Fiquei muito feliz, as crianças vão ficar mais seguras contra o coronavírus
Depois de um ano de espera e de diversas polêmicas, tem início a vacinação de crianças de 5 a 11 anos contra covid-19 no Brasil, um marco histórico para a saúde pública do país. Por isso, a edição de hoje (19) do Radinho BdF faz uma cobertura especial do início da imunização e ouve como os pequenos se sentem ao receber a primeira dose.
“Eu achei que seria pior, mas foi bom. É para não ficar doente de coronavírus”, disse o João Magalhães, que tem 9 anos e foi uma das primeiras crianças vacinadas do país, no Recife.
A expectativa é que até o final da semana, a imunização dos pequenos já tenha começado em todas as capitais do país, respeitando grupos prioritários de crianças com comorbidades, indígenas e quilombolas. O primeiro estado a iniciar a vacinação de meninos e meninas foi São Paulo, na última sexta-feira (14), com a imunização de Davi Xavante, de 8 anos.
Ele é do Mato Grosso, mas mora em São Paulo para fazer um tratamento médico. E por essa condição de saúde e por ser indígena, ele é considerado do grupo de crianças com prioridade na vacinação em diversos municípios.
“Eu estava um pouco nervoso, de emoção e alegria. Eu queria tomar a vacina para ter mais proteção. Estou fazendo isso pela minha aldeia”, disse Davi, em entrevista a emissora CNN.
A maioria dos municípios da região metropolitana de São Paulo também iniciaram a vacinação por crianças do grupo prioritário. Em São Caetano do Sul, quem fez história e se tornou o primeiro menino imunizado da cidade foi o Caio Desotti, uma criança de 11 anos, com Síndrome de Down. “Foi emocionante! A vacina é para a nossa saúde”, disse.
“Fiquei muito feliz, as crianças vão ficar mais seguras contra o coronavírus”, diz Ana Sofia, de 7 anos, indígena do povo Atikume e primeira vacinada de Santo André / Prefeitura de Santo André
E logo depois dele, quem recebeu a dose de esperança na cidade foi o Francesco Olívio, que tem 7 anos. “Eu queria tomar a vacina porque eu quero poder sair na rua e fazer as coisas que gosto de novo”, disse. “Não precisa ter medo de tomar a vacina, porque não dói nada. Quando mais rápido todo mundo se vacinar, mais rápido vamos poder voltar a sair na rua sem máscara.”
Já na vizinha Santo André, também no ABC paulista, a primeira vacinada foi a menina indígena Ana Sofia, de 7 anos, do povo Atikume. “Eu estava muito ansiosa para tomar a vacina. Fiquei muito feliz, as crianças vão ficar mais seguras contra o coronavírus”. Cobertura especial
O Radinho BdF vai a campo acompanhar como está vacinação de crianças em postos de saúde da capital paulista. O trajeto começou pela Unidade Básica de Saúde de Heliópolis, na zona sul da cidade. Por lá, trabalhadores da saúde montaram uma tenda para atender e vacinar crianças e adultos contra o coronavírus. É
possível cadastrar crianças fora do grupo prioritário na lista de xepa para, caso sobre vacina no final do dia, seja possível adiantar a imunização.
Na sequência, a reportagem segue para a Unidade Básica de Saúde da Vila Carioca. A dica dos profissionais por lá é para os adultos aproveitarem e, quando levarem as crianças para vacinar, completar a imunização contra o coronavírus ou tomar a vacina contra a influenza.
Quem se vacinou por lá foi o Leonardo, de 10 anos. “Eu estava muito ansioso esperando a vacina para me proteger. Eu diria pra as crianças não ficarem com medo que não doí nada”, disse. “Para mim é importante voltar para escola vacinado porque lá a gente pode pegar e eu me sinto mais seguro.”
Davi Xavante foi a primeira criança vacinada do Brasil, em 14 de janeiro, em São Paulo / Governo do Estado de São Paulo
Surpresa na edição
Durante a gravação desse episódio, a apresentadora do Radinho BdF recebeu uma ligação especial: era a enfermeira dizendo que ela poderia levar seu filho, Benjamin, de 11 anos, para se vacinar na xepa.
“Eu estou agora no posto de vacinação. Ligaram para o meu padastro, José, e falaram que tinha sobrado uma vacina para mim”, contou. “Eu tomei minha vacina hoje, as rações ainda não apareceram e quase não senti dor. Tomar vacina não é uma cosia ruim. Espero que agora dê para fazer mais coisas, como ir em parques e que o coronavírus vá indo embora.”
Dúvidas sobre o imunizante
Depois de diversas polêmicas envolvendo o imunizante pediátrico, que foi desacreditado inclusive pelo presidente Jair Bolsonaro, é normal que crianças e seus cuidadores fiquem com dúvidas sobre a vacina. Por isso, o Radinho conversa com uma enfermeira e um especialista em imunização pediátrica para esclarecer dúvidas.
É importante ter em mente que a vacina para as crianças é diferente. Além de ser preparada com ingredientes específicos, o imunizante tem apenas ⅓ da dose dos adultos: enquanto a dose do adulto tem 30 miligramas de vacina e na das crianças tem apenas 10 miligramas. Para que os frascos das vacinas não sejam confundidos, a embalagem das crianças tem tampa laranja e dos adultos roxa.
Por enquanto, o único imunizante autorizado para crianças é do da farmacêutica Pfizer. A vacina Coronavac, do Instituto Butantã, está em análise para ser utilizada em crianças.
Toda quarta-feira, uma nova edição do programa estará disponível nas plataformas digitais. / Brasil de Fato / Campanha Radinho BdF
Sintonize
O programa Radinho BdF vai ao ar às quartas-feiras, das 10h às 10h30, na Rádio Brasil Atual. A sintonia é 98,9 FM na Grande São Paulo. A edição também é transmitida na Rádio Brasil de Fato, às 9h, que pode ser ouvida no site do BdF.
Em diferentes dias e horários, o programa também é transmitido na Rádio Camponesa, em Itapeva (SP), e na Rádio Terra HD 95,3 FM.
Assim como os demais conteúdos, o Brasil de Fato disponibiliza o Radinho BdF de forma gratuita para rádios comunitárias, rádios-poste e outras emissoras que manifestarem interesse em veicular o conteúdo. Para fazer parte da lista de distribuição, entre em contato pelo e-mail: radio@brasildefato.com.br.
O Supremo Tribunal Federal (STF) determinou que ministérios públicos de todas as unidades da federação fiscalizem pais e responsáveis que se negam a vacinar crianças contra a covid. Assinada pelo ministro Ricardo Lewandowski, a decisão responde a um pedido do partido Rede Sustentabilidade para que conselhos tutelares atuem no processo.
Na resposta à Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) julgada pelo ministro, Lewandowski cita garantias previstas no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). Segundo a lei, é “obrigatória a vacinação das crianças nos casos recomendados pelas autoridades sanitárias.”
O Ministério da Saúde, entretanto, recomendou oficialmente a imunização de forma não obrigatória. Para a Rede, a definição contraria o ECA e fere preceitos fundamentais da Constituição Federal para a proteção de jovens contra a “conduta irresponsável de seus ‘responsáveis’, quando optam por não vaciná-los”.
Lewandowski pediu medidas às promotorias porque o ECA estabelece que o órgão é responsável por promover medidas judiciais e extrajudiciais para garantir cumprimento dos direitos, inclusive “visando à aplicação de penalidade por infrações cometidas contra as normas de proteção à infância e à juventude.”
A decisão judicial sobre a ADPF foi enviada aos estados e ao Distrito Federal em caráter de urgência.
Assembleia realizada no último dia 15 definiu o novo calendário. Atividades virtuais previstas para ocorrer em janeiro poderão ser transmitidas pelo YouTube do Fórum
Publicado: 19 Janeiro, 2022 – 13h12 | Escrito por: RBA
O Fórum Social Mundial Justiça e Democracia (FSMJD) já tem uma nova data. Diante da situação de aumento de casos de covid-19, ocasionados pela variante ômicron, o evento que ocorreria em Porto Alegre (RS) no fim de janeiro, foi adiado para o período de 26 a 30 de abril de 2022. Nesse mesmo período será realizado também o FSMResistencias. O local permanece o mesmo, a cidade de Porto Alegre (RS).
A organização informa que, caso alguma entidade integrante do FSMJD queira realizar entre 27 e 29 de janeiro atividade virtual já inscrita, poderá divulgá-la nas redes do FSMJD. O evento também poderá ser retransmitido no canal do Fórum no YouTube.
Os interessados deverão entrar em contato com o Comitê Facilitador até 18 de janeiro. “A realização de atividades virtuais não significa a realização do FSMJD, mas tão somente a continuidade do processo de mobilização em curso, sendo certo que qualquer entidade integrante do FSMJD pode promover atividades de interesse do movimento a qualquer tempo”, informam os organizadores. “Será criada uma comissão para tratar de plataformas para realização de atividades virtuais de agora em diante.”
A campanha de doação para a realização do FSMJD continua. Assim como a necessidade de recursos financeiros. “E roga-se às entidades que já pagaram a taxa de inscrição para que não peçam o reembolso, pois a atividade poderá ser realizada em abril e o FSMJD precisa dessa contribuição para continuar seu trabalho de mobilização em prol de outro mundo possível”, explica nota do Fórum.
Transformação
O encontro deste ano pretende fazer uma reflexão sobre os diversos problemas que envolvem o sistema de Justiça. Além de suas conexões com as ameaças que pairam sobre a democracia no Brasil e em vários outros países. Os debates serão feitos em torno de cinco grandes eixos: democracia, arquitetura do sistema de Justiça e as forças sociais; sistema de Justiça, democracia e direitos de grupos vulnerabilizados; capitalismo, desigualdades e mundos do trabalho; comunicação, tecnologias e Justiça; e perspectiva transformadora da Justiça e a centralidade da cultura nesse processo.
Em 2021 o Fórum Social Mundial completou 20 anos. Foi realizado pela primeira vez de forma remota, seguindo o protocolo de realização de eventos durante a pandemia. O tema questionava “Como será o mundo no período pós-covid-19?”.
O Fórum é organizado por associações e coletivos jurídicos, movimentos sociais e entidades progressistas das áreas da Justiça e da Democracia. Entre elas estão: Transforma MP, Associação Brasileira de Juristas pela Democracia (ABDJ), Associação de Advogadas e Advogados Públicos pela Democracia, Associação Juízes para a Democracia (AJD), Coletivo Defensoras e Defensores Públicos pela Democracia e Movimento Policiais Antifascismo.
O batuku de Cabo Verde e o cordel do Brasil carregam traços semelhantes e a presença das mulheres e dos jovens nos nesses dois ambientes são de grande peso
Cada país possui suas próprias expressões culturais. O cordel no Nordeste brasileiro e o batuku na Ilha de Santiago em Cabo Verde contam histórias através de seus ritmos, expressando as ideias de um povo. As mulheres possuem um papel interessante nas duas expressões, simbolizam força e resistência, mas o contexto se dá de forma totalmente diferente. A participação dos jovens também remete a força dessas manifestações, são essenciais para que continuem existindo.
Buscamos compreender em entrevistas a importância das rimas que essas expressões culturais transmitem, enfatizando os papéis das mulheres e dos produtores mirins.
A literatura de cordel
O cordel surgiu no século XVI na Europa e chegou ao Brasil no século 17, com a chegada dos colonizadores portugueses. A região Nordeste é a que mais se utiliza desse gênero literário, que se popularizou entre as décadas de 30 e 60. Tendo começado inicialmente apenas em forma oral, a qual os cordelistas recitavam suas produções com apoio somente de sua memória.
No final do século XIX, temos uma mudança com a dimensão da escrita, os cordéis passaram a ser impressos e também ganharam o gosto de escritores pela forma prática e simples de ser feita: o próprio autor poderia, sozinho, escrever, fazer a capa e comercializar.
Esse estilo de literatura permite que a escrita seja mais livre e desprendida das normas formais da gramática portuguesa, sendo caracterizado pela linguagem composta por traços de oralidade, com rimas que produzem certa musicalidade aos versos. Ele também é bastante reconhecido pelos folhetos pendurados em varais, fáceis de encontrar em feiras de artesanato, bem como a utilização das xilogravuras (que são figuras gravadas na madeira) como forma de ilustração.
O cordel é uma expressão cultural e artística que usa a prática e experiência de homens e mulheres com as rimas, para expor opiniões e críticas contra os sistemas de opressão sociocultural, falar das desigualdades sociais, segregação, racismo, preconceito e dentre outras questões sociais. Além de, claro, muitas outras temáticas, como por exemplo, voltadas para a cultura popular e folclórica regional.
O batuku Batuku em crioulo (língua regional de Cabo Verde) ou batuque em português é um gênero musical que faz parte da cultura cabo-verdiana, registrada desde o tempo da colonização no arquipélago de 10 ilhas. Formado quase sempre por um grupo de mulheres, conhecidas como “batucadeiras”, que, sentadas, cantam e tocam no que podemos dizer um “pequeno tambor”. Há uma solista que dá início ao batuku e uma batucadeira que fica de pé para dar o ritmo da música, como é o caso do Grupo Tradison de Terra
Infográfico sobre a popularidade do Batuku em Cabo Verde—Dados Ilustrativos – Produzido pela equipe de reportagem
Atualmente, o batuku é bastante valorizado por seu país de origem, sendo considerado como patrimônio de Cabo Verde, com forte presença na ilha de Santiago, maior ilha do arquipélago.
Infográfico sobre a popularidade do Batuku em Cabo Verde—Dados Ilustrativos – Produzido pela equipe de reportagem
Em texto publicado na página Buala, Redy Wilson Lima salienta que as músicas de protesto tiveram um papel central na difusão dos ideais da libertação de Cabo Verde. O batuku era uma dessas expressões e funcionava como um instrumento de resistência ao domínio português, antes da libertação nacional. Redy Wilson Lima ainda afirma que:
“PROCURA CONSCIENCIALIZAR PARA A VIVÊNCIA SOCIOCULTURAL DA COMUNIDADE COM A FINALIDADE DE ESCLARECER E REFORÇAR A VIDA COMUNITÁRIA, ESTIMULANDO A SOLIDARIEDADE SOCIAL, REFORÇANDO A COESÃO SOCIAL E RESISTINDO CULTURALMENTE”.
As mulheres no Cordel e no Batuku Para as mulheres cabo-verdianas, a prática do batuku tem um significado importante, em que avós, mães, filhas e netas são criadas enquanto mulheres, através da prática do batuku e das experiências compartilhadas.
Embora nem sempre passada de geração em geração, elas aprendem observando outras mulheres e convivendo diariamente com essa manifestação cultural, a qual é muito natural para elas, pois esse é um espaço em que essas mulheres compartilham experiências, cuidam umas das outras e fazem disso um meio de unir forças para enfrentarem problemas, recriar e aperfeiçoarem cada vez mais, diferentes formas de expressão.
Para Teresa Fernandes, representante do Grupo Tradison di Terra, as mensagens que o batuku sempre trazem é daquilo que está mal para ser trabalhado, daquilo que está bem para ser melhorado ainda mais. Clique aqui para acompanhar o áudio da entrevistada, Teresa respondeu em crioulo (língua originária do Arquipélago de Cabo Verde) e a repórter Anilza Rocha realizou a tradução para português.
Teresa Fernandes, representante do Grupo Tradison di Terra— Foto: arquivo pessoal
Em contraponto com as estrondosas vozes femininas dentro da arte do batuku, no cordel, o que ecoou até pouco tempo atrás foi o silêncio. No batuku as mulheres têm um protagonismo maior, pois é a voz delas que dá forma a essa manifestação cultural, sendo uma expressão tradicionalmente feminina, que fizeram grandes nomes como Nha Nácia Gomi e Nha Bibinha Cabral.
Já no cordel, assim como em outros gêneros literários, as mulheres pioneiras foram menosprezadas e desencorajadas. Na escrita, quando o cordel passou a ser impresso, as mulheres tiveram que usar pseudônimos masculinos para publicar suas obras, como o exemplo da paraibana Maria das Neves Baptista Pimentel, que foi a primeira mulher a publicar um cordel com o nome de um homem, se identificando como Altino de Alencar Pimentel, sob o título “O violino do diabo ou o valor da honestidade”. A escritora publicou pelo menos três cordéis, assinando como homem.
A professora Francisca Pereira, mais conhecida como Fanka, poetisa e especialista em literatura brasileira, nos contou a respeito da história de Maria das Neves Pimentel, clique aqui para ouvir o áudio na íntegra.
Paulo Ernesto, que é membro da Associação de Cordelistas do Crato, conta que Leandro Gomes de Barros, um grande editor de cordel, teve boa parte de sua literatura feita por mulheres, mais especificamente pelas filhas dele. Mas se elas escreveram, por que o nome delas não estava na autoria? “A explicação é que naquela época as mulheres não eram valorizadas, ninguém acreditava que mulher pudesse escrever poesia. E mesmo que elas assim fizessem, não vendia”, explicou Paulo.
Apesar disso, Paulo Ernesto ainda nos conta que as mulheres tinham um papel muito importante na divulgação do cordel no séc. XIX. Eram elas que mais aprendiam a ler e a escrever, em comparação aos homens, e, dessa forma, na maioria dos casos eram as mulheres que escreviam o que era dito pelos violeiros e poetas. Assim o material poderia chegar a mais pessoas, já que não tinha gravador acessível na época. Clique aqui e acompanhe o áudio de Paulo Ernesto sobre o assunto.
O silenciamento das mulheres enquanto produtoras intelectuais e culturais é muito comum em uma sociedade patriarcal, e não foi diferente no Brasil. A professora Fanka, afirma que não encontrou nenhuma menção das mulheres quanto à escrita nesse gênero literário quando começou sua pesquisa sobre o cordel, por volta dos anos 90.
“AS MULHERES NÃO ERAM CITADAS, E A PARTIR DAÍ SURGIU MEU TEMA, ONDE EU QUIS TRAZER ESSAS VOZES, TAMBÉM ESQUECIDAS, NA HISTORIOGRAFIA OFICIAL, TRAZENDO AS MULHERES NESSA HISTÓRIA, DESDE AS CANTADORAS, AS REPENTISTAS, E TODAS AS OUTRAS QUE A GENTE CONSEGUIU RESGATAR ATRAVÉS DE BREVES CITAÇÕES EM LIVROS DE FOLCLORISTAS OU MESMO DE POETAS QUE CANTARAM COM ALGUMAS DESSAS”.
Segundo Fanka, em todo tipo de arte é encontrado preconceito, mas isso não impossibilitou que as mulheres escrevessem. Ao longo de quase vinte anos de pesquisa, foram encontradas mais de 200 mulheres que fizeram esse tipo de literatura, em todo o país. A catalogação desse registro resultou no livro chamado “O livro delas: autoria feminina no cordel, cantoria e gravura”, lançado neste ano de 2021.
Cordelista Anilda-Foto: arquivo pessoal
Trazendo para o contexto atual, a cordelista Maria Anilda de Figueiredo, que começou a escrever cordel ainda pequena por influência da avó, carrega muito orgulho de poder repercutir esta prática, e afirma: “quando chego em vez de me identificar como advogada, funcionária do Banco do Brasil, como filha de fulano, seu Antônio Bento e Dona Maroli, como esposa de não sei quem, como mãe das minhas filhas, eu me identifico como cordelista e sou muito bem aceita”.
A cordelista relata que, quando foi fundada a Academia do Cordelista do Crato, contava com dez poetas homens e apenas duas mulheres, mas que hoje as coisas evoluíram e trazem um quadro mais equalizado de membros. Atualmente a academia conta com 9 poetas e 11 poetisas. Anilda ressalta:
“HOMEM E MULHER, ESTÃO AÍ PARA ESCREVER O QUE QUISEREM E O CORDEL É PARA TODOS […] TODO MUNDO ESCREVE, TODO MUNDO LÊ”.
Acompanhe o áudio da entrevista com Anilda na íntegra, ela foi entrevistada pela repórter Luana Torres e até nos deu uma despedida muito saudosa, clique aqui para conferir.
No Cordel Como toda manifestação cultural, a literatura de cordel e o batuku precisam de novos praticantes para continuar viva. O cordel pode proporcionar aos jovens uma nova forma de enxergar o mundo à sua volta, perceber a cultura no dia a dia, expressar seus pensamentos e reflexões sociais, entre outros. Da mesma forma, a prática do batuku é uma maneira de perpetuar a cultura cabo-verdiana, continuar com um legado que vem desde o período da colonização e que é tão importante para a história do seu povo, especialmente as mulheres.
Aqui no Brasil, Antônio Gonçalves da Silva, mais conhecido como Patativa do Assaré, foi um dos maiores nomes da poesia nordestina. Seu neto, Daniel Gonçalves da Silva, que também é cordelista, comenta que o avô entrou no cordel ainda criança, quando percebeu o talento para a poesia. Para dar continuidade ao legado de Patativa, Daniel começou a escrever as primeiras rimas quando tinha 8 anos de idade, numa parte inspirado pelo avô e em outra, movido pela curiosidade. Hoje, aos 35 anos, o cordelista e poeta que já escreveu grandes obras e participa de festivais em todo o país conta que a inclusão de jovens cordelistas é mais que importante, sendo imprescindível para preencher a lacuna que existe no cordel. “O cordel tem feito uma inclusão muito boa de jovens, mas ainda é um número não significativo. Precisaria ter mais jovens”, explica Daniel.
Clique aqui e acompanhe um pouco mais da fala de Daniel.
A produção dos jovens é essencial para que o cordel possa continuar repercutindo. O poeta Daniel recitou alguns versos de cordel sobre este assunto, clique aqui e confira!
Não são muitos os jovens conhecidos por escrever este tipo de literatura, e essa ausência não significa o fim do cordel, mas dificulta a entrada de novos cordelistas numa das mais antigas expressões culturais do Cariri e da região Nordeste. Segundo Fanka, o discurso da cultura popular é por vezes tido como algo primitivo, rústico, simples, dentre outros adjetivos que acabam por diminuir a sua importância. A partir disso, o folheto de cordel foi colocado como uma “coisa do passado”, o que desestimula e afasta a juventude como um todo.
Dado o fato da falta de incentivo e reconhecimento desses jovens talentos, é preciso que medidas sejam tomadas para reverter a situação. Uma delas, segundo o poeta Daniel, seria uma maior inclusão do cordel na mídia, que, embora já exista, ainda é pequena, o que expressa a necessidade de pautar mais cordelistas. Um exemplo bem conhecido na contemporaneidade é o poeta Braúlio Bessa, que ficou famoso através de suas participações no programa Encontro, da jornalista Fátima Bernardes, da Rede Globo.
Daniel Almeida, neto de Patativa— Foto: arquivo pessoal
A escola tem um papel fundamental para a continuidade do cordel, já que ela constitui um dos principais, senão o principal, espaço de contato dos jovens com esse tipo de literatura. Ouça o que a professora Fanka tem a dizer sobre isso.
Daniel nos conta que o cordel é essencial por abranger diversas temáticas, clique aqui para acompanhar na íntegra. Esse fator acaba dando mais peso para a importância do cordel na escola.
De acordo com uma pesquisa realizada pela equipe de reportagem, dentre um total de 24 jovens entre 18 e 25 anos, 83,3% responderam que tiveram seu contato inicial com o cordel em âmbito escolar, comprovando que esse espaço deve ser usado como ponte e que a partir dele novos talentos da literatura apareçam. Confira os outros dados coletados na pesquisa:
Infográfico sobre o cordel na UFCA-Produzido pela equipe de reportagem
Para a jovem Sabrina Ferreira, de 17 anos, a literatura de cordel é uma forma de expressar suas emoções e também um lugar de superação. Sua história com o cordel deu início em 2018, após ela perder o irmão que na época tinha 1 ano de idade. “Eu fiquei com começo de depressão, então procurei me refugiar em algo que poderia me fazer sentir melhor, foi aí que eu descobri o cordel e comecei a transpassar os meus sentimentos para o papel. Desde esse dia me apaixonei pela literatura de cordel e a poesia”, conta.
Ainda segundo Sabrina, que recentemente concluiu o Ensino Médio, a cada projeto que podia encaixavam com a literatura de cordel, já que era uma área reconhecida no cotidiano da jovem. O principal incentivo veio de sua professora de artes, Priscila, que a apoiava em suas obras.
No Batuku O professor de dança do Grupo DanFala Dance, Lonny Alves, afirma, em entrevista, que o batuku não tem a mesma força de antes e principalmente não tem a mesma participação ativa dos jovens como se fazia antigamente.
Ex-professor de dança do Grupo DanFala Dance Lonny Alves— Foto: acervo pessoal
“Hoje os jovens, na maior parte, se desligaram dessa herança deixada pelos nossos antepassados. É claro que, por estarmos no mundo onde as culturas se misturam, acabamos absorvendo mais a cultura externa”, completou.
Loony considerou que é preciso promover esta dança, através de palestras culturais e atividades frequentes, que poderão ajudar a “despertar o interesse dos jovens”, clique aqui e acompanhe o áudio do entrevistado na íntegra.
No que tange a questão da discriminação, Teresa Fernandes, que ganhou este ano o prêmio da Melhor Música Tradicional, informou não existir discriminação por parte dos jovens.
“Não, não há. Porque o batuku marcou muito o tempo da escravatura e eles estudam isso nas escolas”, afirmou.
Esta batukadeira terminou a entrevista ressaltando que o batuku é a identidade de Cabo Verde.
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