Fonte: Por Pâmela Dias, de O Globo/ Site Geledés

A falta de dados estatísticos e de políticas públicas efetivas dentro da Lei Maria da Penha são fatores que favorecem a invisibilização dos casos de violência doméstica contra mulheres indígenas. Sem a atuação expressiva das autoridades governamentais, movimentos independentes lutam contra o feminicídio e pelos direitos básicos das indígenas. A professora e ativista Kunha Poty Rendy, que atua no movimento das mulheres Guarani Kaiowá kunhangue Aty, do Mato Grosso do Sul, é uma das responsáveis por mapear e promover rodas de conversas sobre o assunto em 15 aldeias do estado.

Integrante do movimento desde 2006, ela não imaginava que o aprendizado sobre como buscar ajuda em casos de violência poderia, um dia, valer tanto para si. Há exatos oito anos, Kunha Poty Rendy sofreu as primeiras agressões físicas e psicológicas, que culminaram na tentativa de feminicídio pelo seu ex-companheiro, com quem tem um filho de 9 anos.

Hoje, ainda sob constantes perseguições e processos de retirada da tutela da criança, a professora luta, mesmo desempregada, para pagar advogados que a ajudem a conseguir a guarda definitiva do filho. Devido à situação de vulnerabilidade, Kunha Poty Rendy depende de doações para manter suas necessidades básicas e as de seu filho. Para ajudar a família, basta entrar em contato através do telefone (67) 9634-2972.

Em entrevista a CELINA, a ativista fala sobre sua trajetória no movimento das mulheres Guarani Kaiowá kunhangue Aty e sobre os principais desafios durante as ações de conscientização, denúncia e proteção de mulheres indígenas vítimas de violência intrafamiliar.

CELINA: Por que você decidiu integrar o Movimento das Mulheres Guarani Kaiowá kunhangue Aty?

Kunha Poty Rendy: Na ditadura militar, todos os Guarani Kaiowá foram expulsos de suas terras tradicionais, que passaram a ser posse dos fazendeiros. O governo criou apenas oito reservas indígenas, onde nos colocou junto a outros povos. Nos anos 1980, o lugar já estava cheio, então decidimos voltar para as nossas terras. Fomos os primeiros a reconquistá-las.

Essa história de resistência se repetiu em 2005, quando, com 10 anos, eu entrei no movimento para lutar por território, saúde e educação. No ano seguinte, a partir dessa ação, surgiu o Movimento das Mulheres Guarani Kaiowá kunhangue, do qual faço parte até hoje, para que nós, mulheres da nova geração, começássemos a lutar por nossos direitos.

Quais as atividades que o Movimento das Mulheres Guarani Kaiowá kunhangue Aty desenvolve?

A nossa principal função é ajudar mulheres indígenas que sofrem dos mais diversos tipos de agressões: espancamento, tortura psicológica, moral e patrimonial, que são motivos de mortes de muitas companheiras. No movimento, eu sou responsável por fazer o mapeamento das violências em 15 aldeias do estado do Mato Grosso do Sul. Fazemos rodas de conversa, nas quais muitas mulheres trazem as vivências horríveis que têm dentro de casa.

A violência aumentou muito durante a pandemia, mas todo mundo ficou preocupado com o vírus e esqueceram da proteção às mulheres nas aldeias. Agora, o mapeamento tem acontecido pelo WhatsApp, mas em julho queremos retornar presencialmente para ajudar melhor a essas mulheres. Para isso, precisamos de doações para custear combustível e comida.

Como o movimento te ajudou a entender a situação de violência que viveu?

Eu sofri muita violência do meu ex-marido, da física até a tentativa de feminicídio. Faz oito anos que me separei dele, mas a perseguição continua. Agora, ele quer tirar meu filho de mim. Muito dessa violência vinha de ele não gostar que eu fizesse meu trabalho no movimento, dizia que lugar de mulher era dentro de casa. Mas foi no movimento que eu percebi o que vivia com ele.

Não consegui denunciar porque, na época, policiais falavam que eu estava fazendo a cabeça dos indígenas para recuperar as terras; falavam também que eu não era indígena,porque meu pai é negro e minha mãe é Kaiwá. Isso, inclusive, também foi um fator de agressão do meu ex-marido, que me dizia coisas ruins por eu também ter a cultura quilombola. Foi o Movimento das Mulheres Guarani Kaiowá kunhangue Aty que me ajudou a sair do ciclo de violência. Agora, eu ajudo outras mulheres.

Quais as dificuldades que uma mulher indígena enfrenta na hora de denunciar as agressões?

A chegada na delegacia é muito difícil. Muitas mulheres têm medo porque, a partir do momento que sofrem a violência, o agressor ameaça, falando que vai matá-la, ou a deixa acuada para que ela não diga nada. Há ainda a dificuldade do entendimento da língua e de locomoção até a delegacia. Antigamente, em algumas localidades, o Disque 180 funcionava, mas as medidas protetivas não funcionam. Por isso, nós já perdemos muitas mulheres. O que nós do movimento também buscamos é achar uma solução para isso, como casas de apoio ou abrigos, para que essas mulheres possam sair do lugar onde o agressor está. A maioria dos homens não cumpre as medidas e ameaça as vítimas.

Atualmente, por quais adversidades o movimento de mulheres indígenas passa?

O principal são as perseguições às mulheres indígenas. Aliados do governo Bolsonaro, além de disseminar atos machistas, impedem com frequência que falemos e lutemos pelos nossos direitos. A pandemia tem afetado ainda mais a violência contra mulheres nos territórios indígenas, porque o acesso à saúde e à proteção ficaram mais difíceis. Outro fator é a fome. As pequenas agriculturas familiares estão sendo ameaçadas e muitas indígenas passam necessidade. Algumas não recebem auxílio porque isso é feito em aplicativos, e elas não têm acesso à internet. Nós do movimento das mulheres indígenas tentamos lutar contra tudo isso, mas é muito difícil reverter essa situação.

Mulheres indígenas do Movimento das Mulheres Guarani Kaiowá kunhangue Aty em manifestação contra a violência (Foto: Imagem retirada do site O Globo)

 

 

 

 

Na terça-feira, 20 de abril, Dia Nacional de Luta e Conscientização por mais vacinas para a população e comida para quem tem fome, o país passou de 14 milhões de casos da Covid-19 e se aproximou da marca de 380 mil vidas perdidas, segundo dados do Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass).

Este dia foi marcado por protestos realizados pela CUT e demais centrais sindicais, sindicatos, movimentos populares e sociais, partidos de esquerda, e uma militância aguerrida. Nas redes sociais houve manifestações virtuais e tuitaço com a hashtag #VacinanoBraçoeComidanoPrato

Os termos “vacinação” e “impeachment” também estiveram entre os 10 mais citados no Twitter desde muito cedo, na terça-feira. Mutirões para colagem de cartazes, faixas abertas em passarelas, lambe-lambes espalhados pelas cidades brasileiras e projeções em prédios deram a tônica da mobilização em favor da vida e da democracia.  

A mobilização em todo o país foi para intensificar a pressão que os movimentos estão fazendo desde o início do ano por um auxílio emergencial satisfatório e que ajude no isolamento social, minimize a insegurança alimentar pela qual estão passando 125 milhões de brasileiros, e viabilize o controle da pandemia com a aceleração da imunização para toda a população.

A campanha reivindica

1 – Vacinas contra à Covid-19 para todos e todas e rapidez na vacinação;

2 – Distanciamento social e lockdown unificado e organizado em todo o país;

3 – Auxílio-emergencial de R$ 600 mensais para quem precisa, até o fim da pandemia;

4 – Programa de proteção e manutenção do emprego e da renda;

5 – Apoio financeiro às pequenas e médias empresas que geram emprego;

6 – Solidariedade às populações socialmente mais vulneráveis e combate à fome.

 

 

Parte do segundo andar do prédio da Reitoria da UFRJ foi destruído pelo fogo na manhã da terça-feira, 20. Tudo indica que o incêndio começou nas instalações da Procuradoria Federal da instituição. O acervo documental da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU) está entre as perdas. 

“Ainda não temos a dimensão de todo o estrago porque a área foi interditada, e também não sabemos se houve abalo estrutural, pois temos de esperar a avaliação da Defesa Civil”, explicou o prefeito da UFRJ, Marcos Maldonado que aguarda laudo sobre as condições do prédio. A causa do sinistro pode ter sido provocada por defeito em um aparelho de ar condicionado.

Combate rápido 

O fogo na Reitoria foi comunicado durante a sessão virtual do Conselho Universitário. Imediatamente o prefeito Marcos Maldonado acionou o Destacamento do Corpo de Bombeiros da  Cidade Universitária. Com o apoio da Prefeitura da UFRJ, que pôs seu caminhão a serviço dos bombeiros, as chamas foram logo debeladas. 

“Nosso caminhão foi excelente na ajuda ao acesso ao segundo andar para combater o fogo. Do solo, o jato das mangueiras não alcançavam as chamas”, contou o prefeito. 

Outro fator que colaborou para o rápido combate ao fogo foi o pleno funcionamento dos hidrantes, segundo Maldonado, devido à manutenção periódica deles pela Prefeitura Universitária.  

A energia elétrica do prédio foi desligada por segurança e parte dos serviços relacionados à tecnologia da informação, como sistemas e portais, ficou fora do ar. 

Em nota, a assessoria de imprensa da UFRJ informou que a Reitoria abrirá imediata sindicância para apurar o incidente e um projeto básico para prevenção e combate a incêndios, elaborado pelo Escritório Técnico da Universidade (ETU), aguarda orçamento do governo federal para aplicação.

Segundo sinistro — Em 2016, o oitavo andar do prédio da Reitoria foi quase que totalmente destruído por um incêndio, que atingiu a Escola de Belas Artes (EBA), Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU) e outros setores. Parte considerável da estrutura do andar ficou comprometida e encontra-se isolada até hoje.

 

Como a UFRJ se apresentará para a sociedade nos próximos quatro anos? A resposta a essa pergunta está contida no Plano de Desenvolvimento Institucional (PDI) aprovado na terça-feira, 20 de abril, pelo Conselho Universitário (Consuni), que é o colegiado máximo de deliberações da instituição. 

Além de estruturar a vida da universidade, evidenciando sua dimensão e estabelecendo metas, o plano também atende a exigências legais do MEC. Sem o PDI 2020/2024, a UFRJ ficaria fora das avaliações institucionais de seus cursos e programas. Mas o PDI é dinâmico e passará por revisão periódica. Afinal, mudanças sócio-econômica e culturais ocorrem constantemente, 

Construção coletiva 

Até a formatação da proposta de PDI pela Reitoria levada à sessão extraordinária do Consuni na terça-feira, foi percorrido um longo caminho que teve início em 2019 e culminou com consulta pública virtual em 2020 à comunidade interna e externa. 

As centenas de sugestões foram enviadas à Superintendência de Desenvolvimento Institucional da Pró-Reitoria de Planejamento, Desenvolvimento e Finanças (PR-3), que coordenou as tarefas relacionadas ao PDI. Muitas sugestões e propostas encaminhadas e que ficaram de fora do plano poderão ser incorporadas mais adiante.. 

Reivindicação da categoria incluída

O Sintufrj encaminhou contribuições, com destaque para a criação do Conselho Superior de Administração e Gestão de Pessoal – reivindicação antiga do movimento organizado da categoria, entre outras propostas. A criação desse colegiado está entre as metas apontadas no PDI aprovado. 

Conheça todas as propostas do Sintufrj acessando o link: https://sintufrj.org.br/wp-content/uploads/2020/12/PDI-Sintufrj-2020-Revisado.pdf

“Vamos acompanhar”

“A aprovação do PDI foi importante, embora haja aspectos que  precisará de um tratamento à parte para que metas estabelecidas sejam de fato alcançadas”, observou a coordenadora do Sintufrj e representante técnico-administrativa no Consuni, Joana de Angelis. Como exemplo ela citou o Conselho Superior de Administração e Gestão de Pessoal proposto pelo Sindicato da categoria: “Esse colegiado vai precisar de um tratamento para que realmente se concretize dentro das metas para 2021”.

De acordo com a conselheira e dirigente sindical, “é importante a gente ter um documento, que é o PDI, que apresente as metas e proposições da universidade. Agora é um documento em permanente avaliação e construção e a gente precisa seguir nessa linha”, disse.  

Mais de 500 páginas

O PDI tem 521 páginas com 14 tópicos: perfil institucional, projeto pedagógico, gestão e organização administrativa e perfil do corpo técnico-administrativo, política de atendimento à docentes, serviços terceirizados, infraestrutura e instalações acadêmicas, avaliação e acompanhamento do desenvolvimento institucional, aspectos financeiros e orçamentários. Além disso, prevê processos para seu próprio acompanhamento e revisão. 

O colegiado conheceu aspectos da extensa proposta através do parecer da Comissão de Desenvolvimento do Consuni, cujo resumo foi apresentado pelo relator Flávio Martins. Ele destaca no texto que o PDI não serve apenas para deliberar-se sobre o que se quer para a UFRJ, mas também para que se conheça o que é hoje. 

Segundo Martins, “atualmente a UFRJ oferta à sociedade 176 cursos de graduação, 132 programas de pós-graduação (stricto sensu) e mais de 500 cursos de extensão, respondendo por uma comunidade acadêmica de cerca de 80 mil pessoas: estudantes, professores, técnico-administrativos, além de terceirizados. Números que a tornam uma cidade de médio porte”.

Propostas de mudanças no texto

Houve propostas de mudanças no texto do PDI aprovado pelo Consuni por unanimidade (40 votos). O próprio relator apresentou sugestões. Entre as quais, revisão na parte que se refere à Política de Qualificação, que diz: “A nova Política Nacional de Desenvolvimento de Pessoas, instituída pelo Decreto nº 9.991, de 28 de agosto de 2019 pelo Presidente da República, tem o objetivo de promover o desenvolvimento dos servidores públicos nas competências necessárias à condução da excelência na atuação dos órgãos e das entidades da administração pública federal direta, autárquica e fundacional”. 

Na opinião de Martins, como está escrito pode fazer crer que a UFRJ corrobora com a política do atual governo federal para a qualificação dos servidores técnico-administrativo e docente. “Porque nós sabemos que a política de desenvolvimento, qualificação e capacitação do nosso corpo de servidores, sejam docentes ou técnicos-administrativos, está muito aquém daquela que seria o mínimo necessário e de reconhecimento do trabalho de técnicos em educação e dos docentes da universidade”, justificou ele.

Cotas na pós — O representante dos pós-graduandos reivindicou a inclusão da proposta de ampliação da reserva de vagas de ações afirmativas para pessoas pretas, pardas e indígenas, pessoas com deficiência e pessoas trans no acesso aos programas de pós-graduação stricto sensu da UFRJ, com a meta dessa política atingir 100% dos cursos já em 2022. 

Para pôr fim à polêmica criada pela proposta, por alguns conselheiros considerarem que ela “passar por cima” da autonomia dos programas, foi proposto e aprovado uma de consenso. Veja: 

A discussão sobre o tema será feita no âmbito do CEPG e também serão ouvidos os Programas de Pós-graduação sobre suas experiências acumuladas, desde o início da implantação da política de cotas na pós-graduação, e também que o debate deve ter como horizonte ampliar a reserva de vagas de ações afirmativas para pessoas pretas, pardas e indígenas, pessoas com deficiência e pessoas trans no acesso aos programas de pós-graduação stricto sensu da UFRJ. 

As modificações no texto do PDI aprovado foram aceitas, conforme registrou o pró-reitor Eduardo Raupp (PR-3).

 

 

Importantes fatos na história da universidade marcaram a sessão extraordinária na terça-feira, dia 20, do seu colegiado máximo, o Conselho Universitário (Consuni). Um dos mais importantes foi a revogação do título de Doutor Honoris Causa concedido, em 1973, ao ex-ministro da Educação Jarbas Passarinho. Ele foi um dos articuladores do golpe de 1964 e de atos de subtração de direitos civis e de repressão aos movimentos sociais. 

Manifesto conjunto 

A revogação da concessão do título a Jarbas Passarinho já estava em discussão no colegiado há duas sessões. Ele participou do regime responsável pela morte e pelo desaparecimento de centenas de pessoas, incluindo 27 estudantes da UFRJ, entre os quais, Mário Prata, que na época presidia o Diretório Central dos Estudantes (DCE). Foi também um dos subscritores do Ato institucional nº 5, que suspendeu garantias constitucionais, intensificou a censura e legitimou a repressão e a perseguição política, como lembrou o parecer apresentado pela representante discente no Consuni, Julia Vilhena. 

O representante discente Igor Alves leu o manifesto ao Consuni assinado em conjunto pelo Sintufrj, DCE Mário Prata e a Associação dos Pós-Graduandos (APG) que reivindicava a revogação do título “do ditador Passarinho” concedido pela UFRJ —  “um dos articuladores do golpe que submeteu toda uma nação a um período de obscurantismo político, social e econômico por mais de duas décadas”.

“É inaceitável que a UFRJ siga titulando aquele que é também responsável pela perda irreparável de vidas e da democracia brasileira. Mais do que nunca é necessária coragem para responder à altura àqueles que insistem em defender o indefensável, garantindo a reparação moral aos estudantes e professores da UFRJ torturados, mortos e desaparecidos e como resgate da dignidade acadêmica do Conselho Universitário”, conclui o texto do manifesto das entidades.

Contra o negacionismo histórico

A revogação do título a Passarinho aprovada por 34 votos favoráveis, dois contrários e oito abstenções, foi precedida de uma profunda discussão sobre o papel da universidade na luta contra o negacionismo, não apenas na biologia e na saúde, como também na história.

Como lembrou a representante discente Dahra Vasconcelos, “a UFRJ tem sido ponta de lança na defesa da ciência, da vacina, do uso de máscara, contra o negacionismo que diz que se pode usar cloroquina (contra a Covi-19)”. E acrescentou: “Não se trata de afronta ou provocação, mas lutar contra o negacionismo que diz que a ditadura não existiu é também defender a ciência. A gente precisa se posicionar e mais uma vez ser ponta de lança do negacionismo”.

Repercussão

Para a conselheira técnico-administrativa e coordenadora do Sintufrj, Joana de Angelis, o Consuni tem a obrigação de se posicionar sobre fatos da ditadura quando um governo “vive tentando nos colocar de novo nas mesmas condições que tanto repudiamos”.  

“Nesta sessão foi fundamental que a UFRJ – uma instituição centenária — se posicionasse a favor da democracia. Num momento como o atual de ataques e negacionismos, a universidade não poderia deixar de fazer essa reparação histórica e necessária, que a coloca no rol das instituições em defesa da vida e da democracia, e contra qualquer forma de negacionismo da história, conforme destacou em sua manifestação a  conselheira Dahra”, disse Joana.  

 

 

Por causa dessa campanha, a atual vice-presidente da Aduferpe, professora Erika Suruagy, foi alvo de um inquérito aberto pela PF por, supostamente, atentar contra a honra de Bolsonaro

Publicado: 20 Abril, 2021.Escrito por: Kaline Medeiros, da Aduferpe

 

A campanha de outdoors ‘Senhor da Morte Chefiando o País’ está de volta às ruas do Grande Recife. São 30 cartazes, reproduzindo as mesmas peças lançadas em agosto do ano passado, quando o país ainda contabilizava 120 mil mortes pela pandemia do novo coronavírus. Hoje, são mais de 375 mil vidas perdidas para a Covid-19.

Por causa dessa campanha, a atual vice-presidente da Associação dos Docentes da Universidade Federal Rural de Pernambuco (Aduferpe), professora Erika Suruagy, foi alvo de um inquérito aberto pela Polícia Federal por, supostamente, atentar contra a honra do presidente Jair Bolsonaro (ex-PSL).

Assim como o caso da professora Erika, que na época era presidente da Aduferpe, vários professores, artistas, intelectuais estão vivendo uma forte onda de perseguição, inclusive sendo enquadrados na Lei de Segurança Nacional (LSN), como foi o caso do youtuber Felipe Neto. O caso de Erika agora se encontra no Ministério Público aguardando decisão. Até o momento, o Ministério da Justiça não se manifestou sobre o assunto.

Com grande repercussão em todo país, o caso de Pernambuco motivou outras entidades a instalarem outdoors, como a UNE, que está em campanha arrecadando contribuições e instalado novas peças em várias capitais e municípios do país.

Além da Aduferpe, assinam o outdoor dessa nova campanha no Recife: CUT, UNE, CSP-Conlutas, Andes, CNTE, entre outras. Erika Suruagy recebeu mais de 120 manifestações de solidariedade, vindas de todo país e até do exterior.

A atual presidente da Aduferpe, professora Nicole Pontes, considera essencial reforçar e replicar a campanha: ‘O aumento diário do número de mortos, em todo o Brasil, é resultado direto da inépcia desse governo. Não calarão as nossas vozes – vamos continuar denunciando essa tragédia’, afirma.

Outodoor na Avenida Barão de Souza Leão, na capital pernambucana

 

 

 

 

Mais de 370 mil brasileiros morreram de Covid-19. Milhões estão passando fome. Nesta terça-feira, 20 de abril, é dia de alertar a sociedade sobre a volta da fome ao Brasil e sobre a necessidade de exigir a imunização e a aceleração da vacinação de toda a população.

“Queremos vacina no braço e comida no prato!” é o slogan deste dia de luta nacional promovido pela CUT, demais centrais sindicais e os movimentos populares ligados às Frentes Brasil Popular e Povo Sem Medo, e que vai agitar as redes sociais e as ruas de todas as formas.

“Vacina no braço, Comida no prato: Fora Bolsonaro” foi o mote da campanha do Sintufrj lançada no dia 9 de abril, e que os movimentos sindical e popular aderiram para este Dia Nacional de Luta. 

Vacinação em massa e auxílio emergencial de 600 reais 

O objetivo é sensibilizar a população para também pressionar o Congresso Nacional a votar com urgência o valor do auxílio emergencial de R$ 600 (como foi aprovado pelo Congresso Nacional no ano passado), junto com medidas para acelerar o processo de vacinação por meio do Sistema Único de Saúde (SUS) para todos.

“O Brasil ainda atravessa momentos terríveis de crises econômica e sanitária, caminhando a passos largos para a marca de meio milhão de mortos por Covid-19”, destacam os movimentos à frente da mobilização nacional.  

O parlamentares em Brasília são chamados à responsabilidade: “Conclamamos o Congresso Nacional para que tenha sensibilidade social e humanitária, colocando em votação e aprovando o auxílio emergencial de R$ 600 mensais, até o fim da pandemia”.

Esse dia de luta terá mutirão nacional de colagem de cartazes e lambe lambes, projeções em muros e fachadas de prédios, twitaços etc., mas respeitando-se as medidas de isolamento social para conter o avanço da pandemia.

Reivindicações

1 – Vacinas conta a Covid-19 para todos e todas e rapidez na vacinação;

2 – Distanciamento social e lockdown unificado e organizado em todo o país;

3 – Auxílio-emergencial de R$ 600 mensais para quem precisa, até o fim da pandemia;

4 – Programa de proteção e manutenção do emprego e da renda;

5 – Apoio financeiro às pequenas e médias empresas que geram emprego;

6 – Solidariedade às populações socialmente mais vulneráveis e combate à fome.

Mortes

O Brasil ultrapassou os Estados Unidos, México e Peru e se tornou o país com mais mortes causadas pela Covid-19 por milhão de habitantes no continente americano. Os dados são do site “Our World in Data”. 

No ranking, o Brasil tem atualmente 1.756 óbitos por milhão de habitantes e ultrapassou o México no dia 7 de abril, o Peru no dia 13 e os EUA no dia 14. 

No país, a tragédia provocada pela Covid-19 já beira a 375 mil mortos e quase 14 milhões de casos neste início de semana. A média móvel de mortes encontra-se a mais de um mês acima de 2mil vítimas por dia. 

O culpado por esse genocídio? Jair Bolsonaro. É o que denuncia a campanha. 

Fato atestado por especialistas. 

Segundo artigo assinado por dez cientistas do Brasil e dos EUA, liderado pela demógrafa Márcia Castro, professora da Universidade Harvard, publicado na revista Science, uma das mais importantes da ciência no mundo, o presidente do Brasil é um grande culpado pelo fracasso do país no combate à pandemia.

Os cientistas criticam a conduta de Bolsonaro, que tem um peso proporcionalmente muito maior no cenário de caos gerado pela pandemia – com uma ação marcada não só por omissões, mas por atos irregulares como a promoção de curas ineficazes.

“No Brasil, a resposta federal tem sido uma combinação perigosa de inação e irregularidades, incluindo a promoção da cloroquina como tratamento, apesar da falta de evidências”, diz o estudo. 

Fome

Paralelamente a esse genocídio, o governo Bolsonaro propôs novo auxílio emergencial que atende menos pessoas, por menos tempo e com um valor que não compra nem meia cesta básica. O valor atual varia de R$ 150,00 a R$ 375,00.

Desde o início de seu governo a fome voltou a ser uma realidade para o povo brasileiro. Só nos últimos meses do ano passado 19 milhões de pessoas não tiveram o que comer, segundo pesquisa da Rede Penssan (Rede Brasileira em Soberania e Segurança Alimentar). 

Outra pesquisa mostra que 59,3% dos brasileiros – 125, 6 milhões – vivem em insegurança alimentar desde a chegada do coronavírus, segundo dados do estudo “Efeitos da pandemia na alimentação e na situação da segurança alimentar no Brasil”, coordenada pelo do Grupo de Pesquisa Alimento para Justiça: Poder, Política e Desigualdades Alimentares na Bioeconomia, com sede na Universidade Livre de Berlim.

Com informações da CUT Nacional e Sites de Notícias

 

 

 

“Não siga nenhuma decisão imbecil do presidente da República ou do ministro da Saúde. Tome vacina. Tome vacina porque a vacina é uma das coisas que pode livrar você da Covid. Mas não ache que, porque tomou a vacina pode tirar a caminha e ir pro boteco pedir uma gelada e ficar conversando. não! Você precisa continuar fazendo o isolamento, continuar utilizando máscara e utilizando álcool em gel. Pelo amor de Deus”, recomendou o ex-presidente Lula no seu discurso logo após o STF anular suas condenações pela Lava Jato do falso juiz Sergio Moro.

Lula tem razão? Será que quem estiver vacinado pode ser contaminado pelo coronavíruis?  

Quem esclarece essa e outras dúvidas que você tiver é o infectologista e professor da Faculdade de Medicina da UFRJ Roberto Medronho. Ele também faz parte da equipe de pesquisadores que coordena o Grupo de Trabalho (GT) Coronavírus da instituição. Confira: 

Como as pessoas devem se comportar depois de tomar a vacina contra a Covid-19?

Roberto Medronho: Da mesa forma que antes da vacina, ou sjea, com distanciamento social, uso de máscara e higienização frequente das mãos. A vacina tem a função de se a pessoa pegar Covid não adoecer de forma grave. Por isso a gente recomenda a  quem estiver vacinado manter as mesmas regras de antes da vacina.

Com a vacina a pessoa pode se infectar, mas, se adoecer, vai ser de forma branda. No entanto, ela pode transmitir a doença para quem ainda não se vacinou, e esta pessoa, sim, pôde adoecer de forma grave. Portanto, enquanto todos não estiverem vacinados as medidas de prevenção da transmissão da Covid são as mesmas.

Quem toma as duas doses da vacina fica livre da Covid-19?  

Roberto Medronho: Não está livre, não. Mas a probabilidade é bem maior de, caso adquira a doença, ter a forma branda.

Nesse caso (já tendo tomado as duas doses), a pessoa ainda transmite a doença?  

Roberto Medronho: Mesmo vacinado, se a pessoa pegar a Covid ela pôde transmitir. E se o conato se der com outra pessoa não vacinada, a doença nela pode evoluir de forma mais grave. 

Mesmo a pessoa estando vacinado ela pôde ser infectada? 

Roberto Medronho: Ela não está livre disso, mas a  probabilidade é bem maior de, em sendo infectada a doença evoluir de forma branda. Há gente que, mesmo vacinada, evolui de forma mais grave. Mas é um percentual muito, muito pequeno, graças a Deus.

Está reduzindo os casos de internação por Covid-19 na faixa etária que é alvo da vacinação?

Roberto Medronho: Felizmente temos números de internações nas idades mais avançadas menores que antes. Não é que não tenha a ver com o aumento de casos em jovens, e tem a ver com uma cepa muito contagiosa, a P1, e o comportamento daqueles que não estão seguindo as medidas de mitigação preconizadas, como o distanciamento social e ouso de máscaras. Estão aglomerando e como essa cepa é mais infectante, está tendo muitos casos de evolução para formas mais graves. 

Muita gente não está voltando aos postos para tomar a segunda dose da vacina. Quais são as consequências para a pessoa que está agindo assim?  

Roberto Medronho: Infelizmente este é um comportamento muito frequente em vacinas com mais de uma dose mesmo para outras doenças. Quem não tomar a segunda dose não terá a proteção adequada. Portanto, não será considerado vacinado.

Qual a diferença de eficácia entre a vacina da Astrazêneca e a Coronavac?

Roberto Medronho: A diferença é pequena. Alguns estudos falam que está em torno de 70% e 72%, no caso da AstraZeneca, 50% no caso da Coronavac. Mas há um estudo do Chile que diz que a eficácia da Coronavac é em torno de 70%. O que temos visto é que a Astrazeneca está tendo um pouco mais de reações do que o esperado. Mas são reações na maioria dos casos leves, no máximo moderada. A repercussão maior é para a saúde do indivíduo. Mas, como ocorre com toda vacina, há sempre o risco, embora muito raramente, de haver uma reação um pouco mais intensa.

Porque entre as duas vacinas há a diferença de prazo para a aplicação da segunda dose? 

Roberto Medronho: Estudos apontaram que quatro semanas de prazo para a segunda dose, no caso da Coronavac, e três meses, no caso da AstraZeneca, como sendo o momento ótimo para que a proteção seja maior. Os estudos feitos concluíram que os prazos adotados são os melhores. 

As reações são diferentes entre a Coronavac e a Astrazeneca? Por quê? 

Roberto Medronho: São dois tipos de formulação e (as reações) podem ter a ver com isso. Mas o mais importante é que as duas vacinas protegem bem contra a Covid-19 e as reações são, na maioria das vezes, leves e algumas um pouco moderadas, como febre, mal-estar, mas que cedem com o uso de analgésicos e antitérmicos normalmente em 24 horas. Muitas vezes (com esses medicamentos) cedem na hora.

Desde que surgiram notícias sobre efeito colateral raro da AstraZeneca, como formação de coágulos, algumas pessoas estão hesitantes em tomar qualquer uma das vacinas. Isso se justifica?

Roberto Medronho: Se não tomar, não vai ter reação à vacina, mas pode ter uma forma grave da doença e morrer. O risco de tomar a vacina e ter alguma reação grave é infinitamente menor do que não tomar a vacina e ter a Covid. E é por isso que a gente preconiza que todos se vacinem. Como vacinas alcançam milhões de pessoas, sempre tem um ou outro caso que apresenta reação, mas se considerarmos a quantidade de doses aplicadas o número (de reações) é insignificante.

As redes sociais têm prestado um desserviço ao repercutir fake News do movimento antivacina mostrando com exagero uma reação à vacina. O risco é ínfimo. Há mais risco de não tomar a vacina e ter doença grave. 

“Eu tomei as duas doses, mas o resto da minha família está contaminada. Como eu devo me comportar em casa? Devo usar máscara, me isolar?”, pergunta um sindicalizado do Sintufrj.

Roberto Medronho: A vacina não é passaporte para a imunidade. Quem tomou deve manter distanciamento social, uso de máscara e higienização das mãos até que todo mundo esteja vacinado. Quem tomou a vacina pode se infectar e adoecer de forma branda, mas pode contagiar alguém que ainda não está vacina e pode ter a forma grave. 

“A minha mulher teve alta nesta segunda (19) de Covid do HU. Quando ela chegar em casa precisa ficar isolada?”, quis saber outro sindicalizado da entidade.

Roberto Medronho: Depende de quanto tempo ela ficou internada. Se não tem mais nenhum sintoma e foi dada alta, se já passou o período infectante que vai até 14 dias do início dos sintomas, já não é mais transmissível (desde que esteja assintomática) e não precisa ficar mais isolada (dos demais) na casa.

Quando, em meio à vacinação para a Covid-19, deve-se tomar a vacina da gripe?

Roberto Medronho: Isso é um grande nó que estamos vivendo. A recomendação é para que na época do grupo indicado para  tomar a vacina da Covid, que é a doença que está circulando, internando e é a mais grave, a prioridade seja para essa vacina. Mas quem ainda não está no grupo indicado para se imunizar contra a Covid-19, deve tomar a vacina da gripe.

 

 

Estudo publicado na revista científica Nature mostra ainda que a cloroquina não trouxe qualquer benefício aos pacientes

Redação Rede Brasil Atual. 19 de Abril de 2021

Estudo publicado na última quinta-feira (15) na revista científica Nature comprovou que o tratamento com o medicamento hidroxicloroquina aumenta as mortes de pacientes com covid-19 e que a cloroquina não traz qualquer benefício aos pacientes da doença. Hidroxicloroquina e cloroquina são derivados da mesma classe de fármacos, mas possuem estruturas químicas diferentes.

Ambos os medicamentos são cotidianamente propagandeados pelo presidente da República, Jair Bolsonaro (sem partido), e fazem parte do chamado “kit covid”, remédios ineficazes, mas que têm sido indicados a pessoas infectadas pelo novo coronavírus.

O estudo publicado é uma metanálise, que revisou dados de 30 estudos feitos tanto com a hidroxicloroquina, como com a cloroquina. No total, 10.319 pacientes participaram desses estudos.

“Descobrimos que o tratamento com hidroxicloroquina está associado com o aumento das mortes de pacientes com covid-19 e que não há benefícios na cloroquina”, afirmam os pesquisadores. “Os profissionais médicos em todo o mundo são incentivados a informar os pacientes sobre essas evidências”, complementam.

Os pesquisadores destacam ainda que a agência de medicamentos dos Estados Unidos (FDA, na sigla em inglês) revogou uma autorização de uso de emergência para esses remédios, em 15 de junho de 2020. Além disso, dois grandes ensaios clínicos randomizados com esses medicamentos foram interrompidos devido aos riscos identificados.

Embora usados há anos com bons resultados no tratamento de outras doenças, como a malária, a hidroxicloroquina e a cloroquina podem causar efeitos adversos graves, como arritmia cardíaca, o que pode estar relacionado às mortes de pacientes com covid-19

“É uma evidência definitiva. A gente já estava convencido, mas é uma evidência definitiva para quem ainda prescreve cloroquina dizendo que não tem estudos, não tem dados, que indica com potencial beneficio. Quem está dando esse medicamento, está aumentando a chance de as pessoas morrerem”, explicou o especialista em infectologia e saúde pública Gerson Salvador, em entrevista ao portal Yahoo.

“É uma evidência definitiva para quem ainda prescreve cloroquina dizendo que não tem estudos” – Créditos: Min. da Saúde

 

Intelectual indígena aponta o reencontro do homem com a natureza e consigo mesmo como a única saída possível

Mariana Castro. Brasil de Fato | Imperatriz (MA) | 19/4/2021

De um lado, escolas brasileiras festejam o “Dia do Índio”, celebrado no dia 19 de abril, por meio de uma imagem estereotipada, racista e limitada do índio, coberto por pinturas e empunhando flechas. Do outro, violência, invasões, assassinatos e 521 anos de resistência.

Em entrevista ao programa Bem Viver, da Rádio Brasil de Fato, Gersem Baniwa, professor indígena e doutor em Antropologia Social, explica que a visão folclórica do indígena é resultado da ignorância e do racismo europeu, que defendia que os povos colonizados eram inferiores.

Para que essa visão seja superada, o intelectual aposta na educação, que considera um instrumento capaz de atingir as diversas classes sociais. “É por meio da educação que se atinge as classes das elites econômicas e a mídia”, exemplifica.

Filho de pai da etnia Baniwa e mãe da etnia Baré, Gersem José dos Santos Luciano – nome registrado em cartório por padres missionários – ou Gersem Baniwa, como é mais conhecido, nasceu na aldeia Yaquirana, no Alto Rio Negro, próximo ao município São Gabriel da Cachoeira, no Amazonas.

Professor da Universidade Federal do Amazonas (UFAM), Baniwa integrou o Conselho Nacional de Educação (CNE) em 2016 e esteve à frente da Coordenação do Conselho da Educação Escolar Indígena (CGEEI), no Ministério da Educação.

O intelectual defende uma educação autêntica, descolonial e libertadora, capaz de acolher a pluralidade de culturas e saberes. “A escola não indígena precisa descontruir a sua cosmovisão e as suas referências dessa uniformidade e superioridade, e abrir espaço para outras culturas, tradições, saberes e valores”.

Baniwa afirma que o consumo desenfreado está levando toda a humanidade ao suicídio, e a única saída é o reencontro do homem com a natureza e consigo mesmo.

“O homem se deslocou da natureza, se sobrepõe sobre a natureza. Ele quer dominar. Quer, no fundo, destruir a natureza. Isto é um caminho de suicídio. É um caminho absolutamente sem nenhuma garantia, nenhum futuro, nenhuma sustentabilidade. Até a ciência econômica, matemática e física indica que precisa haver esse equilíbrio entre, por exemplo, o consumo e aquilo que a natureza dispõe”. 

Durante o mês de abril, a programação do “Abril indígena” destaca a memória, a intensificação da luta dos povos indígenas, a urgência da demarcação de territórios e o fim da violência no campo.

Confira a entrevista completa.

Brasil de Fato – Nessa semana, escolas de todo o Brasil seguem reforçando uma imagem folclórica do índio, descalço, com penas na cabeça e uma flecha na mão. O quanto essa visão está distante da existência e da pluralidade dos povos indígenas, e como podemos superá-la?

Gersem Baniwa – Em primeiro lugar, investindo fortemente em programas educativos. Acho que o melhor caminho para superar a dificuldade de acolhimento, compreensão e convivência com a pluralidade e a diversidade, principalmente indígena, é por meio da educação, construindo uma nova consciência, uma nova compreensão do que é a humanidade e do que são as pluralidades das sociedades.

A Lei de 11.645 [que incluiu a obrigatoriedade da temática “História e Cultura Afro-Brasileira e Indígena” no currículo das escolas] deveria receber maior e melhor atenção, inclusive em termos de investimentos financeiros, para qualificar professores. 

Para que esses professores possam atuar com um material didático de qualidade, para que, de fato, se construa uma nova cosmovisão e uma nova consciência das novas gerações de brasileiros, e que se supere aquelas tradições racistas e preconceituosas do período colonial.

Essas tradições tinham a certeza que a única humanidade, ou a única sociedade da vida humana e civilizada, eram aquelas originadas ou ligadas às sociedades ocidentais europeias.

A educação é o caminho porque é por meio da educação que se atinge tanto as classes das elites econômicas, quanto os jornalistas e a mídia.

Boa parte do preconceito, da discriminação e do racismo são resultado, em primeiro lugar, do desconhecimento e da ignorância. Em segundo lugar, do imaginário dominante europeizado e etnocêntrico.

Inclusive, o governo Bolsonaro faz uso dessa imagem exótica para colocar em prática um projeto de extermínio indígena, incentivando que o agronegócio e mineradoras assumam o poder sobre terras indígenas.

Esse é o grande problema. Isso é resultado da ignorância, mas também do racismo estrutural, civilizatório, do ocidente europeu, que sempre considerou as sociedades europeias como as únicas humanidades, e que deveriam ser tratadas como civilizadas. Todos os demais povos, principalmente os povos colonizados, como os indígenas, ou não seriam humanos, ou seriam inferiores.

Essa é a visão do presidente da República, que vai na televisão para todo o Brasil e diz: “Olha, os indígenas precisam sair dos seus zoológicos para virem até a nossa civilização e se tornarem humanos como nós”. Ele claramente passa essa visão de desumanidade indígena.

Nós superamos essa visão com formação, com educação.

As escolas indígenas têm um papel fundamental na luta dos povos por seus direitos. O senhor defende, inclusive, uma escola indígena descolonial e libertadora. Como seria esse modelo educacional e o que é preciso para alcançá-lo?

Do ponto de vista da escola dos índios, precisamos ter uma escola autônoma, autêntica, original. Não é ser contra a escola não indígena, mas precisamos ser favoráveis à própria educação indígena, que tem seus valores ancestrais, históricos, tradicionais, que valoriza a família, a comunidade, a sociedade, a humanidade, a natureza e o meio ambiente.

São valores muito fortes, muito importantes no passado, presente e futuro. É muito importante valorizar esse aspecto da educação indígena, com esses valores, e [ao mesmo tempo] abertos para o mundo e para as novas tecnologias.

A escola não indígena precisa descontruir a sua cosmovisão e as suas referências dessa uniformidade e superioridade, e abrir espaço para outras culturas, tradições, saberes e valores. Essa seria a contribuição da Lei 11.645.

Que caminhos a sabedoria e a trajetória de resistência dos povos indígenas poderia apontar para seguir com esperança de dias melhores?

Sem dúvida nenhuma, primeiro é preciso fazer uma guinada, uma volta ao passado, e se recompor. Uma das principais fragilidades da atual civilização moderna é a separação do homem e da natureza.

O homem se deslocou da natureza, se sobrepõe sobre a natureza. Ele quer dominar. Quer, no fundo, destruir a natureza. Isto é um caminho de suicídio. É um caminho absolutamente sem nenhuma garantia, nenhum futuro, nenhuma sustentabilidade. Até a ciência econômica, matemática e física indica que precisa haver esse equilíbrio entre, por exemplo, o consumo e aquilo que a natureza dispõe.

Precisamos desse retorno, desse equilíbrio total, global. Global não apenas da humanidade enquanto cosmo, mas dos seres humanos, da natureza, do mundo como ele é.

É é muito importante: voltar um pouco a essa experiência mais integrada, mais orgânica. Esse é o caminho. O caminho puramente do consumo e do individualismo só leva à destruição.

A segunda questão muito importante é fazer com que o futuro seja planejado por todos. Não apenas na integração do homem com a natureza, mas a integração entre os seres humanos, portanto, entre os homens. Essa questão da equidade é fundamental. 

O que castiga o mundo hoje, em grande medida, é o preconceito, o racismo, mas principalmente o ódio. O ódio que existe no mundo, as guerras, as lutas. No Brasil, as polarizações ideológicas representam muito esse ódio. É preciso haver a refundação da sociedade entre si e com a natureza.

Esse é o único caminho possível: o reencontro, a recomposição do cosmo, portanto, do homem com a natureza, e a recomposição da humanidade consigo mesma, entre as diferentes sociedades humanas. Superar o ódio, os conflitos, as polarizações, as intrigas, e criar condições de vida, de sobrevivência e de felicidade para o bem viver.

É exatamente essa combinação do homem com a natureza e do homem consigo mesmo na sua diversidade. Porque a guerra, a ausência de paz, a ausência de tranquilidade, que gera toda sorte de miséria, é resultado, efetivamente, desse desamor entre os humanos, da falta de amor entre as sociedades humanas.

Essa é a lição dos povos indígenas. A principal lição pedagógica e civilizatória dos povos indígenas.

Edição: Poliana Dallabrida

 

Brasília – O professor da Universidade Federal do Amazonas (Ufam) e especialista em educação indígena, Gersem Baniwa, participa do 3º Fórum Nacional de Educação Escolar Indígena, na UnB (Valter Campanato/Agência Brasil)