A necessidade de aprofundamento da discussão sobre os procedimentos de heteroidentificação nas universidades federais, principalmente quando se aproxima a data para a revisão da Lei nº 12.711/2012, prevista ocorrer em 2022, motivou os integrantes da Câmara de Políticas Raciais da UFRJ a organizar o seminário nacional “Dez anos da política de cotas: experiência das comissões de heteroidentifiação nas universidades”.
O evento será realizado de 18 a 22 de outubro, virtualmente. As inscrições começaram nesta segunda-feira, 13, e prossegue até 27 de setembro. Haverá duas modalidades de participação: na condição de apresentador representante de comissão de heteroidentificação ou na condição de ouvinte.
Denise Goés, coordenadora da Câmara de Políticas Raciais da UFRJ e integrante da Comissão de Heteroidenticação da UFRJ (junto com a PR-1), disse que o seminário será o canal para a discussão que se faz necessária sobre os procedimentos de heteroidentificação adotados nas universidades federais, e a sua importância aumenta porque, em 2022, a Lei Lei 12.711/2012, de 29 de agosto de 2012, será revisada.
Essa lei determinou a reserva de vagas, no ingresso nas universidades federais e nas instituições federais de ensino técnico de nível médio, para candidatos autodeclarados pretos e pardos. Na UFRJ, o procedimento de validação da autodeclaração (denominado heteroidentificação) é realizado pela Comissão de Heteroidentificação.
O momento político, lembram os organizadores do seminário, exige um fortalecimento da atuação das comissões e, para isso, é preciso entender as dificuldades. E, com a troca de experiências, aprimorar sua atuação.
Durante o seminário, o público poderá acompanhar a apresentação dos integrantes das comissões das universidades.
Segundo a Câmara de Políticas Raciais da UFRJ, há comissões em mais de 60 instituições e a expectativa é que a maioria delas participe do seminário socializando suas rotinas de atividades, dificuldades, resultados e perspectivas.
Restrições provocadas pela pandemia de covid-19 determinam decisão
A assembleia estatutária do Sintufrj, na sexta-feira, 10 de setembro, aprovou por ampla maioria o adiamento da convocação para a realização das eleições para a direção e o Conselho Fiscal da entidade.
Foram 80 votos a favor do adiamento (77% do quórum de participantes da assembleia), 17 votos contra (16%) e 7 abstenções (7%). Resultado esse que não deixa dúvidas em relação à vontade dos servidores técnico-administrativos que ano a ano são os responsáveis pela existência e pelo fortalecimento da sua entidade de classe.
A votação se deu de acordo com as normas contidas no Estatuto do Sintufrj, portanto, primeiro foi posto em votação se a categoria aprovava ou não a prorrogação do mandato sindical. Se essa proposta não tivesse sido aprovada, a direção sindical teria de pôr à apreciação dos sindicalizados se a eleição seria este ano e quando.
Nos próximos dias será convocada uma nova assembleia geral para organização de uma comissão de mobilização para intensificar a luta contra a reforma administrativa e outros ataques aos direitos dos servidores.
Participação nos atos – A assembleia também aprovou o envio de uma delegação de sete companheiros da base do Sintufrj para representar a categoria no ato nacional a ser realizado em Brasília, 14 de setembro, e participação dos técnicos-administrativos na manifestação que ocorrerá no Rio de Janeiro. De 14 a 16 são as datas previstas para que o relatório da PEC 32 receba vistas na comissão especial da Câmara dos Deputados e siga para votação em plenário.
Respeito ao estatuto
Esse importante tema foi levado à assembleia pela direção sindical para uma tomada de decisão dos sindicalizados, depois de observado o que o Estatuto do Sintufrj determina a respeito.
O artigo 51 do estatuto diz que cabe à direção sindical convocar as eleições.
A proposta apresentada por um dos coletivos políticos – criação de uma comissão gestora para o Sindicato, com a destituição dos atuais dirigentes eleitos pela categoria ao final da gestão – mostrou-se inviável, já que afrontava o artigo em questão.
Como não há vacância de direção na entidade, não se justifica tal medida, mas, sim, a necessidade de adiamento do mandato por avaliação da maioria de que não há condições de realização de eleição neste momento, por causa da Covid-19.
Além disso, na segunda-feira, 6 de setembro, a diretoria do Sintufrj chamou uma reunião com os coletivos políticos que atuam no movimento sindical dos técnicos-administrativos na UFRJ para discutir uma proposta a ser levada à assembleia.
Proposta – Inicialmente a direção sindical propôs a convocação de eleições híbridas (com voto virtual e presencial) para o próximo mês de outubro. Após muito diálogo com os coletivos políticos, a proposta foi alterada, já que havia uma opinião majoritária que avaliava que as eleições deveriam ocorrer no primeiro semestre de 2022.
Nesse sentido, a proposta apresentada indicava que o processo eleitoral se daria em abril de 2022, com a prorrogação da atual gestão até 30 de abril, e a convocação para a eleição em fevereiro de 2022.
Além disso, a proposta prevê a constituição de uma comissão formada por cinco membros, sendo dois da direção, para formular uma proposta de organização do pleito.
Importante – No dia 29 de agosto, a direção sindical convocou os coletivos para uma reunião com uma empresa especializada para apresentação do sistema de eleições híbridas. A empresa é a mesma que realizou as eleições do Andes-SN, da Aduff, do Sindipetro e do Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos, entre várias outras entidades que realizaram eleições 100% virtuais ou híbridas.
Na opinião da direção, é preciso que o movimento incorpore novos mecanismos tecnológicos à organização sindical. Cabe lembrar que a UFRJ discute a regulamentação do trabalho externo e que um processo eleitoral deve contemplar a possibilidade de voto de todos os sindicalizados.
A força-tarefa formada pela direção do Sintufrj, a Comissão de Usuários do sindicato e a All Care garantiu uma excelente negociação e o reajuste de 1,5% do valor do plano de saúde da Amil. O reajuste ocorre em outubro (data de aniversário do contrato coletivo por adesão).
Inicialmente, o reajuste pretendido pela Amil era de 16,18%. O Sintufrj rejeitou o índice proposto pela Amil, posto que o salário dos servidores permanece congelado, ao passo que a explosão do custo de vida gerou uma brusca queda do poder de compra dos trabalhadores. Além disso, a crise agravada pela pandemia de covid-19 afetou a renda familiar de um contingente expressivo da categoria, com o aumento do desemprego e da precarização do trabalho.
A Amil ainda apresentou uma nova proposta – 12% de reajuste – mas o sindicato rejeitou. Após longas rodadas de negociação, a operadora recuou, permitindo um acordo em torno do índice de 1,5%, garantindo um preço mais baixo para a categoria. O novo índice de reajuste vale a partir de 1 de outubro de 2021.
A luta contra a aprovação da PEC 32/2020, a proposta de reforma administrativa de Guedes (ministro banqueiro da Economia) e Bolsonaro que institucionalizará a privatização dos serviços públicos e destruirá os servidores de carreira, chega a sua fase derradeira. Na próxima semana, de 14 a 16 de setembro, o substitutivo do relator Arthur Maia (DEM-BA) que manteve a essência da proposta do governo, será analisado e votado na comissão especial da Câmara dos Deputados.
Se aprovado, o texto pode ir à plenário para votação já a partir do dia 20 de setembro se Arthur Lira (PP-AL), presidente da Câmara dos Deputados e aliado de Bolsonaro avaliar que tem os 308 votos necessários dos deputados federais nos dois turnos programados de votação. Desde já, o funcionalismo que vem numa campanha crescente de mobilização e pressão promove nova jornada de lutas com ações nas redes e nas ruas culminando com um massivo ato para o dia 14, o Dia Nacional de Luta contra a reforma administrativa.
Na próxima semana serão atos, manifestações, audiências públicas, paralisações, marchas, passeatas, mobilizando o serviço público e tentando fazer o diálogo com a população. Já no dia 11, a pressão ocorrerá por meio da hashtag #VotouPEC32NãoVolta, a partir das 9h. Os tuitaços têm sido diários e devem se intensificar. A partir do dia 14 várias caravanas ocuparão Brasília e o Sintufrj enviará uma delegação. No Rio de Janeiro o ato nacional está marcado para às 16h, na Praça Mário Lago – Buraco do Lume.
A decisão do ato no Rio foi tomada na plenária do Fórum em Defesa dos Serviços Públicos e Estatais, realizada dia 9 de setembro. As entidades e participantes devem chegar antes das 15h para montagem de tendas, varais e demais materiais de propaganda. Cada entidade poderá montar uma tenda, levando materiais próprios para distribuir à população. Haverá circulação de busdoor e transmissão do ato com microfone aberto para entidades, movimentos e população.
Uma atividade especial será a recepção dos parlamentares no Aeroporto Santos Dumont. Como se sabe, a maioria da bancada federal do Rio é a favor da reforma administrativa.
Calendário
10/9 – Sexta-feira – Assembleia Nacional dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Setor Público e Empresas Estatais, às 18h.
11/9 – Sábado – A pressão ocorrerá por meio da hashtag #VotouPEC32NãoVolta, a partir das 9h, nas redes sociais. Passagem de carros de som nas cidades dos parlamentares que compõem a Comissão Especial.
14/9 – Terça-feira – Dia Nacional de Luta contra a Reforma Administrativa. Caravanas para grande ato em Brasília, com recepção dos deputados no aeroporto, pela manhã, e passeata à tarde, com concentração às 14h no Museu Nacional. No Rio, ato público, a partir das 15h, na Praça Mário Lago (Buraco do Lume)
15 e 16/9 – Quarta e quinta-feira — Trabalho de pressão sobre parlamentares, em Brasília e em suas cidades.
Trabalhadores relacionam problemas de saúde à sobrecarga e condições ruins de trabalho. Categoria luta por piso salarial e jornada máxima de 30 horas semanais. PL está parado no Senado
Nesse um ano e seis meses de enfrentamento à pandemia do novo coronavírus, 62,1% dos profissionais de enfermagem, categoria que luta por um piso nacional e jornada máxima de 30 horas semanais, sofreram algum tipo de sofrimento mental relacionado ao trabalho.
A constatação foi feita por uma pesquisa do Conselho Regional de Enfermagem de São Paulo (Coren-SP), que ouviu 10.329 trabalhadores, entre enfermeiros, obstetrizes, técnicos e auxiliares de enfermagem. A maioria dos profissionais atua na linha de frente do combate à Covid-19, onde enfreta condições ruins de trabalho e longas e extenuantes jornadas de trabalho.
De acordo com a pesquisa, 70,2% dos entrevistados relataram sintomas físicos como fraqueza, tonturas, dores em geral, problemas para respirar, dormência, formigamentos, dificuldade de concentração e esgomento físico e/ou cansaço.
Outros 64,5% tiveram sintomas emocionais, como medos, sentimentos de culpa, pânico e esgotamento mental e/ou pensamentos ruins.
O levantamento “Percepção do sofrimento mental dos profissionais de enfermagem em meio à pandemia da Covid-19”, revela ainda que 71,4% dos entrevistados relacionam esses sintomas à sobrecarga de trabalho e 40,1% às condições de trabalho.
PL da enfermagem parado no Senado
Enquanto a categoria enfrenta as consequências do trabalho em excesso e condições de trabalho ruins em meio a maior crise sanitária do século, o Projeto de Lei (PL) nº 2564, chamado PL da Enfermagem, está parado no Senado.
Há votos suficientes para aprovar a proposta, dizem senadores que apoiam a luta dos trabalhadores a representantes de entidades sindicais, mas o lobby dos prefeitos e dos gestores de hospitais particulares parece ter convencido o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), a alterar substancialmente a proposta em prejuízo da categoria, gerando um impasse.
O PL da Enfermagem define carga horária máxima de 30 horas semanais e piso salarial em R$ 7.315,00 para enfermeiros e enfermeiras, R$ 5.120,50 para técnicos e técnicas e R$ 3.657,50 para auxiliares e parteiras
A proposta de Pacheco é tirar os valores dos pisos e substituir por uma média nacional de remuneração.
A reação dos representantes dos trabalhadores foi dura: “Se é para ganhar pouco, não precisa de piso porque pouco a gente já ganha”.
“Não abrimos mão da proposta inicial que consta no PL da Enfermagem”, afirma Oldack Sucupira, secretário de Saúde do Trabalhador e da Trabalhadora da Confederação dos Trabalhadores no Serviço Público Municipal (Confetam/CUT).
O dirigente argumenta que os profissionais da saúde precisam de uma carga horária justa e uma remuneração digna para que possam ter lazer junto com a família, qualidade de vida e também para que se mantenham saudáveis.
De acordo com Oldack Sucupira, os problemas enfrentados pelos profissionais da saúde não são novos, mas ficaram mais evidentes desde que a pandemia foi decretada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e o Brasil passou a liderar os números de casos e mortes por Covid-19.
“Já se arrastam há um longo tempo problemas no setor como a precarização dos serviços de saúde, em especial dos públicos, onde os profissionais enfrentam instabilidade nos vínculos trabalhistas, terceirização, ausência de concursos públicos e financiamento iunsuficiente”, pontua o secretário de Saúde do Trabalhador e da Trabalhadora da Confetam/CUT.
“Nos serviços privados”, diz o dirigente, “a situação dos trabalhadores também é ruim. Os profissionais de saúde estão sobrecarregados, são colocados em diversas funções e a cada dia é exigido deles mais produtividade”.
Na avaliação de Oldack Sucupira, essa precarização, que fica cada vez mais evidenciada nos grandes vazios assistenciais e nas deficiências que existem na infraestrutura das unidades de saúde, que têm equipamentos e insumos com menos qualidade e falta de pessoal, também compromete a saúde dos profissionais da área.
“Hoje, a maioria dos profissionais de saúde optou por abrir mão do lazer, se impôs sobrecargas de trabalho absurdas para poder dar uma vida melhor para seu filho, para sua família, ter um conforto maior em sua casa, mas isso tem reflexo”, alerta o dirigente.
“E o maior reflexo é a quantidade de profissionais com doenças mentais, como mostrou a pesquisa do Coren-SP”, acrescenta.
De acordo com Oldack Sucupira, é preciso garantir que os profissionais de saúde tenham direito ao lazer e melhores condições de vida e de trabalho, caso contrário a categoria paga ”um preço muito caro’.
A aprovação do PL da Enfermagem como foi encaminhado pela Câmara dos Deputados é a única saída para tirar os profissionais da saúde da condição em que encontram, argumenta o secretário da Confetam/CUT.
“Nossa luta é por remuneração digna, jornada e reconhecimento dos profissionais”, concluiu.
Brasileiros apoiam PL da Enfermagem
Uma consulta púlica sobre o PL nº 2.564/2020, feita pelo Senado no portal e-Cidadania, mostra que a maioria dos brasileiros apoia a proposta.
Dos 1.009.771 internautas que acessaram o portal 1.004.235 aprovavam o PL da Enfermagem, até a tarde desta quinta-feira (9).
Coloca na pauta, Pacheco
A proposta, de autoria do senador Fabiano Contarato (Rede-ES), deve ser analisada pelo Plenário do Senado assim que o presidente do Casa, Rodrigo Pacheco, colocar na pauta.
Pacheco, assim como os donos de hospitais, gestores de entidades filantrópicas e prefeitos são contrários ao PL alegando falta de recursos para aumentar os salários e contratar mais profissionais.
A senadora Zenaide Maia (Pros-RN) contradiz o discurso de falta de dinheiro. Segungo ela, há recursos orçamentários suficientes para cobrir os gastos com o piso salarial e a jornada.
Contarato entende que não basta chamar profissionais de enfermagem de heróis, se referindo a luta da categoria que está na linha de frente do combate ao novo coronavírus desde março do ano passado. Muitos morreram de Covid-19.
Perfil da categoria
O Brasil tem mais de dois milhões de trabalhadores no setor e a maioria atua nas Prefeituras como enfermeiros, auxiliares técnicos e parteiras. Do total, 89% são mulheres que têm dupla e tripla jornada, ou seja, mais de um emprego, além da jornada doméstica.
Próxima plenária foi marcada para 23 de setembro para definir coordenação e programar ações
Com a expectativa de ampliar o patamar da luta contra o governo, um encontro virtual extremamente representativo de forças políticas que atuam na universidade e fora dela lançou na tarde/noite desta quinta-feira, 9 de setembro, o Comitê Fora Bolsonaro na UFRJ.
O fato político aconteceu dois dias depois dos eventos de 7 de Setembro que trouxe novos elementos à crise política na qual o país está mergulhado, desafiando a organização dos trabalhadores à busca de unidade para enfrentar os ataques do governo e das classes dominantes.
As entidades que atuam na comunidade universitária recepcionaram com entusiasmo político a criação do Comitê, como ficou patente na saudação dos representantes da Adufrj, APG, DCE e, obviamente, Sintufrj, que conduziu a proposta.
Representantes da centrais sindicais CUT e CTB; do movimento social como MST, MTST, Marcha Mundial das Mulheres; das frentes Brasil Popular e Povo sem Medo prestigiaram o lançamento do novo fórum de combate a Bolsonaro.
A próxima atividade do comitê será uma plenária no próximo dia 23 de setembro, com o objetivo de organizar o funcionamento e construir uma coordenação ampla e representativa.
Noemi Andrade, coordenadora do Sintufrj, conduziu a reunião cuja a íntegra pode ser conferida no Youtube por meio do link abaixo. Mais detalhes na edição do Jornal do Sintufrj que circula na noite desta sexta-feira, na Internet.
Lideranças sindicais apontam que mobilização é uma articulação do agronegócio para estimular caminhoneiros ‘´fanáticos’ a bloquearem rodovias dando visibilidade ao golpismo autoritário de Bolsonaro
Sem ter declarado nenhuma reivindicação justa como reclamar dos altos preços dos combustíveis, que encarecem os fretes e inviabilizam o trabalho, grupos isolados de caminheiros estão bloqueando rodovias em vários estados. A motivação, anunciada pelos próprios manifestantes, é o apoio ao presidente Jair Bolsonaro (ex-PSL) e suas pautas antidemocráticas e inconstitucionais, como os ataques a ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) e a declaração feita no ato da terça-feira (7) em São Paulo, de que não vai mais obedecer a decisões judiciais.
Para o presidente do Sindicato dos Transportadores Autônomos de Carga (Sinditac) de Ijuí-RS Carlos Alberto Litti Dahmer, trata-se de uma articulação de empresários do agronegócio para estimular profissionais da categoria que ainda apoiam o presidente a protestarem em favor do governo.
“Foram dois braços que se uniram – o braço financeiro e econômico do agronegócio e o braço dos chamados patriotas que idolatram Bolsonaro, ou sejam, juntou quem tem dinheiro com quem é fanático numa tentativa de mostrar força ou tentar um golpe”, diz o caminhoneiro autônomo, que é também diretor da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Transportes e Logística (CNTTL/CUT).
Litti cita ainda dois fatos que apontam para essa articulação. Um deles é o comboio de caminhões que ocuparam a Esplanada dos Ministérios em Brasília, todos novos, com emblemas de empresas. “A média de idade de caminhões de autônomos é de 20 anos”, diz.
Outro fato é o mapa das manifestações. “Se você olhar a concentração dos bloqueios, eles acontecem em estados com produção agrícola intensa, como Rio Grande do Sul, Paraná, Santa Catarina e Mato Grosso do Sul e próximo às rotas de escoamento da produção agrícola”, afirma o diretor da CNTTL.
Ele explica que a partir do entendimento desta realidade, a maior parte da categoria não aderiu, sabendo que não se trata de reivindicações das pautas reais dos caminhoneiros.
“É um locaute, claramente”, reforça o dirigente, se referindo a paralisações comandadas pelos patrões e não pelos trabalhadores.
Em nota, a CNTTL afirma que a entidade, que representa cerca de um milhão de trabalhadores do setor, não compactua com nenhuma manifestação antidemocrática, que tente macular a democracia”.
“Temos lutado, desde 2018 quando realizamos a maior greve da história do Brasil, pela seguinte agenda de lutas: a constitucionalidade do Piso Mínimo de Frete; o retorno da Aposentadoria Especial aos 25 anos de serviço e o direito ao voto em trânsito, ou seja, que os caminhoneiros possam votar para cargos eletivos fora do seu domicilio”, diz trecho da nota.
O recuo
Um áudio de WhatsApp que chegou a suscitar dúvidas sobre sua veracidade, mas confirmado posteriormente pelo ministro da Infraestrutura, Tarcísio de Freitas, traz Bolsonaro fazendo um apelo aos caminhoneiros para que recuem da mobilização .
O deputado estadual Nilton tatto (PT-SP), em entrevista à repórter Marilu Cabanas, do Jornal Brasil Atual, afirmou se trata de um “jogo de cena” da parte do presidente. Ele destaca que tanto os bloqueios de caminhoneiros, assim como os atos antidemocráticos de 7 de Setembro foram ações financiadas por setores do agronegócio, que desde os primeiros dias apoia Bolsonaro e sua pauta retrógrada.
“Bolsonaro fez essa fala, mas todo mundo sabe que, por baixo, está mobilizando para paralisar”, disse o deputado.
Para Carlos Alberto Litti Dahmer, o governo deve ter analisado o grau de risco deste movimento e recuou. “Foi um tiro no pé. Chegaria a hora em que cairia a ficha dos caminheiros sobre o preço do combustível, do frete, das dificuldades da categoria e como o governo não quer perder o controle do movimento, voltou atrás”, diz.
Nas redes, vários manifestantes criticaram Bolsonaro por “abandonar o barco da ‘revolução’”. Até mesmo o procurado caminhoneiro e Youtuber Marcos Antônio Pereira Gomes, o Zé Trovão, mandou recado ao presidente cobrando uma mensagem ‘autêntica’.
Zé Trovão disse nas redes que “perdeu a vida por defender o presidente” e exige que o próprio Bolsonaro apareça em vídeo pedindo o cancelamento dos protestos.
Reações
Associações de diversos setores da economia já se pronunciaram, alertando para riscos que o movimento representa para o abastecimento e já informaram impactos.
Entre os setores estão a indústria têxtil, a indústria plástica, a indústria farmacêutica que afirmam já ter problemas com a distribuição da produção, em especial nos estados do Sul do país, além da indústria de alimentos. O setor afirma enfrentar problemas na volta dos portos onde há o despacho de cargas para outras localidades do país e do mundo.
Representantes de fabricantes de eletrônicos e eletrodomésticos também se pronunciaram ressaltando o risco de paralisação de linhas de produção já que caminhos com insumos estão parados em bloqueios.
Nos seis primeiros meses deste ano foram 64.861 afastamentos por mais de 15 dias contra 37.045 afastamento de abril a dezembro de 2020. Fortalecer o SUS é fundamental, diz secretária da CUT
O afastamento de trabalhadores por mais de 15 dias em consequência da Covid-19 ou sequelas da doença aumentou 75% este ano (64.861 nos seis primeiros meses do ano) em relação ao ano passado, quando foram registrados 37.045 afastamento de abril a dezembro, segundo dados da Secretaria Especial de Previdência e Trabalho.
De acordo com os dados, publicados pelo jornal Folha de S. Paulo, aumentou também a procura por reabilitação de trabalhadores com sequelas meses depois de terem se infectado com o novo coronavírus.
Metade dos pacientes continua com queixas 12 meses depois de contrair a doença, sendo as mais frequentes o cansaço e a fadiga muscular, segundo estudo publicado na revista científica The Lancet. Um em cada três também apresenta dificuldade de respirar, diz a reportagem.
Pacientes que foram intubados, sem respirar pelo nariz e sem engolir por mais tempo, têm fraqueza no músculo da deglutição e precisam de fonoaudiologia para não engasgar e de terapeuta ocupacional para fazer as adaptações temporárias para usar os talheres, por exemplo.
Estados e municípios têm criado ambulatórios de reabilitação pós-Covid, mas a oferta no Sistema Único de Saúde (SUS) ainda é inferior à demanda e há demora no início das terapias necessárias, segundo os médicos ouvidos pela repórter.
O SUS é a opção de boa parte da classe trabalhadora que teve Covid-19 e precisará de reabilitação, portanto, é preciso que o governo federal amplie os recursos para o Sistema e que os governos estaduais e municipais invistam e fortaleçam todos os serviços públicos de saúde voltados para a recuperação e reabilitação, alerta a secretária da Saúde do Trabalhador da CUT Nacional, Madalena Margarida da Silva.
“Com o aumento da demanda, o SUS ficará ainda mais sobrecarrendo pois, terá também que atender as demandas reprimidas de outros adoecimentos”, acrescenta Madalena Margarida, que ressalta: “A luta por recursos tem de ser feita no Congresso Nacional, no convencimento dos parlamentares, e nas ruas porque o governo de Jair Bolsonaro não tem compromisso com a população que precisa de serviço público”.
Em plena pandemia, esse governo reduziu a previsão orçamentária para a saúde, lembra a dirigente se referindo ao Orçamento da União para 2021, que previu apenas R$ 136,3 bilhões para a àrea. Aumentou um pouco, diz, porque deputados e senadores aumentaram em cerca de R$ 10 bilhões o valor. Em 2020, o valor executado com saúde foi de R$ 160 bilhões, diz.
Opções para os trabalhadores
Enquanto a luta por mais recursos é feita, ostrabalhadores têm algumas opções de atendimento. Uma delas, de acordo com a secretária, são os Centros de Referência em Saúde do Trabalhador (Cerest), que funcionam nos estados e muncípios e prestam assistência especializada aos trabalhadores acometidos por doenças e/ou agravos relacionados ao trabalho.
Hospitais universitários em todo o país também estão oferecendo tratamento para amenizar os sintomas de Covid-19, mas o investimento em todos eles, é essencial e precisamos cobrar o governo e o Parlamento para não deixar os trabalhadores sem atendimento, diz a secretária.
Estão oferecendo esse atendimento o Hospital Universitário de Brasília (HUB), que tem um programa específico para a reabilitação de pacientes com sequelas provocadas pelo novo coronavírus.
No Recife, o Hospital das Clínicas de Pernambuco oferece ao paciente uma equipe multiprofissional que vai discutir o caso e montar um plano terapêutico e de reabilitação.
Em Cajazeiras (PB), o Hospital Universitário Júlio Bandeira tem uma equipe de fisioterapia é responsável por um programa de reabilitação pulmonar que envolve técnicas de expansão do pulmão e remoção de secreção.
No Rio Grande do Sul, dois hospitais se destacam no atendimento às sequelas deixadas pelo novo coronavírus. O Hospital Universitário de Rio Grande conta com uma equipe de 22 profissionais nas especialidades de infectologia, clínica médica, reabilitação física e respiratória, psicologia, pneumologia, cardiologia, neurologia, nefrologia, pediatria e nutrição para ajudar os pacientes.
No Hospital Escola de Pelotas quem faz a avaliação clínica é um pneumologista. A partir de então, o paciente será tratado por um pneumologista e fisiatra, além do atendimento multiprofissional de fisioterapia, terapia ocupacional, psicologia e educação física.
Folheto sobre saúde do trabalhador
A secretária da Saúde do Trabalhador da CUT Nacional disse ainda que está sendo elaborado um folheto sobre saúde do trabalhador no pós-Covid-19, que tratará de questões relacionadas ao direitos dos trabalhdores na atenção a saúde e acesso a direitos trabalhistas e previdenciários.
Com informações da Agência Brasil e da Folha de S. Paulo