Documento elaborado por mais de 20 organizações tem objetivo de auxiliar na construção de políticas públicas

Nara Lacerda Brasil de Fato | São Paulo (SP) |
Encontro do Conselho Nacional Popular LGBTI+ reuniu diversos movimentos – ©Malu Aquino

Reunidos no Encontro do Conselho Nacional Popular LGBTI+, 26 movimentos populares lançaram nesta segunda-feira (16) o Programa Brasil de Todas as Cores. A divulgação ocorreu na véspera do Dia Mundial de Luta Contra a LGBTQIA+fobia, 17 de maio.

O documento reúne um diagnóstico de pautas relativas aos direitos dessa população e aponta perspectivas para o fortalecimento de garantias. Longe de ser focado apenas em pautas unicamente ligadas aos grupos LGBTQIA+, traz uma perspectiva social ampla e trata de temas como trabalho, meio ambiente, segurança, economia, saúde e mais.

“Não somos só o campo do gênero e da sexualidade. Nós somos seres-humanos que demandam educação, saúde e tantas outras pautas de maneira integral. Queríamos firmar isso. Dizer e deixar nítido de qual lugar estamos falando”, ressalta, Symmy Larrat, presidenTRA (sic) da Associação Brasileira de Gays, Lésbicas, Travestis e Transexuais (ABGLT).

Dividido em quatro eixos, o Programa Brasil de Todas as Cores trata de Interseccionalidades, da Política Nacional LGBTQIA+, Áreas Temáticas e do Legislativo. São bases que abrem espaço para o debate sobre direitos básicos, acesso à educação, proteção e fortalecimento da ciência e da pesquisa, entre outros.

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O documento vai além e expõe a necessidade de criação de estruturas, ações e normas para enfrentamento à violência contra a população LGBTQIA+. Mais de 70 diretrizes foram elaboradas para nortear a construção de políticas.

Symmy Larrat relata o esgotamento de um modelo em que não há nitidez sobre as pautas desses grupos para a população em geral, mesmo entre a parcela que quer se comprometer com  o tema.

“Queríamos sinalizar esse conteúdo para que houvesse condições, inclusive para quem é parceiro desse pauta, de saber por onde caminha a nossa posição política, por onde caminham as nossas demandas.”

Segundo ela, a ideia é orientar não só o campo popular, mas também o poder público e outros entes sociais.

“Que seja o início de um debate coletivo, que não termine, mas que oriente toda a nossa ação de luta. Que oriente as nossas bases, mas também o conjunto da companheirada que vai assumir tarefas executivas, legislativas, judiciárias e tantas outras que são importantes para a construção da democracia.”

Encontro

O Programa Brasil de Todas as Cores foi lançado no segundo dia do Encontro do Conselho Popular LGBTI+. Centenas de pessoas participam do evento, que começou no domingo (15) e termina nesta terça-feira (17), na cidade de São Paulo.

A unidade na luta contra o conservadorismo foi tem predominante, com reforço para a importância das eleições no combate ao bolsonarismo. Representante do Conselho, Leo Ribas, afirma que a organização representa a resistência e a urgência de mudanças.

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“O conselho é o resultado da união de pessoas, de organizações, de coletivos […] para que possamos conseguir trabalhar numa perspectiva interseccional. Para que possamos pautar todas as mazelas e opressões que vivemos”, destaca Ribas.

No encerramento do encontro, será realizado o ato cultural 17M: Bolsonaro Nunca Mais. A programação também prevê uma audiência pública sobre o  Dia Mundial de Luta Contra a LGBTQIA+fobia.

Edição: Rodrigo Durão Coelho

 

 

Alta nos preços e escassez de alimentos podem levar a aumento da mortalidade infantil e à falta de tratamentos de saúde

DW DW |
Segundo o Unicef, 13,5 milhões de crianças com menos de 5 anos de idade sofrem de desnutrição severa – KHALED ZIAD / AFP

Um número cada vez maior de crianças está sob risco de morrer de desnutrição severa, enquanto aumentam os preços dos alimentos e dos tratamentos para combater os efeitos da fome, alertou nesta terça-feira (17/05) o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef).

Os efeitos da guerra na Ucrânia, assim como o impacto da pandemia de covid-19 e os danos ao meio ambiente, geram uma “crise global em espiral”, alertou a agência, em um relatório intitulado Alerta Infantil.

Segundo o documento, 600 mil crianças correm risco de ficarem sem os chamados tratamentos essenciais de saúde, que seriam embalagens contendo uma pasta alimentar de alta energia com ingredientes que incluem amendoim, óleo, açúcar e outros nutrientes.

O preço da matéria prima dessas embalagens prontas para consumo, voltadas para deixar mais saudáveis as crianças desnutridas, aumentou 16%. O Unicef poderá precisar de financiamentos adicionais para compensar esse aumento.

Ao mesmo tempo, um número maior de crianças corre risco de subnutrição, em razão da alta nos preços globais dos alimentos, impulsionada pela invasão russa à Ucrânia.

“O mundo se torna rapidamente um barril de pólvora virtual de mortes infantis evitáveis e de sofrimento de crianças subalimentadas”, afirmou em nota a diretora executiva do Unicef, Catherine Russell.

“Para milhões de crianças, todos os anos, essas embalagens de pasta terapêutica fazem a diferença entre a vida e a morte. Um aumento de 16% pode parecer gerenciável no contexto do mercado global de alimentos, mas, no final dessa cadeia de abastecimento, está uma criança desesperadamente desnutrida, para quem os riscos não são nada gerenciáveis”, observou.

Desnutrição severa

Desnutrição severa é a forma mais visível e mortal da subnutrição, acompanhada de períodos repetidos de doenças que comprometem o sistema imunológico das crianças. Isso pode fazer com que doenças comuns que os mais jovens costumam superar com normalidade acabem se tornando mortais.

Atualmente, segundo o Unicef, 13,5 milhões de crianças com menos de 5 anos de idade sofrem de desnutrição severa.

Mesmo antes da guerra, o número de crianças que sofrem de subnutrição já aumentava, com obstáculos às cadeias de abastecimento impostos pelos lockdowns e fechamentos de fábricas e portos em razão da pandemia.

Ao menos 2 em cada 3 crianças que estão gravemente desnutridas não têm acesso a alimentos terapêuticos prontos para o consumo, afirma o Unicef.

A agência faz um apelo aos governos para que aumentem substancialmente a ajuda alimentícia, principalmente para as crianças de 23 países considerados de alto risco, assim como os financiamentos destinados a ajuda imediata para crianças.

“Lula é estadista. Tem capacidade de afirmar a democracia e não temer a luta”, diz Max Alvim

José Eduardo Bernardes 17 de Maio de 2022 às 08:35
Alvim já dirigiu diversos documentários, entre eles Cuba Jazz, que conta a história do gênero na ilha caribenha. – Divulgação

Estreou neste mês de maio, o documentário O Povo Pode?, do diretor Max Alvim. O longa acompanha a Caravana Lula Pelo Brasil, de 2017, quando o ex-presidente Lula (PT) fez percursos, de ônibus, por quase todo o país, um ano antes da campanha eleitoral que levaria à presidência da República, Jair Bolsonaro (PL).

O filme mescla cenas da caravana que passou pelo nordeste brasileiro, com depoimentos de personagens da região que, de alguma forma, tiveram suas vidas transformadas por políticas públicas implementadas durante os governos petistas, entre os anos de 2003 e 2016.

A princípio, o longa-metragem não teria Lula como personagem principal, mas os eventos que se seguiram à caravana, como a Operação Lava Jato, a prisão do ex-presidente na sede da Polícia Federal em Curitiba, e a anulação das provas colhidas pelo ex-juiz Sergio Moro, mudaram os rumos das filmagens.

“Acabou que O Povo Pode? se tornou um documento histórico do que aconteceu com o Brasil de 2016. E ele faz isso por meio das vozes de trabalhadoras e trabalhadores”, afirma Max Alvim, diretor do filme.

“Aqueles mesmos que eu estive lá atrás, em 2017, eu segui filmando, eu segui voltando aqui para o nordeste, encontrando esses personagens e com eles dialogando o que estava acontecendo no Brasil”, completa.

Com recursos captados via financiamento coletivo e, segundo Alvim, por meio de emendas parlamentares, o filme não visitará salas de cinema. A ideia, aponta o diretor, é que as exibições sejam sempre públicas e abertas a moradores de regiões carentes do país.

“A distribuição do nosso filme segue um pouco a própria lógica que constituiu o conteúdo do filme, essa afirmação da potência do povo. Nesse sentido, a gente tomou a decisão de fazer uma distribuição heterodoxa que é: “vamos exibir esse filme sempre em praça pública, em espaços públicos, de forma gratuita e, de preferência para as populações mais vulneráveis, que nunca têm acesso ao cinema”, diz o diretor.

“Obviamente, eu não sou contra outros cineastas que exibem os seus filmes em salas de cinema. As salas de cinema são espaços espetaculares para o audiovisual. No entanto, eu sou a favor de uma cultura genuinamente gratuita, genuinamente democrática e na nossa percepção, o filme era uma oportunidade de fazer isso”.

Convidado desta semana do BDF Entrevista, Alvim, que há mais de 30 anos trabalha no audiovisual brasileiro e é diretor de diversos documentários, entre eles Cuba Jazz – que conta a história do gênero musical em Havana -, também fala sobre a esperança popular com a possível eleição de Lula, o poder do cinema e destaca o clima beligerante que pode marcar esse período eleitoral.

“Acho que nós vamos viver, em 2022, essa experiência de uma sociedade cindida, quebrada, e nós vamos viver isso de forma muito intensa. A minha leitura é que a eleição vai ser muito dura, muito selvagem. Sem dúvida, eu me preocupo, inclusive, com a segurança do ex-presidente Lula nessas andanças”, afirma.

Confira a entrevista na íntegra:

Brasil de Fato: Você lançou, neste mês de maio, o documentário O Povo Pode?, que intercala cenas da caravana do ex-presidente Lula pelo Nordeste com o depoimento de pessoas da região, que tiveram a vida, de alguma maneira, transformada pelos anos do PT na presidência da República. A tua ideia inicial era produzir uma reportagem sobre a caravana. Onde mudou a chavinha e você decidiu que o registro valeria um longa-metragem? 

Max Alvim: O filme nasceu em 2017, na caravana do ex-presidente Lula pelo Nordeste, vocês se lembram que esta foi a primeira das caravanas, chamada Caravana Lula pelo Brasil, que circulou boa parte do país.

O nosso raciocínio original era fazer um road movie, um filme feito na estrada, que acompanhasse a caravana, mas que não tivesse o olhar especificamente para o presidente Lula. Na época, a gente dizia que o ex-presidente era um estadista de uma estatura tão grande, que não havia necessidade de mais um documentário contando os bastidores da vida do presidente Lula.

A gente falou: e se a gente fizesse diferente, fizesse um filme que olhasse o Brasil através do olhar do Lula? O que o Lula vê que gera política pública social, política pública vocacionada para as populações mais vulneráveis?

Então seguimos acompanhando a caravana, mas sempre observando a população que estava ali, buscando personagens, trabalhadores e trabalhadoras, que pudessem nos contar como eram as suas vidas antes dos governos do presidente Lula e Dilma, e como é que aquilo estava se desenvolvendo, especialmente porque estávamos em 2017 e já tínhamos vivenciado o golpe de 2016.

Só que quando a gente termina as filmagens – foram 36 dias iniciais de filmagem, 20 com o presidente e mais 16 em que a gente voltou pelo mesmo percurso do presidente, mergulhando na vida desses personagens – a gente conclui essa etapa e volta para São Paulo.

Para quem não conhece cinema, vale dizer: você filma muitas horas e passa por um processo que a gente chama de decupagem, o processo de assistir o material, para daí sair o roteiro da montagem final do filme.

Em janeiro vem a decisão do TRF-4 (Tribunal Regional Federal da 4ª Região), condenando o ex-presidente à prisão. E a gente fala: “aqui aconteceu uma coisa e não dá mais para a gente seguir com o documentário como a gente tinha a ideia original”. Era preciso acompanhar os rumos do país.

E assim nós seguimos filmando, sempre na expectativa de que o documentário se resolvesse, que na verdade, o país se resolvesse rapidamente, para a gente ter uma conclusão. O presidente Lula foi preso e nós seguimos filmando e aquilo não acabava.

Na sequência vieram as eleições trágicas de 2018, com fake news, todo o discurso de ódio que o Bolsonaro trouxe para a eleição, com todas as puxadas de tapete que nós brasileiros levamos naquela eleição, de vários setores. E seguimos nesse percurso. Eu estive em Curitiba, filmei o presidente lá na Polícia Federal, depois a saída do presidente e assim seguimos até 2021.

A data de corte, que a gente realmente falou: “bom, agora temos, digamos, um recorte histórico importante e que se resolve. E foi por volta de junho, julho de 2021, quando sai o resultado do Supremo Tribunal Federal, definido que o ex juiz Sergio Moro foi parcial no julgamento e desmontando toda a peça, toda a farsa jurídica que se fez contra o ex-presidente.

Então, acabou que O Povo Pode? se tornou um documento histórico do que aconteceu com o Brasil de 2016. E ele faz isso através das vozes de trabalhadoras e trabalhadores. Aqueles mesmos que eu estive lá atrás, em 2017, eu segui filmando, eu segui voltando aqui para o nordeste, encontrando esses personagens e com eles dialogando o que estava acontecendo no Brasil.

Sobre a exibição do filme, a ideia é que ele fique fora das salas de cinema e seja itinerante, com apresentações gratuitas. É isso mesmo, Max? 

A distribuição do nosso filme segue um pouco a própria lógica que constituiu o conteúdo do filme, essa afirmação da potência do povo. Nesse sentido, a gente tomou a decisão de fazer uma distribuição heterodoxa que é: “vamos exibir esse filme sempre em praça pública, em espaços públicos, de forma gratuita e, de preferência para as populações mais vulneráveis, que nunca tem acesso ao cinema.

Obviamente, eu não sou contra outros cineastas que exibem os seus filmes em salas de cinema. As salas de cinema são espaços espetaculares para o audiovisual. No entanto, eu sou a favor de uma cultura genuinamente gratuita, genuinamente democrática e na nossa percepção, o filme era uma oportunidade de fazer isso.

Nós lançamos o filme no dia 4 de maio, em São Paulo, dentro de um espaço popular que é o galpão do MST, em São Paulo e, na sequência, saímos em caravana, digamos, inspirados pelo ex-presidente Lula. No dia 7 de maio exibimos ele aqui na comunidade de Brasília Teimosa, em Recife, onde eu estou hoje.

Uma sessão linda, em praça pública, para algumas centenas de moradores da comunidade. E hoje mesmo eu estou seguindo para São Luís, aonde a gente vai fazer a exibição no maior quilombo urbano do Brasil e assim seguiremos, de capital em o capital, exibindo o filme.

O mais importante é que, em cada capital que a gente exibe, eu tenho brincado que carrego um saco de pendrives, entrego para as lideranças dos movimentos populares, dos sindicatos, as mais diversas lideranças que existem a depender do local, às vezes é um quilombola, às vezes é um indígena, tanto faz. Eu entrego para eles o pendrive com o filme, para que eles possam ampliar essa distribuição de forma gratuita e generosa com suas comunidades.

Assim, a gente vai, aos pouquinhos, fazendo uma exibição do filme, não a partir das redes sociais, inicialmente, mas a partir de exibições realmente presenciais. Porque também é critério para a gente a ideia de produção, de encontro. A ideia de produção de coletividade, a ideia de produção de comum, de comunidade.

E o cinema tem essa potência, quando a gente exibe isso para uma comunidade, a gente dá a oportunidade para ela de, aproveitando o filme, produzir debate, produzir reflexão e produzir isso que eu estou chamando de encontro. Fazer com que ela se fortaleça através da exibição do filme.

Mais do que o filme, para mim, muito mais importante do que qualquer obra, é a ideia de cidadania, é a ideia de construção de comum, de comunidade.

Voltando um pouquinho para a história que permeia o filme, há um antes e um depois dos governos Lula para o povo do Nordeste, principalmente. Como é que foi acompanhar de perto a caravana do ex-presidente por essas cidades e ouvir a história desses personagens, que retratam um país que viveu um período de grandes mudanças? 

Eu tenho dito que a experiência de fazer O Povo Pode? transformou a minha vida. Eu tenho a sensação de que isso está no filme. Minha grande expectativa é que o filme transforme vidas como transformou a minha.

Por muitos motivos, desde a experiência de acompanhar, na filmagem, a caravana, que em si, foi uma experiência incrível, porque o Lula tem…eu sempre brincava, na época, que o Lula tem um imã. Onde ele passa, não só as pessoas vão até ele, como todas as câmeras se voltam para ele.

Eu ficava o tempo todo puxando a orelha do meu diretor de fotografia dizendo para ele: “não é ele que eu quero que você veja”. Porque toda hora, quando você vê, você já está no Lula, você já vira a Câmera para ele. Porque ele tem essa coisa magnética.

E ele tem uma coisa muito bonita, que talvez tenha nos ensinado a filmar de outro modo: o Lula é aquele cara que está em uma multidão e ele tem uma capacidade de sempre ver no meio da multidão, a pessoa mais frágil, a pessoa que mais está precisando de um abraço e é nela que ele vai. Isso é uma sensibilidade aguçada nele, é impressionante.

Eu fiquei 20 dias com esse cara, 50 e poucas cidades nós rodamos, e o tempo todo era assim, o tempo todo. O Lula estava lá, observando o mais frágil, então a gente tentou também, de certo modo, nos contaminar dessa lógica, de observar o mais frágil e tentar construir com ele um diálogo para entender que perspectiva essa fragilidade tem, em relação à nossa democracia.

Acima de tudo, acho que quando você se dispõe a entrar num filme sem ter nada para provar, o faz exclusivamente para ter uma escuta do que está acontecendo, você não está saindo de casa com um objetivo de construir um institucional sobre nada, você está saindo de casa com o objetivo de compreender o que está acontecendo no país, o retorno que se tem dessa experiência é muito gratificante.

Porque encontra percepções, leituras, facetas do Brasil que você não tem no dia a dia, na tua comunidade, na tua bolha. Isso é uma lição de vida, da gente sair das bolhas, encontrar outras perspectivas, aprender com elas e, acima de tudo, respeitar a diferença. Tudo o que a gente não vê neste governo fascista, com o perdão da digressão.

Eu tive a oportunidade, inclusive, de cobrir uma caravana do ex-presidente Lula em 2017, na região sudeste. E como você falou, havia muita euforia e um sentimento de agradecimento por onde ele passava. Mas também, e acho que não foi o caso da caravana do Nordeste, pelo que eu sei de registros, havia um pequeno clima de tensão, que acompanhava o percurso. Na caravana pelo Sul do país, inclusive, o ônibus chegou a ser baleado. Você acha que esse clima beligerante está reverberando na nossa sociedade agora e pode chegar nesse eleição? A ideia é que o ex-presidente volte a caminhar pelo país.

Eu acho que sim. Eu dizia, já naquela época, que talvez o maior dano do Bolsonaro, não era o Bolsonaro, era o bolsonarismo. Porque a ideia que ele preconiza é uma ideia fundada na desigualdade, fundada na ideia de que eu preciso aniquilar aquilo que é diferente de mim.

Em 2017, como você disse, aqui no Nordeste, durante a caravana, isso foi quase invisível, porque aqui há uma hegemonia do Lula, do carinho do povo pelo Lula. Porque, como você também disse, há um agradecimento, um sentimento de gratidão muito forte do povo nordestino em relação ao que o Lula fez por eles, ao longo dos seus governos, e depois dos seus governos também, através da presidenta Dilma.

Acho que nós vamos viver, em 2022, essa experiência de uma sociedade cindida, quebrada, é nós vamos viver isso de forma muito intensa. A minha leitura é que a eleição vai ser muito dura, muito selvagem. Sem dúvida, eu me preocupo, inclusive, com a segurança do ex-presidente Lula nessas andanças.

Mas, eu acho que, acima de tudo, o Lula tem uma capacidade, como estadista, de sempre afirmar a democracia, de não ter medo da luta. E isso é uma lição pra gente. Quando eu o visitei e fui entrevistá-lo lá na Polícia Federal, em Curitiba, quando a gente saiu de dentro da PF, o acampamento que tinha em frente, a Vigília Lula Livre, as pessoas perguntavam: “e aí, como está o presidente?”.

E eu dizia: “o presidente está ótimo, é impressionante. Ele está ótimo. Quem está mal somos nós, a gente está aqui, todo mundo entristecido, todo mundo cabisbaixo, ele está lá dentro lutando como um louco, segue lutando lá dentro”.

Então, o presidente tem essa capacidade de não baixar a cabeça. Está claro para ele que, a única alternativa pro povo brasileiro é a luta. E isso não é por acaso, porque o presidente vem da origem que vem. O que eu ouvi aqui no Nordeste, fazendo as entrevistas de todos os trabalhadores e trabalhadoras que eu entrevistei, é que pela perspectiva de um trabalhador e de uma trabalhadora, não tem espaço para aquela depressão que nos paralisa.

Lógico que nós podemos ficar tristes, todos nós podemos ficar tristes, mas não aquela tristeza que nos paralisa. Porque, para quem está na luta desde que nasceu, não há outra alternativa a não ser a luta. E isso é uma lição que eu carrego nesse período, tanto do meu convívio com o ex-presidente, com o meu convívio com esses personagens lindos que compõem o documentário.

Inclusive, uma dessas personagens, a Vani, que mora numa região de Pernambuco, conta, junto com os pais, sobre a questão das cisternas, de como o avanço das políticas públicas fizeram diferença na vida deles. E ela revive uma expressão do Paulo Freire, “esperançar”. Você acredita que o momento é propício para a gente voltar a levar bons sentimentos para o país? Em um momento de tanto desalento, seja com a política, seja com o rumo que nós, enquanto sociedade, tomamos? 

Eu acho que, sem dúvida, até porque a gente tem, de cara, a possibilidade desta vez, de ter o ex-presidente Lula como um pré-candidato à presidência. Só isso já nos dá um alento de que a gente está de novo no jogo democrático, de lutar por dias melhores.

A Vani faz uso da palavra “esperançar” no contexto de…ela diz: “é preciso esperançar”. Eu tenho dito o seguinte…existe um filósofo que eu reputo muita importância, porque embora ele seja do século 16, ele repercute hoje de uma maneira muito intensa, nas nossas mentes, que é o Espinosa, ele diz que a esperança é uma paixão triste, porque a esperança é a ideia de que no amanhã você vai ter aquilo que você não tem no hoje.

Só que a Vani, muito brilhantemente, busca um verbo do nosso grande educador, Paulo Freire, que é a ideia de esperançar. Esperançar é diferente de ter esperança. Esperançar é produzir no presente aquilo que se espera para o futuro. Portanto, esperançar é carregar a vida da luta para conseguir aquilo que a gente merece, aquilo que a gente precisa. É um país justo e mais igualitário.

Então hoje vejo com muita esperança, a perspectiva que temos nessa eleição, da gente poder através dessa eleição, e através da nossa luta, da luta popular, investir numa ideia de país mais justo. Eu não acredito em céu, sabe José Eduardo. Esse negócio de que: “ah, nós vamos ter um dia, que vai ser um mundo perfeito.

Mas eu acredito na possibilidade das vezes tem um mundo mais justo, menos desigual, menos violento. A gente pode ter algo melhor, a gente pode transformar esse país em algo melhor. Então, é por isso que eu luto e eu acho que é por isso que a gente tem que lutar. Esta aí a base da luta do trabalhador e da trabalhadora brasileira.

O documentário, apesar de não ser o gênero mais popular, sempre esteve presente na história cinematográfica do Brasil. O Silvio Tendler lotava salas de cinema com suas cinebiografias. Hoje, o gênero já tem um pouco mais de reconhecimento, tem prêmios dedicados e está, também, em grandes premiações. Acho que ainda há alguma resistência para a realização. Como foi o processo de colocar esse filme para rodar? 

Eu não sei se eu concordo contigo, que o documentário é um gênero de baixa repercussão, ou reputação. Há uns anos atrás, eu fazia uma consultoria para montagem de uma televisão, e nós fizemos uma pesquisa no Brasil para saber qual era o gênero que o brasileiro mais gostava, quando o tema era educação e cultura. E o gênero que disparadamente ganhou, em primeiro lugar, foi o documentário.

Eu acho que o brasileiro, não só tem tradição em assistir os documentários, como também tem tradição de fazer documentários. Nós temos excelentes documentaristas, jovens documentaristas, inclusive, que produzem material de muito boa qualidade. Eu entendo que você quer dizer que, realmente, é um gênero que, a depender do formato do documentário, pode causar um certo estranhamento.

Mas eu sou documentarista há muitos anos, dirigi algumas centenas de documentários, vivi a minha vida profissional inteira fazendo documentários, sempre tendo condições para isso. Esse documentário, especialmente, foi um trabalho muito complexo, porque a gente fez questão de fazer ele a partir de um financiamento, que também seguisse o raciocínio do público.

De que maneira? Em primeiro lugar, através do financiamento coletivo, que a gente fez em parceria com o DCM (Diário do Centro do Mundo) e, em segundo lugar, através de emendas parlamentares, que são recursos legítimos, que a gente tinha ao alcance e que nós tivemos a felicidade de conseguir para subsidiar os custos do documentário.

E por serem emendas parlamentares, a gente reforçou mais ainda o caráter gratuito e universal da sua distribuição. É porque, a rigor, um produto audiovisual financiado pelo setor público, merece ser distribuído gratuitamente para todo mundo. Então nós estamos seguindo isso de forma rigorosa. Enfim, eu sou apaixonado por documentário. É até difícil falar disso porque é uma cachaça para mim.

Eu passei muitos anos da minha vida, mais de 30 anos como documentarista e acho que essencialmente é isso. Ele. Ele permite você fazer um mergulho na realidade. Na minha opinião, nunca representativa de toda a realidade. É sempre um recorte, nunca é isenta. Nós somos pessoas e, como pessoas, a gente tem opiniões. É natural que a gente tenha leituras de mundo.

Mas acima de tudo, são mergulhos que permitem à população e a todos nós, visualizar, enxergar o país por outras facetas. Na minha opinião, isso enriquece muito a experiência de leitura do país. Documentário é tudo de bom.

O povo pode, Max? 

O povo pode muitas coisas, essa é a grande dificuldade, porque eu tenho dito que, o povo pode eleger Hitler, o povo pode eleger Mussolini, o povo pode eleger um governo fascista ou neofascista como esse do Bolsonaro. O povo pode apoiar a criminalidade, não fazendo nada. O povo pode sair na rua e ver gente passando fome e não fazer nada, mas esse mesmo povo também pode tantas outras coisas.

Ele pode buscar saídas progressistas, ele pode buscar saídas transformadoras da realidade social. Ele pode eleger Lula. Ele pode eleger governos pelo mundo afora. Ele pode eleger Mandela. O povo pode tantas coisas. Então eu acho que o filme está trazendo para a população um pouco dessa reflexão e olha como isso é complexo, esse tipo de pergunta.

Por isso, inclusive, ele tem esse ponto de interrogação. Esse tipo de pergunta ele vai, como eu disse, se completar nesse encontro do filme, com sua audiência, cada um de nós vai sair do filme um pouco refletindo. Sim, eu posso, mas posso para que?

A grande questão, talvez desse século, é dentro das nossas possibilidades, das nossas potências, que mundo a gente quer inventar? A gente quer inventar um mundo do ódio? A gente quer inventar o mundo da desgraça completa? Das pessoas passando fome e o mundo do individualismo? Ou a gente quer inventar um mundo melhor?

Essa que, eu acho, talvez seja a reflexão que cada um saia do cinema, ou da sala de exibição ou da praça pública, quando assistir o filme.

Edição: Rodrigo Durão Coelho

 

 

 

Faz um Faz um anoBolsonaro deu 69% para si mesmo e ministros (*)

Há exatamente um ano, neste mesmo mês de maio, o presidente Jair Bolsonaro e seus ministros passaram a receber salários com um aumento de até 69%. O aumento foi dado pelo próprio Bolsonaro por meio de uma portaria editada em abril de 2021 e, em maio, a diferença salarial já havia sido implantada. A mudança permitiu que o presidente, o vice-presidente, Hamilton Mourão, ministros e assessores passassem a receber acima do teto constitucional de R$ 39,2 mil. Na prática, o teto total para essas pessoas passou a ser de R$ 78.586,64 por mês.

Antes da medida, Bolsonaro recebia R$ 30,9 mil pela função de presidente e mais R$ 10,7 mil em outros benefícios. Mas o seu salário final tinha um corte de R$ 2.300 para que o teto fosse obedecido. Com a norma aplicada no ano passado, a remuneração bruta do presidente passou de R$ 39,3 mil para R$ 41,6 mil. Já o general da reserva, Hamilton Mourão, passou a receber R$ 63,5 mil, diferença de 62%. Entre os ministros militares, o maior salto no salário foi o do então chefe da Casa Civil, Luiz Eduardo Ramos. A sua remuneração passou a ser de R$ 66,4 mil, em uma alta de 69%.

Mas além do aumento salarial, Jair Bolsonaro coleciona regalias de um milionário. Apenas entre os últimos dias 1º de abril e 5 de maio, a conta do seu cartão corporativo foi de R$ 4,2 milhões.

E os servidores?

Enquanto isso, a massa dos servidores federais está há mais de cinco anos sem nenhum tipo de reposição salarial e o governo se nega a negociar com seus representantes. Desde janeiro de 2022 que os trabalhadores iniciaram a sua campanha salarial e passaram a reivindicar uma recomposição salarial emergencial de 19,99%, percentual referente apenas às perdas inflacionárias do período de três anos de governo Bolsonaro.

Integrantes da equipe do ministro da Economia, Paulo Guedes, receberam os representantes dos servidores em apenas dois momentos. Um deles para dizer que não teria reposição salarial e no outro para afirmar que não haveria negociação com os servidores.

*Sindsep-PE

 

 

 

Esta é a palavra de ordem da nova Agenda de Lutas da campanha salarial dos servidores públicos federais. O governo insiste em não negociar com os trabalhadores e segue com anúncios via mídia sobre a sua proposta de míseros 5% linear para todo o funcionalismo e ou propostas diferenciadas para categorias específicas, como a da Segurança, divulgando ainda que sua decisão deverá ser oficializada até o fim desse mês de maio.

Quinta-feira, 19, é Dia Nacional de Mobilização pelo Reajuste Salarial. Atos em defesa do Reajuste Já! serão realizados em todo o Brasil. Diante da falta de diálogo, os servidores seguem ampliando a pressão por negociações e uma reposição emergencial justa para todo o funcionalismo. Não dá para conviver com o aumento da inflação e do custo de vida, a falta de investimentos no setor público, o congelamento salarial de mais de cinco anos e o arrocho salarial com perdas de 19,99% em três anos impostos por esse governo.

Por isso, o Fonasefe (Fórum das Entidades Nacionais dos Servidores Públicos Federais), do qual a Fasubra nossa federação paz parte, joga peso para intensificar a mobilização pela abertura imediata de negociação salarial. A agenda está pegando fogo com ato nacional dia 19 de maio, reunião ampliada da educação federal dia 21 de maio e novo #OcupaBrasília dias 31de maio e 1º de junho.

A assembleia simultânea do Sintufrj em três campi (Fundão, Praia Vermelha e Macaé), nesta quarta-feira, 18 de maio, 14h, irá discutir nossa campanha salarial – Especial da Campanha Salarial está disponível no site – e a pauta interna de reivindicações da categoria. Para tanto diversas reuniões de base foram realizadas. Antecedendo a assembleia foi realizada nessa terça-feira, 18, reuniões na Faculdade de Letras, Centro Cirúrgico do HUCFF, CAP e Escola de Serviço Social.

 

Sem garantias

Um possível reajuste de 5% que seria a partir de 1º julho, é o que vem sendo veiculado, e caso isso se oficialize, o índice não superaria nem a inflação do ano de 2022 – que tem uma estimativa média de 7,65%. Muito menos a nossa perda acumulada destes últimos anos (19,99%). O prazo final para concessão de qualquer aumento de despesa com pessoal por força da legislação se encerra dia 4 de julho.

Mais nada está oficializado. Nos últimos dias, rumores voltaram a circular de que o governo Bolsonaro está debatendo a possibilidade de enviar ao Congresso Nacional propostas diferenciadas para categorias específicas “insatisfeitas”. A decisão, ainda segundo informações vindas da imprensa, seria divulgada por Bolsonaro até o dia 22 de maio “para ter segurança jurídica”.

A tática de Bolsonaro vem sendo a de empurrar a crise com o funcionalismo enquanto seu governo ganha tempo usando a mídia para testar a reação dos servidores a propostas que vão sendo ventiladas sem nenhum respaldo formal. Um “bônus” de R$ 400 nos tickets alimentação foi outra possibilidade jogada na mídia. Bolsonaro pode também não dar nada, mesmo precisando de votos para a eleição de outubro. Deste governo pode-se esperar tudo!

 

Mobilização cresce enquanto o governo se recusa em negociar

Os servidores do Banco Central chegaram a suspender a paralisação na tentativa do diálogo, mas o silêncio do governo permaneceu e no dia 3 de maio voltaram ao estado de greve por tempo indeterminado. Os companheiros do INSS e Ministério do Trabalho e Previdência também seguem em greve.

Na segunda-feira, 16, a categoria dos Servidores Federais da Educação Básica, Profissional e Tecnológica (Sinasefe) deflagou greve. O Comando Nacional de Greve foi instalado em Brasília e servidores do IFBA, do IFMG, do IFPE e do IF Sul-RS estão paralisando suas atividades, com greve deflagrada por aprovações em assembleias de base. Além das greves já iniciadas, diversas categorias estão participando das mobilizações pelo reajuste.

 

Reunião ampliada debaterá Greve Unificada da Educação

Entidades Nacionais da Educação – Fasubra Sindical, Andes-SN e Sinasefe – realizarão no dia 21, a partir das 14h, Reunião Ampliada Unificada da Educação. O objetivo é consolidar o chamamento da Greve da Educação de forma unificada e articular a construção de uma pauta de reivindicações da Educação Federal. O governo insiste em não negociar com as categorias e a mobilização será intensificada.

A reunião ocorrerá de modo híbrido, virtual pelo Zoom e presencial em Brasília-DF, no San Marco Hotel. Para acompanhar a reunião virtualmente, acesse o link no dia 21/5, a partir das 13h30min: https://us02web.zoom.us/j/83627390866?pwd=MmRzbUN6RXpoZURKWDFzZnY1aFBCdz09

 

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Trabalhadores e parlamentares se articulam pelo financiamento da proposta e contra possíveis vetos do presidente

MARÍLIA QUINDERÉ / MÍDIA NINJA

Após aprovação do piso nacional da enfermagem na Câmara dos Deputados, na última quarta-feira (4), a categoria segue mobilizada para evitar que o presidente Jair Bolsonaro (PL) vete a proposta e atrase o reajuste. Sinalizações de parlamentares durante a votação do projeto sugerem que o texto pode encontrar barreiras no Palácio do Planalto, que argumenta não ter caixa para bancar o reajuste.

Segundo o relatório aprovado pelos parlamentares, o novo piso deve entrar em vigor já na data da publicação da lei. O objetivo dos enfermeiros é fazer com que a medida seja efetivada no mercado de trabalho o quanto antes.

O projeto de lei (PL) 2.564, de 2020, estabelece um piso de R$ 4.750 para enfermeiros, 70% desse valor como piso para técnicos em enfermagem e 50% para auxiliares de enfermagem e parteiras.

“A enfermagem está exausta. A cada etapa que conseguimos vencer, o governo e os seus representantes dentro do Congresso Nacional apresentam novos obstáculos”, desabafa a presidenta da Federação Nacional da Enfermagem (FNE), Shirley Morales.

A declaração da dirigente se refere a polêmicas sobre o custo desse reajuste aos cofres públicos, assunto que dominou os debates no Legislativo.

Também pesou a pressão de empresários da rede privada de saúde, em sintonia com o lobby contrário a medida de prefeitos e governadores.

Caso seja vetado, a proposta de um novo piso para a enfermagem retornará ao plenário do Congresso Nacional, para que possíveis vetos sejam avaliados por deputados e senadores.

Polêmicas na Câmara

Durante a votação do projeto, o líder do governo na Casa, Ricardo Barros (PP-PR), orientou correligionários a votarem contra o PL, reforçando a já conhecida rejeição do governo federal a proposta. O Palácio do Planalto argumenta que não há condições fiscais para bancar reajustes salariais na rede pública de saúde.

“Nós queremos votar o projeto, mas queremos entregar no contracheque dos enfermeiros o valor. Então espero que até o final desta votação nós encontremos uma solução que viabilize a fonte para esses recursos, para que todos saiam daqui com a certeza de que de fato foi uma vitória”, bradou Barros no plenário, durante a votação.

O deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), filho do presidente, esteve entre os 12 deputados que votaram contra o projeto. Ainda assim, ele foi aprovado por ampla maioria, com 449 votos favoráveis.

“Foi uma demonstração de insensibilidade deles com a categoria. Eles deram declarações explícitas de que são contrários. Em geral, quando fazem isso, é para preparar um posicionamento de veto por parte do presidente, por isso neste momento a coisa mais importante é a mobilização pela sanção”, diz o relator do PL, Alexandre Padilha (PT-SP).

Custeio

Em paralelo à tramitação do PL, permanecem tratativas sobre o financiamento do novo piso da enfermagem. Mesas de negociação ocorridas nas prévias da última votação apontaram alguns caminhos para viabilizar a matéria.

Um deles, é um acordo feito no Congresso para primeiro assegurar o financiamento e depois enviar o texto agora para sanção presidencial, como forma de facilitar a aprovação.

Além disso, senadores apresentaram uma Proposta de Emenda Constitucional (PEC) para dar amparo legal a pauta. A PEC insere o novo valor do piso na Constituição, para evitar possíveis questionamentos por falta de previsão constitucional. A mobilização agora é para acelerar a aprovação desta proposta, que precisa passar por dois turnos de votação nas das Casas Legislativas do Congresso.

Em paralelo, parlamentares discutem outras possibilidades de custeio do piso. “O que se discute é a importância de se ter uma fonte de financiamento para compensações. Uma parte dos parlamentares votou no PL com a expectativa de que haja uma compensação financeira. É um debate que a Câmara vai fazer. E, claro, tudo que vier de mais recursos para saúde é positivo, é importante”, diz Padilha.

“Não tem nenhuma proposta definida, mas o piso é viável. Ele representa menos de 5% de tudo que é investido no SUS. Se pegarmos apenas o valor de enfermeiros que são pagos por estados, municípios e pelas Santas Casas, isso representa menos de 3% de todo o orçamento do SUS. Se pegarmos o valor total, significa menos de 4% do faturamento dos planos de saúde”, defende o ex-ministro da Saúde.

Subfinanciamento e Teto de Gastos

O líder da bancada do PT na Câmara, Reginaldo Lopes (MG), vê como “absurda” a postura dos críticos do PL. Em sintonia com o discurso do relator, ele afirma que os setores privado e público absorveriam a nova demanda orçamentária com facilidade.

“Com o tanto de dinheiro no orçamento, não há dificuldade alguma do ponto de vista dos municípios, dos estados, da própria União. A dificuldade que existe é com os hospitais filantrópicos, que incluem 1.700 hospitais, mas não é por causa do piso”, observa.

O petista menciona como problema o subfinanciamento da saúde, iniciado especialmente pelo governo de Michel Temer (MDB) por meio do ajuste fiscal que ficou conhecido como Teto de Gastos. “E o governo Bolsonaro vem dando continuidade a essa política, agravando esse abismo que se criou para o futuro do país”, critica o líder.

Lopes rejeita a ideia de que o reajuste dependa de novas receitas. “Isso não existe. A receita é o orçamento geral da União. Você tem que sempre preservar as relações dos entes subnacionais, aumentar os repasses, mas não pode usar esse argumento, tanto é que não se diz ‘vou dar o piso para uma categoria, mas vou criar um imposto pra pagá-lo’”, argumenta.

Para o parlamentar, a aplicação do piso no contracheque da categoria é uma realidade cada vez mais próxima devido ao apoio que a pauta conquistou. “A vitória já veio e a oposição seguirá vigilante para finalizar esse processo o quanto antes”, encerra.

Edição: Sarah Fernandes

 

 

 

Bolsonaro é o 1º presidente a deixar o salário mínimo valendo menos do que quando entrou. Corretora calcula perda de 1,7% no poder de compra e queda no piso de R$ 1.213,84 para R$ 1.193,37 até dezembro de 2022

REPRODUÇÃO

O governo de Jair Bolsonaro (PL) é o primeiro desde o Plano Real, em 1994, em que o salário mínimo do Brasil perdeu o poder de compra. Quando terminar o mandato, em dezembro de 2022, Bolsonaro deixará o piso salarial valendo menos do que quando entrou, segundo informações são do jornal O Globo

Desde 1994, o país teve sete governos, dois de Fernando Henrique Cardoso, do PSDB; dois de Lula, do PT; um de Dilma Rousseff, do PT; um que começou com Dilma e terminou com o golpista Michel Temer, do MDB, que deu o golpe para assumir a presidência da República; e agora o de Bolsonaro. Com exceção de Blsonaro, todos os presidentes, até o ilegítimo Temer, conseguiram reajustar o salário mínimo com valores acima da inflação, ou seja, garantiram o poder de compra.

Sob o governo Bolsonaro, o Brasil terá uma perda de 1,7%, até o final do ano, segundo os cálculos da corretora Tullet Prebon Brasil. A baixa, contudo, ainda pode ser maior se a inflação acelerar mais do que o previsto pelo mercado no Boletim Focus, do Banco Central, usado como base das projeções da corretora. Há 16 semanas, as previsões vêm sendo revisadas para cima.

A perda percentual significa uma queda no piso salarial de R$ 1.213,84 para R$ 1.193,37 entre dezembro de 2018 a dezembro de 2022. De acordo com o relatório da corretora, a perda inédita está relacionada ao ajuste fiscal que mostra o impacto de reajustes no piso em uma gama de outras despesas da União, como benefícios sociais e gastos com Previdência. Mas há, principalmente, uma relação também direta com a aceleração da inflação. A avaliação é de que a reposição da inflação passada que o governo Bolsonaro vem promovendo não garante a preservação total do poder de compra do salário mínimo diante do aumento dos preços cada vez maior de um ano para o outro.

Brasil tem o segundo pior mínimo

Desde que assumiu, Bolsonaro vem seguindo à risca o abandono da política de valorização real do piso salarial, criada nos governos de Lula e Dilma. Há três anos, não há aumento real do piso como previa a regra de correção, que considerava a inflação mais a variação do Produto Interno Bruto (PIB) de dois anos antes. De 2019 para cá, o governo apenas reajusta a perda resultante da inflação anual acumulada, que é obrigatória por norma constitucional.

O valor do mínimo, sem qualquer ganho real de poder de compra, já havia rendido ao Brasil, no começo deste ano, o posto de segundo país com o menor salário mínimo. A perda foi constatada pelo estudo da plataforma CupomValido, que levou em comparação os 35 países membros da OCDE. México oferece o pior piso, seguido pelo Brasil. Antes de Bolsonaro, no governo de Michel Temer (MDB) o aumento real acumulado do mínimo foi de 0,79% ante o 0% com o atual presidente.

Mas a reposição já chegou a ser de 59,21% durante os governos petistas, de abril de 2003 a janeiro de 2016. No período, Lula se tornou o presidente que maior aumento real concedeu ao salário mínimo desde a sua criação, em 1º de maio de 1940.

 

 

 

 

Ex-presidente participou do lançamento do Movimento Juntos Pelo Brasil, na manhã deste sábado. Lula reforçou o compromisso de fazer o Brasil voltar a ser o país dos brasileiros

 Publicado: 07 Maio, 2022 – 14h47 | Última modificação: 07 Maio, 2022 – 15h11 | Escrito por: Andre Accarini | Editado por: Marize Muniz

ROBERTO PARIZOTTI