“Ciência, arte e cultura são campos que já costumam travar algum tipo de batalha contra barreiras disciplinares para poderem dialogar, mas nos últimos anos passaram também a enfrentar o cerco e o assédio, digamos, de teses obscurantistas. Tudo isso se complica mais nesse cenário de pandemia. Como avaliam esse momento, que limites ele impõe e que janelas podem abrir para pensar novas formas de diálogo entre ciência, arte e cultura na escola pública?”
Com estes questionamentos Corynto Baldez, jornalista da universidade, abriu o debate sobre o tema “Escola pública: uma articulação necessária entre ciência, arte e cultura”, que fez parte da programação do Festival do Conhecimento da UFRJ, na quinta-feira, 16. Ele com Daniel Gallo foram os mediadores da mesa, que reuniu as docentes Ana Medeiros, do Instituto de Biologia da Unicamp, e Celeia Machado, aposentada do curso de Artes Cênicas do Colégio de Aplicação da UFRJ.
Além de integrar o Festival do Conhecimento da UFRJ, o debate fez parte também da programação do Ciclo Tempos Inéditos, um projeto do Complexo de Formação de Professores, que é um espaço da estrutura média da universidade responsável por sistematizar e desenvolver iniciativas voltadas à formação inicial e continuada de profissionais da educação básica.
Leveza
“Essa ideia de pensar a ciência com a arte acho que é uma das grandes possibilidades de a gente conseguir trabalhar a ciência de uma maneira mais próxima das pessoas, tornando-a mais leve, pois a gente pensa a ciência como uma coisa muito séria. E a arte estabelece diálogos. Trabalhar isso dentro da escola é trabalhar o ensino de uma maneira geral, mostrando que existe toda uma interlocução da academia entre o ensino formal escolar e a vida das pessoas. Então é trazer um pouco mais de significado para o mundo; o conhecimento como uma grande ferramenta cotidiana”, refletiu Ana Medeiros.
Blogsunicamp –A professora participa de um projeto de divulgação científica que se chama Blogs de Ciência da Unicamp, criado em 2015 e que ganhou projeção fora dos muros da universidade. É o maior portal de canais de blogs científicos do mundo e reúne 151 canais. O nome nas redes é blogsunicamp.
É um coletivo de autores da universidade ou que passaram pela instituição e trabalham com a divulgação do conhecimento produzido. “A divulgação científica trabalha um pouco com essa ideia de tirar a universidade dela mesma e dialogar socialmente”, explicou Ana.
Para a pandemia foi montado um blog especial há 120 dias com novidades quase que diárias de todas as áreas de conhecimento. Inclusive tem um setor voltado para as escolas com materiais didáticos específicos da Covid-19.
Resistência
“Acho que a escola pública é a linha de frente dessa batalha. Os professores trouxeram como problematização o que é o ensino, o que é a escola, o que é o espaço escola. E a pandemia trouxe uma questão que é muito importante: a escola não é só espaço do conhecimento. Ela é um espaço também social, de merenda, de atendimento, do acolhimento deste aluno, da comunidade”, definiu Celeia.
“Os professores da escola pública são uma resistência, porque eles têm denunciado o perigo que é as crianças estarem juntas na escola nesse período de pandemia e porque se recusam em dar aula presencial nesse momento, apesar da grande pressão do capital, que quer ver o aluno lá como se fosse uma grande empresa. A escola é hoje uma grande resistência contra essa política e contra o negacionismo, e vem bravamente lutando”, acrescentou.
Na avaliação de Celeia, quem precisa da escola pública é a universidade e não a educação básica. A universidade precisa muito da escola para poder pensar sua licenciatura, pensar o seu conhecimento, pensar o seu lugar de saber como forma de se ampliar. Precisa conversar com os professores e escutar os alunos, disse.
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Futuro
Apesar de todas as adversidades e políticas contrárias empreendidas para a educação, a ciência e a cultura pelo governo Bolsonaro, Celeia Machado vislumbra um futuro esperançoso pós-pandemia. “A arte, a ciência e a cultura, o que elas vêm colocar é que o riso, a curiosidade, a alegria é que movem o mundo. O afeto e as presenças movem o mundo. E acho que é isso o que pode ficar. Uma nova escola está se reinventando para o pós-pandemia”, acredita a professora.