Foram 1.972 óbitos nas últimas 24 horas; média móvel de mortes também bateu novo recorde e mostra que país está longe de superar o momento mais agudo da pandemia

Matéria retirada do site da Revista Fórum. 

A demora do governo de Jair Bolsonaro em adquirir vacinas contra a Covid-19 e constantemente incentivar o desrespeito aos protocolos contra o contágio do vírus está custando caro aos brasileiros. A pandemia, que já se encontrava em seu momento mais crítico no Brasil, segue tomando proporções ainda mais assustadoras.

Balanço feito pelo Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass) nesta terça-feira (9) mostra que as últimas 24 horas foram as mais mortais desde o início da crise sanitária. Foram registrados 1.972 novos óbitos em decorrência da Covid-19, recorde de registros em um dia. Com essas novas mortes, o país atinge a marca macabra de 268.370 óbitos acumulados.

Além das mortes, foram confirmados nas últimas 24 horas 70.764 novas infecções, o que totaliza, desde o início da pandemia, 11.122.429 casos acumulados.

A média móvel de óbitos por Covid também bateu novo recorde, chegando a 1.572, alta de 39,9% com relação ao último período (duas semanas atrás).

Somente no estado de São Paulo foram registradas, nas últimas 24 horas, 517 novas mortes – mais um recorde. O cientista Miguel Nicolelis, que desde janeiro vem pedindo um lockdown nacional para conter o avanço do coronavírus, fez um novo apelo.

“Futebol tem que parar Já! Escolas tem que fechar Já! Igrejas e Cultos tem que fechar Já! SP está na iminência de um colapso sanitário sem precedentes na sua história”, escreveu.

 

 

Fachin e Carmen Lúcia votaram a favor de Moro e Kassio Nunes pediu vistas, o que adia o fim do julgamento.

Matéria retirada do site da CUT. 

Em um voto duro e histórico, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Gilmar Mendes acatou a ação de suspeição do ex-juiz Sérgio Moro movida pela defesa do ex-presidente Lula. Mendes, que preside a Segunda Turma do STF, responsável pelo julgamento do habeas corpus, decidiu ainda que Moro deve pagar as custas do processo.

Após o voto da ministra Carmen Lúcia, que discordou de Mendes e votou a favor de Moro, acompanhando o ministro Edson Fachin, o ministro Kassio Nunes Marques, indicado pelo presidente Jair Bolsonaro (ex-PSL), pediu vista do processo que analisa a suspeição do ex-juiz que comandou a Operação Lava Jato no Paraná. Com essa decisão, o julgamento pode não terminar nesta terça-feira (9).

Ainda faltam votar Ricardo Lewandowski e o próprio Kassio, ambos da linha garantista, que respeitam o devido processo penal, o Estado de Direito. 

O voto de Gilmar Mendes

O voto de Gilmar Mendes, que durou cerca de duas horas, listou fatos e apontou provas de que Moro cometeu crimes, agindo de acordo com interesses pessoais, para perseguir o ex-presidente Lula e tirá-lo do processo eleitoral de 2018 e apontou os métodos adotados por Moro como semelhantes aos dos regimes autoritários.

O ministro chegou a relacionar a conduta do ex-juiz com as práticas da época do Ato Institucional n° 5 (AI-5), de 1968, editado durante a ditadura militar no Brasil, que endureceu a perseguição a adversários políticos do regime.

Ao longo de sua justificativa para a decisão sobre a suspeição de Moro, Gilmar Mendes citou ações que foram determinadas pelo ex-juiz como a condução coercitiva de Lula para prestar depoimentos em 2016, a autorização de interceptação em telefones, que atingiram inclusive o escritório dos advogados de defesa de Lula, e ainda as trocas de mensagens entre Moro e a força tarefa da Lava Jato, da qual fazia parte o procurador Deltan Dallagnol, que cjefiava o grupo.

Citou ainda a intervenção e articulação de Moro para que não fosse cumprida uma ordem de soltura do ex-presidente Lula, expedida pelo desembargador Rogério Favretto, do Tribunal Regional Federal da 4ª região (TRF-4), em julho de 2018.

Para Mendes é um flagrante de um “consórcio entre juiz e procuradores” em que havia uma combinação sobre o jogo processual para que o resultado fosse a cassação dos direitos políticos e a prisão de Lula. Mendes lembrou que as partes não podem manter diálogos sobre o processo, como era prática habitual, fato comprovado pelas denúncias que ficaram conhecidas como Vaza Jato, e apontou Moro como um revisor das denúncias que era apresentadas no âmbito da operação, para que fossem dirigidas a prejudicar o ex-presidente Lula.

Ainda de acordo com o ministro, era claro que Lula “era monitorado o tempo todo por Sérgio Moro“.

Ao justificar o seu voto pela suspeição de Morto, Mendes citou situações de ilegalidade praticadas pelo ex-juiz. Uma delas é fato de um ‘julgador definir os limites da acusação e selecionar pessoas a serem julgadas’, para explicar que Moro agia como um maestro da perseguição ao ex-presidente.

“O que se deve perguntar de forma simples e direta diante de todo o conjunto de ações de Moro é se ainda se pode ter a percepção de um juiz despido de todo e qualquer preconceito em relação ao acusado”, questionou o magistrado durante o plenário virtual.

Gilmar Mendes ainda citou a imprensa como cúmplice na estratégia de Moro, afirmando que a divulgação dos fatos e etapas da Lava Jato eram combinadas com jornalistas para que produzissem o efeito que Moro queria.

O ministro citou parte de sua própria fala, em 2019, no Senado Federal, sobre o autoritarismo do ex-juiz, para reafirmar seu posicionamento sobre a parcialidade de Moro.

Tenho a impressão de que estamos vivendo um momento singular. Esses falsos heróis vão encher cemitérios e cada um terá seu tamanho na história. Portanto, tenham modéstia, calcem a sandália da humildade- Gilmar Mendes


Em sua conclusão, Mendes citou trecho de um documento apresentando por 17 juristas, nacionais e internacionais que criticaram duramente a atuação do ex-juiz.

Lula não foi julgado, foi vítima de perseguição política e é indispensável que as autoridades brasileiras tomem as providências- Documento assinado por 17 juristas

Mendes concluiu determinando a nulidade do processo, da denúncia e da condenação, em razão de o juiz Sérgio Moro ter agido por interesses próprios, mas preservou os demais processos contra outras réus.

Mendes ainda afirmou que a decisão não impede a abertura de qualquer outro processo que seja julgado por juiz parcial.

 

 

 

“Notícias da pacificação: outro olhar possível sobre uma realidade em conflito” é o título do livro do jornalista Pedro Barreto Pereira, e a primeira obra produzida por um técnico-administrativo da instituição que será lançada pela Editora UFRJ, nesta quinta-feira, 11, às 17h, em live pelo canal no Youtube do Fórum de Ciência e Cultura da universidade.  

Participarão do evento junto com Pedro Barreto, a jornalista Claudia Santiago, do Núcleo Piratininga de Comunicação (NPC), e Márcio de Souza, professor da UFF e autor do livro “Sob o império do arbítrio: Prêmio Esso, imprensa e ditadura” (Editora Alameda, 2019).

O autor 

O técnico-administrativo Pedro Barreto Pereira atua como jornalista no Centro de Filosofia e Ciências Humanas (CFCH) e coordena o curso de extensão Mídia, Violência e Direitos Humanos. Com doutorado em Comunicação e Cultura pela Escola de Comunicação da UFRJ é pesquisador no pós-doutorado do Programa de Pós-Graduação Mídia e Cotidiano da UFF.

Pedro Barreto ingressou na UFRJ em 2008 e já no ano seguinte passou a conciliar o seu trabalho no CFCH com a qualificação. Iniciou pelo mestrado, cuja dissertação foi sobre as Unidades de Polícia Pacificadora (UPP), quando analisou a cobertura jornalística de O Globo na área de segurança pública. Ele concluiu sua tese de doutorado em 2017 e a submeteu à Editora UFRJ, mas devido aos cortes do MEC no orçamento da UFRJ, o livro foi publicado somente no ano passado.

Trabalho de pesquisa que resultou no livro

 “Hoje vivemos outra realidade da segurança pública, mas a questão do discurso fica como um registro de como a gente pegou, neste momento que vive hoje, esta exaltação da violência exacerbada, da importância da segurança que legitima muitas vezes a morte de pessoas pobres e negras de favelas e de moradores de periferias”, chama a atenção o autor de “Notícias da pacificação: outro olhar possível sobre uma realidade em conflito”. 

O jornalista analisou a cobertura feita pelo O Globo de 2008 a 2016, ou seja, desde o início das UPPs até o seu término, na prática. Segundo Pedro, as “UPPs existem hoje somente na formalidade. Não foram extintas no papel, mas não há investimentos e a lógica que predomina é o tiro na cabecinha e o modelo de ‘segurança presente’ nos bairros de comércio”. 

Sua pesquisa aponta que, na época em que foram criadas, “as UPPs foram apresentadas como grande solução para a questão da segurança pública, que atingia o asfalto, os bairros da zona sul, Barra da Tijuca, onde  aconteceriam os megaeventos. Então, Eduardo Paz e Sérgio Cabral (prefeito do Rio, na época, e governador do estado do Rio, respectivamente) precisavam passar a sensação de segurança para vender a cidade para os grandes patrocinadores das Olimpíadas e da Copa do Mundo”. 

Ele utiliza como ilustração e exemplo de como era (e continua sendo) a cobertura jornalística sobre conflitos nas favelas e periferias, exibindo uma página da edição do jornal O Globo do final de 2008: uma das matérias mostra, de forma tímida, o protesto no Morro Santa Marta, já outra, com destaque, um tiroteio que fechou uma das vias da cidade por cinco horas. 

A pesquisa de Pedro Barreto mostra que as UPPs foram apresentadas como a grande solução para a questão da segurança pública no Rio de Janeiro, e  o secretário de Segurança da época, Mariano Beltrame, “como o grande salvador da pátria”. O servidor observa que “era sempre um cara do Sul, policial federal, durão, incorruptível”. “Beltrame”, diz, “teve durante muito tempo essa fama e isso agradou muito a classe média, leitores de O Globo, à esquerda e a academia, inclusive, acreditando que a UPP era a solução, por incrível que pareça”.

A realidade

“Depois de 2013, caíram os investimentos privados e isso começou a ter impacto na opinião pública. O apoio às UPPs começou a diminuir. Mas o O Globo seguiu com seu discurso de apoio até o fim. O último editorial do jornal dizia que era preciso reformar as UPPs, mas não acabar com seu legado”, revela a pesquisa do autor. 

“A grande questão que coloco no livro é como isso era vendido. O ponto era a promessa de pacificação, enquanto os efeitos colaterais eram ocultados ou diminuídos. Morreram jovens moradores do Alemão, Babilônia, Pavão, Rocinha, mas isso era visto como efeito colateral. A minha conclusão quantitativa é a seguinte: 60% das matérias sobre UPPs reivindicavam maior lei e ordem nas favelas; 80% de todas as matérias legitimavam as UPPs, apesar dos efeitos colaterais: morte, violação de direitos de moradores de favelas e das periferias”, diz ele.

 “Acabei de ler o livro A República das Milícias” (de Bruno Paes Manso), que conta que as milícias têm uma gênese muito anterior, nos esquadrões da morte, do Tenório Cavalcanti, na década de 1950, que eram figuras que nos seus bairros, na Baixada Fluminense, pretendiam levar a lei e a ordem aos moradores, a estabilidade para essas pessoas. Ninguém aguentava viver seu cotidiano em meio a tiroteios. Esse discurso da lei e da ordem e de previsibilidade é muito sedutor. É legítimo que se queira segurança. É óbvio que o Estado deveria dar isso para a gente. No entanto, o discurso que chega é “como o Estado não foi capaz”o que tem para hoje são as milícias”, analisa Pedro Barreto.  

A lógica que legitima as milícias, segundo o pesquisador, é a mesma que legitimava as UPPs: a da lei e da ordem, da segurança e da previsibilidade. Só que por vias tortas, como, por exemplo, aceitar que uma quadrilha faça a segurança de seu bairro ao custo da retirada de direitos ou ameaças. “O discurso da legitimidade pouco se alterou”, compara. 

Um dos conceitos trabalhados por Pedro Barreto e a do agendamento: “ uma estratégia de longo prazo não é algo que faça efeito de um dia para o outro, são décadas produzindo o discurso de que a segurança é um valor muito mais importante do que outros, como a liberdade de jovens e negros, e diretos humanos”. 

Feito inédito 

O livro de Pedro Barreto é o primeiro totalmente escrito por um técnico-administrativo em educação a ser lançado pela Editora da UFRJ: “Não são só docentes que produzem conhecimento, nossa categoria é muito qualificada e muitas vezes mal aproveitada dentro de uma lógica elitista da universidade. Espero que este trabalho estimule outros técnicos a também publicarem seus trabalhos”, conclui.  

Segundo lançamento – De acordo com a diretora adjunta da Editora UFRJ, Fernanda Ribeiro, já houve anteriormente um livro organizado por três docentes e uma técnica- administrativa: “Além das fronteiras: literatura, ensino e interdisciplinaridade”. São eles: Georgina Martins (técnica administrativa da Faculdade de Letras), Rosa Gens, Ana Crelia Dias e Armando Gens (docentes).

E, no dia 25 de março, a Editora da UFRJ lança a segunda obra produzida por um técnico-administrativo da UFRJ: “Bitcoin e criptomoedas: a utopia da neutralidade e a realidade política do dinheiro”, de Daniel Kosinski. Ele é assistente em administração e doutor em Economia Política Internacional (PEPI-IE-UFRJ), mestre em Ciência Política (PPGCP-UFF), especialista em Políticas Públicas (IE-UFRJ).

Daniel é diretor de Relações Institucionais do Instituto da Brasilidade (IB) e pesquisador do Laboratório da Conjuntura de Políticas Públicas de Direitos Humanos à Cidade (LDC/NEPP-DH/UFRJ). O servidor é autor de dois outros livros: “O Governo JK” e  “As raízes getulistas da orientação do capitalismo no Brasil” (Ed. Prismas, 2015).

 

 

 

No 9º dia da campanha de ativismo contra o racismo, enaltecemos Maya Angelou (1928-2014). Ela foi uma notável poetisa, atriz e ativista norte-americana. Nascida Marguerite Ann Johnson, Maya era o apelido de infância e Angelou foi o sobrenome de um de seus maridos. Maya atuou nos movimentos de Martin Luther King e Malcolm X. Nos anos 60, viveu no Egito e em Gana, trabalhando para os movimentos de direitos civis.

Publicou dezenas de coletâneas de poemas. Sua consagração literária, no entanto, veio com o livro de memórias “I Know Why the Caged Bird Sing” (Eu Sei por que o Pássaro Canta na Gaiola), de 1969, no qual narra a infância no sul racista de seu país natal. No livro, relata a infância traumática após sofrer um estupro aos oito anos, pelo namorado de sua mãe. A violência a deixou muda durante anos. O livro se tornou o primeiro best-seller de não ficção escrito por uma afro-americana.
#21dias

 

Na segunda-feira, 8, todos os 32 leitos de CTI do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho (HUCFF) destinados a  pacientes com a Covid-19 estacam ocupados, e também cinco leitos da enfermaria Covid, informou a assessoria de imprensa da unidade.

O recrudescimento da pandemia do coronavírus em todas as regiões do país, expõe um problema grave para a população do Rio de Janeiro que necessita de internação para se tratar da Covid-19: leitos impedidos em hospitais federais, na maior parte por falta de médicos, enfermeiros ou técnicos de enfermagem. 

Situação do HU

O Hospital Universitário da UFRJ também convive com o drama de falta de pessoal, mas, segundo a assessoria, isso ocorre em consequência do afastamentos de servidores amparados por resoluções internas da universidade para proteção à vida. São os profissionais com autodeclaração por comorbidades de doenças crônicas, idade acima de 60 anos, gestantes e coabitação com idosos e crianças menores.

Além disso, não há reposição de servidores equivalentes ao número dos que se aposentaram ou faleceram.  

Segundo a assessoria de imprensa do HUCFF, a Prefeitura do Rio tem mantido os contratos atuais dos profissionais que já estão atuando na unidade desde o começo da pandemia. E o Ministério da Saúde destinou meios para a contratação de profissionais pela Fiotec (Fundação de apoio à Fiocruz), para a reativação de leitos – os leitos são habilitados à medida que estes profissionais estão chegando.

Situação atual

O HUCFF possui 321 leitos ativos. Destes, 66 estão habilitados para a Covid-19, sendo 32 leitos de CTI e 34 de enfermaria, e 30 estão bloqueados. 

Leitos bloqueados ou impedidos são aqueles que não podem ser utilizados por qualquer razão (características de outros pacientes que ocupam o mesmo quarto ou enfermaria, manutenção predial ou de mobiliário, falta de recursos humanos).

Capacidade

Com recursos humanos e equipamentos, o HUCFF tem capacidade para até 350 leitos ativos, podendo chegar a 80 leitos para atendimento de pacientes com a Covid-19. E, segundo a assessoria, mesmo com a pandemia viral, o hospital tem conseguido manter sua rotina de cirurgias eletivas e os atendimentos ambulatoriais, realizando em média 25cirurgias por dia e 800 consultas.

 

 

A decisão do ministro do STF, Edson Fachin, anulando todos os processos da Lava Jato contra o ex-presidente Lula, é uma vitória parcial da democracia brasileira.

Fachin reconheceu tardiamente que a Justiça Federal do Paraná não tinha competência para julgar os processos contra Lula. A sentença devolve os direitos políticos do ex-presidente, embora não devolva e nem repare os 580 dias de prisão injusta.

Em 2018, Sergio Moro fraudou o processo judicial para consolidar o golpe iniciado em 2016, com o impeachment da presidenta Dilma. A escalada de rupturas democráticas avançou com a prisão de Lula e seu impedimento de disputar as eleições, beneficiando a campanha de Bolsonaro, de quem Moro virou ministro.

A decisão de anular os processos contra Lula é um passo importante, mas incompleto, para o restabelecimento da democracia brasileira. Os vazamentos das conversas entre Sergio Moro e os procuradores da Lava Jato revelam como a operação atuou como uma quadrilha para perseguir adversários, atropelar o Estado Democrático de Direito e atacar a democracia. É fundamental que os crimes da Lava Jato sejam julgados, assim como a suspeição do ex-juiz Moro.

Nas redes sociais, houve uma explosão de euforia com a decisão. No entanto, a crise nacional vivida pelo Brasil é aguda; o governo federal continua em marcha acelerada para destruir o Estado brasileiro – o SUS, as universidades, o serviço público, as empresas estatais, a assistência social, a pesquisa e o desenvolvimento científico e tecnológico, entre outros – ao mesmo tempo em que aumenta a presença de militares no governo e busca caminhos para fechar o regime, completando a “obra” do golpe de 2016.

Os movimentos organizados da classe trabalhadora precisam aproveitar a janela de diálogo que se abre com a anulação dos processos contra Lula para organizar a formação de um movimento amplo pelo impedimento democrático de Bolsonaro, estruturado na defesa da vida, da democracia e dos direitos sociais e trabalhistas.

Derrotar Bolsonaro e o bolsonarismo é fundamental para reconstruir a democracia brasileira e reabrir o caminho da esperança, da superação da pandemia e trazer de novo a expectativa de uma vida digna.

 

 

O ministro reconheceu que a Justiça de Curitiba não tinha competência para julgar o ex-presidente

Matéria retirada do site da Revista Fórum. 

O ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal, decidiu nesta segunda-feira (8) anular todas as condenações contra o ex-presidente Lula promovidas pela Justiça Federal de Curitiba.

Fachin atendeu a um habeas corpus apresentado pela defesa do ex-presidente que dizia que alegava incompetência de Curitiba para o julgamento dos casos do Triplex do Guarujá, do Sítio de Atibaia e da Instituto Lula.

Na decisão, obtida pela Fórum na íntegra (confira no fim da matéria), o ministro declara a “incompetência da 13ª Vara Federal da Subseção Judiciária de Curitiba para o processo e julgamento das Ações Penais” de Atibaia, Guarujá e do Instituto Lula.

Com isso, esses processos vão para o Distrito Federal. No DF, Lula não foi condenado em nenhum processo.

A decisão de Fachin torna Lula novamente elegível. Pesquisa do Ipec divulgada no domingo mostra que o ex-presidente é quem possui maior potencial de votos e menor rejeição para as eleições de 2022.

A aceitação do recurso acontece em meio ao aumento dos questionamentos sobre a atuação dos procuradores da Operação Lava Jato e do ex-juiz federal Sergio Moro em razão das mensagens obtidas pela Operação Spoofing e dos diálogos da Vaza Jato.

 

No Dia Internacional da Mulher, homenageamos Lélia Gonzáles. Ela foi professora universitária, feminista negra, antropóloga e intelectual. Cunhou o termo pretuguês para afirmar a cultura brasileira como uma cultura negra por excelência, destacando a influência africana no idioma do país.

Foi co-fundadora do Instituto de Pesquisas das Culturas Negras do Rio de Janeiro (IPCN-RJ), do Movimento Negro Unificado (MNU) e do Olodum. Faleceu em 10 de julho de 1994, aos 59 anos.

Neste 8 de março, a família de ativista lançou o acervo digital ‘Lélia Gonzalez Vive’. Na plataforma, estão disponíveis entrevistas, palestras e obras produzidas por ela. Além disso, a iniciativa conta com o depoimento de familiares, pesquisadores e outras personalidades que admiram a sua luta antirracista dentro e fora da academia. #21dias

 

Governo deve autorizar, pela segunda vez, patrões a adiarem o pagamento do FGTS. Medida aplicada no ano passado atendeu 800 mil empresas

Matéria retirada do site da CUT. 

Com o agravamento da pandemia do novo coronavírus (Covid-19), que impacta ainda mais a capenga economia do país, o governo está estudando mais um pacote de medidas para ajudar os empresários. O ministério da Economia quer reeditar a isenção temporária do pagamento do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS), por um período de três a quatro meses. A medida que foi adotada durante três meses no ano passado, deverá ser anunciada oficialmente nesta semana.

direito ao depósito de 8% do salário na conta individual do trabalhador e da trabalhadora no FGTS não muda. Pela proposta que está sendo formatada, após os meses de suspensão, os empresários deverão voltar a fazer os depósitos mensais e os que deixaram de fazer. Os depósitos dos quatro meses de inseção poderão ser parcelados sem multas e encargos. 

Em caso de demissão, o trabalhador receberá o valor referente ao FGTS sem desconto algum, incluindo as parcelas suspensas temporariamente. 

No ano passado, 800 mil empresas foram beneficiadas a um custo de R$ 10,7 bilhões. Desde total, R$ 9,7 bilhões já voltaram ao caixa do FGTS – o valor representa 91% das parcelas pagas.

“O FGTS arrecadou mensalmente em 2020, em média, R$ 11 bilhões. Ou seja, o adiamento do pagamento foi menor do que a arrecadação mensal. Por isso, o impacto desta medida não foi grande no caixa do Fundo”, diz o economista do Departamento Intersindical e Estatística e de Estudos Socioeconômicos (Dieese), Clóvis Scherer.

O economista não acredita que esta medida tenha um grande impacto nas contas das empresas. Segundo ele, “tem muitos setores que já voltaram, se não em pleno funcionamento, em patamares melhores do que o ano passado e como o empresário sabe que terá de pagar a conta mais adiante é melhor não ficar adiando a dívida”.  

Quem tem direito ao FGTS

Tem direito ao FGTS todo trabalhador da iniciativa privada com carteira assinada. Em 2020 eram 30,625 milhões de brasileiros com contratos em CLT, segundo a Pesquisa Nacional por Amostragem de Domicílio (PNDA Contínua) do IBGE.

O auge de trabalhadores com carteira assinada foi em 2014, durante o governo da presidenta Dilma Rousseff, do PT, quando o país registrou um total de 36,450 milhões de trabalhadores formais. Em apenas seis anos, o número de trabalhadores com carteira assinada caiu mais de 6 milhões – acima da média de 1 milhão ao ano. Na contramão, no mesmo período, a força de trabalho (pessoas em idade de trabalhar)  aumentou em 13 milhões, passando de 161 milhões para 174 milhões.

Leia Mais no site da CUT Nacional: : Um dos direitos mais sonegados pelos patrões é o FGTS, segundo balanço do TST

*Edição: Marize Muniz

 

 

 

 

Por Karen Luise, do Justificando

Mary Aguiar foi a primeira juíza negra do nossos país!

Nasceu na Bahia, no ano de 1925, filha de um taxista e de uma dona de casa. Em 1962 tomou posse no cargo de Juíza de Direito naquele Estado, na Comarca Remanso. Jurisdicionou até 1995, ano em que se aposentou aos 70 anos de idade.

Semana passada acordamos com a notícia de que ela se foi, aos 95 anos.

Eu somente soube de sua história faz muito pouco tempo. Queria ter falado a respeito de sua vida antes. Não foram poucas as vezes que abri meu computador e digitei algumas frases tentando dimensionar a proeza por ela operada. Ficava imaginando como teria sido o caminho percorrido para o ingresso na carreira, as situações pelas quais passou. Onde estudou? Quem eram seus familiares? Por que não se tornou desembargadora? Enfim, pensava sobre a invisibilização de sua história e sobre o tamanho do desafio que não apenas o Poder Judiciário, mas todo o Sistema de Justiça possui diante das realidades vividas por mulheres negras em nosso país: o da sua inclusão em todos os espaços e o da melhoria de suas condições de vida.

O Sistema de Justiça, aqui entendido como a Segurança Pública, o Ministério Público, a Advocacia e o Poder Judiciário foi, e é, direta e indiretamente implicado nesse estado de coisas, pois na mesma medida em que sustentou a escravidão, opera de modo a manter as desigualdades presentes, o que somente poderá ser revertido mediante um agir interseccional.

No que diz respeito a inclusão, para que se tenha uma ideia, comparativamente, apenas na década de 70 magistratura do Rio Grande do Sul deixou de ser composta unicamente por homens. As mulheres negras chegaram na carreira bem depois, nos anos 80, e talvez hoje não atinjam o número de dez dentre as que se encontram na ativa e aposentadas.

Passados quase 50 anos do ingresso de Mary Aguiar no Poder Judiciário brasileiro, os números demonstram que pouco se avançou.

Conclusões da Plataforma Justa , que examinou dados do IBGE em conjunto com as pesquisas do Conselho Nacional de Justiça, indicam que a população brasileira é composta por 25,5% de mulheres negras. Contudo, para cada juíza negra há 7,4 juízes brancos. Esta diferença ainda é maior quando se analisa a quantidade de magistrados no segundo grau de jurisdição, pois para cada desembargadora negra há 33,5 desembargadores brancos.

Analisando esses dados foi possível afirmar que homens brancos possuem 8,2 vezes mais chances que mulheres negras de se tornarem juízes. Na carreira, juízes brancos possuem 4,6 mais chances que mulheres negras de se tornarem desembargadores.

Pois bem, a pergunta que fica é: o que faz uma mulher negra não conseguir ocupar os cargos dentro da magistratura e dentro do Sistema de Justiça como um todo no Brasil?

Essa é uma provocação que exige uma resposta complexa, pois há diversos fatores envolvidos. Contudo, nada é possível de ser dito sem que se coloque em discussão o fator raça, que reflete diretamente no lugar social ocupado por mulheres negras na nossa sociedade.

Romper o ciclo do trabalho doméstico é um dos grandes desafios. Mulheres negras saíram da condição de escravidão, onde trabalhavam nas lavouras, na casa grande e como ganhadeiras, para recolocarem-se como cozinheiras, lavadeiras, auxiliares de serviços gerais em sua grande maioria. Não deixaram, portanto, de realizar serviços domésticos que até os dias de hoje sequer são remunerados, usufruindo de poucos direitos sociais. A resistência à aprovação da PEC das domésticas apenas em 2012 é um dos maiores exemplos disso (o emprego doméstico sempre foi exercido notoriamente por mulheres negras, assim entendidas como sujeitos de direitos de segunda categoria.).

Com suas vidas à margem da sociedade, percebe-se que a elas sequer é dado o direito de sonhar e pensar em outras possibilidades existenciais.

Não bastasse isso, é sabido que os senhores exerciam seu poder sobre as escravizadas, explorando sexualmente seus corpos, cultura que não foi rompida com a Lei Áurea.

Essa é uma das circunstâncias que pode explicar os números alarmantes quando se trata de feminicídios de mulheres negras. Assim também quando se problematiza a efetividade da Lei Maria da Penha com relação a esse grupo racial.

Segundo o Atlas da Violência de 2020 (IPEA) entre os anos de 2008 e 2018 a taxa de homicídios de mulheres não negras caiu 11,7%, embora o percentual de mulheres negras assassinadas tenha aumentado em 12,4%. Ainda de acordo com a pesquisa, 68% das mulheres assassinadas em 2018 no Brasil eram negras. Enquanto entre as mulheres não negras a taxa de mortalidade por homicídios no último ano foi de 2,8 por 100 mil, entre as negras a taxa chegou a 5,2 por 100 mil, praticamente o dobro.

Todos esses dados revelam que aplicação do princípio da igualdade de modo universal não é suficiente, impondo-se ao Sistema de Justiça um novo olhar para a mulher negra, como sujeito de direitos, construindo estratégias para eliminar discriminações e desigualdades que se perpetuam ao longo dos tempos.

Por outro lado, necessário pensar sobre como mulheres negras estão em constante contato com o Sistema de Justiça, em razão de outra realidade que repercute diretamente em suas vidas. A juventude negra, maior vítima de assassinatos em nosso país, deixa mães, mulheres, irmãs, todas desassistidas e à mercê de um Estado que, de um modo geral, ainda é pouco dedicado à proteção das vítimas e seus familiares.

Compreender como o racismo estrutural e institucional manifestam-se em que práticas dos operadores do direito torna-se fundamental. Dar voz a mulheres que necessitam desses serviços, não apenas como vítimas diretas, mas também por acompanhar filhos, irmãos, esposos, companheiros, pais, réus e vítimas em diferentes circunstâncias, entendendo como são recebidas e tratadas, de que informações carecem, como são ouvidas e qual atenção lhes é dispensada tornam-se elementos imprescindíveis para um agir que pretenda convergir ideais de igualdade e justiça.

Mesmo estando constantemente nesses ambientes, mulheres negras estão totalmente invisibilizadas nas políticas de gestão e governança, não são aplicados protocolos de atendimento, tratamento e encaminhamento que lhes possibilitem a devida atenção. Portanto, abrir-lhes espaço é imprescindível para aperfeiçoamento e eliminação do racismo em uma perspectiva de proteção do cidadão diante do Estado, sendo também relevante a análise da situação daquelas que não são partes nos processos, mas definitivamente são usuárias dos serviços prestados.

De tudo isso conclui-se que não basta a inclusão de mulheres. Do mesmo modo, não basta a proteção de mulheres. O importante é voltarmos o olhar para aquelas que se encontram em maior condição de vulnerabilidade. Como refere Joaquim Herrera Flores, “A força de nomear as coisas, pode modificar a maneira de vê-las.” Marcar a raça, portanto, é imprescindível nesse processo.

Nisso consiste o duplo desafio do Sistema de Justiça: incluir Mulheres Negras nos espaços, e acima de tudo protegê-las, criando-se um círculo virtuoso capaz de transpor o quadro absurdo de desigualdades.

Com Mary Aguiar fica o exemplo de insubmissão e a inspiração para as meninas e mulheres negras – nutrir anseios e ambições que as afastem dos lugares sociais trazidos da escravidão é um desafio constante. Transformá-los em realidade é algo maior ainda.

Mary Aguiar não foi apenas uma pioneira. Foi destemida, pois resistiu em um lugar que não foi forjado para mulheres como ela, materializando na sua existência e no exercício da profissão a transmutação da mulher preta na condição de escravizada para a de cidadã, mesmo que a sociedade insista em não a reconhecer como tal.

*Karen Luise é Juíza de Direito na 1ª Vara do Júri de Porto Alegre/RS, Membra da Associação dos Juízes do Rio Grande do Sul, do Instituto de Acesso à Justiça, da Associação dos Juízes para a Democracia, do Comitê de Equidade de Gênero, Raça e Diversidade do Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul, formadora da Enfam.

Karen Luise (Foto: Arquivo Pessoal)