Expectativa é que nesta semana, a imunização já tenha começado em todas as capitais, respeitando grupos prioritários

Da Redação Brasil de Fato / 19 de Janeiro de 2022 

Radinho BdF vai à campo acompanhar como está vacinação de crianças em postos de saúde da capital paulista – Marcos Moura/ Prefeitura de Fortaleza

Fiquei muito feliz, as crianças vão ficar mais seguras contra o coronavírus

Depois de um ano de espera e de diversas polêmicas, tem início a vacinação de crianças de 5 a 11 anos contra covid-19 no Brasil, um marco histórico para a saúde pública do país. Por isso, a edição de hoje (19) do Radinho BdF faz uma cobertura especial do início da imunização e ouve como os pequenos se sentem ao receber a primeira dose.

“Eu achei que seria pior, mas foi bom. É para não ficar doente de coronavírus”, disse o João Magalhães, que tem 9 anos e foi uma das primeiras crianças vacinadas do país, no Recife.

A expectativa é que até o final da semana, a imunização dos pequenos já tenha começado em todas as capitais do país, respeitando grupos prioritários de crianças com comorbidades, indígenas e quilombolas. O primeiro estado a iniciar a vacinação de meninos e meninas foi São Paulo, na última sexta-feira (14), com a imunização de Davi Xavante, de 8 anos.

Ele é do Mato Grosso, mas mora em São Paulo para fazer um tratamento médico. E por essa condição de saúde e por ser indígena, ele é considerado do grupo de crianças com prioridade na vacinação em diversos municípios.

“Eu estava um pouco nervoso, de emoção e alegria. Eu queria tomar a vacina para ter mais proteção. Estou fazendo isso pela minha aldeia”, disse Davi, em entrevista a emissora CNN.

A maioria dos municípios da região metropolitana de São Paulo também iniciaram a vacinação por crianças do grupo prioritário. Em São Caetano do Sul, quem fez história e se tornou o primeiro menino imunizado da cidade foi o Caio Desotti, uma criança de 11 anos, com Síndrome de Down. “Foi emocionante! A vacina é para a nossa saúde”, disse.

“Fiquei muito feliz, as crianças vão ficar mais seguras contra o coronavírus”, diz Ana Sofia, de 7 anos, indígena do povo Atikume e primeira vacinada de Santo André / Prefeitura de Santo André

E logo depois dele, quem recebeu a dose de esperança na cidade foi o Francesco Olívio, que tem 7 anos. “Eu queria tomar a vacina porque eu quero poder sair na rua e fazer as coisas que gosto de novo”, disse. “Não precisa ter medo de tomar a vacina, porque não dói nada. Quando mais rápido todo mundo se vacinar, mais rápido vamos poder voltar a sair na rua sem máscara.”

Já na vizinha Santo André, também no ABC paulista, a primeira vacinada foi a menina indígena Ana Sofia, de 7 anos, do povo Atikume. “Eu estava muito ansiosa para tomar a vacina. Fiquei muito feliz, as crianças vão ficar mais seguras contra o coronavírus”.
Cobertura especial

O Radinho BdF vai a campo acompanhar como está vacinação de crianças em postos de saúde da capital paulista. O trajeto começou pela Unidade Básica de Saúde de Heliópolis, na zona sul da cidade. Por lá, trabalhadores da saúde montaram uma tenda para atender e vacinar crianças e adultos contra o coronavírus. É

possível cadastrar crianças fora do grupo prioritário na lista de xepa para, caso sobre vacina no final do dia, seja possível adiantar a imunização.

Na sequência, a reportagem segue para a Unidade Básica de Saúde da Vila Carioca. A dica dos profissionais por lá é para os adultos aproveitarem e, quando levarem as crianças para vacinar, completar a imunização contra o coronavírus ou tomar a vacina contra a influenza.

Quem se vacinou por lá foi o Leonardo, de 10 anos. “Eu estava muito ansioso esperando a vacina para me proteger. Eu diria pra as crianças não ficarem com medo que não doí nada”, disse. “Para mim é importante voltar para escola vacinado porque lá a gente pode pegar e eu me sinto mais seguro.”

Davi Xavante foi a primeira criança vacinada do Brasil, em 14 de janeiro, em São Paulo / Governo do Estado de São Paulo

Surpresa na edição

Durante a gravação desse episódio, a apresentadora do Radinho BdF recebeu uma ligação especial: era a enfermeira dizendo que ela poderia levar seu filho, Benjamin, de 11 anos, para se vacinar na xepa.

“Eu estou agora no posto de vacinação. Ligaram para o meu padastro, José, e falaram que tinha sobrado uma vacina para mim”, contou. “Eu tomei minha vacina hoje, as rações ainda não apareceram e quase não senti dor. Tomar vacina não é uma cosia ruim. Espero que agora dê para fazer mais coisas, como ir em parques e que o coronavírus vá indo embora.”

Dúvidas sobre o imunizante

Depois de diversas polêmicas envolvendo o imunizante pediátrico, que foi desacreditado inclusive pelo presidente Jair Bolsonaro, é normal que crianças e seus cuidadores fiquem com dúvidas sobre a vacina. Por isso, o Radinho conversa com uma enfermeira e um especialista em imunização pediátrica para esclarecer dúvidas.

É importante ter em mente que a vacina para as crianças é diferente. Além de ser preparada com ingredientes específicos, o imunizante tem apenas ⅓ da dose dos adultos: enquanto a dose do adulto tem 30 miligramas de vacina e na das crianças tem apenas 10 miligramas. Para que os frascos das vacinas não sejam confundidos, a embalagem das crianças tem tampa laranja e dos adultos roxa.

Por enquanto, o único imunizante autorizado para crianças é do da farmacêutica Pfizer. A vacina Coronavac, do Instituto Butantã, está em análise para ser utilizada em crianças.

Toda quarta-feira, uma nova edição do programa estará disponível nas plataformas digitais. / Brasil de Fato / Campanha Radinho BdF

Sintonize

O programa Radinho BdF vai ao ar às quartas-feiras, das 10h às 10h30, na Rádio Brasil Atual. A sintonia é 98,9 FM na Grande São Paulo. A edição também é transmitida na Rádio Brasil de Fato, às 9h, que pode ser ouvida no site do BdF.

Em diferentes dias e horários, o programa também é transmitido na Rádio Camponesa, em Itapeva (SP), e na Rádio Terra HD 95,3 FM.

Assim como os demais conteúdos, o Brasil de Fato disponibiliza o Radinho BdF de forma gratuita para rádios comunitárias, rádios-poste e outras emissoras que manifestarem interesse em veicular o conteúdo. Para fazer parte da lista de distribuição, entre em contato pelo e-mail: radio@brasildefato.com.br.

Edição: Sarah Fernandes

 

 

 

 

Decisão foi assinada pelo ministro Ricardo Lewandowski e enviada em caráter de urgência às promotorias estaduais

Nara Lacerda/Brasil de Fato | São Paulo (SP) | 19 de Janeiro de 2022

Vacinação de crianças deve ser realizada por ser um direito previsto no Estatuto da Criança, entendeu a Justiça – José Cruz/Agência Brasil

O Supremo Tribunal Federal (STF) determinou que ministérios públicos de todas as unidades da federação fiscalizem pais e responsáveis que se negam a vacinar crianças contra a covid. Assinada pelo ministro Ricardo Lewandowski, a decisão responde a um pedido do partido Rede Sustentabilidade para que conselhos tutelares atuem no processo.

Na resposta à Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) julgada pelo ministro, Lewandowski cita garantias previstas no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). Segundo a lei, é “obrigatória a vacinação das crianças nos casos recomendados pelas autoridades sanitárias.”

O Ministério da Saúde, entretanto, recomendou oficialmente a imunização de forma não obrigatória. Para a Rede, a definição contraria o ECA e fere preceitos fundamentais da Constituição Federal para a proteção de jovens contra a “conduta irresponsável de seus ‘responsáveis’, quando optam por não vaciná-los”.

Lewandowski pediu medidas às promotorias porque o ECA estabelece que o órgão é responsável por promover medidas judiciais e extrajudiciais para garantir cumprimento dos direitos, inclusive “visando à aplicação de penalidade por infrações cometidas contra as normas de proteção à infância e à juventude.”

A decisão judicial sobre a ADPF foi enviada aos estados e ao Distrito Federal em caráter de urgência. 

Edição: Vinícius Segalla

 

 

Assembleia realizada no último dia 15 definiu o novo calendário. Atividades virtuais previstas para ocorrer em janeiro poderão ser transmitidas pelo YouTube do Fórum

Publicado: 19 Janeiro, 2022 – 13h12 | Escrito por: RBA

Imagem: REPRODUÇÃO \ Fórum Social Mundial deste ano pretende fazer uma reflexão sobre os diversos problemas que envolvem

O Fórum Social Mundial Justiça e Democracia (FSMJD) já tem uma nova data. Diante da situação de aumento de casos de covid-19, ocasionados pela variante ômicron, o evento que ocorreria em Porto Alegre (RS) no fim de janeiro, foi adiado para o período de 26 a 30 de abril de 2022. Nesse mesmo período será realizado também o FSMResistencias. O local permanece o mesmo, a cidade de Porto Alegre (RS). 

A organização informa que, caso alguma entidade integrante do FSMJD queira realizar entre 27 e 29 de janeiro atividade virtual já inscrita, poderá divulgá-la nas redes do FSMJD. O evento também poderá ser retransmitido no canal do Fórum no YouTube.

Os interessados deverão entrar em contato com o Comitê Facilitador até 18 de janeiro. “A realização de atividades virtuais não significa a realização do FSMJD, mas tão somente a continuidade do processo de mobilização em curso, sendo certo que qualquer entidade integrante do FSMJD pode promover atividades de interesse do movimento a qualquer tempo”, informam os organizadores. “Será criada uma comissão para tratar de plataformas para realização de atividades virtuais de agora em diante.”

A campanha de doação para a realização do FSMJD continua. Assim como a necessidade de recursos financeiros. “E roga-se às entidades que já pagaram a taxa de inscrição para que não peçam o reembolso, pois a atividade poderá ser realizada em abril e o FSMJD precisa dessa contribuição para continuar seu trabalho de mobilização em prol de outro mundo possível”, explica nota do Fórum.

Transformação

O encontro deste ano pretende fazer uma reflexão sobre os diversos problemas que envolvem o sistema de Justiça. Além de suas conexões com as ameaças que pairam sobre a democracia no Brasil e em vários outros países. Os debates serão feitos em torno de cinco grandes eixos: democracia, arquitetura do sistema de Justiça e as forças sociais; sistema de Justiça, democracia e direitos de grupos vulnerabilizados; capitalismo, desigualdades e mundos do trabalho; comunicação, tecnologias e Justiça; e perspectiva transformadora da Justiça e a centralidade da cultura nesse processo.

Em 2021 o Fórum Social Mundial completou 20 anos. Foi realizado pela primeira vez de forma remota, seguindo o protocolo de realização de eventos durante a pandemia. O tema questionava “Como será o mundo no período pós-covid-19?”.

O Fórum é organizado por associações e coletivos jurídicos, movimentos sociais e entidades progressistas das áreas da Justiça e da Democracia. Entre elas estão: Transforma MP, Associação Brasileira de Juristas pela Democracia (ABDJ), Associação de Advogadas e Advogados Públicos pela Democracia, Associação Juízes para a Democracia (AJD), Coletivo Defensoras e Defensores Públicos pela Democracia e Movimento Policiais Antifascismo.

 

 

O batuku de Cabo Verde e o cordel do Brasil carregam traços semelhantes e a presença das mulheres e dos jovens nos nesses dois ambientes são de grande peso

FONTE: Por Anilza Rocha, Leandro Oliveira, Luana Torres, Olivia Rebeca, Stephani Linard | 19/01/2022

Cada país possui suas próprias expressões culturais. O cordel no Nordeste brasileiro e o batuku na Ilha de Santiago em Cabo Verde contam histórias através de seus ritmos, expressando as ideias de um povo. As mulheres possuem um papel interessante nas duas expressões, simbolizam força e resistência, mas o contexto se dá de forma totalmente diferente. A participação dos jovens também remete a força dessas manifestações, são essenciais para que continuem existindo.

Buscamos compreender em entrevistas a importância das rimas que essas expressões culturais transmitem, enfatizando os papéis das mulheres e dos produtores mirins.

A literatura de cordel

O cordel surgiu no século XVI na Europa e chegou ao Brasil no século 17, com a chegada dos colonizadores portugueses. A região Nordeste é a que mais se utiliza desse gênero literário, que se popularizou entre as décadas de 30 e 60. Tendo começado inicialmente apenas em forma oral, a qual os cordelistas recitavam suas produções com apoio somente de sua memória.

No final do século XIX, temos uma mudança com a dimensão da escrita, os cordéis passaram a ser impressos e também ganharam o gosto de escritores pela forma prática e simples de ser feita: o próprio autor poderia, sozinho, escrever, fazer a capa e comercializar.

Esse estilo de literatura permite que a escrita seja mais livre e desprendida das normas formais da gramática portuguesa, sendo caracterizado pela linguagem composta por traços de oralidade, com rimas que produzem certa musicalidade aos versos. Ele também é bastante reconhecido pelos folhetos pendurados em varais, fáceis de encontrar em feiras de artesanato, bem como a utilização das xilogravuras (que são figuras gravadas na madeira) como forma de ilustração.

Cordéis pendurados-Foto: Acervo Iphan-Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional

O cordel é uma expressão cultural e artística que usa a prática e experiência de homens e mulheres com as rimas, para expor opiniões e críticas contra os sistemas de opressão sociocultural, falar das desigualdades sociais, segregação, racismo, preconceito e dentre outras questões sociais. Além de, claro, muitas outras temáticas, como por exemplo, voltadas para a cultura popular e folclórica regional.

O batuku
Batuku em crioulo (língua regional de Cabo Verde) ou batuque em português é um gênero musical que faz parte da cultura cabo-verdiana, registrada desde o tempo da colonização no arquipélago de 10 ilhas. Formado quase sempre por um grupo de mulheres, conhecidas como “batucadeiras”, que, sentadas, cantam e tocam no que podemos dizer um “pequeno tambor”. Há uma solista que dá início ao batuku e uma batucadeira que fica de pé para dar o ritmo da música, como é o caso do Grupo Tradison de Terra

Infográfico sobre a popularidade do Batuku em Cabo Verde—Dados Ilustrativos – Produzido pela equipe de reportagem

Atualmente, o batuku é bastante valorizado por seu país de origem, sendo considerado como patrimônio de Cabo Verde, com forte presença na ilha de Santiago, maior ilha do arquipélago.

Infográfico sobre a popularidade do Batuku em Cabo Verde—Dados Ilustrativos – Produzido pela equipe de reportagem

Em texto publicado na página Buala, Redy Wilson Lima salienta que as músicas de protesto tiveram um papel central na difusão dos ideais da libertação de Cabo Verde. O batuku era uma dessas expressões e funcionava como um instrumento de resistência ao domínio português, antes da libertação nacional. Redy Wilson Lima ainda afirma que:

“PROCURA CONSCIENCIALIZAR PARA A VIVÊNCIA SOCIOCULTURAL DA COMUNIDADE COM A FINALIDADE DE ESCLARECER E REFORÇAR A VIDA COMUNITÁRIA, ESTIMULANDO A SOLIDARIEDADE SOCIAL, REFORÇANDO A COESÃO SOCIAL E RESISTINDO CULTURALMENTE”.

As mulheres no Cordel e no Batuku
Para as mulheres cabo-verdianas, a prática do batuku tem um significado importante, em que avós, mães, filhas e netas são criadas enquanto mulheres, através da prática do batuku e das experiências compartilhadas.

Embora nem sempre passada de geração em geração, elas aprendem observando outras mulheres e convivendo diariamente com essa manifestação cultural, a qual é muito natural para elas, pois esse é um espaço em que essas mulheres compartilham experiências, cuidam umas das outras e fazem disso um meio de unir forças para enfrentarem problemas, recriar e aperfeiçoarem cada vez mais, diferentes formas de expressão.

Para Teresa Fernandes, representante do Grupo Tradison di Terra, as mensagens que o batuku sempre trazem é daquilo que está mal para ser trabalhado, daquilo que está bem para ser melhorado ainda mais. Clique aqui para acompanhar o áudio da entrevistada, Teresa respondeu em crioulo (língua originária do Arquipélago de Cabo Verde) e a repórter Anilza Rocha realizou a tradução para português.

Teresa Fernandes, representante do Grupo Tradison di Terra— Foto: arquivo pessoal

Em contraponto com as estrondosas vozes femininas dentro da arte do batuku, no cordel, o que ecoou até pouco tempo atrás foi o silêncio. No batuku as mulheres têm um protagonismo maior, pois é a voz delas que dá forma a essa manifestação cultural, sendo uma expressão tradicionalmente feminina, que fizeram grandes nomes como Nha Nácia Gomi e Nha Bibinha Cabral.

Já no cordel, assim como em outros gêneros literários, as mulheres pioneiras foram menosprezadas e desencorajadas. Na escrita, quando o cordel passou a ser impresso, as mulheres tiveram que usar pseudônimos masculinos para publicar suas obras, como o exemplo da paraibana Maria das Neves Baptista Pimentel, que foi a primeira mulher a publicar um cordel com o nome de um homem, se identificando como Altino de Alencar Pimentel, sob o título “O violino do diabo ou o valor da honestidade”. A escritora publicou pelo menos três cordéis, assinando como homem.

A professora Francisca Pereira, mais conhecida como Fanka, poetisa e especialista em literatura brasileira, nos contou a respeito da história de Maria das Neves Pimentel, clique aqui para ouvir o áudio na íntegra.

Paulo Ernesto, que é membro da Associação de Cordelistas do Crato, conta que Leandro Gomes de Barros, um grande editor de cordel, teve boa parte de sua literatura feita por mulheres, mais especificamente pelas filhas dele. Mas se elas escreveram, por que o nome delas não estava na autoria? “A explicação é que naquela época as mulheres não eram valorizadas, ninguém acreditava que mulher pudesse escrever poesia. E mesmo que elas assim fizessem, não vendia”, explicou Paulo.

Apesar disso, Paulo Ernesto ainda nos conta que as mulheres tinham um papel muito importante na divulgação do cordel no séc. XIX. Eram elas que mais aprendiam a ler e a escrever, em comparação aos homens, e, dessa forma, na maioria dos casos eram as mulheres que escreviam o que era dito pelos violeiros e poetas. Assim o material poderia chegar a mais pessoas, já que não tinha gravador acessível na época. Clique aqui e acompanhe o áudio de Paulo Ernesto sobre o assunto.

Professora Francisca Pereira- Foto: acervo pessoal

O silenciamento das mulheres enquanto produtoras intelectuais e culturais é muito comum em uma sociedade patriarcal, e não foi diferente no Brasil. A professora Fanka, afirma que não encontrou nenhuma menção das mulheres quanto à escrita nesse gênero literário quando começou sua pesquisa sobre o cordel, por volta dos anos 90.

“AS MULHERES NÃO ERAM CITADAS, E A PARTIR DAÍ SURGIU MEU TEMA, ONDE EU QUIS TRAZER ESSAS VOZES, TAMBÉM ESQUECIDAS, NA HISTORIOGRAFIA OFICIAL, TRAZENDO AS MULHERES NESSA HISTÓRIA, DESDE AS CANTADORAS, AS REPENTISTAS, E TODAS AS OUTRAS QUE A GENTE CONSEGUIU RESGATAR ATRAVÉS DE BREVES CITAÇÕES EM LIVROS DE FOLCLORISTAS OU MESMO DE POETAS QUE CANTARAM COM ALGUMAS DESSAS”.

Segundo Fanka, em todo tipo de arte é encontrado preconceito, mas isso não impossibilitou que as mulheres escrevessem. Ao longo de quase vinte anos de pesquisa, foram encontradas mais de 200 mulheres que fizeram esse tipo de literatura, em todo o país. A catalogação desse registro resultou no livro chamado “O livro delas: autoria feminina no cordel, cantoria e gravura”, lançado neste ano de 2021.

Cordelista Anilda-Foto: arquivo pessoal

Trazendo para o contexto atual, a cordelista Maria Anilda de Figueiredo, que começou a escrever cordel ainda pequena por influência da avó, carrega muito orgulho de poder repercutir esta prática, e afirma: “quando chego em vez de me identificar como advogada, funcionária do Banco do Brasil, como filha de fulano, seu Antônio Bento e Dona Maroli, como esposa de não sei quem, como mãe das minhas filhas, eu me identifico como cordelista e sou muito bem aceita”.

A cordelista relata que, quando foi fundada a Academia do Cordelista do Crato, contava com dez poetas homens e apenas duas mulheres, mas que hoje as coisas evoluíram e trazem um quadro mais equalizado de membros. Atualmente a academia conta com 9 poetas e 11 poetisas. Anilda ressalta:

“HOMEM E MULHER, ESTÃO AÍ PARA ESCREVER O QUE QUISEREM E O CORDEL É PARA TODOS […] TODO MUNDO ESCREVE, TODO MUNDO LÊ”.

Acompanhe o áudio da entrevista com Anilda na íntegra, ela foi entrevistada pela repórter Luana Torres e até nos deu uma despedida muito saudosa, clique aqui para conferir.

No Cordel
Como toda manifestação cultural, a literatura de cordel e o batuku precisam de novos praticantes para continuar viva. O cordel pode proporcionar aos jovens uma nova forma de enxergar o mundo à sua volta, perceber a cultura no dia a dia, expressar seus pensamentos e reflexões sociais, entre outros. Da mesma forma, a prática do batuku é uma maneira de perpetuar a cultura cabo-verdiana, continuar com um legado que vem desde o período da colonização e que é tão importante para a história do seu povo, especialmente as mulheres.

Aqui no Brasil, Antônio Gonçalves da Silva, mais conhecido como Patativa do Assaré, foi um dos maiores nomes da poesia nordestina. Seu neto, Daniel Gonçalves da Silva, que também é cordelista, comenta que o avô entrou no cordel ainda criança, quando percebeu o talento para a poesia. Para dar continuidade ao legado de Patativa, Daniel começou a escrever as primeiras rimas quando tinha 8 anos de idade, numa parte inspirado pelo avô e em outra, movido pela curiosidade. Hoje, aos 35 anos, o cordelista e poeta que já escreveu grandes obras e participa de festivais em todo o país conta que a inclusão de jovens cordelistas é mais que importante, sendo imprescindível para preencher a lacuna que existe no cordel. “O cordel tem feito uma inclusão muito boa de jovens, mas ainda é um número não significativo. Precisaria ter mais jovens”, explica Daniel.

Clique aqui e acompanhe um pouco mais da fala de Daniel.

A produção dos jovens é essencial para que o cordel possa continuar repercutindo. O poeta Daniel recitou alguns versos de cordel sobre este assunto, clique aqui e confira!

Não são muitos os jovens conhecidos por escrever este tipo de literatura, e essa ausência não significa o fim do cordel, mas dificulta a entrada de novos cordelistas numa das mais antigas expressões culturais do Cariri e da região Nordeste. Segundo Fanka, o discurso da cultura popular é por vezes tido como algo primitivo, rústico, simples, dentre outros adjetivos que acabam por diminuir a sua importância. A partir disso, o folheto de cordel foi colocado como uma “coisa do passado”, o que desestimula e afasta a juventude como um todo.

Dado o fato da falta de incentivo e reconhecimento desses jovens talentos, é preciso que medidas sejam tomadas para reverter a situação. Uma delas, segundo o poeta Daniel, seria uma maior inclusão do cordel na mídia, que, embora já exista, ainda é pequena, o que expressa a necessidade de pautar mais cordelistas. Um exemplo bem conhecido na contemporaneidade é o poeta Braúlio Bessa, que ficou famoso através de suas participações no programa Encontro, da jornalista Fátima Bernardes, da Rede Globo.

Daniel Almeida, neto de Patativa— Foto: arquivo pessoal

A escola tem um papel fundamental para a continuidade do cordel, já que ela constitui um dos principais, senão o principal, espaço de contato dos jovens com esse tipo de literatura. Ouça o que a professora Fanka tem a dizer sobre isso.

Daniel nos conta que o cordel é essencial por abranger diversas temáticas, clique aqui para acompanhar na íntegra. Esse fator acaba dando mais peso para a importância do cordel na escola.

De acordo com uma pesquisa realizada pela equipe de reportagem, dentre um total de 24 jovens entre 18 e 25 anos, 83,3% responderam que tiveram seu contato inicial com o cordel em âmbito escolar, comprovando que esse espaço deve ser usado como ponte e que a partir dele novos talentos da literatura apareçam. Confira os outros dados coletados na pesquisa:

Infográfico sobre o cordel na UFCA-Produzido pela equipe de reportagem

Para a jovem Sabrina Ferreira, de 17 anos, a literatura de cordel é uma forma de expressar suas emoções e também um lugar de superação. Sua história com o cordel deu início em 2018, após ela perder o irmão que na época tinha 1 ano de idade. “Eu fiquei com começo de depressão, então procurei me refugiar em algo que poderia me fazer sentir melhor, foi aí que eu descobri o cordel e comecei a transpassar os meus sentimentos para o papel. Desde esse dia me apaixonei pela literatura de cordel e a poesia”, conta.

Ainda segundo Sabrina, que recentemente concluiu o Ensino Médio, a cada projeto que podia encaixavam com a literatura de cordel, já que era uma área reconhecida no cotidiano da jovem. O principal incentivo veio de sua professora de artes, Priscila, que a apoiava em suas obras.

No Batuku
O professor de dança do Grupo DanFala Dance, Lonny Alves, afirma, em entrevista, que o batuku não tem a mesma força de antes e principalmente não tem a mesma participação ativa dos jovens como se fazia antigamente.

Ex-professor de dança do Grupo DanFala Dance Lonny Alves— Foto: acervo pessoal

“Hoje os jovens, na maior parte, se desligaram dessa herança deixada pelos nossos antepassados. É claro que, por estarmos no mundo onde as culturas se misturam, acabamos absorvendo mais a cultura externa”, completou.

Loony considerou que é preciso promover esta dança, através de palestras culturais e atividades frequentes, que poderão ajudar a “despertar o interesse dos jovens”, clique aqui e acompanhe o áudio do entrevistado na íntegra.

No que tange a questão da discriminação, Teresa Fernandes, que ganhou este ano o prêmio da Melhor Música Tradicional, informou não existir discriminação por parte dos jovens.

“Não, não há. Porque o batuku marcou muito o tempo da escravatura e eles estudam isso nas escolas”, afirmou.

Esta batukadeira terminou a entrevista ressaltando que o batuku é a identidade de Cabo Verde.

** ESTE ARTIGO É DE AUTORIA DE COLABORADORES OU ARTICULISTAS DO PORTAL GELEDÉS E NÃO REPRESENTA IDEIAS OU OPINIÕES DO VEÍCULO. PORTAL GELEDÉS OFERECE ESPAÇO PARA VOZES DIVERSAS DA ESFERA PÚBLICA, GARANTINDO ASSIM A PLURALIDADE DO DEBATE NA SOCIEDADE.

 

No Dia Nacional de Lutas em defesa de reajuste salarial para todos os servidores públicos federais, terça-feira, 18 de janeiro, o Sintufrj reuniu três coordenadores da Fasubra que compõem as forças políticas na direção da entidade: Rosângela da Costa, João Paulo Ribeiro (JP), José Maria Castro e Antônio Neto Alves (Toninho) para debater com a categoria, à luz da conjuntura política no país, a proposta de campanha salarial e greve unificada no serviço público federal. 

A atividade teve como objetivo acumular discussão e fortalecer a mobilização para a assembleia geral que o Sintufrj convocará nos próximos dias para tomada de posição sobre a campanha salarial com indicativo de deflagração de uma greve unificada em março, conforme propõe o Fórum das Entidades Nacionais dos Servidores Públicos Federais (Fonasefe), do qual a Fasubra participa, e o Fórum Permanente de Carreiras Típicas de Estado (Fonacape).

Coube à coordenadora-geral do Sintufrj, Gerly Miceli, atuar como mediadora do debate.

Na terça-feira, 18, as entidades protocolaram, no Ministério da Economia, a pauta emergencial de todos os servidores públicos federais, com as seguintes reivindicações:
1 – Reajuste salarial de 19.99% (acumulado da inflação dos três anos de governo Bolsonaro); 2 – Arquivamento da PEC 32 e
3 – Revogação da EC 95. 

Debate importante 

Confira o posicionamento da Fasubra em relação e as manifestações de companheiras e companheiros da direção e da base do Sintufrj no debate. Acesse:

 

 

 

 

 

 

Corrupção, Educação, Fora Bolsonaro e Mourão, Geral, Greve, Manifestações, PEC 32, Política, Serviço Público 

18 de janeiro de 2022. Site Fasubra.

A Fasubra Sindical e entidades de base (Sint-Ifesgo e Sintfub) participaram, na manhã desta terça-feira (18/01), do ato em frente ao Banco Central, no Dia Nacional de Luta em defesa de reajuste salarial para todas as servidoras e servidores públicos. Trabalhadoras e trabalhadores do Fonasefe (Fórum das Entidades Nacionais dos Servidores Públicos Federais) se somaram aos atos do Fonacate (Fórum Nacional Permanente de Carreiras Típicas de Estado), sendo que centenas de pessoas participaram da manifestação.

“Nós da Fasubra estamos aqui com os companheiros da nossa base. Isso é a continuidade das mobilizações que fizemos ano passado, onde exitosamente conseguimos construir uma ampla unidade contra a PEC 32. Hoje defendemos um reajuste, pois estamos há cinco anos sem negociação, sem proposta nenhuma e esse governo destruindo os servidores e servidoras. Um governo genocida que não sabe valorizar os trabalhadores do serviço público. Os trabalhadores do serviço público, seja do Legislativo, do Judiciário e do Executivo estão unidos e, com essa unidade, essa força, nós vamos conseguir o reajuste. Estamos juntos nessa trajetória e vamos vencer: trabalhadores unidos, jamais serão vencidos”, destacou o coordenador Jurídico e de Relações do Trabalho João Paulo Ribeiro (JP).

Ato Ministério da Economia

À tarde, centenas de servidoras e servidores protestaram em frente ao Ministério da Economia e protocolaram ofício, com a presença de deputadas e deputados da Frente Parlamentar Mista do Serviço Público, de reivindicação de reajuste emergencial de 19.99% (índice correspondente a inflação dos três anos do governo Bolsonaro), sem abrir mão das perdas salariais históricas do período dos governos FHC, Lula, Dilma e Temer que somam mais de 30%. Os trabalhadores e trabalhadoras criticaram a política destrutiva de Paulo Guedes e Bolsonaro e lamentaram o aumento apenas para as forças policiais. Além de Brasília, outras cidades como Rio de Janeiro, Salvador, Recife e Aracaju também registraram manifestações e paralisações.

Fotos Banco Central: Sint-Ifesgo

Fotos Ministério da Economia: Scarlett Rocha/Sinasefe

 

 

Aposentados, Educação, Fora Bolsonaro e Mourão, Geral, Manifestações, Serviço Público -10 de janeiro de 2022

Já são cinco anos sem reajuste salarial para trabalhadores(as) do serviço público. Entre eles estão aposentados(as) que, em sua grande maioria, são arrimo das famílias. Situação que foi agravada com a pandemia de Covid-19 e deixou um rastro de destruição com perdas de entes queridos, desemprego de filhos e netos. Com isso foram agravadas também as violências contra as pessoas idosas, sendo a econômica a mais grave, seguida das seguintes: física, psicológica, social, patrimonial, racial, homofóbica, religiosa, de gênero, além do abandono. Idosos(as) ainda servem de chacota para piadistas, que ganham a vida menosprezando sentimentos dessa camada da população. É o idadismo, mal presente na sociedade, que pensa ser a juventude eterna, e as pessoas 60+ descartáveis.

Com o isolamento social, a falta de intimidade com as mídias sociais por grande parte das pessoas idosas ficou evidente, dificultando a interação com familiares, amigos, grupos sindicais, religiosos, sociais, de viagem, enfim, limitou o compartilhamento de apoios e interação tão necessários para o bem viver.

As últimas reformas da previdência tiraram direitos e aumentaram o tempo de contribuição para homens e mulheres. Para os servidores(as) públicos(as) não foi diferente. A aposentadoria passou a ser vista como castigo para quem tem direito de se aposentar. Todo dia o governo inventa um jeito de prejudicar quem contribuiu com a construção do país. Todo dia o Ministério da Economia tenta manobras para levar as aposentadorias ao nível da miséria, querendo copiar o modelo implantado por Paulo Guedes no Chile, onde a maioria dos aposentados não podem sequer comprar seus remédios. É o sonho da privatização da Previdência.

Diante de todo esse malabarismo do mal, o presidente da República assinou em 5 de fevereiro de 2021, o Decreto 10.620, que transfere aposentados(as) e pensionistas das autarquias e fundações para a vala comum do INSS, onde já tem mais de 30 milhões de beneficiários do RGPS e mais 660 mil do RPPS. Um órgão que já tem mais de 1.875.000 demandas represadas, com pessoas esperando auxílio-saúde há mais de um ano, correção de benefício há mais cinco anos, aposentadoria há mais de quatro anos, sem falar em outros benefícios, como um simples auxílio natalidade. E lá vamos nós, resolver nossas demandas no INSS, onde não sabemos nem por onde começar. Nunca tivemos essa experiência porque todos os nossos problemas foram resolvidos nas universidades, conversando com nossos companheiros(as).

Para dar cumprimento ao decreto a Presidência do INSS publicou em 13 de outubro/2021 a Portaria 1.365 com o cronograma que as universidades deverão seguir para a transferência de aposentados(as) e pensionistas para aquele órgão, com um prazo de até julho/2022. Dessa forma, se nada for feito, lá estaremos ainda esse ano.

A FASUBRA Sindical ingressou como Amicus Curae na ADIN 6767, impetrada pelo Partido dos Trabalhadores (PT), para que seja suspenso o Decreto 10.620. Essa ADIN está com a ministra Rosa Weber aguardando julgamento. Outra forma de derrubar o famigerado decreto é ter aprovado no Parlamento um decreto parlamentar nesse sentido. O deputado Jorge Solla PT/BA e mais 30 parlamentares do partido já entraram com esse decreto parlamentar que está aguardando ser colocado em pauta.

Não podemos ficar esperando decisões judiciais e parlamentar que podem demorar anos para sair. É preciso um trabalho efetivo dos nossos SINDICATOS junto às reitorias e conselhos universitários. É preciso fazer a política sindical nas universidades, chamar aposentados(as), pensionistas, aposentandos e futuros aposentados para a luta. É preciso dar ciência dos problemas que teremos se formos para o INSS. É preciso união! É preciso LUTA!

A FASUBRA, por meio de sua Assessoria Jurídica orientou os sindicatos a entrarem na justiça em seus estados, com uma Ação Civil Pública – ACP com o objetivo de conseguir liminar para barrar a transferência. Cabe aos sindicatos analisarem essa possibilidade.

Dia 24 é dia de Luta Nacional contra o Decreto 10.620. Participe!

 

 

Estudo da USP identificou pelo menos 96 óbitos de pessoas em situação de rua na cidade de São Paulo, entre abril de 2020 e maio de 2021, mais que o dobro do número oficial da prefeitura

Publicado: 18 Janeiro, 2022 – Escrito por: RBA

JOSÉ CRUZ / AGÊNCIA BRASIL

Um estudo do Laboratório Espaço Público e Direito à Cidade (Labcidade), da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (FAU-USP), mostra que o número de mortes por covid-19 entre a população em situação de rua na cidade de São Paulo é maior que o total divulgado pela prefeitura.

Os pesquisadores constataram pelo menos 96 mortes de sem-teto por covid, mais que o dobro dos 38 óbitos identificados pelo Consultório na Rua, equipe da prefeitura que atua com base em política nacional de atenção básica, criada em 2011. Para os cientistas do Labcidade, mesmo que desatualizado, o total apurado demonstra que o impacto da pandemia foi maior do que o apresentado pelos dados oficiais.

Em parceria com a Clínica de Direitos Humanos Luiz Gama, da Faculdade de Direito da USP, os pesquisadores analisaram uma base de dados inédita sobre os óbitos em decorrência da doença do novo coronavírus, organizada pelo Projeto Recovida, também da USP, responsável por uma reavaliação da mortalidade por causas naturais durante a crise sanitária no período de março de 2020 a maio de 2021.

Reportagem da RBA, em setembro de 2020, já havia antecipado o problema da subnotificação nessa população nacionalmente. À época, as estatísticas de casos e mortes divulgadas eram referentes apenas aos que estavam abrigados em acolhimentos e centros temporários. Sem dimensão real da pandemia nessa população, especialistas e movimentos advertiam que o poder público estaria deixando escapar da conta quem vive e dorme nas calçadas das cidades. Ou aqueles que acessavam os equipamentos de saúde sem a mediação das equipes do Consultório na Rua.

Perfil das vítimas

“Nós tivemos acesso a alguns dados inéditos da pandemia, em que conseguimos extrair os endereços da pessoas que foram a óbito. Mas com os endereços a gente conseguiu encontrar em fichas médicas profissionais da saúde que preenchiam uma observação como ‘morador de rua’, ‘em situação de rua’, e com isso localizamos 35 óbitos pelo menos. E também fizemos um cruzamento desses endereços com os endereços de centros de acolhida, albergues, repúblicas e demais serviços de acolhida da população em situação de rua que a prefeitura disponibiliza. Então, a partir desse cruzamento, a gente encontrou mais 61 óbitos”, explica o pesquisador do LabCidade Aluízio Marino ao repórter Kaique Santos do Seu Jornal, da TVT. 

Homens negros, adultos, de idade mais avançada, baixa escolaridade e com alguma comorbidade compõem o perfil dos óbitos. O número, segundo o especialista, é subestimado. No estudo aparecem mais de 200 mortes sem indicação de nenhum endereço e outras 179 que constam em instituição de longa permanência para idosos, pensão e abrigo que poderiam representar também pessoas em situação de rua. Uma população que aumentou com a crise agravada pela covid-19, conforma adverte o secretário do Movimento Nacional da População de Rua, Darcy da Costa. 

“Houve um aumento considerável entre 2020 e 2021 no número de pessoas que foram para situação de rua por questões econômicas. Veio aí uma avalanche de pessoas que estavam em um limbo, já com dificuldades econômicas e sobrevivendo com trabalhos precários. E uma vez perdendo seus empregos, eles vieram em massa para a situação de rua”, observa. 

Invisibilidade e o censo não divulgado

Os dados existentes sobre a quantidade de pessoas sem-teto em São Paulo são do censo de 2019. De acordo com a pesquisa, existiam mais de 24 mil pessoas morando nas ruas. No ano passado, um novo censo foi realizado, mas os dados ainda não foram divulgados pela gestão de Ricardo Nunes (MDB). Diante da pandemia, ações foram feitas pelo poder público também junto à sociedade civil, como a distribuição de comida. Mas as medidas não foram suficientes, de acordo com Costa. “O que eles mais precisam nesse momento é acesso à moradia social”. 

O pesquisador do LabCidade concorda e ressalta que, com o aumento de casos de covid-19 e gripe recentes, medidas emergenciais devem ser tomadas pelo município para o real monitoramento desse público mais vulnerável. “A gente tem aí um censo em 2021 que já foi feito e não foi divulgado. Então, isso é mais uma camada da invisibilidade dessa população. Não sabemos quantos vieram morar na rua, quantos morreram por infecção da covid, porque também não testamos. O Brasil foi um país que investiu em cloroquina, mas não em teste. É tudo muito na base de pesquisas como a nossa que foi um esforço. Estamos realmente no escuro e é muito difícil atuar e pensar políticas, possibilidades e iniciativas para pensar os problemas”, critica Marino.

 

 

 

Família de ativista racial dos Estados Unidos pede para que a população pressione o Congresso a aprovar propostas

Eloá Orazem/Brasil de Fato | Los Angeles (EUA) | 18 de Janeiro de 2022

Ativistas marcham em homenagem ao dia de Martin Luther King, incluindo seu filho mais velho, no dia 17 de janeiro de 2022. Eles seguram uma faixa que diz “Cumpra pelo direito ao voto”. – MANDEL NGAN / AFP

O discurso mais famoso do ativista Martin Luther King Jr. começava com “eu tenho um sonho”. No entanto, uma das falas mais poderosas do líder do movimento civil nos EUA, assassinado aos 39 anos em 1968, foi outra, e pôde ser ouvida um ano antes de sua morte.

Em 1967, o reverendo leu em alto e bom som o texto intitulado “Nos dê uma cédula”. Nele, King Jr. diz às autoridades: “nos dê uma cédula eleitoral e nós não teremos mais que nos preocupar com o governo federal em relação aos nossos direitos básicos; nos dê uma cédula e nós encheremos o legislativo com homens de boa vontade”.

A luta de Martin Luther King Jr. para que o exercício da democracia se estendesse a toda comunidade negra e afrodescendente surtiu efeitos. Graças ao movimento pacífico do reverendo, os Estados Unidos aboliram o teste de alfabetização e os impostos eleitorais – mecanismos cuidadosamente desenhados para excluir os mais pobres da eleição. Não coincidentemente a maior parcela da população pobre em território americano era (e ainda é) composta por negros. 

Uma vida inteira dedicada à igualdade e justiça social é celebrada anualmente. Desde os anos 2000, o dia 15 de janeiro é dia de Martin Luther King Jr., data de seu nascimento, em 1929, e agora um feriado nacional. 

Membros da imprensa e ativistas aproveitam o marco no calendário para exaltar seu legado. “Um dos maiores feitos deixados por Martin Luther King Jr. é sua luta contra o que chamou de os ‘três males’ ou os ‘trigêmeos do mal’: racismo, pobreza e militarismo”, disse à reportagem do Brasil de Fato o professor Dr. Lerone Martin, diretor do Instituto de Pesquisa e Educação Martin Luther King, Jr. na Universidade de Stanford. 

“Quando falamos do reverendo, pensamos apenas no racismo, mas sua luta era muito maior e mais ampla, sobretudo porque ele nos lembra que esses três males estão entrelaçados”, continuou. 

A vida e a morte de King Jr. mudaram os Estados Unidos, mas o sonho do ativista, de ter uma nação igual para todos, ainda não se realizou. Aliás, pelo contrário, no ano passado, segundo o FBI, crimes de ódio saltaram 6% no país. Se analisarmos crimes de ódio apenas contra a população negra, o salto é de 40%. 

“Os Estados Unidos nunca se comprometeram, de verdade, com a igualdade racial. Na época, Martin Luther King Jr. dizia que esse país dá alguns passos para frente e outros para trás, e sinto que isso ainda é verdade nos dias atuais”, comenta o Dr. Lerone.

A luta em meio a celebrações

A transformação social tem que ser também uma transformação política. Foi isso que assinalou a família King ao encorajar os cidadãos estadunidenses a trocar a celebração pela luta. Este ano, os filhos do reverendo pediram que a comemoração dos feitos do passado de Martin Luther King Jr. fosse trocada por uma contínua pressão sobre o Congresso para aprovar uma série de reformas eleitorais.

Estão no legislativo duas propostas que podem impactar o sistema político nos EUA. Uma, chamada de Freedom to Vote Act (Ato pela Liberdade de Votar), que estabelece o dia da eleição como um feriado nacional e permite o registro de eleitores online, mesmo aqueles feitos na própria data da eleição.

Essa proposta também devolveria o direito de voto às pessoas que foram condenadas por crimes, que anularia uma regra que, de novo, afasta das urnas a população mais vulnerável e injustiçada do país, visto que nos Estados Unidos negros têm mais chances de serem acusados de crimes que não cometeram.

Outra proposta na mão dos representantes é o John Lewis Voting Rights Advancement Act (Ato de Avanço para Direitos de Voto), que quer obrigar estados e distritos onde há histórico de exclusão eleitoral a pedir autorização federal (do Ministério da Justiça) para efetuar qualquer mudança que possa impactar processos de voto. 

A lei homenageia John Robert Lewis, congressista e ativista pelos direitos civis que serviu na Câmara dos Representantes dos Estados Unidos pelo distrito da Geórgia de 1987 até sua morte em 2020.

Apesar de ambos os projetos serem apoiados por ativistas sociais e boa parte da classe política, é pouco provável que eles sejam aprovados. Isso porque, para aprovar a proposta, o Congresso precisaria do apoio da maioria dos representantes, e os republicanos não estão de acordo com as medidas.

“O voto da comunidade afrodescendente nos Estados Unidos é tão importante que tem muita gente querendo barrar isso, e é urgente que reconheçamos quem são essas pessoas trabalhando para que os negros não tenham acesso às urnas”, pontua Dr. Lerone.

O presidente Joe Biden, em seu discurso no dia de Martin Luther King Jr., disse que é hora dos Estados Unidos abraçarem o trabalho não-finalizado do reverendo e garantir que todos tenham acesso ao voto. “É hora de todos os representantes eleitos nos Estados Unidos deixarem claro seu posicionamento”, disse Biden, “é hora de todos os americanos se levantarem. Fale, seja ouvido. Qual a sua posição?”

O democrata que ocupa a morada da presidência na Casa Branca afirmou ainda que a democracia do país está ameaçada, e que ele está cansado do silêncio em relação às reformas eleitorais.

Primogênito do ativista, Martin Luther King III fez de seu discurso uma resposta à Biden: “o presidente disse que está cansado de ficar calado sobre os direitos de voto. Bem, estamos cansados de ser pacientes”. 

A votação oficial dos projetos acontece nesta semana, mas a derrota é quase certa. “Não importa quantas vitórias tenhamos, temos que continuar vigilantes porque sabemos que há sempre aqueles que tentam voltar no tempo”, finaliza o professor.

Edição: Arturo Hartmann

 

 

 

Nesta terça-feira, 18, às 15h, o Sintufrj realizará uma live para  discutir a conjuntura e o indicativo de greve unificada no serviço público federal, debatida e apontada pelo Fonasefe. Participarão do debate os coordenadores da Fasubra Toninho, Zé Maria, JP e Rosângela. 

A atividade tem o objetivo de acumular discussão coletiva sobre a construção da campanha salarial e da greve, fortalecendo a mobilização para uma assembleia da categoria, a ser convocada nos próximos dias.

O debate acontecerá virtualmente, pelo Zoom, e terá transmissão ao vivo pelo YouTube. Para participar da atividade, inscreva-se pelo link abaixo: https://us02web.zoom.us/meeting/register/tZYocemvrTgsGdanldvSHZMyc1LDtRoWnlEK

Após a inscrição, você receberá um e-mail de confirmação contendo informações sobre como entrar na reunião.