Segundo Dão Real, a proposta do governo é parte de um objetivo maior: reduzir o tamanho do Estado

Matéria retirada do site Brasil de Fato

 

O Congresso Nacional recebeu a proposta de reforma administrativa pretendida pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido) no dia 3 de setembro. Segundo o secretário de Gestão e Desempenho de Pessoal do Ministério da Economia, Wagner Lenhart, em entrevista à Agência Brasil, a reforma dará ao governo maior flexibilidade e capacidade de adaptação às mudanças tecnológicas e na sociedade.

Segundo a matéria, ainda há um caminho a ser percorrido para que as mudanças tornem-se efetivas. Além da aprovação da Proposta de Emenda Constitucional (PEC) no Congresso, o governo ainda precisará enviar projetos de lei sobre gestão de desempenho; modernização das formas de trabalho; consolidação de cargos, funções e gratificações; arranjos institucionais; diretrizes de carreiras; e ajustes no Estatuto do Servidor. Na terceira fase, o governo enviará o Projeto de Lei Complementar (PLP) do Novo Serviço Público, com o novo marco regulatório das carreiras; governança remuneratória; e direitos e deveres do novo serviço público.

Sindicatos de servidores públicos já reagiram à proposta. Na última quarta-feira (30), diversas entidades organizaram o Dia Nacional de Lutas contra a Reforma Administrativa. Mobilizações virtuais e presenciais marcaram a data contra o desmonte dos serviços públicos e a retirada de direitos de servidores e servidoras dos três níveis: federal, estadual e municipal. Chamada pelo governo de PEC da Nova Administração Pública, a proposta altera 27 trechos da Constituição e introduz 87 novos, sendo quatro artigos inteiros.

Dão Real ressalta que a proposta faz o Estado voltar a situação anterior à Constituição de 88, de clientelismo, onde cada governo que entrava colocava os seus amigos / Arquivo pessoal

O auditor fiscal e vice-presidente do Instituto Justiça Fiscal (IJF), Dão Real Pereira dos Santos, explica nesta entrevista ao Brasil de Fato RS que enquanto as pessoas não conseguirem perceber que essas reformas são contra a sociedade, mais do que contra os servidores públicos, não se conseguirá enfrentar essas reformas ou essas tentativas de reformas.

Confira a íntegra da entrevista.

Brasil de Fato RS – Segundo o governo, a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 32/2020, a reforma administrativa, irá acabar com privilégios, regalias, “enxugar a máquina” e torná-la mais eficiente. Já vimos esse filme antes, no governo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (FHC). No entanto, a PEC não abarca, por exemplo, as tão comentadas disparidades salariais no serviço público. Na sua avaliação quais os reais objetivos dessa proposta?

Dão Real Pereira dos Santos – A proposta de reforma administrativa do governo não altera apenas a relação entre o Estado e os seus servidores, mas altera radicalmente a relação entre o Estado e a sociedade, entre o Estado e o cidadão, na medida em que ela constrói uma estrutura pautada na ideia de Estado mínimo, Estado que atua de forma residual. Isso fica claríssimo na alteração proposta no artigo 37 da Constituição, onde lá nos princípios constitucionais da Administração Pública é incluído o princípio da subsidiariedade.

Esse princípio significa que o Estado deixa de atuar de forma prioritária como provedor de bem-estar, e passa a atuar de forma residual, ou seja, o papel do serviço público passa a ser residual ao mercado, em relação ao mercado. E outras alterações na proposta de reforma dão também esse caráter de que as políticas públicas vão ser transferidas para setores privados, ou para entidades do setor privado. Políticas públicas tanto de educação quanto de saúde, e que o serviço público vai tender a ser um auxiliar do setor privado nas políticas públicas.

Então, a proposta de reforma administrativa está colocada no Parlamento como uma tentativa de alterar radicalmente o modelo do Estado. O modelo de relação que tem o Estado em relação ao cidadão. Essa proposta está muito afinada com o modelo de Estado defendido pelo governo, um Estado mínimo. Um modelo de Estado que transfere para o setor privado, terceiriza atividades, vende e privatiza patrimônio público. Ele está afinado também com uma proposta já anterior à reforma administrativa, que foi a PEC 188 que está no Congresso Nacional também.

A PEC 188 altera, entre outras coisas, o artigo 6° da Constituição. Vejam, o artigo 6° é o que determina os direitos sociais da população brasileira. É ali que está dito que a saúde, a educação, a moradia, a assistência, a previdência, o amparo à maternidade são direitos. Quando ele define o conjunto dos direitos, ele está definindo também a obrigação do Estado de garantir esses direitos. E ele vai garantir esses direitos com políticas públicas, com serviços públicos, com servidores públicos, remunerados adequadamente, com uma estrutura estável do Estado brasileiro.

A PEC 188 propõe a inclusão no artigo 6° de um parágrafo que condiciona a prestação desses direitos ao equilíbrio fiscal, ou seja, diz o seguinte: esses direitos são relativos, eles só serão obrigatórios se houver equilíbrio fiscal intergeracional, ou seja, está criando uma figura de um equilíbrio fiscal de longo prazo para ser uma condição de prestação por parte do Estado dos direitos sociais. Veja, isso é uma total vinculação dos direitos, condicionamento dos direitos a uma decisão política, porque o equilíbrio fiscal também decorre de decisão política. Se o Estado pode abdicar de arrecadar tributos, por exemplo, pode conceder isenções, pode não combater adequadamente a sonegação. Então, o Estado pode interferir no equilíbrio fiscal, e ao fazer isso, ele acaba também se desonerando de prestar contas à sociedade, no sentido de garantir-lhes os direitos sociais, a educação, a saúde, a previdência, enfim.

Embora o governo argumente que a PEC só trará alteração para os futuros servidores, o texto da proposta apresenta medidas que afetam aqueles que estão na ativa. Além disso, a precarização dos serviços tem impacto direto nas condições de trabalho daqueles que já estão atuando. A reforma propõe novos regimes de contratação de forma precarizada, de caráter temporário e contratos em regime de experiência, acabando com o Regime Jurídico Único. O que isso significará para o serviço prestado à população?

Como costuma acontecer em muitas medidas, há sempre uma tentativa de produzir uma divisão de interesses. O governo tem dito que a proposta de reforma administrativa não vai atingir os atuais servidores públicos, que só vai atingir os servidores no futuro criando outros regimes de contratação. De fato, isso é uma ilusão, porque toda a proposta que afeta os novos servidores públicos que entram no Estado acaba afetando imediatamente os atuais servidores que estão no serviço público, não tem como não atingir.

A reforma administrativa está propondo uma possibilidade de o poder Executivo dispor de cargos e de fazer alterações, inclusive extinguindo cargos e empresas públicas

Isso acontece porque as regras que são estabelecidas para os servidores públicos acabam repercutindo nas regras a serem aplicadas aos atuais servidores públicos. Uma das regras que tem aplicação imediata é a questão da perda da estabilidade. A estabilidade já foi quebrada por outras medidas no passado, mas existiam ainda algumas garantias que esta reforma administrativa estaria tirando praticamente para todo mundo. Uma das garantias era de que a pessoa só poderia ser demitida com o trânsito em julgado de uma sentença judicial.

Agora, a alteração é que a demissão depende de um trânsito em julgado ou de uma decisão colegiada, ou seja, basta uma segunda instância colegiada e já poderia ser demitido o servidor público. Também em relação à possibilidade de demissão por insuficiência na atuação do cargo, isso dependia de regulamento, dependia de lei complementar, e agora ele reduz para uma lei ordinária. Basta uma lei ordinária para disciplinar esta forma também de demissão. Portanto, a estabilidade acaba também sendo mitigada, inclusive dos atuais servidores, com a aprovação desta proposta.

Por outro lado, tem uma outra questão que precisa ser levada em conta, que a reforma administrativa está propondo uma possibilidade de o poder Executivo dispor de cargos e de fazer alterações, inclusive extinguindo cargos e empresas públicas, enfim, interferindo sem lei, por decreto, portanto, na organização da Administração Pública do serviço público. Atualmente precisa de lei. Ora, se é possível fazer isso, ninguém está seguro mais no serviço público, ou seja, não precisa de lei, basta que o governo determine que um certo cargo passou a ficar obsoleto, para que ele possa extinguir o cargo e, portanto, demitir as pessoas que ocupavam aquele cargo ou transferir para outras funções.

E como é que um cargo fica obsoleto a partir de agora? Antigamente já tivemos situações assim, onde determinados cargos, principalmente, de nível médio ou cargos de nível mais básico passaram à condição de obsolescência, justamente pelas terceirizações. Agora a terceirização pode ser feita inclusive para as atividades fins. Portanto, dentro da perspectiva que traz a reforma administrativa de transferir para o setor privado determinadas tarefas que são executadas hoje, praticamente ou exclusivamente pelo setor público, ou preponderantemente pelo setor público, talvez muitos cargos que hoje são considerados importantes no serviço público daqui um ou dois anos possam ser considerados obsoletos.

Sendo assim, mesmo os atuais servidores poderão ter os seus cargos considerados obsoletos daqui a pouco, por um decreto presidencial, e o cargo deixa de existir e a pessoa perde o seu emprego. Então quer dizer, não há nenhuma garantia de que os atuais servidores estejam protegidos contra os ataques propostos nessa reforma administrativa encaminhada ao Congresso.

A PEC possibilita, ainda, à União, aos estados, ao Distrito Federal e aos municípios fecharem contratos de cooperação com órgãos e entidades, públicos e privados, para a execução de serviços públicos, inclusive com o compartilhamento de estrutura física e a utilização de recursos humanos de particulares, com ou sem contrapartida financeira. Quais as implicações dessa medida?

Veja que coisa interessante essa questão. A PEC possibilita que a União, estados, Distrito Federal e municípios firmem contratos de cooperação com setores privados, inclusive com outros órgãos públicos ou privados, entidades públicas e privadas, para execução de serviços públicos, inclusive cedendo servidores. Então, vamos imaginar a educação, ela poderia de alguma forma ser delegada a uma entidade privada, e o Estado cederia os seus professores para atuar a serviço dos interesses deste grupo privado que está prestando esse serviço.

É uma total inversão das bases do Estado de bem-estar. O Estado passa a ser um garantidor de atividades econômicas

Isso tem duas implicações muito importantes. A primeira delas é quando o Estado, ao invés de oferecer um determinado serviço, ele paga para uma entidade privada oferecer o serviço, portanto, o Estado continua bancando e o serviço continua sendo oferecido à sociedade de forma gratuita, esta é uma forma. Então quer dizer, aquilo que era oferecido 100% ao cidadão, agora passa a ser oferecido talvez por 80% porque 20% tem que ser a remuneração pela prestação do serviço por parte desse setor privado, ou seja, tem que garantir o lucro do setor empresarial que estaria investindo, que estaria atuando naquela atividade.

Outra forma dessa terceirização ou dessa transferência para o setor privado pode se dar no sentido da privatização do próprio serviço. Vamos imaginar um atendimento de saúde, no posto de saúde ou um exame médico, um exame laboratorial feito pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Esse serviço seria entregue ao setor privado para exploração econômica, e o cidadão adquiriria esse serviço mediante remuneração, pagando por ele. O cidadão que não tivesse condições de pagar por ele, receberia do Estado uma determinada ajuda financeira, que poderia ser um voucher ou um valor em dinheiro. Portanto, o Estado estaria atuando apenas no aspecto residual, tentando atender aqueles que não teriam condições econômicas de acessar o serviço.

Tanto uma quanto outra forma de terceirização ou de cooperação, de buscar a cooperação de entidades privadas para a execução do serviço público, vai ter que contemplar o ganho desse setor privado, dessa empresa, dessa instituição privada. Então, uma parte daquilo que hoje é transferido para a população na forma de políticas públicas vai se transformar em lucros empresariais. Também é importante ressaltar que a lógica do empreendimento privado não é a mesma lógica do empreendimento público. O empreendimento público está na lógica da garantia dos direitos, e essa garantia dos direitos deve se dar independentemente do custo que esse direito implica.

A lógica do setor privado não é essa, é oferecer um serviço dentro das condições financeiras que é garantida para aquele setor privado. Essa condição financeira é garantida pelo preço pago pelo usuário do serviço, ou pela transferência de recursos públicos diretamente do Estado para estas instituições. É uma total inversão das bases do Estado de bem-estar. O Estado passa a ser um garantidor de atividades econômicas, ainda que sejam atividades econômicas vinculadas aos serviços públicos essenciais, mas ele é um garantidor de atividade econômica para o setor privado.

Mais uma grande alteração contida na reforma administrativa proposta por Bolsonaro é o poder, delegado ao presidente, para extinguir cargos públicos efetivos vagos, cargos de Ministro de Estado, cargos em comissão, cargos de liderança e assessoramento, funções de confiança e gratificações de caráter não permanente, ocupados ou vagos. Isso significa dar plenos poderes ao presidente? Quais os riscos dessa proposta?

A reforma administrativa está mudando de uma forma bastante substancial a forma de contratação. Além disso tem essa questão central que é a possibilidade de o Executivo poder dispor dos cargos, inclusive para extinguir cargos, empresas públicas, e administrar de forma mais livre a estrutura do Estado. Ela estabelece uma nova forma onde a contratação por concurso público passa a ser residual. A maior parte da contratação pode se dar de forma temporária, inclusive, não precisa ser por prazo indeterminado. O Estado vai poder contratar pessoas e demitir quando termina o governo. Pode demitir todo mundo no início do governo e contratar todas as pessoas do seu próprio grupo, da sua própria identidade política.

Esta possibilidade de mexer livremente na estrutura da Administração Pública retoma ao que se tinha antes da Constituição de 1988, que é o clientelismo no serviço público. O emprego público passa a ser uma contrapartida, uma contraprestação por favores políticos. Isso é muito grave, porque a Constituição, ao criar o concurso público, criou a estabilização do Estado. A estrutura institucional do Estado é permanente, e a permanência da estrutura ou a estabilidade do setor público não existe em benefício do servidor público, ela existe em benefício da sociedade.

Imaginem o poder público ou o Estado atuando no serviço público, se atuasse de forma a favorecer os amigos políticos e a dificultar a vida dos inimigos políticos, ou atuasse no sentido de proteger pessoas que são de alguma forma protegidas por um governante de ocasião. Entrou um governante, um prefeito, um governador, um presidente da República, ele tem os seus amigos, patrocinadores, investidores ou mesmo financiadores das suas campanhas e tal, e aí ele coloca a Administração Pública para proteger aquele grupo econômico em detrimento de outros grupos econômicos. Se o Estado não tiver estabilidade ou se a estrutura do Estado, do servidor público, não tiver estabilidade, não tiver garantias, prerrogativas, ele passa a ser um instrumento nas mãos dos governantes.

O Estado tem que ter a garantia de estabilidade, justamente para preservar os interesses da cidadania. A preservação dos interesses da cidadania se dá quando uma autoridade de Estado pode atuar independentemente das pressões políticas, das pressões econômicas, das pressões financeiras, ele pode atuar tendo por base apenas a lei. Isso é a estabilidade que a Constituição de 1988 buscou ao exigir que todo servidor público só entre por concurso público, que tenha estabilidade, que tenha prerrogativas garantidas por lei.

O Estado vai poder contratar pessoas e demitir quando termina o governo

Essa proposta remonta há mais de 30 anos e faz o Estado voltar à situação anterior de clientelismo, onde cada um que entrava colocava os seus amigos, os seus pares na Administração Pública, pagava os favores políticos obtidos durante campanhas. O grave disso tudo é a politização do Estado, sob o pretexto de dar mais independência, de dar mais efetividade à Administração Pública. Ou seja, o Estado e os servidores públicos passarão a ter a cara do governante e não mais a cara do interesse público predominante.

Têm várias coisas por trás disso e efeitos que precisam ser debatidos com a sociedade. O fato é que a proposta de reforma administrativa dialoga com o modelo de Estado absolutamente diferente do modelo que está na Constituição de 1988. Dialoga com um Estado mínimo, clientelista, patrimonialista, no qual o serviço público passa a ser o reflexo imediato da estrutura política governante em cada momento.

Na sua avaliação, como contrapor ao discurso do governo e da grande imprensa para dialogar com a sociedade?

A grande dificuldade que se tem sempre que aparece esse tipo de discussão, de reforma administrativa, reforma da Previdência ou reforma tributária, mas essa principalmente, é que se dá a impressão para a sociedade de que se trata de uma reforma que vai atingir apenas os servidores públicos. E de fato não é. Na verdade, ela é apenas parte de um conjunto de reformas que modificam a estrutura de Estado e ao modificar a estrutura do Estado o que elas modificam é a relação do Estado com a sociedade.

Enquanto as pessoas não conseguirem perceber que essas reformas são contra a sociedade, mais do que contra os servidores públicos, não se conseguirá enfrentar essas reformas ou essas tentativas de reformas

Então, é muito importante que se consiga transmitir para as pessoas a relação da reforma trabalhista aprovada lá atrás, e que desestruturou todo o sistema das relações de trabalho, de emprego e de trabalho, com o congelamento dos gastos de 2016, que congelou e reduziu os gastos com saúde, com educação, e que não deixa esses gastos aumentarem. Depois, com a reforma previdenciária que tentou transferir para o setor privado toda a previdência dos trabalhadores brasileiros. Mostrar que essas propostas dialogam com a reforma administrativa. São todas partes de uma mesma tentativa de desestruturar o Estado de bem-estar social da Constituição de 1988.

Portanto, a gente passa a entender que isso tudo é parte de um único grande objetivo, que é reduzir o tamanho do Estado, esvaziar o Estado, deslocar para o setor privado grande parte das atividades que hoje são executadas pelo Estado. Veja, o Estado brasileiro, com todas as suas deficiências, presta um serviço público de educação pra 81% das crianças brasileiras, ou seja, 81% das crianças no Brasil só conseguem estudar porque existe a escola pública. 75% das pessoas no Brasil só tem acesso à saúde por causa do SUS, que é gratuito, só 25% é que dispõe de serviço de saúde privado. Só 19% das crianças brasileiras estudam em escolas particulares.

Quer dizer, o Estado atende quase a universalidade da população, quase todo mundo. Este é o volume de atividades que está sendo disputado. Ou seja, quanto mais o Estado atua em determinadas áreas, menos o setor privado atua nestas áreas. Portanto, estas reformas, e a reforma administrativa também caminha no mesmo sentido, visam retirar o Estado das atividades de prestação de serviços públicos sempre que for possível e deixar que o mercado assuma essas atividades. Coloca-se o Estado na condição absolutamente residual. O Estado vai atuar apenas de forma marginal, atendendo àqueles grupos mais miseráveis da população, que não conseguem acessar esses serviços pagando por eles.

Portanto, para poder se contrapor a esse discurso quase hegemônico da necessidade de reformas, é preciso mostrar para as pessoas que essas reformas não são contra os servidores públicos, não são contra os privilegiados, não são contra os mais privilegiados da sociedade. Mas são reformas que atingem diretamente o interesse mais primário da população que é de ter acesso aos serviços públicos de qualidade, de ter acesso à educação pública, de ter acesso à saúde pública, de ter acesso a uma previdência social, de ter acesso a uma assistência social quando precisa. Quer dizer, são esses direitos que estão sendo atingidos quando se retira do Estado capacidade de atuação.

Enquanto as pessoas não conseguirem perceber que essas reformas são contra a sociedade, mais do que contra os servidores públicos, não se conseguirá enfrentar essas reformas ou essas tentativas de reformas. Não é uma nem duas, são muitas reformas que caminham no mesmo sentido. É preciso criar massa crítica, é preciso discutir muito isso com a sociedade, com os trabalhadores. É preciso mostrar que a reforma trabalhista, lá de 2018, é a mesma coisa que a reforma administrativa agora. Servem para o mesmo fim, para a precarização do papel do Estado. Ou seja, abrindo espaço para o mercado poder lucrar, para o mercado poder atuar mais.

Debate nesta terça

Live ocorre nesta terça-feira às 16h / Reprodução

Para aprofundar o tema, o Brasil de Fato RS e a Rede Soberania promovem o debate “A Reforma Administrativa para quem?”. A atividade será nesta terça-feira (6), às 16h. Além de Dão Dão Real Pereira dos Santos, a live terá a participação de Diogo Joel Demarco, professor do curso de Administração Pública e Social da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).

Ato realizado no Dia Nacional de Luta contra a reforma administrativa e da Jornada Nacional de Luta pelo Serviço Público – Marcelo Carlini/Sintrajufe

 

 

 

A segunda reunião virtual da Comissão de Mobilização do Sintufrj, na segunda-feira, 5 de outubro, definiu encaminhamentos para ampliar a mobilização contra a reforma administrativa do governo Bolsonaro.

Além da publicização da campanha com os materiais produzidos pelo Sintufrj para outdoors, jornais e as redes sociais, a pressão sobre os parlamentares será total.

Reforço

Iniciada virtualmente pelo Sintufrj, agora a campanha contra a reforma administrativa se ampliará com as ações conjuntas dos sindicatos de base, em nível nacional, conforme proposta que será levada à Fasubra pela Comissão de Mobilização.

Na reunião desta segunda-feira, já participaram dirigentes de duas outras entidades: da Asunirio (Unirio) e do Sintur-RJ (Universidade Rural do Rio de Janeiro). Os companheiros elogiaram o esforço de mobilização do Sintufrj e ressaltaram a urgência da união dos trabalhadores contra os ataques do governo Bolsonaro aos servidores.

Os participantes da reunião aprovaram os seguintes encaminhamentos:

– Propor à Fasubra como eixo da campanha nacional “Essa reforma é uma farsa”, articulando ações conjuntas dos sindicatos da base da Federação (outdoors, jornais etc.).

– Pressionar os parlamentares – disponibilizando a lista de contatos e uma mensagem padrão – estimulando a categoria a lotar as caixas postais dos deputados e senadores com mensagens contra a reforma administrativa.

– Intensificar a divulgação dos materiais produzidos pelo Sintufrj nas redes sociais.

Na próxima segunda, dia 5 de outubro, às 15h, a Comissão de Mobilização do Sintufrj fará nova reunião virtual aberta ao conjunto da categoria. Utilizaremos a plataforma Zoom para a reunião e o link será divulgado pela lista de transmissão do Sintufrj na manhã do dia 5. O sindicato já iniciou a campanha virtual contra a reforma administrativa, aprovada na última assembleia, e esteve presente no ato do último dia 30, na Cinelândia. A pauta da reunião é a construção de um calendário de mobilizações contra a reforma, com debates e ações de pressão sobre os parlamentares.

 

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“No Brasil se propaga uma ideia de desnecessidade do que é público. Se vende a ideia de que o público não é necessário e não é bom. E isso se propaga para representações sobre o serviço público e sobre o servidor público como sendo algo invariavelmente negativo. Servidores públicos são marajás, privilegiados, não trabalham”, chamou a atenção José Marçal, pesquisador da Fundação Jorge Duprat Figueiredo de Segurança e Medicina do Trabalho (Fundacentro), durante a live promovida pela Fasubra, na quinta-feira, 1º de outubro.

“Saúde dos trabalhadores e trabalhadoras no setor público: constitucionalidade e novas formas de trabalho, durante e após a pandemia” foi o tema do debate virtual da Fasubra on line promovido pela Fasubra na quinta-feira, 1º de outubro. A campanha do governo e da mídia contra o serviço público e os servidores foi denunciada pelo pesquisador. Segundo Marçal, a melhor forma de combater as mentiras propagandiadas é mostrar à população ações públicas benéficas.

Como combater as mentiras

“Nós temos a obrigação de combater isso. De mostrar que a desnecessidade do público é uma política de produção de ignorância da população. A desnecessidade do público é uma inverdade e é um enorme risco. Não existe sociedade sem que haja uma valorização do que é público. Isso só pode ser feito por meio da uma ação pública. É a ação que muda a concepção das pessoas. A ação na pandemia da Covid-19 mostrou isso claramente. Como todo o discurso negativo sobre as universidades foi quebrado”, propõe o professor.

O apoio das entidades sindicais às ações de valorização do público e seus trabalhadores é fundamental, segundo Marçal, “pois ajuda a romper com a imagem negativa do que é público e de seus trabalhadores”. Ele está convicto de que a produção da imagem negativa dos serviços públicos e dos servidores é deliberada, pois é uma política de governos.

“Tem a ver com a necessidade de diminuir a importância do serviço público e de certa forma provocar o esvaziamento do seu sentido. Se não há sentido o trabalho no setor público porque temos que manter toda essa gente?”, explicando qual é a lógica do governo ao tentar desmoralizar o público. Para o pesquisador isso se dá numa disputa inerente à democracia e que faz parte da concepção de governo e de Estado.

Saúde como mercadoria

O assessor jurídico da Fasubra, José Luiz Arzena, alertou para a transformação do sistema de saúde pública em mercadoria. “A saúde não se monetiza, ela é um direito. O Sistema Único de Saúde, o SUS, fez 30 anos”, observou. Ele citou a Convenção 155 da OIT – Organização Internacional do Trabalho – que trata da Segurança e Saúde dos Trabalhadores como uma diretriz a ser perseguida pelos trabalhadores para a promoção da saúde.

“O movimento sindical tem de fazer um esforço para se apropriar desse debate e de criar um ambiente equilibrado para o trabalhador”, concluiu o assessor.

Jupiara Castro, ex-coordenadora da Fasubra e atual representante da entidade no Conselho Nacional de Saúde, fez um histórico da criação do SUS, das conquistas dos trabalhadores nessa área com a Constituição de 1988 e sobre as adversidades e retrocessos enfrentados por eles. Ela também manifestou preocupação com a transformação da saúde pública em mercadoria.

“A saúde está se transformando em mercadoria. Quem tiver dinheiro terá acesso e quem não tiver cairá nas antigas casas de misericórdia do país”, previu. Segundo a militante, o projeto maior do governo Bolsonaro é dizimar todas as conquistas dos trabalhadores.

 

 

O mês de outubro reedita um importante movimento internacional, criado há três décadas, que é o de conscientização para controle do câncer de mama. A campanha Outubro Rosa nasceu para difundir informações — com destaque para a importância do acesso ao diagnóstico precoce – sobre esse tipo de câncer que está entre os três mais comuns do mundo, junto com o de pulmão e colorretal.

No entanto, apesar de todos dos alertas, o medo da Covid-19 tem desestimulado a procura pelos recursos de prevenção da doença. O site da Agência Senado informa que, este ano, a pandemia tem evitado que as pessoas procurarem os serviços de saúde.

“Segundo o doutor Gil Facina, membro titular da Sociedade Brasileira de Mastologia, todos os serviços de diagnóstico sofreram uma redução drástica no número de pacientes, e o atraso no diagnóstico pode reduzir as chances de cura”, diz o texto publicado pelo Senado, reiterando que os serviços de saúde pública estão atendendo as mulheres com segurança.

O especialista em Mastologia e Cirurgia Oncológica da Faculdade de Medicina de Sorocaba (PUC/SP), Luiz Antonio Guimaraes Brondi, em artigo para o Jornal Cruzeiro do Sul, destaca que a campanha deste ano acontece em meio a pandemia por um vírus agressivo de alta letalidade para determinado grupo de pessoas, mas que, tomando todas as precauções exigidas, as pacientes portadoras de câncer continuaram sendo atendidas, diagnosticadas e tratadas regularmente.

Sintomas

No site do Instituto Nacional do Câncer (Inca) um artigo alerta que o sintoma mais comum de câncer de mama é o aparecimento de nódulo, geralmente indolor, duro e irregular, mas há tumores que são de consistência branda, globosos e bem definidos. Há outros sinais como edema cutâneo semelhante à casca de laranja, dor, descamação ou ulceração do mamilo e secreção, entre outros. Podem também surgir linfonodos palpáveis na axila.

Estimativas

Segundo o site, o câncer de mama é o mais incidente em mulheres no mundo, representando 24,2% do total de casos em 2018, com aproximadamente 2,1 milhão de casos novos. É a quinta causa de morte por câncer em geral (626.679 óbitos) e a causa mais frequente de morte por câncer em mulheres.

No Brasil, excluídos os tumores de pele não melanoma, o câncer de mama também é o mais incidente em mulheres de todas as regiões.

Para o ano de 2020 foram estimados 66.280 casos novos, o que representa uma taxa de incidência de 43,74 casos por 100.000 mulheres.

Incidência

A incidência do câncer de mama tende a crescer progressivamente a partir dos 40 anos, assim como a mortalidade por essa neoplasia. Na população feminina abaixo de 40 anos, ocorrem menos de 10 óbitos a cada 100 mil mulheres, enquanto na faixa etária a partir de 60 anos o risco é 10 vezes maior.

Mais informação, mais prevenção

O Inca — que participa do movimento desde 2010 —  produz materiais e outros recursos educativos para disseminar informações sobre fatores protetores e detecção precoce do câncer de mama. Leia mais em https://www.inca.gov.br/tipos-de-cancer/cancer-de-mama

Prevenção é tudo. Segundo o Inca, cerca de 30% dos casos de câncer de mama podem ser evitados com a adoção de hábitos saudáveis como:

Praticar atividade física; alimentar-se de forma saudável; manter o peso corporal adequado; evitar o consumo de bebidas alcoólicas; amamentar e não fazer uso de hormônios sintéticos, como anticoncepcionais e terapias de reposição hormonal.

Detecção

O site também explica que o câncer de mama pode ser detectado em fases iniciais, em grande parte dos casos, aumentando assim a possibilidade de tratamentos menos agressivos e com taxas de sucesso satisfatórias. Todas as mulheres, independentemente da idade, devem ser estimuladas a conhecer seu corpo para saber o que é e o que não é normal em suas mamas. A maior parte dos cânceres de mama é descoberta pelas próprias mulheres.

Além disso, o Ministério da Saúde recomenda que a mamografia de rastreamento (exame realizado quando não há sinais nem sintomas suspeitos) seja ofertada para mulheres entre 50 e 69 anos, a cada dois anos. A recomendação brasileira segue a orientação da Organização Mundial da Saúde (OMS) e de países que adotam o rastreamento mamográfico.

Mulheres com risco elevado de câncer de mama devem conversar com seu médico para avaliação do risco e definição da conduta a ser adotada. A mamografia de rastreamento pode ajudar a reduzir a mortalidade por câncer de mama, mas também expõe a mulher a alguns riscos.

Para quem quiser saber mais, o site relaciona principais benefícios e riscos desse exame. O Inca também produziu uma cartilha, cujo acesso é pelo seguinte endereço eletrônico: https://www.inca.gov.br/publicacoes/cartilhas/cancer-de-mama-vamos-falar-sobre-isso

HUCFF faz Jornada de Ginecologia

Neste Outubro Rosa, especialistas do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho (HUCFF) vão debater o câncer de mama em uma livre no dia 22 de outubro, das 19h às 21h, mediada pelo chefe do Serviço de Ginecologia da unidade, Afrânio Coelho.

Conheça os palestrantes e seus temas: Flávia Clímaco, mastologista do Serviço de Ginecologia (Reflexões sobre o Rastreio do Câncer de mama); Vera Fonseca, chefe do Setor de Patologia do Trato Genital Inferior do HUCFF (Diagnóstico Diferencial das Úlceras Genitais), Adriana de Mattos (Papel da Histeroscopia no Sangramento Uterino Anormal), Flávio Cajaraville, cirurgião Oncológico, (Atualidades no Tratamento Cirúrgico do Câncer do Endométrio) e Roberto Antunes, mestre em Fisiologia Endócrina (Indução da ovulação na Síndrome de Ovários Policísticos). O acesso e inscrição é pelo link https://event.webinarjam.com/register/845/091wpu8ry

 

 

 

Veja, aqui, informações importantes sobre o NÃO retorno ao trabalho presencial neste momento: pronunciamento de Joana de Angelis, diretora do Sintufrj, e esclarecimentos do coordenador do GT Pós-Pandemia e pró-reitor Eduardo Raupp sobre esse tema que interessa a toda comunidade universitária.

 

 

Otimista, o vencedor do Nobel alerta que a economia verde e com base em conhecimento pode ser altamente eficaz. São projetos que requerem mão de obra e isso ajudaria a lidar com o problema da desigualdade

Matéria retirada do site da Rede Brasil Atual.

 

Economia justa e o papel do setor financeiro em uma sociedade pós-covid. Esse foi o tema do webinário promovido pela UNI Finanças com o economista Joseph Stiglitz, prêmio Nobel de Economia (2001). Stiglitz falou sobre os desafios apresentados pela pandemia do novo coronavírus, especialmente para os trabalhadores do setor financeiro. Como, por exemplo, impulsionar a transição para uma economia mais sustentável, que invista nas pessoas, nos serviços públicos e na comunidade.

Joseph Stiglitz atua na Universidade de Columbia e é economista-chefe do Instituto Roosevelt. Cargo que exerceu também no Banco Mundial entre 1996 e 1999. Conhecido por seu trabalho sobre distribuição de renda, risco, governança corporativa, políticas públicas, macroeconomia e globalização, é autor de muitos livros. Sua obra mais recente é People, Power and Profits: Progressive Capitalism for an Age of Discontent (Povo, Poder e Lucros: Capitalismo Progressista para uma Era de Insatisfação, em tradução livre)

A importância do setor financeiro

Para Joseph Stiglitz, não se pode ter uma economia bem sucedida sem um setor financeiro que funcione bem. “E com trabalhadores críticos, fazendo o que têm de fazer, a fim de criar o setor financeiro que precisamos.”

O economista destacou que as falhas do setor têm sido relacionadas às falhas da economia. “A exemplo do que ocorreu em 2008, com excesso de risco, de crédito predatório. Erros que contribuíram para o centro da crise financeira que teve um efeito devastador na economia global.”

O Nobel de Economia alertou para o fato de que esse tipo de comportamento não foi algo global. “Nos EUA, por exemplo, houve uma série de instituições financeiras, união creditícias, cooperativas em que as práticas abusivas não ocorreram. Eles não apenas evitaram essas práticas negativas como agiram corretamente desempenhando seu papel na locação de capital, oferecendo crédito a pequenas e médias empresas.”

No Brasil isso ocorreu com os bancos públicos e as políticas anticíclicas adotadas pelos governos Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff.

Crise financeira da covid-19

A crise atual não é causada pelo setor financeiro, mas ele se envolverá, alerta o economista. “Qualquer recessão econômica se torna uma crise financeira. E os dados que temos já mostram que essa é uma das maiores recessões em 80 anos ou, para alguns, em um século.”

Stiglitz bate pesado no governo Donald Trump. “Ele diz que vai desaparecer milagrosamente, mas isso é uma das suas muitas fantasias, como a fantasia de que ele é um bom empresário”, diz. “Isso não vai acontecer. Não vamos ter ‘recuperação em V’ e a questão é a duração e a profundidade dessa crise econômica. Quanto mais longa e profunda, tanto mais empresas serão incapazes de pagar suas dívidas. Mais domicílios não poderão pagar. E quando você tem empresas e domicílios que não pagam, você tem uma crise financeira.”

O professor lembrou que os EUA têm 3% da população mundial, porém 25% dos casos de covid-19. “No mundo em geral, os países liderados por demagogos, pessoas que não acreditam em ciência, que criaram divisão em suas sociedades e adotaram práticas de exploração não se deram bem”, disse, mencionando Brasil e Índia, além dos EUA. “Os países que criaram um sistema de confiança entre os cidadãos e os governos, confiança na ciência, instituições fortes, estes estão bem, a exemplo de Nova Zelândia, Coreia do Sul, Alemanha, com desempenho muito bom.”

Lucro acima da vida nos EUA

Em seu seminário virtual, Joseph Stiglitz relatou que metade dos trabalhadores americanos vivem do pagamento mês a mês. “Ou seja, a população de menor renda não tem escolha, tem de trabalhar mesmo doente. Os EUA são um dos poucos países que não têm a licença doença obrigatória. Você não é afastado recebendo pagamento. Chegou a ser aprovada uma lei que previa dispensa, apenas para a covid-19, de dez dias. Mas as empresas mais ricas usaram lobby para uma exceção à regra e conseguiram. Isso graças aos republicanos, que não se importam com a vida dos americanos”, disse.

“O resultado foi que 48% dos americanos que trabalham para empregadores com mais de 500 funcionários estavam liberados dessa dispensa médica. São empresas que poderiam muito bem pagar uma dispensa médica, mas seu imediatismo faz com que coloquem os lucros à frente da vida dos trabalhadores e das suas perspectivas de longo prazo. Uma das razões para que a doença se disseminasse tão rapidamente”, completou.

O economista voltou a reforçar: o governo dos EUA não se importa nem com os trabalhadores nem com o povo. “E assim eles se recusaram a impor regulação a fim de assegurar que os trabalhadores tivessem direito a equipamentos de proteção individual, a máscara necessária, luvas. Os trabalhadores na linha de frente tinham de ir ao trabalho sem proteção. Mesmo prestando serviços essenciais.”

Sindicatos salvaram vidas na pandemia

Stiglitz destacou a importância da atuação dos sindicatos, notadamente nesse período da pandemia, observando que em áreas dos EUA onde havia sindicatos fortes, foi diferente. “Os sindicatos defenderam seus trabalhadores. O resultado é que, onde havia sindicatos, havia mais máscaras, mais equipamentos de proteção individual. E a doença não se disseminou tão rapidamente. Os sindicatos foram cruciais na proteção dos trabalhadores e asseguraram que o contágio pela covid-19 não se acelerasse tão rapidamente. Essas experiências bastam para mostrar a importância, o papel crítico que os sindicatos desempenharam na gestão da crise sanitária.”

Ele disse o mesmo em relação ao desemprego, que cresceu muito nos EUA. “Diante disso, muitos empregadores se aproveitam da posição de barganha enfraquecida dos trabalhadores. Os salários estão caindo. Trabalhadores estão sofrendo, tendo de aceitar cortes nos ganhos. A única proteção contra esse tipo de exploração, são os sindicatos.”

O economista falou sobre o comportamento de multinacionais que se aproveitam e rebaixam ainda mais os salários. “Esse é o momento em que os sindicatos são mais necessários do que nunca. Tornar os trabalhadores conscientes do que está acontecendo deveria fortalecer a filiação aos sindicatos. São exemplos importantes do que acontece na ausência da proteção sindical.”

Políticas públicas para manter a economia

Para o prêmio Nobel de Economia, gastos de governo bem projetados são essenciais, especialmente agora, durante a pandemia. “Os EUA, por exemplo, usaram uma bazuca, como se fosse uma recessão de curto prazo. Foram três trilhões de dólares de gastos fiscais e outros três trilhões de dólares para extensão da reserva federal. Os programas não foram bem projetados e não conseguiram frear a recessão. Por isso o aumento do desemprego nos EUA foi maior que nos países europeus”, explica. “Não houve garantia da continuação da assistência. Isso criou altos níveis de ansiedade, de precauções que levaram à fraqueza macroeconômica que estamos vendo. Essa assistência precisa continuar enquanto houver pandemia.”

Ele comparou os EUA com a Europa, que respondeu “de maneira inédita” com os títulos europeus, os eurobonds. “Foi um marco. Foram 750 bilhões de euros em empréstimos. Desafio para os bancos, já que no rescaldo da pandemia, muitos não conseguirão pagar. O setor financeiro terá de lidar com isso. Será necessário apoio para empresas e famílias”, avalia. “E elas poderão pagar suas dívidas quando a economia reaquecer. O setor financeiro precisa fornecer o dinheiro que irá viabilizar o pagamento dessas dívidas. Muitas, no entanto, não poderão saldar, e as autoridades fiscais deverão dar condições para esses empréstimos como meios de mitigar os riscos da pandemia.”

Economia verde contra a desigualdade

Joseph Stiglitz avalia que a covid-19 deve levar à reestruturação da economia. E para um modelo que terá de ser universal. “Reconstruir melhor, de maneira mais verde, com base em conhecimento”, explica. “Vimos um grande crescimento da desigualdade em vários setores. O vírus impacta mais quem tem piores condições de vida. Exacerba as disparidades de renda. Nos EUA há grande desigualdade no acesso à saúde, já que não se vê isso como um direito humano. A covid-19 expôs as fraquezas da nossa sociedade, da nossa economia, o excesso de desigualdade. E a falta de resiliência do setor privado que não conseguiu produzir coisas simples como máscaras, luvas, testes”, critica.

E novamente destaca o papel do setor financeiro, essencial para essa reestruturação para uma economia pós-covid. “Que, espero, seja diferente da economia que tínhamos antes da pandemia. Há um consenso no mundo em reconstruir melhor, uma nova economia. Isso significa que o setor financeiro não pode focar apenas na antiga maneira de fazer negócios, com manipulação de mercado, com foco em fusões e aquisições, regras fraudulentas de comercialização. Precisamos de dinheiro para novos setores”, alerta. “Os cidadãos têm o direito de exigir uma economia que transpareça a visão deles. O dinheiro tem de proteger os mais vulneráveis, ajudar a reaquecer a economia e sobretudo reconstruir melhor.”

A recuperação, deixa claro o professor, será difícil. “Mas a economia verde e com base em conhecimento pode ser altamente eficaz. São projetos que requerem mão de obra, aumentando a criação de empregos, e isso ajudaria a lidar com o problema da desigualdade. Ao contrário do que temos hoje, com a redução dos salários.”

Otimismo com o futuro

Com a pandemia, avalia o economista, vimos que muitos aspectos do nosso sistema não funcionam. “Estamos sendo confrontados com essa nova realidade. Esse processo de mudança de mentalidade parece estar em andamento, já. Claro que vai levar muito tempo. Algumas pessoas querem continuar se beneficiando do antigo regime. Mas os números mostram que precisamos de mudança”, diz. “No livro que lancei, falo da opinião dos jovens que estão muito mais alinhados com uma agenda progressista, de um capitalismo ético. Há necessidade de mudanças de regras que regem nossa economia. Ideias que faziam sentido há 50 anos não fazem mais. Aprendemos que a maximização dos lucros dos acionistas é errada. O capitalismo dos acionistas não maximiza o bem-estar da sociedade. Precisamos de regulamentações que alterem regras do setor financeiro.”

Ele fala em leis que protejam contra novos monopólios e abusos. “Sou otimista, acredito que seremos capazes de adotar regulações e leis de concorrência que vão possibilizar uma economia mais competitiva, mais dinâmica, que vai crescer mais rápido, mais justa, e com mais igualdade.”

A UNI Finanças

A UNI Finanças, que organizou o webinário, representa 3 milhões de trabalhadores nos setores bancário e de seguros por meio de 237 sindicatos em todo o mundo. “Trabalhadores do setor financeiro estão na linha de frente na prestação de serviços essenciais às suas comunidades”, lembrou a presidenta mundial da UNI Finanças, Rita Berlofa. “A crise de 2008 mostrou ser peremptório que qualquer investimento público para salvar bancos tem de ser acompanhado de contrapartida que garanta empregos. Neste momento, algumas instituições financeiras estão se utilizando da covid-19 para se reestruturarem ainda mais, com graves consequências para clientes e trabalhadores. Aqui no Brasil temos o péssimo exemplo do Santander que já demitiu centenas de trabalhadores durante esta pandemia. E infelizmente comportamento que vem sendo acompanhado pelo Itaú”, ressaltou a dirigente bancária.

“A indústria financeira tem de ter responsabilidade social para com a comunidade em que atua, garantindo empregos decentes com condições salariais justas. E num ambiente que não coloque em risco nem a vida, nem a saúde do trabalhador. A UNI Finanças reconhece que, ao sair da crise sanitária, será preciso um novo modelo de financiamento, voltado para o desenvolvimento sustentável e para a preservação do meio ambiente. Um setor financeiro orientado para as necessidades da economia real, em que haja investimento nas pessoas, nos serviços públicos, na comunidade. Queremos incluir nossos integrantes e sindicatos na reconstrução da economia mundial para uma sociedade no pós-covid, com reforço nas negociações coletivas.”

“Qualquer recessão econômica se torna uma crise financeira. E os dados que temos já mostram que essa é uma das piores recessões em um século”, diz o Nobel de Economia Joseph Stiglitz

 

 

 

Os sistemas de saúde nas Américas não estão respondendo adequadamente às necessidades das pessoas idosas e devem ser adaptados à luz da pandemia de Covid-19, afirmam especialistas da Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS).

Para o Dia Internacional do Idoso, celebrado na quinta-feira, 1º de outubro, o organismo internacional pede atenção integral, integrada e centrada nas pessoas e serviços de atenção primária à saúde que atendam necessidades dos idosos.

Os sistemas de saúde nas Américas não estão respondendo adequadamente às necessidades das pessoas idosas e devem ser adaptados à luz da pandemia de Covid-19, afirmam especialistas da Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS).

Risco acentuado

Enquanto todos correm o risco de contrair Covid-19, os idosos têm muito mais probabilidade de desenvolver a forma grave da doença; pessoas com mais de 80 anos tem uma probabilidade cinco vezes maior de morrer pela infecção. Um relatório das Nações Unidas sugere que isso pode acontecer devido a condições pré-existentes, que afetam 66% das pessoas com 70 anos ou mais.

Este também é o caso das Américas, onde a maioria das mortes por Covid-19 ocorre entre pessoas com 70 anos ou mais, seguidas de pessoas com idade entre 60 e 69 anos.

Embora as pessoas idosas que recebem cuidados de longo prazo tenham sido as mais atingidas em todo o mundo, nas Américas, onde o atendimento de pessoas idosas é mais provável em casa, o distanciamento físico é um desafio particular.

“A pandemia de Covid-19 realmente enfatizou as necessidades e vulnerabilidades que pessoas idosas têm em relação ao seu direito à saúde”, ressaltou Carissa F. Etienne, diretora da OPAS/OMS. “Muitas vezes não ouvimos suas vozes e perspectivas quando se trata de seus próprios cuidados. Pessoas idosas têm o mesmo direito de cuidar que qualquer outra pessoa. Nenhuma vida é mais valiosa que outra.”

Mesmo antes da pandemia de Covid-19, até 50% das populações com idade mais avançada em alguns países de baixa e média renda não tinham acesso a alguns serviços essenciais de saúde — um problema que a pandemia apenas exacerbou.

Não basta garantir os idosos tenham acesso aos serviços essenciais de saúde, observou Enrique Vega, chefe da Unidade de Curso de Vida Saudável da OPAS. Os serviços também devem ser adaptados às necessidades específicas destas pessoas.

“Como cada pessoa idosa pode ser afetada pela Covid-19 ou qualquer outra doença, depende de sua saúde física e mental geral. Portanto, os cuidados e o tratamento devem sempre levar isso em consideração”, acrescentou.

Década do Envelhecimento Saudável

O ano de 2020 marca o início da Década do Envelhecimento Saudável, que destaca a necessidade de governos, sociedade civil, agências internacionais, mídia e outros trabalharem juntos para melhorar a vida das pessoas idosas, suas famílias e comunidades, além de combater o preconceito e o estigma.

“Envelhecer com saúde é desenvolver e manter habilidades funcionais que possibilitem o bem-estar no envelhecimento”, disse Vega. “A Covid-19 expôs não apenas a fragilidade das pessoas idosas quanto ao vírus, mas também dos sistemas e ambientes que os apoiam.”

Atualmente, no Brasil, os idosos representam 14,3% da população, ou seja, 29,3 milhões de pessoas. Em 2030, o número de idosos deve superar o de crianças e adolescentes de zero a quatorze anos. Em sete décadas, a média de vida do brasileiro aumentou 30 anos, saindo de 45,4 anos em 1940, para 75,4 anos em 2015. O envelhecimento da população tem impactos importantes na saúde, apontando para a importância da organização da rede de atenção à saúde.

Números

Estima-se que, até 2050, o número de pessoas com mais de 60 anos de idade em todo o mundo e nas Américas deve dobrar. Em 2025, pessoas com 60 anos ou mais representarão 18,6% da população total da Região.

A América Latina e o Caribe são a segunda região de mais rápido crescimento em termos de pessoas com mais de 60 anos, atrás apenas da África. No entanto, o aumento da expectativa de vida não se traduz em qualidade de vida.

O Brasil informou que 76% das mortes relacionadas à Covid-19 de fevereiro a setembro de 2020 ocorreram entre adultos com 60 anos ou mais.

No Peru, pessoas com mais de 70 anos tiveram as maiores taxas de mortalidade por Covid-19 durante março-maio de 2020.

Estimativas do Canadá mostram que mais de 80% das mortes por Covid-19 ocorreram em residências ou centros de atenção a longo prazo.

Celebração

Criada em 1991 por iniciativa da Organização das Nações Unidas (ONU), a data reforça os termos da Resolução 46, que objetiva sensibilizar a sociedade mundial para as questões do envelhecimento, destacando a necessidade de proteção e de cuidados para com essa população.

No Brasil, em 1º de outubro de 2003, foi aprovada a Lei nº 10.741 (Estatuto do Idoso), prevendo em seu art. 2º que, ao idoso sejam garantidas todas as oportunidades e facilidades para a preservação de sua saúde física e mental e seu aperfeiçoamento moral, intelectual, espiritual e social, em condições de liberdade e dignidade. No art. 3º, o Estatuto ressalta que é obrigação da família, da comunidade, da sociedade e do Poder Público assegurar ao idoso, com absoluta prioridade, a efetivação do direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, à cultura, ao esporte, ao lazer, ao trabalho, à cidadania, à liberdade, à dignidade, ao respeito e à convivência familiar e comunitária.

Fonte: Organização das Nações Unidas (ONU)

1º de outubro: Dia Nacional do Idoso e Dia Internacional da Terceira Idade

Esta é uma data que não se pode esquecer, porque celebramos os maiores de 60 anos, ou seja, pessoas que já trabalharam ou ainda continuam trabalhando, mas que realizaram a maioria de tudo que existe no mundo, assim como fizeram gerações e gerações passadas. E mais: também conquistaram, com muitas lutas, os direitos trabalhistas e sociais que desfrutamos.

Muito obrigada companheira e companheiro da UFRJ da terceira idade.

Coordenação de Aposentados e Pensionistas do Sintufrj