrentar este momento”, disse, queixando-se de que há quem pense que ela não está com “vontade” de trabalhar. “Estou trabalhando muito mais do que se estivesse no hospital”, afirmou.  

Maria Efigênia acrescenta que tem consciência de que isso não ocorre somente no ex-Hesfa: “É uma situação generalizada por falta de treinamento e que foi acentuada com a pandemia”. Outra situação que ela acha injusta é a retirada de direitos, e citou como exemplo o corte do vale-transporte para quem está trabalhando de casa, “sem que seja considerado o aumento dos gastos com energia, telefonia e internet”. 

Maria Efigênia

 “A impressão que a gente tem é que o momento que estamos vivendo, de tanta incerteza, tanto perigo, está sendo oportunizado pelo governo para espremer a gente”. Maria Efigênia concluiu compartilhando um sonho: “Que a administração pública se preocupe com os servidores. É o mínimo, mas hoje em dia é um desejo meio utópico”.

Trabalho até madrugada  

Ednéa Martins chefia a Seção de Pessoal do Fórum de Ciência e Cultura (FCC) e há mais de três décadas é servidora da UFRJ. No início de outubro, ela ficou afastada do trabalho por contrair a Covid-19, e ainda hoje sofre com as sequelas deixadas em seu corpo pelo vírus, o que não a impede de enfrentar o dia a dia do setor, do qual não conseguiu se desligar nem durante a convalescença. Essa postura compromissada em garantir que a universidade continue funcionando a todo o vapor durante a pandemia, segundo a técnica-administrativa, não é um fato raro na UFRJ: “Hoje, até em função das novas demandas do setor de pessoal, os profissionais não estão conseguindo não se envolver com as tarefas, mesmo estando de licença médica, em função das responsabilidades”.

Ednea Martins

Ela reconhece que no Fórum de Ciência e Cultura a situação é diferente de muitos outros setores de RH da instituição, que se ressentem com a falta de pessoal suficiente para dar conta do trabalho e de estrutura. Lá, informou, há equipamentos, uma equipe com quatro pessoas, inclusive servidores recém-chegados e antenados com as novas tecnologias. Mas nem por isso a sobrecarga não é sentida. 

“Primeiro porque há o tempo todo demanda presencial, e as informações que chegam têm que ser colocadas no sistema, e os servidores possuem diferentes capacidades de lidar com a tecnologia no novo SEI”, explicou. O RH do FCC responde por mais de 400, inclusive pelo pessoal do Sistema de Bibliotecas e Informação da UFRJ (Sibi). Ednéa também chamou a atenção para o fato de que, trabalhando em casa, a carga horária muitas vezes se estende pela madrugada adentro, em detrimento das novas demandas, como a contagem de tempo especial para quem tem adicionais ocupacionais e a contagem do tempo celetista (antes do RJU, em 1990) para regularizar a situação de quem pretende pedir abono ou aposentadoria.  

Valorização necessária 

A responsável pela Seção de Pessoal do Núcleo de Rádio e Tevê do Fórum de Ciência e Cultura, Cristina Sari, lamentou que poucos deem valor ao trabalho dos profissionais de recursos humanos, e muitos inclusive criticam quando não conseguem ser atendidos em suas demandas, em seus direitos, sem entender que a origem do problema vai além da instituição. 

O Núcleo tem 22 servidores, mas Cristina sabe que há RHs na universidade que funcionam com apenas um profissional e respondem por mais de 200 pessoas. “Há deficiência de pessoal em grande parte da universidade”, disse, chamando atenção para o corte de funções e para situações em que os profissionais são pressionados “como se não fizessem nada”.

Cristina Sari

Quando, segundo ela, a realidade é bem outra, porque o profissional de RH tem que estar 24 horas alerta e sem ganhar nada a mais por isso. Ela considerou como um duplo ataque ao servidor ele ter que, por conta da pandemia, se adaptar à nova realidade e continuar sendo atacado pelo governo, cujos efeitos recaem sobre esses trabalhadores em efeito cascata. Como exemplo, a técnica-administrativa apontou a reforma administrativa, a IN 109, que quer a volta ao trabalho normal, mesmo com riscos, e a IN 65. “Tudo isso recai sobre as nossas costas, e ainda as contas de luz e internet. Estamos trabalhando pra caramba, ganhando menos e somos taxados de marajás. Os marajás não estão no pacote da reforma”, afirmou.

Concursada da UFRJ desde 2012, Cristina considerou importante jogar luz sobre o trabalho dos profissionais do setor, principalmente agora que redobrou o trabalho em função das novas exigências e atitudes do governo contra os servidores. “A pandemia está sendo um prato cheio para virem em cima da gente”.

 

“Estou até hoje porque amo o que faço”

Com mais de duas décadas de bons serviços prestados à UFRJ, Sara Teixeira responde pela Seção de Pessoal do Instituto de Matemática (IM). Durante o dia o trabalho é presencial, e à noite, remotamente. As tarefas são divididas com mais dois profissionais, e o número de atendidos chega a mais de 200 pessoas. “Chego do Fundão e continuo trabalhando. Só desligo o laptop antes das 20 horas, porque tenho compromisso pela manhã, senão ia até as 22 horas. Essa é a minha rotina, e sem receber hora extra”, contou a técnica-administrativa. 

Sara Teixeira

As atividades mais demandadas pelo setor atualmente, segundo Sara, são contagem especial de tempo, ressarcimento do plano de saúde, acompanhamento das contratações de professores substitutos, processos de insalubridade em fase de levantamento, revisão das averbações com contagem de tempo de serviço em período celetista para concessão de aposentadoria e abono pecuniário. Fora o atendimento ao público.

De acordo com Sara, o SEI está garantindo as condições para os RHs desenvolverem seu trabalho na pandemia, mas ela observa que há ainda muitos processos físicos. Outra dificuldade que apontou foi a falta de pessoal. “Uma das servidoras do setor, por exemplo, ingressou há pouco tempo na UFRJ e, embora esteja indo bem, está em fase de aprendizado. Há muita pressão. Faço o máximo que posso, mas nem todo mundo fica satisfeito”, desabafou.  

Sara admitiu que sente o desgaste e lamenta a decisão que tomou de se aposentar para preservar a saúde, porque sem o pagamento de gratificação é difícil conseguir quem a substitua. “O governo só sabe exigir cada vez mais dos servidores, eu estou até hoje no setor porque amo o que faço, mas tem um limite”, concluiu.