Na próxima terça (22), às 17h, Sérgio Nobre falará da importância desses espaços de solidariedade, diálogo e organização que serão criados nas bases para a luta a ser travada em 2022
O presidente nacional da CUT, Sérgio Nobre, lança os “Comitês de Luta em Defesa da Classe Trabalhadora, pela Vida e Democracia”, na próxima terça-feira (22/02), às 17h, com transmissão nas redes sociais da CUT e da Rede TVT. Camen Foro, Secretária-Geral Nacional, e Roni Barbosa, secretário nacional de Comunicação, da CUT participarão da live.
O país vive uma crise generalizada e sem precedentes, com a classe trabalhadora enfrentando seu pior momento na história recente. Os brasileiros e brasileiras terão, em 2022, o destino da nação em suas mãos. Este será um ano decisivo para o Brasil que trabalha.
A tarefa histórica da CUT de defender a classe trabalhadora implica organização e luta para romper com esse ciclo nefasto de desemprego, perda de direitos, trabalho precário, empobrecimento da população, fome, carestia, venda de estatais, desinformação, negação da ciência, propagação de ódio e preconceito.
O país precisa retomar o caminho de um projeto de reconstrução nacional e crescimento sustentável que valorize a vida, a democracia, a soberania e promova direitos e desenvolvimento com igualdade e justiça social.
Por tudo isso, a CUT, em aliança com o movimento popular, se prepara para um 2022 de solidariedade, escuta, diálogo, organização e luta. Os Comitês se constituirão nesse espaço para servir a todas as pessoas dispostas a lutar e contribuir para melhorar a vida do povo brasileiro, por meio de um amplo movimento social de trabalho e organização de base. Saiba mais na terça-feira (22).
FICHA DA LIVE
O que – Lançamento dos Comitês de Luta da CUT
Quando – Terça-feira, 22 de fevereiro, às 17h
ONDE ASSISTIR E COMPARTILHAR Facebook/CutBrasil
Youtube/CutBrasil TVT Canal 44.1 – sinal digital HD aberto || Canal 512 NET HD-ABC
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COMO CRUZAR A TRANSMISSÃO
Entrar em contato, pelo WhatsApp (11) 98181-9484 com Alex Capuano|Secom
Com muita tristeza assistimos a devastação da cidade de Petrópolis em consequência das fortes chuvas das últimas horas. Toda nossa solidariedade às famílias que neste momento sofrem pela perda de seus entes queridos e com às que estão desabrigadas, porque perderam suas casas com todos os seus pertences materiais e suas lembranças. Entre essas pessoas, encontram-se parentes e amigos servidores da UFRJ. Saibam, companheiras e companheiros, a sua dor é também nossa dor.
A direção do Sintufrj orienta a categoria a encaminhar para a sede e as subsedes do HU e da Praia Vermelha, suas doações para serem encaminhadas às vítimas das chuvas em Petrópolis. Mantimentos não perecíveis, material de higiene pessoal e coletivo, roupas, cobertores, máscaras, álcool 70, água mineral, enfim, o que for possível, são muito bem-vindos, entre outros
DRH do HUCFF também é ponto de coleta de doações para os desabrigados, que serão entregues pelo Sintufrj
Onze anos após a maior catástrofe climática da história do Brasil na Região Serrana, a Cidade Imperial se viu debaixo de lama. A tragédia de 15 de fevereiro de 2022 em Petrópolis provocada por um volume de chuva que não se via há 90 anos veio de forma avassaladora deixando um rastro de mortes, uma legião de desabrigados, muita destruição e muita dor. Até quinta-feira, 17, dois dias após o temporal, o número de mortos já passava de 100 e de desabrigados chegava a 700. A população permanecia sem água, luz e transporte urbano.
Mas a destruição e mortes no município serrano não se deve apenas a natureza — no planeta a crise climática vem produzindo desastres em escala mundial. No Brasil, no Rio de Janeiro, em 11 anos, o estado teve cinco governadores e nenhum deles desenvolveu e colocou em prática um plano de prevenção eficiente para evitar que as chuvas que frequentemente caem na Região Serrana se tornassem grandes tragédias nacionais, protegendo assim a população e mitigando seu sofrimento.
Triste repeteco
O ano de 2011 marcou a maior catástrofe climática do país, quando uma forte chuva devastou vários municípios serranos, cujo saldo foi mais de 900 mortos e quase 100 desaparecidos. Petrópolis estava entre as cidades mais atingidas. Na opinião de especialistas, de lá para cá pouco foi feito para resolver questões determinantes como: recuperação de encostas; reflorestamento das margens dos rios; demolições de casas em locais de risco; e realocação de moradores que vivem em terrenos instáveis.
Na avaliação de geógrafos, ações como essas poderiam reduzir os danos causados por chuvas como a da última terça-feira, 15, em Petrópolis. Em 1981 houve uma chuva torrencial, enchente e mortes em Petrópolis. Em 2013, dois anos após a grande catástrofe de 2011, o município foi novamente castigado pelas fortes chuvas e pouco se fez. Estamos em fevereiro de 2022 e outra tragédia acontece de forma avassaladora. Os mortos passaram de 100, dezenas de casas foram destruídas e ruas devastadas. Os desabrigados, segundo informou a Secretaria Estadual de Defesa Civil nesta quinta-feira, 17, 700 ao todo, foram encaminhados para os pontos de apoio montados nas escolas. Contabilizava-se mais de100 desaparecidos.
As regiões do primeiro distrito foram as mais afetadas, sendo o Alto da Serra uma das localidades mais devastadas e o Morro da Oficina o mais atingido. Sob ele calcula-se que há o maior número de vítimas. O Centro Histórico virou um grande lamaçal. Estado de calamidade pública foi decretado pela Prefeitura.
Buscas desesperadas
As buscas chegaram a reunir mais de 500 pessoas, entre moradores que usaram suas mãos, pás e enxadas para revirar os escombros na tentativa de encontrar familiares, e equipes dos Bombeiros, Exército e Defesa Civil.
Negligência
Relatório final da CPI da Alerj que investigou a atuação dos órgãos públicos diante da tragédia de 2011, indicou 42 recomendações para evitar novas catástrofes naturais. Passados 11 anos, muito pouco foi colocado em prática. Essa tragédia poderia ter sido evitada e ou diminuída. O resultado é muita dor e desespero para as famílias atingidas que perderam entes queridos e seus lares. Foram filhos, mães, pais, avós e crianças arrastados pela enxurrada, soterrados. No fim quem sempre paga é o povo.
Segundo Thiago Amparo, professor de direito internacional e direitos humanos na FGV Direito SP, em artigo na Folha de São Paulo, as mortes em Petrópolis decorrem igualmente da negligência estatal em adaptar cidades para o novo normal climático: extremos.
“A crise climática corta as veias desiguais das cidades, expondo a quão paupérrima tem sido a implementação local de mecanismos de adaptação à crise climática ou mitigação de seus efeitos. A crise climática é global, mas as mortes são locais e, dolorosamente, desiguais. Não é com hashtags e voluntarismo privado em doações – embora cruciais– que vamos evitar novas tragédias como a de Petrópolis: é pelo reconhecimento de que a tragédia não é natural, mas humana, tal como a negligência estatal que deixou que dezenas morressem, de novo.”
Solidariedade
Mas a solidariedade é o sentimento que impera nos brasileiros e vem a galope. Pessoas e instituições se unem numa corrente de ajuda e apoio solidariedade à população de Petrópolis.
O Sintufrj está junto nesta corrente de solidariedade, ainda mais que entre os moradores de Petrópolis encontram-se parentes e amigos de servidores da UFRJ. As doações podem ser feitas até o dia 24 de fevereiro, nos seguintes horários: na sede da entidade, no Fundão, das 9h às 17h; na subsede da Praia Vermelha, das 10h às 15h; e na subsede do HUCFF, das 10h às 15h.
A Divisão de Recursos Humanos (DRH) do HUCFF também está recolhendo doações que serão entregues pelo Sintufrj em Petrópolis. As contribuições devem ser feitas das 8h às 15h, de segunda a sexta, no 1º andar, Sala 1D42, em frente à Direção-Geral.
O ano de 2022 não começou bem para as famílias de baixa renda que viram o poder de compra diminuir ainda mais com a alta de preços de produtos básicos como gás de cozinha, energia e alimentos, no caso deste último, embora os preços estejam mais estáveis, não baixaram. Em janeiro deste ano, inflação foi a maior em seis anos.
Para as famílias de renda muito baixa, a inflação em janeiro deste ano (0,63%), é o triplo em relação ao mesmo mês de 2021, que foi de 0,21%. Já nos últimos 12 meses, a inflação para essa faixa de rendimento e também para as famílias de renda média-baixa ficou 1% acima do custo de vida em relação a quem tem renda mais elevada.
Nestes 12 meses, o custo de vida dos mais pobres chegou a 10,5%; os de renda média-baixa a 10,8%. Já no caso das famílias de classe alta, a inflação ficou em um dígito: 9,6%, segundo o indicador “Inflação por faixa de renda”, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).
O IPEA considera renda alta, famílias que somam rendimento de mais de R$ 16.509,66 por mês; média-baixa, de R$ 2.702,88 a R$ 4.506,47; e muito baixa, as familias que somam rendimentos de menos de R$ 1.650,50.
Por que os pobres sentem mais a inflação
Os pobres sentem mais a inflação porque produtos básicos não podem ser substituídos, como são os casos da energia, da água e do gás de cozinha, que mais pressionaram os preços para esse estrato social, explica a técnica da subseção da CUT Nacional do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), Adriana Marcolino.
Em 12 meses, as tarifas de energia aumentaram 27% e o botijão de gás de 13 quilos, 31%, diz a técnica, que lembra que os consumidores não podem trocar os fornecedores de produtos como energia e água e, portanto, as dicas para economizar tratam sempre de usar menos, fechar a torneira ou apagar a luz, por exemplo.
“Ninguém pode trocar a empresa que fornece energia e a água da sua casa, nem deve substituir o gás por querosene ou álcool, pelo risco de queimaduras e até mortes. Com a alta desses produtos e dos alimentos, que pararam de subir, mas num patamar ainda elevado, o poder de compra dos pobres cai. Já as classes altas, pelo rendimento que possuem, não sentem tanto esses reajustes”, diz Adriana.
“Quem ganha um salário mínimo (R$ 1.212) compromete 10% ou mais de sua renda num botijão de gás; quem ganha R$ 12 mil, dez vezes mais do que o mínimo, compromete apenas 1% do seu orçamento”, explica a técnica.
De acordo com o IPEA, os produtos que mais pesaram no bolso da classe mais alta foram a gasolina (42,7%) e do etanol (55%).
Mesmo os sem-casa e sem-carro sofrem com alta dos preços
Apesar de não precisar gastar com combustíveis, gás de cozinha e tarifa de energia por viver numa casa oferecida por uma Organização não Governamental (ONG), no bairro da Santa Cruz, zona sul de São Paulo, a vida de Mariayde Veloso, de 38 anos, separada, mãe de dois filhos, de 18 e 15 anos, só piorou no último ano.
Mary, como é conhecida, tinha casa e cursava pedagogia, que acabou por não terminar. Sem emprego, perdeu tudo e foi acolhida pela ONG que oferece hospedagem coletiva, mas os itens de higiene e alimentação são por conta dela, que atualmente sobrevive com algumas faxinas esporádicas.
A sua maior preocupação é com o filho mais novo que tem sérios problemas de obesidade e fazia tratamento gratuito com um renomado hospital privado, a partir de um convênio com o SUS. Sem o tratamento ele engordou novamente, apesar da dieta rigorosa que faz.
Mary teve que mudar alguns itens da alimentação do filho por causa do preço. Cortou o suplemento da manhã, não pode mais comprar pera e uvas e a geleia sem açúcar. O seu orçamento também não cobre o salmão e o atum grelhado, nem mesmo o ovo cozido que a criança precisa, por terem gorduras não saturadas, pois tudo o que ele come vai para a corrente sanguínea muito rapidamente.
“Eu como só o arroz com feijão e alguma mistura que a ONG oferece, mas gasto, no mínimo R$ 700 com a alimentação do meu filho. Para piorar o meu mais velho está com problemas de autoestima e eu ando deprimida, necessitando de remédios”, conta.
Até mesmo o antigo Bolsa Família ela perdeu em outubro passado, na mudança para o Auxílio Brasil, e tem de esperar até o próximo mês de março para ver se consegue retomar o benefício.
“Nós tínhamos casa, o nosso cantinho, e com tudo tão caro, sem emprego, só me resta ir à luta, manter a esperança e rezar por dias melhores”, diz Mary.
Dicas são para usar ou comprar menos ou deixar de usar ou comprar
A situação das famílias mais pobres se agravou tanto que até mesmo veículos de imprensa conservadores têm buscado dar informações sobre como economizar. Na edição da última segunda-feira (14), o colunista Claudio Considera ex-diretor do Ipea, usou seu espaço no jornal O Estado de S. Paulo para dar dicas de como economizar, entre elas, como disse Adriana, usar menos energia, deixando o carro em casa e até tomando menos café, que acumula alta de 56,87% nos últimos 12 meses.
Confira as dicas do economista:
Economize ao máximo no gasto de energia elétrica (por exemplo, tomando banho frio nestes meses mais quentes do ano);
Caminhe, pedale sua bike ou use transporte público;
Planeje suas compras de supermercado. Não compre itens que não estejam programados; Opte por frutas e legumes da estação.
Modere o consumo de café (fará bem ao bolso e à saúde), bem como o de óleo de soja;
Não abra o forno durante o preparo do alimento, e use mais a panela de pressão para economizar gás de cozinha;
Cuidado com os pequenos gastos! Normalmente, não ligamos para pequenas despesas, que, somadas, podem afundar nosso orçamento.
Confederações filiadas à Central exigem revogação da medida que reduz tempo de isolamento em casos confirmados e suspeitos de Covid. Portaria vai contra proteção à vida, diz secretaria de Saúde da CUT
A CUT e confederações afiliadas entraram com uma liminar no Supremo Tribunal Federal (STF) para que a Corte anule a Portaria n° 14, de 2020, publicada pelo Ministério da Saúde no dia 25 de janeiro. A portaria reduziu o tempo de isolamento de 14 para 10 dias em casos de confirmação ou suspeita de infecção pela Covid-19 e para os que tiveram contato com pessoas diagnosticadas com a doença.
A portaria ainda flexibilizou esse prazo de acordo com os sintomas apresentados pelos pacientes. O período de isolamento pode ser reduzido para sete dias, caso o trabalhador confirmado ou suspeito não apresente febre por 24 horas ou sintomas respiratórios, sem nenhuma previsão de realização de novos exames.
O objetivo da liminar é proteger a vida dos trabalhadores e trabalhadoras, pois a pandemia não acabou e milhares de pessoas estão se infectando e morrendo todos os dias, justificam os autores da ação. Ontem, o país voltou a registrar mil mortes em 24 horas.
“Sem nenhum embasamento científico, essa portaria veio para colocar em risco a vida dos trabalhadores”, afirma a secretária de Saúde do Trabalhador da CUT, Madalena Margarida Silva.
“Além de dizer respeito ao período de isolamento, também altera um ponto da portaria anterior, de 2020, que tratava dos protocolos de segurança dentro das empresas, como distanciamento, higienização, fornecimento de máscaras”, completou a secretária.
Os protocolos e recomendações da Organização Mundial da Saúde (OMS) continuam tendo como regra o isolamento mínimo de 14 dias, para conter o avanço das contaminações, em especial, nessa nova onda causada pela variante ômicron, que tem potencial de transmissibilidade maior que as variantes anteriores, ressalta Madalena.
Uma das alegações dadas pelo Ministério da Saúde para editar a portaria se refere ao período em que infectados transmitem o vírus para outras pessoas. Novamente, sem embasamento científico o Ministério considerou que após o sexto dia não há mais risco de transmissão.
“Isso é falso e perigoso. Vários estúdios, inclusive certificados pela OMS, provam o contrário. Um deles, recentemente feio pelo Instituto Nacional de Doenças Infecciosas do Japão constatou que o pico da carga viral ocorre entre o terceiro e o sexto dia. A partir do sétimo diminui a carga, mas isso não quer dizer que o paciente não transmita”, critica a secretária de Saúde do Trabalhador da CUT.
E, nestas situações, ela prossegue, o trabalhador sai do isolamento e passa a usar o transporte público, lida com familiares e colegas de trabalho e o vírus continua se proliferando.
A ação
Além da CUT, subscrevem a ação a Confederação Nacional dos Trabalhadores na Indústria da Alimentação (Contac), a Confederação Nacional dos Metalúrgicos da CUT (CNM), a Confederação Nacional dos Trabalhadores no Sistema Financeiro (Contraf-CUT), a Confederação Nacional dos Trabalhadores no Comércio e Serviços (Contracs) e a Confederação Nacional dos Trabalhadores Públicos Municipal (Conatram).
“As entidades embasaram seus pedidos na violação aos preceitos fundamentais relativos ao direito social à saúde e ao direito fundamental à vida das trabalhadoras e dos trabalhadores e suas famílias”, diz o advogado Antônio Megale, sócio do LSB Advogados e assessor jurídico da CUT, para explicar o risco a que estão expostos trabalhadores e trabalhadoras.
“A portaria padece de qualquer motivação, que é critério exigido pela Lei nº 9.784/99, quando atos administrativos negarem, limitarem ou afetarem direitos ou interesses”, diz ele, se referindo aos direitos dos trabalhadores, de proteção contra os efeitos da Covid-19, que são atacados pela portaria.
Para Madalena, o motivo maior de o governo ter baixado a portaria é atender aos interesses dos empresários em manterem a produtividade, o lucro, acima de qualquer coisa, “inclusive acima do direito à vida dos trabalhadores”.
Para Antônio Megale, a expectativa sobre a ação é de que o STF atenda aos pedidos das entidades e suspenda os efeitos da portaria, inclusive tendo como norte sua própria jurisprudência, ou seja, decisões anteriores.
“O Tribunal, em novembro de 2020, ao julgar a ADI [Ação Direta de Inconstitucionalidade] nº 6.421, decidiu que decisões administrativas e atos de agentes públicos relacionados à proteção à vida, à saúde e ao meio ambiente devem observar normas e critérios científicos e técnicos, tal como estabelecidos por organizações e entidades internacional e nacionalmente reconhecidas”, explica o advogado, que aponta de foram enfática: “Claramente, a Portaria nº 14 não segue tais critérios”.
Ambiente de trabalho seguro e ação sindical
A secretária de Saúde da CUT reforça que um ambiente seguro é necessário para evitar o contágio e, por isso, manter protocolos como o isolamento de 14 dias, o distanciamento entre uma pessoa e outra, a higienização do local e o fornecimento gratuito de mascaras é via de regra.
“As empresas têm que testar seus trabalhadores também. Se deu positivo, 14 dias de isolamento. Se for pra retornar, não pode ter sintomas e tem que ter teste negativo. Não pode simplesmente jogar os trabalhadores aos risco de pegar e transmitir Covid no local e no caminho para o trabalho. É orientação da OMS”, diz Madalena.
Para ela, a ação contra a portaria é necessária pra manter a segurança, mas é papel dos sindicatos estarem atentos para garantir a emissão dos Comunicados de Afastamento do Trabalho, conhecidos como CAT´s.
“Sindicatos têm que agir para que as empresas emitam os CAT´s nos casos de positivados. Isso serve para estabelecer o nexo causal e classificar a Covid como doença do trabalho”, ela explica.
Caso a empresa não se preste a esse papel, ela diz, “é possível ser emitido pelo sindicato de cada categoria ou pelo próprio trabalhador, no site do INSS”.
Ela cita ainda a importância do CAT para as sequelas que ficam após a Covid como problemas respiratórios, musculares e até problemas psíquicos como ‘esquecimento’ e depressão.
A escritora Márcia Camargos fala sobre o legado, a importância e as contradições do evento modernista
Nara Lacerda e Afonso Bezerra/Brasil de Fato | São Paulo (SP) | 17 de Fevereiro de 2022
É possível dizer que o centenário da Semana de Arte Moderna de 1922 vem levantando debates e críticas que, de certa forma, rememoram alguns dos questionamentos que o evento recebeu quando foi realizado, mas acrescentam novos e importantes pontos à discussão.
Idealizado por artistas que se tornaram símbolo do modernismo brasileiro, o acontecimento ambicionava romper com a linguagem tradicional da época e retratar uma identidade genuinamente brasileira. Mas, já na época, foi muito questionado.
Da parte dos conservadores, vinham críticas à estética modernista, sendo a Semana classificada por eles como “um escândalo” e “um fracasso”. Além disso, mesmo contradições que parecem estar em pauta apenas atualmente já eram apontadas.
Quatro anos após o evento, o jornal Getulino, que defendia os direitos da população preta, publicou um artigo criticando as relações entre o modernismo e a elite cafeeira. O texto cita a Semana de Arte Moderna, que foi patrocinada por barões do café.
Em 1942, o próprio Mário de Andrade afirmou que o movimento do qual participou falhou em captar a realidade e não buscou “revolta” contra a situação da época. Nesse mesmo sentido, a falta de diversidade e de representação popular do encontro de artistas também foi apontada décadas depois, levantando análises até hoje.
O aniversário de 100 anos do evento vem acrescentando outras pautas à análise crítica do movimento. Em entrevista ao programa Central do Brasil, parceria do Brasil de Fato com a TVT, a escritora e pesquisadora Márcia Camargos fala sobre esses acréscimos ao debate sobre a Semana de Arte Moderna.
Autora do livro Semana de 22 – Entre Vaias e Aplausos, ela é taxativa ao afirmar, no entanto, que os questionamentos não diminuem a importância e o legado da Semana para a arte e a cultura brasileiras. “A Semana de 22 teve uma importância muito grande, e a prova disso é que nós estamos aqui debatendo, passados 100 anos”, destaca.
Leia a íntegra da entrevista a seguir.
Brasil de Fato: 100 anos depois, estamos debatendo e relembrando as cenas da Semana de Arte de 22, mas ao que parece ela não foi tão recebida na época, Como foram essas reações?
Márcia Camargos: Para quem [ainda] está celebrando 100 anos depois, realmente fica difícil entender que, na época, ela era vista como uma coisa de grã-fino. Foram poucos os jornais que noticiaram seguidamente. Isso mudou a partir do segundo sarau, quando Oswald de Andrade teria arregimentado os estudantes de Direito do Largo São Francisco para vaiar e dar o tom do contra, porque estava achando aquilo tudo muito monótono. A partir da segunda noite, os jornais que estavam reticentes a falar sobre o evento foram obrigados a falar sobre o assunto, nem que fosse para criticar.
O mais interessante é que, apesar de os modernistas — que na época não eram conhecidos como tal, eles eram os “futuristas” — estarem buscando essa questão da identidade nacional, das raízes brasileiras e renegarem tudo o que vinha de fora, foram as revistas das comunidades alemã e italiana que fizeram as matérias mais equilibradas e ponderadas sobre a Semana de 22.
O que a Semana produziu de tão relevante? O que trouxe de novo para as artes e a cultura brasileira?
A Semana em si foi o primeiro grito público, o primeiro ato público do que viria depois a ser definido como modernismo. Ela foi o estopim desse movimento que surgiu depois, ao longo da década de 1920, através das várias revistas que surgiram, como a Klaxom, Terra Rocha e Outras Terras e todos aqueles manifestos, como Pau Brasil, da Antropofagia e mesmo o Verde e Amarelo, um movimento que era ligado aos participantes que deram uma guinada para a direita, ao contrário de outros que foram para a esquerda. Oswald de Andrade, a Tarsila do Amaral, já em 1928, abraçaram a causa dos trabalhadores e toda a questão dos movimentos operários.
O que precisa ficar bem claro é que a Semana de 22 é uma coisa, e o modernismo é outra, ele é o desdobramento deste evento que aconteceu no Teatro Municipal. Evidentemente, a Semana não teria fincado raízes, e nós não estaríamos aqui, conversando sobre ela após um século, se ela não tivesse deixado sementes, se ela não tivesse uma essência muito forte e não tivesse colaborado para uma mudança radical nos rumos das artes e da produção cultural brasileiras, tanto em termos de literatutra, quanto de artes plásticas e música.
Quais foram essas sementes da Semana?
Mais do que a Semana, o modernismo contribuiu para romper com uma série de paradigmas. Um deles foi essa diferença entre nacional e estrangeiro. Eles conseguiram, através da antropofagia, mostrar e chegar à conclusão de que nós poderíamos produzir uma arte brasileira, sem deixar de fora aquelas contribuições dos europeus, por exemplo. Mesmo porque a gente precisa lembrar que, durante o ano da realização da Semana de 22, um terço da população economicamente ativa da cidade de São Paulo era formada por imigrantes.
Uma outra coisa que a Semana de 22 tinha ignorado, a produção popular, o repertório negro, foi sendo depois incorporada às produções dos próprios modernistas. Nas viagem da Tarsila do Amaral ao interior de Minas gerais, ela chegou à conclusão de que aquelas cores vibrantes dos casarios não eram pejorativamente caipiras, eram cores tropicais que deveriam ser valorizadas. Então, tudo isso que esteve ausente na Semana de 22, como essa diversidade, esse olhar popular, isso tudo foi incorporado ao longo da década de 20.
Por que São Paulo foi o palco do evento?
No livro Entre Vaias e Aplausos, que eu escrevi quando a Semana completava 80 anos, eu já abordava alguns problemas da Semana de 22 que agora vieram à tona. Por exemplo, ter sido um evento excludente e elitista. Eu também falava que a Semana ocorreu em são Paulo, e não no Rio de Janeiro, que era a capital federal e reunia a maior parte dos artistas e produtores culturais, por causa da imigração.
São Paulo recebeu essa injeção de estrangeiros quase do dia para a noite. Dentro, inclusive, daquele propósito de embraquecimento da população. De uma hora para outra, a cidade recebeu toda essa massa de imigrantes, sobretudo italianos. Nas ruas se falava uma mistura de paulista com italiano. Essa injeção cosmopolita fez com que a Semana de 22 acontecesse em São Paulo, e não no Rio de Janeiro.
Teve uma outra questão muito importante, que foi o desejo das elites de colocar São Paulo no mapa cultural do Brasil. Porque, até então, as companhias líricas faziam roteiros em Buenos Aires, Rio de Janeiro, talvez até Fortaleza e alguma outra capital do Nordeste e ignoravam solenemente São Paulo.
Então, aquilo era um ofensa para a elite dirigente, para a elite cafeeira, que não se conformava que São Paulo, que já era o principal polo econômico do Brasil e tinha essa vocação da locomotiva do país, fosse ignorada pelas companhias. Então, eles, ao longo da década de 1910, dotaram a capital de equipamentos culturais, para que ela cumprisse sua vocação de metrópole. Um exemplo é a inauguração do Teatro Municipal. Houve realmente esse esforço dessa burguesia endinheirada de bancar esse evento para colocar São Paulo no mapa cultural do Brasil.
Recentemente, o escritor Rui Castro publicou um texto no jornal Folha de S.Paulo que busca, de certa forma, desmistificar a memória sobre a Semana, dizendo que ela não era tão revolucionária como parece e que seus personagens estavam mais alinhados à política conservadora do café com leite, da primeira república ou república velha. Como a senhora avalia esse ponto?
A história é dinâmica, precisa sempre ser vista e revisitada, mas o que o Rui Castro se arvora a dizer como se fosse a grande novidade é coisa velha. É coisa que não apenas eu falava há vinte anos. Araci Amaral e outras e outros historiadores e estudiosos do assunto já vinham, dizendo que a Semana de 22 foi elitista, excludente.
Muito dessa mitificação em torno da Semana foi feita por grupos ligados à Universidade de São Paulo (USP), que o Rui Costa chama, inclusive, de “a indústria da USP”. Intelectuais de muito peso, que transformaram a Semana em um divisor de águas da cultura brasileira, e nunca foi isso. Nós estamos batendo nessa tecla há anos e anos.
Agora no centenário, a gente acrescenta outras questões. Por exemplo, a diversidade de gênero. A gente precisa lembrar que a Semana não conseguiu superar as fronteiras da sociedade patriarcal do período. No palco, para 14 homens havia apenas duas mulheres, Guiomar Novaes e Yvonne Daumerie, que é uma bailarina sobre quem muito pouco se conhece.
Na exposição de artes aberta no saguão, havia dez homens e apenas Anitta Malfati e Zina Aita. Para cerca de trinta participantes, havia apenas quatro mulheres, o que faz mais ou menos 10% de participação feminina, algo que hoje seria muito criticado.
Mas, a favor da Semana de 22, a gente tem que acrescentar que ela foi um evento que aconteceu no improviso e por acaso. Não houve um planejamento de anos. Para termos uma noção concreta, tudo começou em novembro de 1921 para um evento que aconteceu em fevereiro de 1922. Nem três meses se passaram. Um evento dessa envergadura, hoje em dia, o projeto começaria um ou dois anos antes.
Então, ela foi feita de uma forma espontânea, improvisada. Por isso também houve essas ausências do repertório negro, da produção cultural popular. O violão, por exemplo, que [Heitor] Villa-Lobos já tocava tão bem, ficou de fora. Enfim, a gente pode citar várias falhas da Semana de 22, o que não lhe tira a importância, o impacto, nem a vocação revolucionaria.
Quem são os personagens da Semana de 22 que permanecem na memória sobre o evento?
Os principais personagens seriam Oswald e Mário de Andrade, pela obra poética. Anita Malfatti ficou um pouco esquecida e poderia ter sido uma das grande herdeiras do modernismo. Mas, ao contrário da Tarsila [do Amaral] — que seguiu Oswald de Andrade nos movimentos Pau Brasil, da Antropofagia e mesmo essa virada a esquerda, com aquele quadro dos operários —, Anita recuou. Ela efetuou um retorno à ordem e abandonou aquelas pinceladas vigorosas que tinham encantando seus amigos artistas.
Também Di Cavalcanti desenvolveu uma carreira importante. Vicente do Rego Monteiro, que alguns estudiosos dizem que foi um dos nomes mais criativos, revolucionários e inovadores da exposição, embora depois tenha dado uma guinada à direita, inclusive simpatizando com o próprio nazismo.
Sem esquecer também o [Victor] Brecheret, que estava ausente da Semana, mas mandou 12 peças para serem expostas. A Tarsila do Amaral não expôs na Semana de 22. Ela estava em Paris na época, preocupada em enviar uma obra para o Salão Oficial de Artistas Franceses, de um caráter bastante conservador. Mas ela se tornaria uma das musas do modernismo, justamente porque, ao lado de Oswald de Andrade, que se tornaria seu marido, fez uma carreira brilhante e inovadora, deixando uma produção belíssima.
100 anos depois de realizada, que legado a Semana deixa para a construção da identidade brasileira e para a cultura popular?
A Semana de 22 teve uma importância muito grande, e a prova disso é que nós estamos aqui debatendo, passados 100 anos. As grandes contribuições seriam essa ruptura, essa questão do popular e do erudito, que você pode unir em uma coisa só. Também a antropofagia, que Antônio Cândido diz que é uma das criações mais brilhantes da dialética modernista. Aquilo de você deglutir o que vem de fora para produzir uma arte autenticamente brasileira.
Nessa busca da identidade nacional, você não precisa renegar a contribuição do estrangeiro, o que hoje em dia seria impossível. A questão do centro e da periferia. Porque não só a arte é feita por uma elite, mas também há essa grande contribuição dos movimentos que não pertencem à elite, mas têm dado sua contribuição.
Movimentos que estiveram ausentes da Semana de 22, mas foram incorporados ao longo da década de 20. Hoje, nós temos essa grande contribuição dos movimentos da periferia, das favelas, do movimento negro, LGBT, que hoje estão ocupando o centro do palco. Isso eu acho que começou muito lá atrás, com a Semana de 22.
A sede e subsedes do Sintufrj estão recebendo as doações para os desabrigados no município em consequência do temporal. Ajude!
Em 11 de janeiro de 2011 a Região Serrana teve a sua maior catástrofe em decorrência de uma forte chuva de apenas três horas. Água e lama desceram pelas encostas numa intensidade atípica, devastando cidades e matando famílias inteiras. Mais de 900 pessoas morreram.
Onze anos após a essa tragédia, na terça-feira, 15 de fevereiro de 2022, a aprazível Petrópolis, cidade do Museu Imperial, do Palácio de Cristal e do Quitandinha, sofre novamente um revés dessa magnitude.
Petrópolis registrou em apenas seis horas uma quantidade de chuva maior do que a média esperada para todo o mês, segundo o Centro Estadual de Monitoramento e Alerta de Desastres Naturais (Cemadem). A Cidade Imperial ficou sob lama e o Corpo de Bombeiros ainda não sabe precisar o número de vítimas.
Mortes e destruição
Ao menos 78 pessoas morreram com as fortes chuvas desta terça-feira em Petrópolis, além de inundações e queda de barreiras em diversos pontos do município. O número de mortos pode subir em razão de haver pessoas ainda soterradas em vários pontos da cidade. O imenso volume de água em apenas seis horas causou rapidamente o transbordamento dos rios Quintandinha e Piabanha. As regiões do primeiro distrito foram as mais afetadas, sendo o Alto da Serra uma das localidades mais devastadas e o Morro da Oficina o mais atingido. Sob ele calcula-se que há o maior número de vítimas. Mais de 370 pessoas foram acolhidas em abrigos improvisados. E no IML familiares das vítimas se concentram para identificar os corpos.
Logo no dia seguinte a devastação, quarta-feira, 16, o cenário era de terror. Morros vieram abaixo, carregando pedras do tamanho de carros; veículos ficaram empilhados com a força da correnteza; vias importantes foram bloqueadas por ônibus e carros abandonados, dificultando o acesso aos desabrigados. Os corpos de vítimas arrastadas pela enxurrada começaram a aparecer em ruas do Centro da cidade quando a água baixou. A Rua Teresa, tradicional centro comercial petropolitano, amanheceu sob muita lama, água, galhos e veículos arrastados pela enxurrada. Grande parte da cidade ficou sem luz e água. A Prefeitura decretou estado de calamidade pública e equipes de resgate trabalham na remoção dos escombros.
Corrente de solidariedade
A Defesa Civil informou que 25 escolas estão funcionando como ponto de apoio. Nesses locais, a população recebe o suporte de assistentes sociais, profissionais de saúde, educação, agentes comunitários, além da própria Defesa Civil. Numa forte corrente de solidariedade a população do Rio e de diversas cidades se mobiliza para ajudar as famílias que perderam seus entes queridos e estão desabrigadas.
O Sintufrj está junto nesta corrente de solidariedade, ainda mais que entre os moradores de Petrópolis encontram-se parentes e amigos de servidores da UFRJ. A sede e subsedes da entidade estão recebendo doações para serem levadas à Petrópolis.
Buscas desesperadas
Mulheres e homens usam pás e enxadas para revirar os escombros na tentativa de encontrar familiares. “Estamos chocados. Moramos aqui há três anos e vou retornar a morar no Rio. Não há mais condições de ficar por aqui. Amanhã, quinta-feira, levo meus netos para a avó materna e vou procurar um local para morar”, disse o administrador hospitalar do Instituto de Neurologia Deolindo Couto (INDC), Leonel Martins Júnior.
Ele mora no Bingen, bairro da zona oeste da cidade que não foi destruído, mas a força da água assustou a família. O Rio próximo a sua casa subiu quatro metros e suas águas misturaram-se às águas que jorravam do morro.
“No centro de Petrópolis, no Alto da Serra e em outros bairros foi um terror. Nesses locais precisam muito de ajuda, mas, para nós a situação só causou muita preocupação, inclusive pelos amigos que moram em outros bairros que foram muito atingidos. Estamos entregando doações e ajudando a quem podemos”, informou Leonel.
A aposentada da UFRJ Leila Castro, que mora há seis anos em Itaipava, distrito de Petrópolis, contou que, felizmente, a chuva não atingiu a região, mas a tragédia, segundo ela, deixou o coração de todos apertados. “Todos se lembram da catástrofe de 2011 e corroboram com a dor das famílias atingidas em Petrópolis”, lamentou a servidora.
“Estamos muito tristes. A situação é terrível. Tudo devastado. E a gente pensa como essas famílias vão sobreviver. Não sei como vai ser reconstruir tudo. O que me consola é que por conta do passado a mobilização para ajudar está sendo rápida. Temos muitos pontos de doações”, constatou Leila.
Recursos para manutenção, investimentos e bolsas caíram de R$ 6 bi para R$ 5,3 bi de 2019 a 2022
Vinicius Konchinski/Brasil de Fato | Curitiba (PR) | 16 de Fevereiro de 2022
O presidente Jair Bolsonaro (PL) iniciou o último ano de seu mandato sancionando um orçamento para universidade federais 12% menor do que aquele reservado às instituições no primeiro ano do seu governo.
Em 2022, as universidades federais terão R$ 5,33 bilhões disponíveis para investimentos, manutenção e bolsas estudantis. O valor é 18% maior do que os recursos destinados às instituições em 2021: R$ 4,51 bilhões.
Ainda assim, é menor do que o orçamento para universidades sancionado pelo próprio Bolsonaro dias após tomar posse como presidente da República, em 2019: R$ 6,06 bilhões.
Desde 2019, a inflação medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), calculada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), ultrapassa os 20%. Considerando esse índice e o orçamento de 2019, a Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes) aponta que o montante reservado às universidades deveria ser de pelo menos R$ 7,2 bilhões para que mantivesse sua capacidade de compra. Atualmente, ele é 25% menor que isso.
As contas são referentes só ao orçamento discricionário das universidades. Por lei, o governo é obrigado a transferir às instituições recursos para pagamento de salários, por exemplo. Isso está dentro do orçamento chamado de obrigatório. Já o discricionário é o que vai às universidades e que cabe a elas administrar.
De acordo com Marcus Vinicius David, presidente da Andifes, a redução acumulada desse orçamento já acarretou no corte de bolsas de iniciação científica pagas a alunos, na redução de ações para assistência de estudantes mais pobres e no sucateamento de estruturas.
“No caso da minha universidade, nós tivemos que demitir mais de 300 trabalhadores terceirizados, reduzimos o valor das bolsas pagas a estudantes e o número de bolsas foi cortado”, disse David, que também é reitor da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF). “A universidade tinha R$ 40 milhões ou R$ 50 milhões por ano para investimento. Hoje, nós temos R$ 3 milhões.”
Na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), o prédio da reitoria precisa de uma reforma em suas instalações elétricas, mas a instituição não tem recursos para isso. Segundo a UFRJ, há risco de incêndios.
Em 2019, a UFRJ tinha um orçamento discricionário de R$ 389 milhões. Em 2022, tem R$ 329 milhões, e ainda cerca de R$ 20 milhões em contas de 2021 que terão de ser pagos com recursos deste ano.
Presencial vira problema
David afirmou que a redução do orçamento das universidades mantém uma tendência de queda desde 2016. Ele disse que isso está ligado a um contexto político favorável à austeridade fiscal, que surgiu no segundo mandato de Dilma Rousseff (PT) e ganhou força com a chegada de Michel Temer (MDB) à Presidência e a eleição de Bolsonaro.
Em 2015, as universidades federais chegaram a receber R$ 7,86 bilhões para administrarem. O orçamento de 2022 é 32% menor.
David ressaltou que, de 2019 em diante, os cortes começaram a inviabilizar o trabalho das instituições. Em 2020, a pandemia fez com que universidades adotassem o ensino remoto, o que acabou suavizando o impacto dos cortes.
Em 2022, no entanto, a expectativa é que todas as universidades retomem suas aulas presenciais. Aí, a falta de recursos para manutenção e principalmente para apoio a alunos mais carentes pode fazer diferença.
“Estamos muito temerosos de descobrir, com o retorno presencial, um crescimento muito grande da evasão”, afirmou David, citando a dificuldade que alunos possam vir a ter para manterem-se presentes nas universidades sem a assistência dela.
O presidente da Andifes disse que representantes da Universidade Federal do Piauí (UFPI) já manifestaram preocupação com a evasão neste ano. Lembrou que a Universidade Federal de Goiás (UFG) teve muita dificuldade para sua manutenção em 2021.
O pró-reitor de Planejamento, Desenvolvimento e Finanças da UFRJ, Eduardo Raupp, ratificou a preocupação com o retorno das aulas presenciais em entrevista concedida ao jornal da própria universidade.
“O ano de 2022 será de desafios”, declarou. “A volta das aulas presenciais fará com que as despesas com manutenção básica tenham um aumento significativo. Ainda é difícil prever como faremos este equacionamento.”
STF cobra informações
Na semana passada, o ministro Luís Roberto Barroso, do Supremo Tribunal Federal (STF), determinou que o Congresso Nacional e o Ministério da Educação (MEC) apresentem, em até 10 dias, informações sobre cortes realizados no orçamento das universidades federais. A determinação foi feita após o Partido Verde (PV) ingressar com uma ação na Suprema Corte para evitar o colapso orçamentário e a pane administrativa das instituições.
David, da Andifes, disse que as universidades sofrem também com corte de orçamento de instituições que fomentam a pesquisa, como a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes). O órgão teve, em 2019, R$ 4,19 bilhões a sua disposição. Em 2022, tem R$ 3,83 bilhões reservados no Orçamento da União. O valor, contudo, ainda pode ser suplementado.
Também são afetadas pelos cortes em orçamentos da Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh), que presta serviços de saúde à população usando a estrutura de hospitais universitários federais. Neste ano, Bolsonaro vetou R$ 100 milhões em recursos do Orçamento da União que seriam destinados à empresa.
Para David, isso tudo demonstra a falta de sensibilidade do atual governo com o Ensino Superior. E disse que isso deve comprometer o desenvolvimento do país por anos.
“O Brasil é um país que, para dar um salto econômico e social, precisa de investimento em Educação. Da básica à superior”, disse. “Quando o governo não demonstra sensibilidade com a educação, ele demonstra miopia com o projeto de desenvolvimento da nação.”
David ressalta que, apesar dessa falta de sensibilidade e dos cortes orçamentários, as universidades federais não irão fechar.
“A gente podia parar tudo, mas a preocupação é que talvez seja este o projeto [do atual governo]”, afirmou. “Vamos resistir e manter as universidades funcionando a todo custo.”
A necessidade do home office, da manutenção do distanciamento social e de diversas medidas para evitar a disseminação da Covid-19 levou a uma nova relação de trabalho, muitas vezes não respeitada por empresas e chefias.
No primeiro semestre do ano passado, os relatos de assédio moral e sexual registraram a marca de 31 mil denúncias, em 347 empresas. O índice representa quase o triplo dos anos de 2019 e 2020, que, considerando os 12 meses do ano, atingiram as marcas de 12.349 e 12.529 casos respectivamente. O levantamento é da Consultoria de gestão de riscos e compliance ICTS Protiviti, que recebe denúncias em empresas.
Esse crescimento no número de denúncias também foi sentido pelo Tribunal Superior do Trabalho (TST) e pelo Ministério Público de Trabalho de São Paulo (MPT-SP). Segundo o TST, entre 2019 e 2021, foram contabilizados 3.049 processos de assédio sexual e 52.936 de assédio moral nas Varas de Trabalho pelo País.
Ainda segundo o TST, nos anos de 2018, 2019 e 2020, houve uma ligeira queda explicada pela reforma Trabalhista e a pandemia.
Chama a atenção, segundo a ministra Maria Cristina Peduzzi, presidente do TST, em entrevista ao Estadão, o fato de que esses tipos de processos haviam caído em 2018, um ano após a reforma Trabalhista de Michel Temer (MDB-SP). Para a ministra, como a reforma determinava que nos casos de perdas dos processos trabalhistas o autor da ação deveria arcar com as custas, houve uma queda naquele ano.
Nos dois primeiros anos da pandemia – 2019 e 2020 -, as chefias das empresas pressionaram mais os trabalhadores por produtividade, mas com o uso de gravações e celulares que facilitam a obtenção de provas digitais aumentou o nível de judicialização dos casos, que para a ministra podem ainda estar subnotificados.
Assédio moral também aumenta em SP
A capital paulista, e as cidades Guarulhos, Barueri, região do ABC, Baixada Santista e Mogi das Cruzes juntas foram responsáveis por um aumento de 51,4% nas denúncias. Foram 554 queixas registradas em 2021, contra 366 em 2020. Em todo o estado de São Paulo, houve um crescimento de 28,9% nos registros por assédio moral. De 896 passou para 1155.
As denúncias mais comuns, segundo o MPT-SP, são as cobranças de metas inatingíveis, a recusa em deixar o trabalhador em home office, práticas antissindicais, ameaças de demissão, são formas de assédio moral que levam ao constrangimento e humilhação do trabalhador.
“Muitas vezes essa pressão exacerbada sobre o trabalhador é confundida com disciplina. E não se confundem as duas situações. A gente tem situações de violência quando essa prática atinge níveis inaceitáveis e geram danos ao trabalhador – patrimoniais, físicos, psicológicos – e repercutem de uma maneira muito negativa no ambiente de trabalho, aumentando a rotatividade e o adoecimento de todo o grupo”, disse ao G1, a coordenadora nacional de promoção da igualdade e de oportunidades do MPT, Adriane Reis de Araújo.
MPT-RS dá prazo de 90 dias para Caixa fazer campanha contra assédio no banco
As denúncias de assédio sexual e moral na Caixa Econômica Federal (CEF) levaram o Ministério Público Federal do Rio Grande do Sul (MPT-RS) a protocolar uma recomendação para que em 90 dias, o presidente da Caixa Econômica, Pedro Guimarães, elabore uma campanha publicitária interna para conscientizar contra o assédio sexual que vem ocorrendo no banco.
A instituição foi condenada a pagar uma indenização de R$ 1,2 milhão por danos morais em decorrência da prática de assédio moral e sexual nos departamentos do banco na Serra Gaúcha, em 2019.
Esta não foi a primeira vez que denúncias de assédio chegam ao público. No ano passado, o presidente da CEF, Pedro Guimarães apareceu em um evento com funcionários fazendo flexões.
À época a Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf-CUT) encaminhou um ofício à Caixa notificando-a do descumprimento da cláusula que impede o ranking de empregados e do assédio moral praticado contra os presentes, que foram obrigados a fazerem flexões de braço durante um evento nacional, realizado de 14 a 15 de dezembro, em Atibaia, São Paulo.
“Durante o ‘Nação Caixa’ foram realizadas práticas que expuseram os empregados a situações constrangedoras, que se transformaram em vexame nacional e até internacional quando vídeos que comprovam a prática ‘viralizaram’ pelas redes sociais e foram noticiados por diversos veículos de imprensa escrita e televisiva”, observou a coordenadora da Comissão Executiva dos Empregados (CEE) da Caixa, Fabiana Uehara Proscholdt.
O ofício da Contraf-CUT observou ainda que a seleção dos empregados participantes levou em conta critérios proibidos pela Convenção Coletiva de Trabalho (CCT) da categoria bancária.
“De acordo com a própria Caixa, a escolha dos(as) empregados(as) para participação no evento considerou ‘critério meritocráticos’, supostamente reconhecendo trabalhadores que se destacaram em 2021. Tal prática é uma forma de ranking, que é proibida na Convenção Coletiva do Trabalho”, diz o ofício.