“Não siga nenhuma decisão imbecil do presidente da República ou do ministro da Saúde. Tome vacina. Tome vacina porque a vacina é uma das coisas que pode livrar você da Covid. Mas não ache que, porque tomou a vacina pode tirar a caminha e ir pro boteco pedir uma gelada e ficar conversando. não! Você precisa continuar fazendo o isolamento, continuar utilizando máscara e utilizando álcool em gel. Pelo amor de Deus”, recomendou o ex-presidente Lula no seu discurso logo após o STF anular suas condenações pela Lava Jato do falso juiz Sergio Moro.
Lula tem razão? Será que quem estiver vacinado pode ser contaminado pelo coronavíruis?
Quem esclarece essa e outras dúvidas que você tiver é o infectologista e professor da Faculdade de Medicina da UFRJ Roberto Medronho. Ele também faz parte da equipe de pesquisadores que coordena o Grupo de Trabalho (GT) Coronavírus da instituição. Confira:
Como as pessoas devem se comportar depois de tomar a vacina contra a Covid-19?
Roberto Medronho: Da mesa forma que antes da vacina, ou sjea, com distanciamento social, uso de máscara e higienização frequente das mãos. A vacina tem a função de se a pessoa pegar Covid não adoecer de forma grave. Por isso a gente recomenda a quem estiver vacinado manter as mesmas regras de antes da vacina.
Com a vacina a pessoa pode se infectar, mas, se adoecer, vai ser de forma branda. No entanto, ela pode transmitir a doença para quem ainda não se vacinou, e esta pessoa, sim, pôde adoecer de forma grave. Portanto, enquanto todos não estiverem vacinados as medidas de prevenção da transmissão da Covid são as mesmas.
Quem toma as duas doses da vacina fica livre da Covid-19?
Roberto Medronho: Não está livre, não. Mas a probabilidade é bem maior de, caso adquira a doença, ter a forma branda.
Nesse caso (já tendo tomado as duas doses), a pessoa ainda transmite a doença?
Roberto Medronho: Mesmo vacinado, se a pessoa pegar a Covid ela pôde transmitir. E se o conato se der com outra pessoa não vacinada, a doença nela pode evoluir de forma mais grave.
Mesmo a pessoa estando vacinado ela pôde ser infectada?
Roberto Medronho: Ela não está livre disso, mas a probabilidade é bem maior de, em sendo infectada a doença evoluir de forma branda. Há gente que, mesmo vacinada, evolui de forma mais grave. Mas é um percentual muito, muito pequeno, graças a Deus.
Está reduzindo os casos de internação por Covid-19 na faixa etária que é alvo da vacinação?
Roberto Medronho: Felizmente temos números de internações nas idades mais avançadas menores que antes. Não é que não tenha a ver com o aumento de casos em jovens, e tem a ver com uma cepa muito contagiosa, a P1, e o comportamento daqueles que não estão seguindo as medidas de mitigação preconizadas, como o distanciamento social e ouso de máscaras. Estão aglomerando e como essa cepa é mais infectante, está tendo muitos casos de evolução para formas mais graves.
Muita gente não está voltando aos postos para tomar a segunda dose da vacina. Quais são as consequências para a pessoa que está agindo assim?
Roberto Medronho: Infelizmente este é um comportamento muito frequente em vacinas com mais de uma dose mesmo para outras doenças. Quem não tomar a segunda dose não terá a proteção adequada. Portanto, não será considerado vacinado.
Qual a diferença de eficácia entre a vacina da Astrazêneca e a Coronavac?
Roberto Medronho: A diferença é pequena. Alguns estudos falam que está em torno de 70% e 72%, no caso da AstraZeneca, 50% no caso da Coronavac. Mas há um estudo do Chile que diz que a eficácia da Coronavac é em torno de 70%. O que temos visto é que a Astrazeneca está tendo um pouco mais de reações do que o esperado. Mas são reações na maioria dos casos leves, no máximo moderada. A repercussão maior é para a saúde do indivíduo. Mas, como ocorre com toda vacina, há sempre o risco, embora muito raramente, de haver uma reação um pouco mais intensa.
Porque entre as duas vacinas há a diferença de prazo para a aplicação da segunda dose?
Roberto Medronho: Estudos apontaram que quatro semanas de prazo para a segunda dose, no caso da Coronavac, e três meses, no caso da AstraZeneca, como sendo o momento ótimo para que a proteção seja maior. Os estudos feitos concluíram que os prazos adotados são os melhores.
As reações são diferentes entre a Coronavac e a Astrazeneca? Por quê?
Roberto Medronho: São dois tipos de formulação e (as reações) podem ter a ver com isso. Mas o mais importante é que as duas vacinas protegem bem contra a Covid-19 e as reações são, na maioria das vezes, leves e algumas um pouco moderadas, como febre, mal-estar, mas que cedem com o uso de analgésicos e antitérmicos normalmente em 24 horas. Muitas vezes (com esses medicamentos) cedem na hora.
Desde que surgiram notícias sobre efeito colateral raro da AstraZeneca, como formação de coágulos, algumas pessoas estão hesitantes em tomar qualquer uma das vacinas. Isso se justifica?
Roberto Medronho: Se não tomar, não vai ter reação à vacina, mas pode ter uma forma grave da doença e morrer. O risco de tomar a vacina e ter alguma reação grave é infinitamente menor do que não tomar a vacina e ter a Covid. E é por isso que a gente preconiza que todos se vacinem. Como vacinas alcançam milhões de pessoas, sempre tem um ou outro caso que apresenta reação, mas se considerarmos a quantidade de doses aplicadas o número (de reações) é insignificante.
As redes sociais têm prestado um desserviço ao repercutir fake News do movimento antivacina mostrando com exagero uma reação à vacina. O risco é ínfimo. Há mais risco de não tomar a vacina e ter doença grave.
“Eu tomei as duas doses, mas o resto da minha família está contaminada. Como eu devo me comportar em casa? Devo usar máscara, me isolar?”, pergunta um sindicalizado do Sintufrj.
Roberto Medronho: A vacina não é passaporte para a imunidade. Quem tomou deve manter distanciamento social, uso de máscara e higienização das mãos até que todo mundo esteja vacinado. Quem tomou a vacina pode se infectar e adoecer de forma branda, mas pode contagiar alguém que ainda não está vacina e pode ter a forma grave.
“A minha mulher teve alta nesta segunda (19) de Covid do HU. Quando ela chegar em casa precisa ficar isolada?”, quis saber outro sindicalizado da entidade.
Roberto Medronho: Depende de quanto tempo ela ficou internada. Se não tem mais nenhum sintoma e foi dada alta, se já passou o período infectante que vai até 14 dias do início dos sintomas, já não é mais transmissível (desde que esteja assintomática) e não precisa ficar mais isolada (dos demais) na casa.
Quando, em meio à vacinação para a Covid-19, deve-se tomar a vacina da gripe?
Roberto Medronho: Isso é um grande nó que estamos vivendo. A recomendação é para que na época do grupo indicado para tomar a vacina da Covid, que é a doença que está circulando, internando e é a mais grave, a prioridade seja para essa vacina. Mas quem ainda não está no grupo indicado para se imunizar contra a Covid-19, deve tomar a vacina da gripe.