Estudo da UNB mostra rejeição ao tratamento precoce e preocupação maior com Saúde (30%) do que com a Economia (3%)

Igor Carvalho. Brasil de Fato | São Paulo (SP) |27 de Abril de 2021

Defendido pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido) para tratamento precoce contra a covid-19, a cloroquina foi rejeitada pelos brasileiros.

De acordo com a Pesquisa Saúde Brasil, realizada pelo Comunicação Política e Saúde Pública (CPS) da Universidade de Brasília (UnB) e pelo Instituto Brasileiro de Pesquisa e Análise de Dados (IBPAD), apenas 3% da população afirma ter ingerido o medicamento.

Os pesquisadores perguntaram, também, sobre outros medicamentos que fazem parte do chamado “kit-Covid”, defendido por bolsonaristas.

ivermectina foi tomada por 19% dos entrevistados; 12% afirmaram ter ingerido azitromicina; e 2% consumiram hidroxicloroquina. Ao todo, apenas 27% da população aderiu aos remédios recomendados por Bolsonaro para combater o coronavírus. Outros 73% ignoraram o tratamento preventivo.

Desde março de 2020, quando a Organização Mundial de Saúde (OMS) decretou a pandemia do coronavírus, Bolsonaro tem insistido que a Saúde não pode ser a maior preocupação do governo, mas sim a economia.

A Pesquisa Saúde Brasil mostra que apenas 3% da população acha que a economia seja o principal problema do Brasil atualmente. Para 36%, é a corrupção; 30% disseram que é a saúde; 22% apontaram a política; e 4% indicaram a educação.

Em dezembro de 2020, 38% dos entrevistados afirmavam estar muito preocupados com a covid-19. Agora, são 52%. Entre os que disseram estar um pouco preocupado, houve uma queda de 22% para 17%. Os que estavam nada preocupados, caiu de 6% para 4%.

A pesquisa mostra, ainda, que 86% dos brasileiros conhecem alguém que morreu por covid-19. Desses, 17% afirmaram que perderam um membro da família para a doença; 22% disseram que um amigo próximo foi a óbito; e 63% indicaram que a morte foi de uma pessoa não tão próxima.

A Pesquisa Saúde Brasil foi realizada entre os dias 31 de março e 16 de abril, com 1.232 pessoas em todos os estados brasileiros. A margem de erro do levantamento é de 3%.

Tratamento precoce

Não há comprovação científica da eficácia do uso de cloroquina e hidroxicloroquina contra a covid-19, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS) e as instituições de saúde brasileiras.

A ivermectina, assim como a cloroquina e hidroxicloroquina foram adotadas, pelo próprio governo federal, como tratamento para prevenir o coronavírus — parte do chamado “kit covid”, com drogas que supostamente (e sem comprovação científica) seriam eficazes no “tratamento precoce da doença”.

Diversos especialistas já se pronunciaram acerca do uso da Ivermectina no combate e prevenção da covid-19. Médicos têm relatado casos em que o uso da substância levou pacientes à falência hepática, ou seja, o paciente precisa de um transplante de fígado para sobreviver.

Edição: Leandro Melito

 

 

 

A partir desta segunda-feira, 26, a vacinação contra a Covid-19 dos profissionais de educação será ampliada.  

A UFRJ informa que não haverá postos de vacinação em nenhum dos seus campi e orienta seus trabalhadores a se dirigirem ao posto de vacinação mais próximo de onde residem. Para evitar aglomerações e o uso de transporte público. 

Docentes e técnicos-administrativos efetivos, contratados ou terceirizados da universidade com idades entre 59 e 45 anos, poderão se vacinar, regressivamente, de acordo com o calendário da Secretaria Municipal de Saúde (SMS) até o dia 29 de maio.  

Comprovante e cronograma

Os trabalhadores da UFRJ terão que apresentar, no momento da vacinação, os três últimos contracheques. A Reitoria providenciará o comprovante de atuação na instituição para os que não têm contracheque, desde que as respectivas listagens sejam enviadas por ofício à Administração Central pelas entidades ou unidades responsáveis pela contratação.

No dia 24 de abril, a Secretaria Municipal de Saúde divulgou o novo calendário da vacinação contra a Covid-19 para os grupos prioritários – como os trabalhadores da área de educação, inclusive da UFRJ. 

O cronograma segue a escala decrescente de idade e inclui: gestantes, pessoas com deficiência permanente, indivíduos com comorbidades, trabalhadores da saúde, da educação, de serviços de limpeza urbana, guardas municipais, motoristas e cobradores de ônibus e de transporte escolar. Policiais civis, policiais militares, bombeiros e agentes penitenciários serão vacinados em seus locais de trabalho.

Comorbidades

As comorbidades prioritárias são: diabetes mellitus, hipertensão grave, doença pulmonar obstrutiva crônica, doença renal, doenças cardiovasculares e cerebrovasculares, câncer e obesidade grave, entre outras. A lista pode ser consultada em coronavirus.rio/comorbidades.

Não tem postos na UFRJ

A SMS desativou os postos drive thru que funcionavam aos sábados na Cidade Universitária e na Praia Vermelha. E não há previsão de abertura de locais de vacinação na universidade para os trabalhadores da educação em geral contra a Covid-19.

Vacinação contra a gripe para os trabalhadores do HUCFF e IPPMG

Contra a HINI, a UFRJ recebeu da SMS duas mil doses para vacinação dos trabalhadores do Hospital Universitário Clementino Fraga (HUCFF) e 400 doses para os do Instituto de Puericultura e Pediatria Martagão Gesteira (IPPMG). Segundo a diretora da Divisão de Atenção em Saúde do Trabalhador (Dast), Vânia Glória, as doses foram enviadas pela Secretaria Municipal de Saúde para uma população específica da universidade. 

Para a vacinação contra a H1N1 dos servidores das duas unidades hospitalares foi montado um posto volante no bloco K do Centro de Ciências da Saúde (CCS), que funcionará das 8h às 16h. Quem se vacinou contra Covid-19 deve aguardar 15 dias para se vacinar de H1N1.

 

 

 

Em dois anos, o número de pobres e extremamente pobres subiu 14,5 milhões e a classe média diminuiu em 4%. Para economista, efeitos negativos vão durar gerações se país não reiniciar políticas sociais

Publicado: 26 Abril, 2021 Escrito por: Rosely Rocha/CUT Nacional

O aumento da miséria brasileira tem dois nomes e sobrenomes: Jair Bolsonaro e Paulo Guedes. O presidente da República e o ministro da Economia são responsáveis diretamente pelo aumento da pobreza e miséria da população brasileira. Este é o resultado do negacionismo de Bolsonaro, cujo governo nunca fez uma campanha decente de conscientização de proteção à Covid-19 que explicasse a importância de medidas sanitárias e do isolamento social para evitar a propagação da doença, e de não ter comprado vacinas suficientes, entre outras medidas protetivas para os brasileiros.

Se eles se importassem mais com o combate à fome, à proteção de empregos, a manutenção de direitos dos trabalhadores,  em vez de continuar fazendo o país pagar juros da dívida pública, e manter o teto de gastos públicos, muito provavelmente, o número de brasileiros vivendo na pobreza e na extrema pobreza, não teria dado um salto gigantesco, nos últimos dois anos.

O saldo negativo desde que Jair Bolsonaro assumiu a presidência da República, há dois anos, é de 9,1 milhões de pessoas a mais na pobreza e 5,4 milhões a mais na extrema pobreza. Ou seja, em seu governo 14,5 milhões de brasileiros foram empurrados para classes econômicas mais baixas. Hoje o país tem 61,1 milhões de pobres e de extremamente pobres. 

Diversas pesquisas (veja abaixo) mostram que a desigualdade social se tornou ainda maior desde o início da pandemia. São os pobres, de baixa escolaridade e as mulheres negras os mais atingidos tanto pela falta de emprego, pela fome, como também os que mais morrem de Covid-19, por que são essas pessoas que precisam trabalhar presencialmente, e as que, impossibilitadas de ter um emprego decente, se arriscam a ir para as ruas procurar um trabalho ou bico para se alimentar suas famílias, se expondo à doença nos transportes públicos lotados, como os de São Paulo e outras cidades populosas.

Até mesmo a classe média é afetada. De cada 10 pessoas neste estrato da população, seis perderam renda na pandemia. O número de pessoas de classe média que era de 51% da população, em 2020, cai este ano para 47% e empata agora com a classe “baixa”, com o mesmo índice de 47%.

A economista e professora do programa de mestrado em “Estado, Governo e Políticas Públicas” da Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais (FLACSO /Brasil), Ana Luiza Matos de Oliveira, é uma das autoras, junto com as pesquisadoras Luiza Nassif-Pires, Luísa Cardoso, da pesquisa publicada pelo Centro de Pesquisa em Macroeconomia das Desigualdades da Universidade de São Paulo (Made-USP), que mostra o aumento da pobreza e miséria no país. Para ela, é preciso dar condições financeiras para que a população permaneça em casa e a economia não sofra tanto os efeitos negativos da pandemia.

” Um auxílio emergencial decente, de R$ 600 até o fim da pandemia, daria um ganho imenso na renda dessas famílias que poderiam se manter dentro de casa, impedindo a propagação da doença que já matou quase 400 mil brasileiros”, diz Ana Luiza.

Um valor maior do que o oferecido por Bolsonaro, de apenas quatro parcelas de R$ 150, R$ 250 e R$ 375é o que também defende a CUT, que incluiu um auxílio decente como uma das prioridades na pauta de reivindicações da classe trabalhadora neste  1º de Maio, que inclui democracia, emprego e vacina para todos.

“ O auxílio emergencial do ano passado, de R$ 600 e de R$ 1.200 para as mães chefes de família, minimizou os impactos da pandemia nos segmentos mais vulneráveis da população. A ajuda a 70 milhões de invisíveis para o governo Bolsonaro, desnudou a crise econômica brasileira”, diz o secretário de Assuntos Jurídicos da CUT, Valeir Ertle.

O dirigente da CUT ressalta ainda que o governo Bolsonaro não se importa com os trabalhadores, nem com os pequenos e micro empresários, que vem sofrendo para manter seus negócios. Para Valeir, o fato do governo não ter renovado o Programa de Manutenção de Emprego e Renda (BEm), de redução de jornada e salários, responsável pela manutenção de 10 milhões de empregos, segundo o próprio Ministério da Economia, demonstra o quanto a dupla Bolsonaro/Guedes, pouco se importa com a saúde e a vida das pessoas.

“No ano passado, o que ainda segurou um pouco o índice de desemprego foi o BEm, mas o governo vem desde janeiro ensaiando a sua renovação. A única possibilidade de isolamento social que tenha resultado efetivo é garantir empregos e reduzir a carga horária. O mesmo vale para os empresários, principalmente os pequenos que tem alto grau de empregabilidade, mas que não conseguem bancar os salários sem benefício fiscal. Mas, este governo só pensa em pagar os bancos”, critica Valeir.

Crise sanitária compromete futuro de gerações 

A economista Ana Luiza alerta que a forma como o governo vem enfrentando a pandemia, levando ao aumento da vulnerabilidade e da desigualdade social, terá um impacto imenso na trajetória da vida dessas pessoas.

“Imagine o futuro de quem hoje tem 15 anos e vai ficar dois anos sem estudar; o jovem que saiu recentemente da universidade, mas não encontra oportunidades de emprego?”, questiona, e complementa: “ sem apoio aos vulneráveis, sem investir em educação, o Brasil vai demorar muito mais tempo para se recuperar, e os impactos negativos para as futuras gerações serão imensos”, afirma Ana Luiza, que é doutora em Desenvolvimento Econômico. 

Para ela, a distribuição de computadores e acesso à internet para os estudantes pobres, que Bolsonaro vetou, daria um ganho imenso na renda dessas famílias. Em meados deste mês de abril, o presidente vetou integralmente o Projeto de Lei (PL) nº 3.477/20, aprovado pela Câmara Federal, que destinada verbas para escolas públicas comprarem tablets para os alunos e ter acesso a internet. 

“Só a distribuição de tablets e o acesso à internet, ajudariam, e muito, as mulheres, especialmente as negras, as mais atingidas pela vulnerabilidade social”, afirma Ana Luiza, cujo estudo faz uma estratificação por gênero e raça.

O mais triste de tudo isso é que temos instrumentos de combate à pobreza, mas este governo está engessado pelas regras fiscais e, por interesse ideológico, de achar que a extrema pobreza vai incentivar as pessoas serem empreendedoras, não põe em prática o que sabemos fazer, que é política pública social- Ana Luiza Matos de Oliveira

Políticas Públicas nos governos do PT diminuíram a pobreza

Até 2014, a pobreza diminuiu durante anos no Brasil, graças ao avanço de políticas sociais como o Bolsa Família, os ganhos reais do salário mínimo, implantado durante o governo Lula, e a ampliação do acesso à educação.

Estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) baseado em dados de 2001 a 2017 mostrou que, no decorrer de 15 anos, o programa Bolsa Família reduziu a pobreza em 15% e a extrema pobreza em 25%.

O atual governo sabe o quanto o auxílio emergencial de R$ 600 ajudou no combate à pobreza. Antes da pandemia, em 2019, as taxas de extrema pobreza e de pobreza eram de 6,6% e 24,8% respectivamente. Em julho de 2020 com o auge do benefício do auxílio emergencial, a taxa de extrema pobreza do país foi reduzida a 2,4% e a de pobreza a 20,3%. A estimativa é das pesquisadoras do Made-USP, com base em dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad Contínua ) e da Pnad Covid-19 do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

“O que dói é saber que em anos anteriores tínhamos avançado em muito nas políticas sociais. O Brasil havia saído do mapa da fome em 2014 [governo Dilma]  e este atual governo sabe o que tem de ser feito, mas nada faz”, diz Ana Luiza.

Pesquisas mostram o impacto da Covid entre os pobres e a classe média

Abaixo resumimos o que mostram as mais recentes pesquisas sobre as mortes dos mais pobres pela Covid;  a falta de oportunidades de trabalho e do uso do home office pelos pobres e de baixa escolaridade, e os impactos da pandemia na classe média brasileira.

Mortes por Covid-19 na população mais pobre

Em 2021, são consideradas pobres as pessoas que vivem com uma renda mensal per capita (por pessoa) inferior a R$ 469 por mês, ou US$ 5,50 por dia, conforme critério adotado pelo Banco Mundial. Já os extremamente pobres são aqueles que vivem com menos de R$ 162 mensais, ou US$ 1,90 por dia.

Estudos apontam que áreas pobres no país e bairros da periferia de São Paulo  morreram três vezes mais pessoas por Covid-19 do que outras regiões. Os dados são com base em 19,5 mil óbitos.

– Morreram 70% mais pessoas de Covid-19 nos locais em que mais de 10% da população tem renda per capita menor que R$ 275,00.

– Áreas com maior percentual de moradias precárias tiveram 53% mais óbitos;

– Casas com mais de três pessoas por cômodo, a taxa de mortalidade foi mais que o dobro na comparação com domicílios menos densos;

– 79,6% dos óbitos registrados na cidade do Rio de Janeiro ocorreram nas áreas mais pobres;

Fontes: Estudo “Desigualdade Social e a mortalidade pela Covid-19 na cidade de São Paulo”.  O dado sobre o Rio de Janeiro é do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).

Desemprego afeta mais os pobres

Em 2020, na média, a taxa de ocupação no país caiu 9,5%, mas oito estados tiveram índices acima: Rio de Janeiro (14,2%); Ceará (13,8%); Pernambuco (11,7%); São Paulo (11,3%) , Bahia (11,0%) ; Sergipe (10,3%), Goiás (10,2%) e Minas Negrais (9,7%).

Entre os 50% mais pobres em São Paulo, a taxa de ocupação despencou 22%, o dobro da média do estado.

Fonte: FGV Social, a partir dos microdados da Pnad Covid, com dados do 4º trimestre de 2019 ao 4º trimestre de 2020

Classe média perde renda

O tamanho da classe média brasileira (renda familiar de R$ 2.971,37 a R$ 7.202,57) ficou no menor patamar em mais de 10 anos em relação ao total da população. 

– Em 2021, 47% de brasileiros eram de classe média. Em 2020 eram 51%, e em 2011 eram 54% da população. Já a classe baixa subiu de 38%, em 2010, para 43% em 2020, chegando aos atuais 47%.

– O número de pessoas de classe média caiu de 105 milhões, em março de 2020 para 100,1 milhões, em março de 2021 – o que representa um aumento de 4,9 milhões de brasileiros na classe baixa;

– De cada 10 brasileiros de classe média, seis afirmam ter tido perda de renda no último ano. Destes, 19% atualmente sobrevivem com metade ou menos;

– 71% dos brasileiros adultos da classe média estão com pelo menos uma conta em atraso, ou seja, mais de 54 milhões de consumidores.

Fonte: Instituto Locomotiva, com base nos dados da Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua),  POF (Pesquisa de Orçamentos Familiares) e do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

Trabalho em Home Office

– 28% das classes A/B (renda domiciliar superior a R$ 8.303),puderam trabalhar em casa;

– 10,3% na classe C (renda entre R$ 1.926 e R$ 8.303), mudaram para o home office;

 – apenas 7,5% das classes D/E (renda até R$ 1.926), tiveram essa opção.

Home Office por escolaridade

O grau de escolaridade beneficiou os que tiveram oportunidade de estudar.

– 34% de quem tem ensino superior puderam trabalhar em casa;

– 8% de quem tem ensino médio completo puderam trabalhar em casa;

– 6,6% de quem tem apenas o fundamental tiveram essa oportunidade.

 

Fonte: Pnad Covid-19 (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio) elaborados pela FGV Social

 

 

A lei que estabeleceu o Teto de Gastos (EC 95) – aprovada em dezembro de 2016, como primeiro legado das forças conservadoras depois do golpe que derrubou Dilma Rousseff – foi tema do debate on-line organizado nesta segunda-feira, 26, pela decania do Centro de Tecnologia (CT) da UFRJ.

 O encontro para refletir sobre essa determinação fiscal que asfixia os gastos sociais do governo no orçamento federal foi conduzido pela economista Esther Dweck (da UFRJ), com participação do economista André Lara Resende (Plano Real), do deputado Marcelo Freixo (PSOL) e do governador do Maranhão, Flávio Dino.

Amanhã publicaremos os principais momentos do debate. Você confere a íntegra da live abaixo:

 

 

 

 

Humberto Miranda, do Instituto Menino Miguel, aponta segurança alimentar, direito à moradia e proteção como prioridades

Júlia Vasconcelos e Lucila Bezerra/Brasil de Fato | Recife (PE) | 26/4/2021 

A pandemia do novo coronavírus, que aprofundou as desigualdades sociais já existentes no país, tornou ainda maior o desafio de garantir proteção e direitos básicos para crianças e adolescentes.

Para falar sobre o impacto da pandemia entre essa população, o Brasil de Fato Pernambuco entrevistou Humberto Miranda, professor da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE) e coordenador do Instituto Menino Miguel, no Recife.

O instituto foi criado em setembro de 2020 e homenageia o menino negro Miguel Otávio Santana da Silva, de 5 anos, morto em junho do mesmo ano ao cair do 9º andar de um prédio de luxo no Recife onde a mãe, empregada doméstica, trabalhava. Miguel estava sob os cuidados da patroa da mãe, Sari Corte Real, primeira-dama do município de Tamandaré, na região metropolitana da capital pernambucana.

Confira os principais pontos da entrevista:

Desigualdades sociais e violações de direitos

Miranda explica que, no universo desses meninos e meninas, há diferentes formas de impacto. Se de um lado há a baixa eficiência do ensino remoto para alguns alunos, por outro há o público que não têm acesso a ele, seja por falta de computadores, aparelhos de celulares, a própria internet ou uma estrutura adequada que facilite o aprendizado.

Ele ainda enfatiza que as necessidades vão além da questão educacional, passando pela segurança alimentar, a questão da moradia, da segurança, e diversos outros direitos. “Estamos vivendo um cenário de insegurança alimentar. Isso faz a gente perceber que direitos básicos que eram garantidos passaram a não ser”, comenta. 

Como exemplo, traz a importância de se ter um olhar sensível para crianças e adolescentes que vivem em situação de rua, de acolhimento ou adolescentes que cumprem medidas socioeducativas.

“Eu costumo dizer que, na pandemia, estamos na mesma tempestade, com embarcações diferentes. Crianças e adolescentes que pertencem a grupos sociais mais vulneráveis vivenciam violações de forma mais intensa”, ilustra. Nesse sentido, crianças e adolescentes que vivem em comunidades periféricas e/ou fazem parte de comunidades de povos tradicionais também requerem uma atenção redobrada. 

A falta da escola 

Apesar de ressaltar a importância de que não haja a volta das aulas presenciais escolares neste momento da pandemia, sob risco de colocar em perigo a vida da comunidade escolar, Humberto reforça a importância do papel da escola na vida dessas crianças.

“A escola precisa ser entendida como proteção, como espaço de sociabilidade e de produção de conhecimento. A escola, muitas vezes, é até mesmo espaço de denúncia de violência vivida no espaço familiar ou comunitário”, enfatiza. Um exemplo é o decrescimento do número de denúncias de abuso sexual após o início da pandemia. 

Segundo o Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, em março de 2020, o número de abuso sexual contra crianças e adolescentes no Brasil aumentou 85% em relação ao mesmo período em 2019. Em abril de 2020, após o afastamento das salas de aula, os números começaram a cair.

Entidades que atuam na garantia de direitos das crianças apontam que os números não significam diminuição na violência, mas aumento da subnotificação. “A volta às aulas não é a solução. Mas do jeito que está, é preciso ter um olhar mais sensível e comprometido com a dignidade desses meninos, meninas e suas famílias”, finaliza. 

Importância da proteção através da legislação

O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) conta mais de 260 artigos que regulamentam diversos temas como o direito à vida, à saúde, à educação, acesso ao lazer e proteção contra violência e o trabalho infantil. 

Humberto Miranda explica que o foco deve ser a implementação do que já está no papel e ampliar o seu alcance. “Depois de 30 anos, ele precisa também ser avaliado. E, ao mesmo tempo, o Brasil precisa investir e reforçar as conquistas já estabelecidas pelo ECA”, comenta o professor ao destacar a presença crescente de um discurso anti-estatuto.

“Muitas vezes, as pessoas questionam até a sua legitimidade, principalmente voltados para os fundamentalistas e pessoas que não acreditam, questionam os direitos humanos e ignoram o estatuto”, adiciona. Segundo ele, o Brasil vive um momento de retrocessos e políticas públicas estão sendo construídas distantes do que determina o estatuto, e isso deve ser enfrentado. 

Instituto Menino Miguel: resistência frente a uma sociedade racista 

Em setembro de 2020, foi lançado o Instituto Menino Miguel para fortalecer a luta por justiça no caso pernambucano que chocou o país e para atuar nas periferias promovendo dignidade humana.

Mesmo antes do acontecimento, o instituto estava sendo pensado para agrupar os projetos da universidade voltados para pesquisa e extensão no campo social e para ações voltadas ao cuidado com a vida e direitos humanos.

Durante o processo de construção da identidade do instituto, aconteceu o caso Miguel. A universidade decidiu homenagear a criança, que se tornou patrona do projeto e mobiliza política e afetivamente o Instituto. 

“Eu costumo dizer que Miguel morreu buscando um direito fundamental que estava no estatuto, que é o direito de encontrar a mãe. E foi brutalmente recebido pela empregadora, deixando ele naquele elevador e apertando o dispositivo para o andar de cima quando a mãe dele estava no térreo. Então existia toda uma intenção de castigar, de ferir um menino. E esse castigo se tornou um crime”, conta o professor, que aponta que no caso de Miguel diversos direitos foram negados, não só a ele, como à sua família. 

“Não há como fazer universidade hoje distante dessas questões. Miguel vive no Instituto, Miguel vive na nossa luta. E Miguel vive na nossa batalha diária pelos direitos da criança e do adolescente, para que outros Migueis não tenham o destino que o nosso pequeno Miguel teve”, finaliza.

Fonte: BdF Pernambuco

 

 

 

O debate organizado pela decania do Centro de Tecnologia (CT) da UFRJ nesta segunda-feira, 26 de abril, às 10h, sobre o “Teto de gastos e suas consequências”, vai reunir um time de personagens presente na discussão acerca dos destinos do país.

Dois dos debatedores são políticos em ascensão do cenário nacional: o governador do Maranhão, Flávio Dino (PC do B), e o deputado federal Marcelo Freixo (PSOL).

Dino é citado como alternativa do campo progressista para a disputa pelo Palácio do Planalto em 2022. Freixo é potencial candidato ao governo do Rio de Janeiro.

Dois são economistas: André Lara Resende, que fez parte da equipe que elaborou o Plano Real e integrou o governo de FHC, e Esther Dweck integrou a equipe econômica de Dilma Rousseff.

O teto de gastos (a Emenda Constitucional 95) aprovado em 2016 determinou o congelamento dos investimentos em educação, saúde, ciência, entre outros gastos sociais.

No momento em que o país está mergulhado num cenário devastador, se impõe a discussão de uma lei que estrangula a capacidade de gastos do Estado por 20 anos.

“O Brasil com indicadores ascendentes de fome e desemprego pode conviver com a Emenda Constitucional 95 que congela investimentos em educação, ciência e saúde, entre outros gastos para áreas sociais, e que compromete a segurança alimentar em plena pandemia e depois dela?”, é a provocação âncora da discussão.

O debate terá transmissão ao vivo pelo Facebook.com/ufrjct e no canal do Centro de Tecnologia no YouTube, e que terá tradução simultânea em libras: https://bit.ly/youtubedoct

 

 

 

A partir do dia 26 de abril, a vacinação para os profissionais da educação vai ser ampliada. Na UFRJ, sejam eles docentes ou técnicos- administrativos, efetivos, contratados ou terceirizados estão incluídos como trabalhadores da educação que integram um dos grupos prioritários que serão imunizados contra a Covid-19 nos meses de abril e maio, de acordo com o calendário da Secretaria Municipal de Saúde. 

Os beneficidos terão que apresentar no momento da vacinação os três últimos contracheques. A Reitoria providenciará o comprovante de atuação na UFRJ para os que não têm contracheque, desde que as respectivas listagens sejam enviadas por ofício à Administração Central pelas entidades ou unidades responsáveis pela contratação.

Orientações

A UFRJ orienta aos seus profissionais que evitem aglomerações e o uso de transporte público para se vacinar, e busquem os postos de imunização mais próximos de suas residências.

Os postos drive thru que funcionam na Cidade Universitária, Ilha do Fundão e na Praia Vermelha, em Botafogo, funcionarão pela última vez este sábado, 24 de abril. Segundo a Prefeitura da UFRJ, a Secretaria Municipal de Saúde decidiu desativar estes dois postos. 

Já na Uerj, o posto de vacinação funciona de segunda a sexta-feira, das 9h às 15h, em frente à Concha Acústica Marielle Franco.

Faixa etária: 45 a 59 anos

Além de idosos e profissionais de saúde, que já vinham sendo imunizados, começam a receber a primeira dose também os grupos prioritários, distribuídos por idade: além dos trabalhadores da educação, de serviços de limpeza urbana, policiais civis e militares, guardas municipais, agentes penitenciários, bombeiros, pessoas com deficiência permanente e aquelas com comorbidades (segundo o Plano Nacional de Imunização (PNI). Será atendido o público na faixa entre 59 e 45 anos, regressivamente, até 29 de maio.

A imunização no município do Rio começou para os profissionais de educação da ativa que trabalham em unidades municipais, estaduais ou instituições do governo federal, incluindo terceirizados, no dia 17 de abril. 

Confira o calendário

*Profissionais de saúde: Médicos, enfermeiros, nutricionistas, fisioterapeutas, terapeutas ocupacionais, biólogos, biomédicos, farmacêuticos, odontólogos, fonoaudiólogos, psicólogos, assistentes sociais, profissionais de educação física, médicos veterinários e seus respectivos técnicos e auxiliares. É necessário levar documento original com foto e comprovante dos conselhos de classe. Trabalhadores lotados em hospitais e unidade de urgência e emergência ou que trabalham diretamente na campanha de vacinação deverão receber a vacina na própria unidade.

*Profissionais da Educação: Profissionais na ativa de unidades escolares, da Secretaria Municipal de Educação, Secretaria Estadual de Educação, Faetec, Cap-UERJ ou instituições federais. Obrigatório apresentar documento oficial com foto e os dois últimos contracheques ou declaração das instituições educacionais contempladas.

Grupos prioritários: Pessoas com comorbidades (lista PNI), deficiência permanente, trabalhadores da saúde, educação, serviços de limpeza urbana e guardas municipais. Os profissionais devem estar na ativa e apresentar os três últimos contracheques, comprovando vínculo com a profissão e local de trabalho, ou declaração assinada do estabelecimento em que atuam (a declaração ficará retida na unidade de saúde). Policiais civis, policiais militares, bombeiros e agentes penitenciários serão vacinados em seus locais de trabalho.

Deficiência permanente: deficiência física; auditiva; intelectual; psicossocial (mental); visual; múltipla (associação de duas ou mais deficiências); transtorno do espectro autista.

 

 

Até à tarde de quinta-feira, 22 de abril, os sistemas e portais da UFRJ ficaram inacessíveis devido ao incêndio no segundo andar da Reitoria, ocorrido no dia 20 de abril. 

Na terça-feira, a energia elétrica do prédio teve de ser desligada por segurança e, por isso, parte dos serviços de tecnologia da informação, como sistemas e portais ficaram fora do ar. 

Segundo a assessoria de imprensa da UFRJ, a energia foi restabelecida, mas os equipamentos necessários foram encontrados molhados. Com isso, “a Superintendência de Tecnologia da Informação e Comunicação (STIC) avalia a situação para traçar estratégias seguras visando ao retorno de sites e sistemas afetados”.

 

 

Na Cúpula do Clima, Bolsonaro diz que Brasil está na vanguarda ao combate do aquecimento global. Secretário do Meio Ambiente da CUT, Daniel Gaio rebate versão mentirosa do presidente

Publicado: 22/4/2021. Escrito por: Rosely Rocha/ Site CUT 

 

Num dos encontros sobre o meio ambiente mais aguardados pelo planeta dos últimos anos, o presidente Jair Bolsonaro( ex-PSL), mais uma vez nega as acusações divulgadas com inúmeras provas, de que o Brasil não está respeitando o Acordo de Paris, de 2015, onde se comprometeu a lutar pela diminuição de emissões de carbono e preservar as florestas brasileiras.

Na ‘Cúpula de Líderes sobre Clima’, que reúne 40 líderes mundiais e tem como anfitrião o presidente dos Estados Unidos, o democrata Joe Biden, em fala nesta quinta-feira (22), Bolsonaro disse que o Brasil está na” vanguarda do enfrentamento do aquecimento global”; que o Brasil é um dos países que menos polui, e que seu governo fortaleceu e duplicou os recursos para os órgãos de fiscalização ambientais, entre outras inverdades.

Bolsonaro ainda prometeu até 2030 acabar com o desmatamento ilegal, e neutralizar as emissões de gás até 2050, mas ambientalistas dizem que o governo não faz nada neste sentido e que a promessa é inviável se continuar o mesmo ritmo de ações do governo.

Há inúmeras denúncias de que o governo brasileiro não está, sequer, utilizando os R$ 2,9 bilhões da verba do Fundo Amazônia, doados pela Noruega e a Alemanha. O governo brasileiro ainda quer mais R$ 1 bilhão para aplicar nas ações de preservação da Amazônia, segundo Salles, que atuou de forma explícita a favor de madeireiros investigados e multados pela Polícia Federal no mês passado. A denúncia é do ex-Superintendente da Polícia Federal no Amazonas, Alexandre Saraiva, demitido do cargo um dia depois de enviar uma notícia-crime contra Ricardo Salles para o Supremo Tribunal Federal (STF).

“Ele estaria atuando e favorecendo os madeireiros e isso foi feito de uma forma muito explícita. Tem vídeo dele apontando para a placa de uma empresa investigada que, segundo ele, ‘estava tudo certinho’ e que, na verdade, em relação a esta empresa, já havia até laudo pericial apontando as ilegalidades cometidas”, disse Saraiva em entrevista ao jornal O Globo.

O secretário de Meio Ambiente da CUT Nacional, Daniel Gaio, enumera cinco questões que comprometem o Brasil , a partir da fala do presidente da República na Cúpula do Clima.

1 – Brasil desmoralizado

O discurso de Bolsonaro desmoraliza ainda mais o país na política ambiental e na diplomacia, setores que sempre fomos protagonistas.

“O discurso negacionista de Bolsonaro deixa o Brasil ainda mais isolado, com o avanço do governo dos EUA assumindo uma posição mais progressista, em relação à proteção ambiental”, diz Daniel, se referindo à decisão de Joe Biden de cortar 50% das emissões de gases causadores do efeito estufa até 2030,entre outras medidas anunciadas pelo presidente norte-americano.

2- Fake news

Para Gaio, os dados apresentados por Bolsonaro são pura “fake news” e não estão de acordo com estudos de pesquisadores de órgãos públicos.

“Bolsonaro proibiu esses pesquisadores de se pronunciarem. Ele apresenta mentiras, descontrói números e dá dados falsos, além de fazer promessas não realizáveis”, diz Gaio.

O jornal Folha de São Paulo questionou o pronunciamento de Bolsonaro na Cúpula e demonstrou que o presidente mentiu, ou, no mínimo, informou erroneamente os dados sobre o meio ambiente no país.

3- Brasil de pires na mão

Para conseguir financiamento internacional, Bolsonaro passa o pires para o resto do mundo, com um discurso negacionista.

“Ele recuou dizendo que o país vai combater o desmatamento, mas a verdade é que a narrativa é a mesma do ministro Salles ,que não apresenta dados concretos , de como vai utilizar esses recursos internacionais , e não se  compromete de forma real e efetiva com a proteção da floresta e de seus povos originários”, afirma o dirigente da CUT.

4 – Sem diálogo com sociedade civil

Para o secretário de Meio Ambiente da CUT, a prática deste governo em todos espaços é a completa ausência de diálogo com a sociedade civil.

“Não há diálogo  sequer com os servidores, nem com a sociedade civil, nem com os povos da Amazônia. O governo nos coloca numa posição tão difícil que é praticamente impossível trabalhar contra o desmatamento”, diz Gaio.

5 – Militarização do combate ao desmatamento

Para Gaio, o desmonte da política pública de Estado tem desacreditado os órgãos que têm capacidade de lutar contra o desmatamento. Os recursos são poucos e mal empregados e estão sendo usados para pagar diária de militar.

“O militar vai para a Amazônia e não sabe o que fazer, é uma militarização das forças de combate ao desmatamento, que conta com o apoio também do vice-presidente, o general Mourão”, critica Gaio.

As perseguições de Bolsonaro e Salles

Bolsonaro, no entanto, tenta esconder do mundo que fiscais, cientistas edelegados da Polícia Federal, que atuam na defesa do meio, vêm sendo perseguidos pelo seu governo, na figura do ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, um notório defensor dos madeireiros e do agronegócio.

Bolsonaro e Salles perseguem quem se opõe à destruição do meio ambiente de maneira clara, como no caso do fiscal do Ibama, José Olímpio Augusto Morelli, que em 2012, aplicou uma multa de R$ 10 mil a Bolsonaro quando o então deputado federal pescava irregularmente na Estação Ecológica de Tamoios, entre Angra dos Reis e Paraty, no Rio de Janeiro. Em março de 2019, portanto, três meses após tomar posse na Presidência, o servidor público foi exonerado da chefia do Centro de Operações Aéreas da Diretoria de Proteção Ambiental (Dipro), uma divisão do Ibama.

Uma das perseguições que mais revoltaram os ambientalistas foi a exoneração do ex-presidente do Instituo Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), Ricardo Galvão. O presidente e o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, queriam que o cientista revisse os dados do Inpe, de 2019, que revelaram a destruição de 9.762 quilômetros de terra na floresta amazônica – um aumento de 30% em relação ao ano anterior.

O último levantamento do Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon), divulgado segunda-feira (19), mostra que o desmatamento da Floresta Amazônica em março deste ano,  foi o maior registrado para o mês em 10 anos. Com 810 km² de floresta desmatados, a taxa é 216% superior à registrada em março de 2020.

Após a demissão de Galvão, a revista científica Nature, considerou o cientista brasileiro, um dos dez nomes mais importantes da ciência, por representar resistência ao atual governo do Brasil.

O que está em jogo na Cúpula do Clima

Enquanto, Bolsonaro e o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, tentam fechar um acordo ambiental com o presidente norte-americano, as tratativas são permeadas de problemas sobre os impactos que esse acordo pode gerar aos biomas brasileiros, em especial, à Amazônia, dizem os integrantes do Grupo Carta de Belém, que a CUT faz parte.

Em texto publicado em seu siteo Grupo ‘Carta de Belém’, alerta que a convocação de uma Cúpula de Líderes para debater a política ambiental global, nesta data, não sinaliza apenas a renovação da credencial estadunidense nessa agenda, mas, principalmente, a consolidação de uma visão que deposita no mercado – em particular, no mercado financeiro – a solução para todas as grandes crises que se acumulam atualmente: econômico-financeira, social, sanitária, do aumento da fome e climática.

Em trecho, o grupo diz que “não é novidade que as abordagens hegemônicas sobre a questão ambiental e climática vêm pavimentando o caminho para transformar a natureza em um ativo financeiro. Há pelo menos dez anos nós, do Grupo Carta de Belém, nos dedicamos a criticar este processo. Agora, no entanto, sentimos que estamos diante de um momento crucial”.

Para Daniel Gaio, o motivo da cúpula do clima é a financeirização da natureza.  “Precisamos combater, não apenas o discurso do Bolsonaro, mas a mercantilização da natureza. As negociações internacionais significam o avanço do neoliberalismo ambiental, do chamado capitalismo verde, de soluções financeirizadas do sistema capitalista sobre a natureza”, conclui Gaio.

*Edição: Marize Muniz

Pesquisadores e lideranças reagem às mentiras de Bolsonaro na Cúpula do Clima

“O projeto de morte e destruição de Bolsonaro continua o mesmo”, afirmou Sonia Guajajara, coordenadora executiva da Apib

Redação Brasil de Fato | São Paulo (SP) | 22/4/2021

“Os problemas atuais do Brasil podem ser resolvidos, mas não sob o governo de Bolsonaro”, disse James Green, pesquisador de História Brasileira na Universidade de Brown, nos Estados Unidos – Carolina Antunes – Agência Brasil

Após a fala do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) na Cúpula de Líderes sobre o Clima, pesquisadores e lideranças reagiram às mentiras e inconsistências do discurso do mandatário brasileiro. Os posicionamentos foram reunidos pela equipe da comunicação do Observatório do Clima.

Em seu discurso na reunião de líderes, convocada por Joe Biden, presidente dos Estados Unidos, Bolsonaro disse que o Brasil é “voz ativa” na construção da agenda ambiental e elogiou a “revolução verde”, que, através da ciência e inovação, teria tornado a agricultura brasileira sustentável.

Sonia Guajajara, coordenadora executiva da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib), avalia como mentirosa a retórica do desenvolvimento sustentável da agricultura brasileira. “O projeto de morte e destruição de Bolsonaro continua o mesmo: retirada de nossos direitos, legalização de crimes socioambientais e a descontinuidade das políticas de proteção à floresta amazônica”, afirmou.

“Até agora não houve sequer um diálogo desse governo com os povos indígenas para enfrentamento às invasões de nossas terras, por isso é legítimo o nosso pedido de um canal direto com o governo norte-americano para assuntos ligados à Amazônia brasileira”, continuou Sonia. 

Para a liderança Guajajara, é fundamental que o presidente Joe Biden estabeleça um diálogo junto ao governo brasileiro com bases na garantia da preservação da vida e da biodiversidade do planeta, em contraponto ao fortalecimento de políticas anti-indígenas.

Biko Rodrigues, articulador nacional da Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas (Conaq), concorda com Sonia e diz que Bolsonaro não respeita seu próprio povo. “Sob seu governo, o reconhecimento de comunidades quilombolas caiu ao menor patamar da história”, disse.

“Para nós, sua palavra não tem valor algum e a pandemia nos mostrou seu lado mais sombrio. Seu governo negou aos povos indígenas e comunidades quilombolas o acesso universal à água potável. Este é Bolsonaro, e qualquer acordo com ele está fadado ao fracasso”, denunciou.

Durante seu discurso, o presidente também afirmou que o Brasil está na vanguarda do combate ao aquecimento global. A realidade mostra que estamos caminhando na direção contrária: todas as operações de combate ao desmatamento ilegal na Amazônia e às queimadas no Pantanal sofreram baixas desde o início do governo Bolsonaro.

De acordo com Joaquim Belo, presidente do Conselho Nacional das Populações Extrativistas, “é preciso que os grandes chefes de Estado entendam que a Amazônia é a casa de milhares de povos e comunidades tradicionais”. 

“Somente é possível cuidar da floresta reconhecendo e valorizando seus verdadeiros guardiões. A grande ignorância, por parte do governo Bolsonaro, é não reconhecer que a gestão da Floresta Amazônica não cabe somente ao governo, mas a todos os cidadãos e, principalmente, aos povos e comunidades tradicionais, que são partes dessa floresta e a mantêm viva e pulsante”, completou.

Bolsonaro ficou distante na fila dos discursos dos líderes das maiores economias do mundo durante a Cúpula e, segundo Marcio Astrini, secretário-executivo do Observatório do Clima, também ficou atrás em seu discurso.

“O Brasil sai da cúpula dos líderes como entrou: desacreditado. Bolsonaro passou metade de sua fala pedindo ao mundo dinheiro por conquistas ambientais anteriores, que seu governo tenta destruir desde o dia da posse”, afirmou o pesquisador.

De acordo com James N. Green, professor de História Brasileira da Universidade Brown, nos Estados Unidos, e um dos coordenadores da Rede Estadunidense para a Democracia no Brasil (US Network for Democracy in Brazil, em inglês), Bolsonaro contribui para a destruição da natureza brasileira.

“O desmantelamento dos órgãos de fiscalização ambiental – que tinham se desenvolvido durante o processo de redemocratização –, aliado ao desrespeito às leis ambientais, representam uma brecha democrática hoje no Brasil”, avaliou o estudioso. 

“O país reduziu o desmatamento em 80% de 2004 a 2012 devido a políticas de liderança governamental, fortalecimento do Ibama e ICMBio, respeito às leis ambientais e implementação de ações ousadas. Os problemas atuais do Brasil podem ser resolvidos, mas não sob o governo de Bolsonaro”.

Edição: Poliana Dallabrida

 

 

Fonte: Por Pâmela Dias, de O Globo/ Site Geledés

A falta de dados estatísticos e de políticas públicas efetivas dentro da Lei Maria da Penha são fatores que favorecem a invisibilização dos casos de violência doméstica contra mulheres indígenas. Sem a atuação expressiva das autoridades governamentais, movimentos independentes lutam contra o feminicídio e pelos direitos básicos das indígenas. A professora e ativista Kunha Poty Rendy, que atua no movimento das mulheres Guarani Kaiowá kunhangue Aty, do Mato Grosso do Sul, é uma das responsáveis por mapear e promover rodas de conversas sobre o assunto em 15 aldeias do estado.

Integrante do movimento desde 2006, ela não imaginava que o aprendizado sobre como buscar ajuda em casos de violência poderia, um dia, valer tanto para si. Há exatos oito anos, Kunha Poty Rendy sofreu as primeiras agressões físicas e psicológicas, que culminaram na tentativa de feminicídio pelo seu ex-companheiro, com quem tem um filho de 9 anos.

Hoje, ainda sob constantes perseguições e processos de retirada da tutela da criança, a professora luta, mesmo desempregada, para pagar advogados que a ajudem a conseguir a guarda definitiva do filho. Devido à situação de vulnerabilidade, Kunha Poty Rendy depende de doações para manter suas necessidades básicas e as de seu filho. Para ajudar a família, basta entrar em contato através do telefone (67) 9634-2972.

Em entrevista a CELINA, a ativista fala sobre sua trajetória no movimento das mulheres Guarani Kaiowá kunhangue Aty e sobre os principais desafios durante as ações de conscientização, denúncia e proteção de mulheres indígenas vítimas de violência intrafamiliar.

CELINA: Por que você decidiu integrar o Movimento das Mulheres Guarani Kaiowá kunhangue Aty?

Kunha Poty Rendy: Na ditadura militar, todos os Guarani Kaiowá foram expulsos de suas terras tradicionais, que passaram a ser posse dos fazendeiros. O governo criou apenas oito reservas indígenas, onde nos colocou junto a outros povos. Nos anos 1980, o lugar já estava cheio, então decidimos voltar para as nossas terras. Fomos os primeiros a reconquistá-las.

Essa história de resistência se repetiu em 2005, quando, com 10 anos, eu entrei no movimento para lutar por território, saúde e educação. No ano seguinte, a partir dessa ação, surgiu o Movimento das Mulheres Guarani Kaiowá kunhangue, do qual faço parte até hoje, para que nós, mulheres da nova geração, começássemos a lutar por nossos direitos.

Quais as atividades que o Movimento das Mulheres Guarani Kaiowá kunhangue Aty desenvolve?

A nossa principal função é ajudar mulheres indígenas que sofrem dos mais diversos tipos de agressões: espancamento, tortura psicológica, moral e patrimonial, que são motivos de mortes de muitas companheiras. No movimento, eu sou responsável por fazer o mapeamento das violências em 15 aldeias do estado do Mato Grosso do Sul. Fazemos rodas de conversa, nas quais muitas mulheres trazem as vivências horríveis que têm dentro de casa.

A violência aumentou muito durante a pandemia, mas todo mundo ficou preocupado com o vírus e esqueceram da proteção às mulheres nas aldeias. Agora, o mapeamento tem acontecido pelo WhatsApp, mas em julho queremos retornar presencialmente para ajudar melhor a essas mulheres. Para isso, precisamos de doações para custear combustível e comida.

Como o movimento te ajudou a entender a situação de violência que viveu?

Eu sofri muita violência do meu ex-marido, da física até a tentativa de feminicídio. Faz oito anos que me separei dele, mas a perseguição continua. Agora, ele quer tirar meu filho de mim. Muito dessa violência vinha de ele não gostar que eu fizesse meu trabalho no movimento, dizia que lugar de mulher era dentro de casa. Mas foi no movimento que eu percebi o que vivia com ele.

Não consegui denunciar porque, na época, policiais falavam que eu estava fazendo a cabeça dos indígenas para recuperar as terras; falavam também que eu não era indígena,porque meu pai é negro e minha mãe é Kaiwá. Isso, inclusive, também foi um fator de agressão do meu ex-marido, que me dizia coisas ruins por eu também ter a cultura quilombola. Foi o Movimento das Mulheres Guarani Kaiowá kunhangue Aty que me ajudou a sair do ciclo de violência. Agora, eu ajudo outras mulheres.

Quais as dificuldades que uma mulher indígena enfrenta na hora de denunciar as agressões?

A chegada na delegacia é muito difícil. Muitas mulheres têm medo porque, a partir do momento que sofrem a violência, o agressor ameaça, falando que vai matá-la, ou a deixa acuada para que ela não diga nada. Há ainda a dificuldade do entendimento da língua e de locomoção até a delegacia. Antigamente, em algumas localidades, o Disque 180 funcionava, mas as medidas protetivas não funcionam. Por isso, nós já perdemos muitas mulheres. O que nós do movimento também buscamos é achar uma solução para isso, como casas de apoio ou abrigos, para que essas mulheres possam sair do lugar onde o agressor está. A maioria dos homens não cumpre as medidas e ameaça as vítimas.

Atualmente, por quais adversidades o movimento de mulheres indígenas passa?

O principal são as perseguições às mulheres indígenas. Aliados do governo Bolsonaro, além de disseminar atos machistas, impedem com frequência que falemos e lutemos pelos nossos direitos. A pandemia tem afetado ainda mais a violência contra mulheres nos territórios indígenas, porque o acesso à saúde e à proteção ficaram mais difíceis. Outro fator é a fome. As pequenas agriculturas familiares estão sendo ameaçadas e muitas indígenas passam necessidade. Algumas não recebem auxílio porque isso é feito em aplicativos, e elas não têm acesso à internet. Nós do movimento das mulheres indígenas tentamos lutar contra tudo isso, mas é muito difícil reverter essa situação.

Mulheres indígenas do Movimento das Mulheres Guarani Kaiowá kunhangue Aty em manifestação contra a violência (Foto: Imagem retirada do site O Globo)