O coletivo Quilombo do IFCS, formado por corpos negros dos três segmentos: professores, técnicos-administrativos e discentes, com apoio de aliados antirracistas, vem por meio desta apresentar uma pauta de reivindicações à direção do IFCS.
O movimento nasce a partir de duas constatações: 1) em pesquisa empírica realizada no IFCS, os alunos indicaram que a discriminação racial constitui o principal problema do Instituto. 2) O coletivo se formou depois da exclusão do prof. Wallace de Moraes da participação de uma banca de concurso para provimento de vaga para prof. adjunto no Dpto. de Ciência Política, sendo uma das justificativas para tal veto proferida por um prof. na reunião do DCP de que “ele se vitimizava por questões raciais e que tudo para ele é racismo”.
Cabe ressaltar que o prof. Wallace é o único negro no DCP e dentre os 78 professores do IFCS apenas dois são negros. Dentre 60 técnicos administrativos, 10 são negros. Simultaneamente, a população brasileira é composta por 54,6% de negros. Os dados supracitados mostram que a existência do racismo no Brasil e as suas diferentes práticas ainda não estão evidentes para o corpo social do IFCS. Por conseguinte, discentes, técnicos-administrativos, professores, bem como trabalhadores terceirizados, continuam sendo alvos de ataques racistas na instituição. Percebemos, assim, que é mais do que necessária a implementação de políticas antirracistas e protetivas dos corpos negros/indígenas. Esse é o papel do nosso quilombo!
Nesta quinta teremos um evento de fundação do Quilombo do IFCS com as participação de vários coletivos antirracistas. PARTICIPE!
No dia 20 de novembro, entidades sindicais e movimentos populares estarão mais uma vez nas ruas contra a política genocida do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), em defesa da igualdade racial, da vida, da democracia e do emprego.
Com o mote #ForaBolsonaroRacista, o Dia da Consciência Negra tem atos convocados em todo o país pela Convergência Negra, Coalizão Negra por Direitos e as frentes Brasil Popular e Povo Sem Medo, articulado com diversas organizações dos movimentos sociais negros.
Em nota publicada nas redes sociais, a Campanha Nacional Fora Bolsonaro destaca que a data é um momento em que se rememora “os feitos de Zumbi dos Palmares e a luta do povo negro contra a escravidão, o racismo e a marginalização social, econômica e política”.
A publicação aponta ainda motivos para que a população ocupe as ruas no próximo sábado, dentre eles, registra que Bolsonaro é responsável pelo retorno da fome no Brasil, fator que atinge em cheio a população negra, pobre e periférica do país.
Para o secretário de Combate ao Racismo do Partido dos Trabalhadores do Distrito Federal (PT-DF), Daniel Kubuku, o “dia 20 de novembro é uma conquista do movimento social negro”. Nesse sentido, unificar as pautas pela saída “desse governo genocida” e a luta antirracista é fundamental para visibilizar e “darmos mais ênfase à pauta pela igualdade racial”, aponta. Em Brasília, o ato será realizado no Museu da República, a partir das 15h.
Kubuku destaca que “Bolsonaro não inventou o racismo, mas seu desgoverno aprofundou as desigualdades em nossa sociedade que já é racializada”, diz. Para ele, as falas, ações e omissões de Bolsonaro concorrem para o aprofundamento do genocídio da população negra.
“Desde a sua retórica militarizada, passando pela naturalização e incentivo ao genocídio da população negra, até chegar à destruição das políticas sociais e promoção da igualdade racial. Estamos falando de um governo corrupto e genocida, que mata pela doença, pela fome, e pelo extermínio físico e simbólico de tudo que remete a nossa ancestralidade africana. Portanto, ir as ruas pra dizer Fora Bolsonaro é uma tarefa urgente de todo movimento social negro nesse dia 20 de novembro”, ressalta Kubuku.
O Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST) e a Frente Povo Sem Medo realizam neste sábado (13) uma marcha contra a fome em todo o Brasil. Os movimentos denunciam a inflação dos alimentos, que avança vertiginosamente nos últimos meses, o que dificulta a compra de alimentos básicos pelas famílias em situação de vulnerabilidade.
Em São Paulo, a manifestantes se concentram nos arredores da estação Paraíso (Linha 1-Azul) do Metrô. Por volta das 13h, a marcha seguirá até a praça da Sé, palco histórico do movimento contra a carestia e a fome no Brasil desde a década de 1970. O coordenador nacional do MTST, Guilherme Boulos, estará presente na manifestação.
“600 mil mortos, fome e inflação e um governo que simplesmente não existe. A maioria da população tem certeza que Bolsonaro não tem condições de presidir o país”, disse Boulos pelas redes sociais.
Além da capital paulista, cidades como Rio de Janeiro, Aracaju, Maceió, Recife, Ceilândia, Goiânia, Porto Alegre, Belo Horizonte e Montes Claros também serão palco da marcha contra a fome neste dia 13.
“Em apenas dois anos, o número de pessoas em situação de insegurança alimentar grave saltou de 10,3 milhões para 19,1 milhões. Nesse período, quase 9 milhões de brasileiros e brasileiras passaram a ter a experiência da fome em seu dia a dia”, aponta o relatório.
Além disso, para aplacar a miséria que aflige milhões de brasileiros, principalmente durante o auge da pandemia, os movimentos também criaram as cozinhas solidárias. O projeto distribui almoço grátis para famílias das periferias da grandes cidades. Nesse sentido, já são 11 cozinhas funcionando em 11 estados. A expectativa é chegar a 26 até o final do ano. A iniciativa conta com financiamento coletivo para seguir garantindo comida de qualidade a quem não pode pagar.
De acordo com a pesquisa, a aprovação do governo Jair Bolsonaro entre os evangélicos teve uma queda superior a dez pontos percentuais na comparação com outubro
Caiu 11 pontos percentuais a aprovação do governo Jair Bolsonaro entre os evangélicos (28%) entre outubro e novembro, de acordo com pesquisa Exame/Ideia, divulgada nesta sexta-feira (12).
A pesquisa mostra ainda que a administração federal é desaprovada por 52% dos brasileiros. Outros 23% aprovam a gestão, 22% acham regular e 3% não souberam ou não quiseram responder.
Questionados sobre a maneira como Bolsonaro lida com seu trabalho, 54% desaprovam sua atuação pessoal como presidente enquanto 23% aprovaram.
Lula na liderança
A pesquisa também apontou que o ex-presidente Lula lidera a disputa para a eleição de 2022, com 35% dos votos, seguido por Bolsonaro, com 25%
De acordo com o levantamento, o ex-ministro Ciro Gomes (PDT) apareceu na terceira posição, com 7% do eleitorado. Em quarto lugar ficou o ex-juiz Sérgio Moro (Podemos), com 5%.
Os dados mostraram que os governadores de São Paulo, João Doria, e do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, ambos do PSDB, alcançam 2% cada – eles disputarão as prévias das eleições.
O ex-ministro Luiz Henrique Mandetta (DEM), o senador Alessandro Vieira (Cidadania-SE), o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), e Cabo Daciolo (PMB) têm 1% cada.
A senadora Simone Tebet (MDB-MS) e o cientista político Luiz Felipe d’Avila não pontuaram.
Brancos e nulos somaram 8%, e não souberam ou não responderam, 12%.
Segundo turno
Na simulação de segundo turno, o ex-presidente Lula vence Bolsonaro por 48% a 31%.
Contra Doria, o petista ganha por 50% a 22%.
O ex-presidente também supera Eduardo Leite (48% a 22%).
Foram entrevistadas 1.200 pessoas por telefone entre os dias 9 a 11 de novembro. A margem de erro é de três pontos percentuais para mais ou para menos.
Eleição aconteceu na quinta-feira (11), sem a presença do cantor e compositor baiano. Eleito com 21 votos, ele é o segundo negro a ter uma vaga na academia atualmente.
O músico baiano Gilberto Gil, de 79 anos, foi eleito por maioria absoluta à cadeira de número 20 da Academia Brasileira de Letras (ABL), na tarde desta quinta-feira (11). Ele foi eleito com 21 votos.
“Muito feliz em ser eleito para a cadeira 20 da Academia Brasileira de Letras. Obrigado a todos pela torcida e obrigado aos agora colegas de Academia pela escolha”, disse o artista em uma rede social.
Gil acompanhou a votação na casa de amigos em Ipanema, na Zona Sul do Rio, já que uma norma da ABL proíbe que candidatos participem da sessão.
O artista é, atualmente, o segundo negro a ocupar uma cadeira na ABL. O outro imortal é o escritor e professor Domício Proença Filho, que foi presidente da academia em 2016 e 2017.
Para a vaga também concorreram o poeta Salgado Maranhão (7 votos), e o autor e crítico literário Ricardo Daunt (nenhum voto).
Participaram da eleição 34 acadêmicos de forma presencial ou virtual — um não votou por motivo de saúde. Foram 4 votos em branco e 2 nulos.
”GILBERTO GIL TRADUZ O DIÁLOGO ENTRE A CULTURA ERUDITA E A CULTURA POPULAR. POETA DE UM BRASIL PROFUNDO E COSMOPOLITA. ATENTO A TODOS OS APELOS E DEMANDAS DE NOSSO POVO. NÓS O RECEBEMOS COM AFETO E ALEGRIA”, DECLAROU O PRESIDENTE DA ABL, ACADÊMICO MARCO LUCCHESI.
Gilberto Gil é um cantor, compositor, multi-instrumentista e produtor musical cuja obra se confunde com a própria música brasileira. Entre 1998 e 2019, ele recebeu 9 prêmios Grammys, segundo a sua página oficial. Em 1999, foi nomeado “Artista pela Paz”, pela Unesco.
São dele os clássicos “Aquele Abraço”, “Vamos Fugir”, “A Novidade”, “Cálice”, “Esotérico”, “Divino Maravilhoso”. Ele tem uma extensa discografia com mais de 60 álbuns e quase 4 milhões de cópias vendidas.
Gilberto Gil também escreveu e publicou livros sozinho e em parceria com outros autores. Entre as obras estão “Gilberto bem Perto”, “Disposições Amoráveis” e “Cultura pela palavra: artigos, entrevistas e discursos dos ministros da cultura 2003-2010”.
Em 2001, Gil foi nomeado embaixador da ONU para agricultura e alimentação. Ele também foi ministro da Cultura do Brasil, entre 2003 e 2008, durante dois mandatos do ex-presidente Lula.
Gil deve assumir o posto em março de 2022, quando o órgão volta do recesso de fim de ano.
Antes, a cadeira 20 estava ocupada pelo acadêmico e jornalista Murilo Melo Filho, que morreu em maio de 2020. Outros ocupantes foram Salvador de Mendonça (fundador) – que escolheu como patrono Joaquim Manuel de Macedo –, Emílio de Meneses, Humberto de Campos, Múcio Leão e Aurélio de Lyra Tavares.
Fernanda Montenegro ocupa cadeira 17
No dia 4 de novembro, a atriz Fernanda Montenegro, de 92 anos, foi eleita por maioria absoluta à cadeira de número 17 da ABL. Ela recebeu 32 dos 34 votos dos acadêmicos — 2 foram brancos.
“É algo assim, é uma viagem no imaginário, uma viagem no sublime. A minha arte não é imortal. A arte do ator é enquanto ele está ali vivo, presente em carne e osso. Mas, de uma forma poética, vamos dizer que é imortal”, disse a atriz em entrevista a Malu Gaspar, do Jornal O Globo.
Neste feriado da Consciência Negra, celebrado em 20 de novembro, trabalhadores vão denunciar impactos diretos da atuação de Bolsonaro na vida da população negra, como os altos índices de desemprego
“Fora Bolsonaro Racista”. Esse é mote da próxima mobilização nacional pelo impeachment do presidente Jair Bolsonaro, que será realizada no dia 20 de novembro, Dia Nacional de Zumbi e da Consciência Negra, que é feriado em centenas de cidades brasileiras.
Marchas, atos e protestos serão realizados em todo o país, unificando a luta antirracista às pautas da classe trabalhadora como emprego, renda, desenvolvimento e contra os altos preços de alimentos e combustíveis, que têm penalizado cada vez mais os brasileiros, em especial os mais pobres, e que é consequência da política econômica desastrosa de Bolsonaro, explicam os organizadores da mobilização.
“Este dia 20 de novembro, de ‘Fora, Bolsonaro Racista’, unifica todas as pautas. Quando se fala de todas as mazelas causadas por esse governo e que foram aprofundadas pela pandemia, fala-se do impacto à população negra que é a mais afetada”, afirma a secretária de Combate ao Racismo da CUT, Anatalina Lourenço.
A dirigente se refere a todas as investidas do governo Bolsonaro para retirar direitos, cortes de recursos públicos para áreas essenciais como a saúde e a educação, além das reformas da Previdência e Trabalhista, esta última, mesmo tendo sido obra do governo anterior, o ilegítimo Michel Temer (MDB-SP), foi aprofundada no governo Bolsonaro.
A política econômica, ela reforça, aumentou os índices de desemprego. “Estamos falando de trabalhadores negros e negras que foram os primeiros a perder seus empregos”, diz Anatalina.
“Em 2020, segundo o IBGE, foram fechados 11 milhões de postos de trabalho e deste total, oito milhões eram mulheres e homens negros”, complementa a dirigente.
Por isso, pontua Anatalina, a realização de atos ‘Fora, Bolsonaro’, unificando as pautas e enfatizando o combate ao racismo é uma decisão mais do que plausível, “já que todas as ações e políticas do governo Bolsonaro têm um objetivo que não é o de manter a vida de negros e negras”.
Exigir o impeachment, para ela, tem também a característica de lutar para que no ano que vem seja eleito um governo que tenha justamente como foco garantir a vida da população negra, que além de ser alvo principal do desemprego, também é vítima de outras ações do governo entre elas a precarização e o sucateamento de serviços públicos, como propõe a reforma Administrativa elaborada por Paulo Guedes, ministro da Economia.
Queremos garantir que os direitos de todos não sejam maculados pela quantidade de melanina que cada um tem na pele
– Anatalina Lourenço
“Precisamos acabar com o racismo estrutural que mata os negros mesmo antes da bala chegar ao corpo. Esse racismo, presente em todos os espaços cerceia a liberdade da população negra, não permite o acesso às políticas públicas, promove a violência desde cedo, com a criança na escola sendo discriminada pelo seu cabelo”, acrescenta secretária de Combate ao Racismo da CUT.
Governo da morte
Cinco anos depois do golpe contra a presidenta Dilma Rousseff, episódio crítico da história recente do Brasil que representa a escalada da extrema direita ao poder – a eleição de Bolsonaro é consequência do golpe – todas as previsões do que seria o país de hoje se confirmaram. À época a CUT já alertava que o golpe era contra a classe trabalhadora e que os tempos seguintes seriam de aprofundamento de uma crise econômica e social.
É o que vivemos hoje. E quando se fala nesta realidade, automaticamente se fala em deterioração de direitos, condições de vida e dignidade das populações mais vulneráveis. A principal delas é a população negra, que sente na pele (e pela cor dela) o que o racismo estrutural, que já existia no país, traz de sofrimento, violência, de discriminação.
Exemplo claro de que é a população negra a mais penalizada pela política econômica pós-golpe, é o índice de desemprego entre negros e negras. Mesmo sendo maioria na população brasileira (55%), são os mais afetados. No segundo trimestre deste ano, a taxa de desemprego entre a população negra foi de 16,23%, enquanto a taxa para os brancos foi de 11,65%. Os dados são da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad Contínua), realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
O último levantamento feito pelo Dieese levando em consideração o recorte racial e com base nos dados da Pnad-Contínua, que se referem ao primeiro semestre do ano passado mostram números igualmente vergonhosos, em especial para as mulheres negras.
A taxa de subutilização para mulheres negras era de 40,5%. Já a das não negras era de 26,4%. Para os homens negros, 29,4% e para os homens não negros 19,1%. Subutilização é quando a força de trabalho está disponível e poderia trabalhar mais, mas isso não acontece. E os números mostram que a população negra, portanto, tem menos oportunidades de trabalhar mais.
Sobre os rendimentos dos trabalhadores, o mesmo levantamento mostra que a média salarial das mulheres negras era de R$ 1.573 enquanto das não negras era de R$ 2.660. Ou seja, a mulher negra que está trabalhando ganha 59,1% do que ganham as não negras.
Neste caso, para os homens, o salário é ainda menor. Homens não negros tiveram salário médio de R$ 3.484, enquanto os negros tiveram média salarial de R$ 1.950. Mostra que além de racista, nossa sociedade ainda é machista – outra característica típica do governo Bolsonaro.
Negros e negras também ocupam postos de trabalho mais precários. A pesquisa mostrou que no ano de 2020, 44% das mulheres negras e 45% dos homens negros estavam em trabalhos desprotegidos, sem direitos.
Com base nos dados, Anatalina Lourenço reafirma que o governo Bolsonaro tem como característica “matar as pessoas”.
“De fome, miséria, de doença como vimos na pandemia, pela violência, pelo desemprego – são várias as formas que o governo usa para promover sua política racista”, ela diz.
Atos
A mobilização #ForaBolsonaroRacista está sendo organizada em várias cidades do país. Em São Paulo será realizada a Marcha da Consciência Negra, já tradicionalmente organizada pelos movimentos negros, com concentração a partir das 12h do dia 20 no vão livre do Masp. No mesmo local, a CUT, outras centrais sindicais e movimentos sociais engrossarão os protestos exigindo o impeachment de Bolsonaro.
Antes, porém, no dia 18, também em São Paulo, a CUT estadual fará uma panfletagem na Praça do Patriarca durante o dia, para dialogar com a população sobre a urgência em acabar com o governo de Bolsonaro e convocar para o dia 20.
“Não poderíamos concluir o ano sem irmos às ruas novamente. Ano passado, a morte de João Alberto Silveira Freitas, homem negro, pelos seguranças do Carrefour, acendeu a chama da indignação e nós, dos movimentos negros, mesmo com a pandemia, decidimos ir às ruas para dar exigir um basta”, explica a dirigente cutista.
O fim deste governo é minimamente a garantia de vida. Nada que venha deste govrno tem boa intenção ou é para proteger as nossas vidas
– Anatalina Lourenço
Marcha
A Marcha da Consciência Negra faz parte do calendário oficial da cidade de São Paulo, desde a aprovação da Lei nº 17.045, de 03 de janeiro de 2019, e passou a ser considerada um Evento de Manifestação Democrática tradicionalmente organizada pelas entidades Movimento Negro Unificado (MNU), Uneafro Brasil, UNEGRO, CONEN, Agentes de Pastoral Negros e Círculo Palmarino, que fazem parte da Convergência Negra e Coalizão Negra por Direitos.
Desinformação e incertezas, depois de noites perdidas nas filas em frente aos postos, porque ninguém sabe nada sobre o auxílio que o governo diz que vai pagar, desespera milhares de famílias brasileiras
Os brasileiros e brasileiras mais pobres, que dependiam do Bolsa Família para sobreviver com dignidade, fazem filas em frente aos Centro de Referência da Assistência Social (Cras) de Recife e de outras capitais, em busca de informações sobre o Auxílio Brasil. Depois de madrugadas ao relento, as incertezas continuam porque ninguém sabe quase nada sobre o auxílio que o governo diz que vai pagar ainda este ano
O Bolsa Família, criado pelo ex-pesidente Lula, foi extinto pelo presidente Jair Bolsonaro, que não apresentou nenhum programa efetivo e de longo prazo de distribuição de renda, só um auxílio temporário, que vai vigorar especilamente no período eleitoral, critica o presidente da CUT-PE, Paulo Rocha.
O Auxilio Brasil é uma farsa, não atende às necessidades da população
– Paulo Rocha
“Esse programa é conversa fiada que Bolsonaro inventou e só vai vigorar até dezembro de 2022. Depois da eleição, ninguém tem certeza do que pode acontecer. Como não haverá mais dinheiro previsto para a continuidade, muita gente vai ficar com fome e na miséria”, complementou o dirigente.
Pelo que se sabe até agora, o Auxílio Brasil deve ser pago de 17 de novembro deste ano até o fim de 2022. A ideia do governo é pagar R$ 400, mas a fonte dos recursos ainda não foi definida. Para pagar o auxílio, o governo depende da aprovação da PEC do Calote, Proposta de Emenda à Constituição, aprovada na Câmara dos Deputados esta semana, mas que ainda precisa ser aprovada pelo Senado. A PEC permite o parcelamento do pagamento de precatórios, dívidas da União com aposentados, pensionistas e servidores, que a Justiça mandou pagar.
O desespero do povo
Enquanto isso, sem o Bolsa Família, encerrado no fim de outubro, e sem o Auxílio Emergencial, também cancelado, mais de 22 milhões de brasileiros abandonados pelo governo não sabem o que fazer e buscam orientações nas unidades de assistência social – responsáveis pelo Cadastro Único (CadÚnico). CadÚnico é um conjunto de informações sobre as famílias brasileiras em situação de pobreza e extrema pobreza usadas pelo Governo Federal, pelos Estados e pelos municípios para implementação de políticas públicas.
Em Pernambuco, as incertezas geraram transtornos e problemas para os beneficiários que procuram os postos do Cras para saber como se inscrever, como atualizar o cadastro para receber o Auxílio Brasil nas cidades do Recife e de Jaboatão dos Guararapes.
Nas enormes filas, o clima era de ansiedade e medo do futuro. Na quarta-feira (9), as pessoas chegaram de madrugada à Central de Atendimento do Cadastro Único (CadÚnico) do Bolsa Família, na Rua do Imperador, 308, área Central do Recife. Alguns relataram que passaram mais de 12 horas na fila e tiveram atropelos para entrar na recepção do prédio.
No local, foram registradas aglomerações e reclamações sobre a quantidade de fichas distribuídas para o atendimento e muitas dúvidas que ninguem sabe responder.
Uma beneficiária que não quis se identificar disse que havia pessoas fazendo uma fila com pedras e vendendo cada ficha por R$ 10, o que deixou muita gente revoltada. Houve até bate-boca.
O pedreiro Severino Honorário da Silva, morador do Poço da Panela, bairro do Recife, criticou a atitude de Bolsonaro, que acabou com um programa social premiado como o Bolsa Família e não colocou nada no lugar.
“Ele quer controlar e fazer alguma coisa para seu próprio bem, deixando o pobre numa situação lascada”, disse o trabalhador se referindo ao programa que tem caráter mais eleitoreiro e prazo pra terminar, além de ser lançado no momento em que a popularidade do presidente desde a ladeira.
“Pra quê mudar?”, questiona Severino, que responde: ”Os cadastros dos Bolsa Família e Auxílio Emergencial deveriam continuar do mesmo jeito. O pobre paga toda vez o pato”.
A dona de casa Flávia Viegas de Lima, da Várzea, afirmou indignada que o povo merece atenção e respeito. “Já tem muita gente passando fome e precisamos de boas iniciativas. Entra prefeito, governador e presidente e fica tudo do mesmo jeito”.
“O nome desse Bolsonaro intoxica, dá uma dor de cabeça, que só falta eu correr doida”, completou Flávia.
Do outro lado da rua, próximo ao Gabinete Português de Leitura, a jovem mãe Adriele Patrícia Gomes, também dona de casa, moradora do bairro de Dois Unidos, estava indignada, com a redução do pagamento do Bolsa Família, de R$ 171,00 para R$ 130,00.
“Estou aperriada com esse problema. Minha criança não recebe nada. Todo dia eu preciso comprar uma bolsa de leite por R$ 7,00. E como fica a minha situação? “, frisou.
Em busca de respostas dos governantes, Adriele Gomes revela que está desempregada e teme ter de roubar para viver. “Eu já fui presa, passei um ano e oito meses na Colônia Penal Feminina. Deus me deu um menino, depois uma menina. Eu mudei. Mas se acabar o Bolsa Família ou outro programa, a tendência é roubar, traficar. A gente não quer isso, não”, assinalou.
No Rio de Janeiro, a fila em frente ao Centro de Referência de Assistência Social (Cras) de Paciência, na Zona Oeste, começou durante a madrugada desta quinta-feira (11). A primeira a ser atendida, Rita de Cássia ficou duas madrugadas na fila. “Anteontem [de terça para quarta], cheguei às três da manhã e não consegui. Eles distribuem apenas 20 senhas por dia. Quem chegar depois não consegue nada”, disse ela ao G1.
Em Salvador, houve protesto na fila da Secretaria de Promoção Social e Combate à Pobreza e, depois de um dia inteiro de filas na quarta, também houve quem chegou à noite para tentar ser atendido nesta quinta.
Em Manaus, longas filas voltaram a ser registradas nos CRAS na manhã desta quinta-feira (11). No bairro Jorge Teixeira, a população começou a chegar ainda na noite de quarta-feira (10) para tentar atualizar o CadÚnico.
O cenário que se repete por todo o país é resultado do fim do Bolsa Família e da falta de informações do governo federal sobre o Auxílio Brasil.
Para se ter uma ideia deste cenário, em abril de 2020, o auxílio emergencial beneficiava 68 milhões de pessoas. Neste ano, o total caiu para 39 milhões. E, agora, com o Auxílio Brasil, o número de beneficiários vai despencar para 17 milhões.