A cultura carioca foi alvo de uma ação arbitrária na manhã desta sexta: a companhia Docas do Rio, sem apresentar mandado, ordem judicial ou qualquer outro documento, trancou com um cadeado os portões do Armazém da Utopia, no Cais da Gamboa, onde funciona a sede da Companhia Ensaio Aberto.

O grupo de teatro, fundada em 1992, é célebre pelo compromisso com a divulgação e a popularização do teatro. O Armazém da Utopia, instalado no armazém 6 do Cais da Gamboa, desde 2010 é a casa da companhia, recebendo não só a montagem de textos clássicos, mas também diversas oficinas e projetos que contribuem para a formação de novos profissionais nas diversas áreas que atuam no teatro, além de realizar exibições gratuitas dos espetáculos para escolas públicas, entre inúmeras atividades desenvolvidas.

A atriz e diretora executiva da companhia, Tuca Moraes, denunciou o absurdo da ação (confira o vídeo abaixo). A reação foi imediata: personalidades da cultura, parlamentares, gestores, sindicatos e movimentos solidarizaram-se imediatamente, rechaçando a ação da Docas do Rio e defendendo o trabalho realizado pela companhia.

A mobilização deu resultado: no final da tarde, a Docas do Rio sinalizou com a assinatura de um acordo para reabrir o espaço. Entre idas e vindas na negociação – a empresa chegou a redigir uma minuta em termos distintos do acordo firmado, e depois desistiu de registrar oficialmente os termos – foi feito um pacto verbal que reabriu o espaço por 20 dias, com o compromisso de realização de tratativas entre a Docas Rio, a Companhia Ensaio Aberto e o Pier Mauá – arrendatária de parte significativa do Cais da Gamboa e que reivindica a cessão dos anexos 5 e 6, hoje sob controle do grupo de artistas.

Trata-se, ao fim e ao cabo, de mais uma disputa entre o uso público e a apropriação privada do espaço, onde o poder econômico tenta desativar um espaço cultural em pleno funcionamento desde antes da revitalização – e, por óbvio, valorização imobiliária – da região. Por enquanto, a cultura venceu por pontos o primeiro round. Mas a batalha está longe do fim.

Noves fora os anos da ditadura, há poucos momentos na história recente do país em que a unidade na defesa da UFRJ se faz tão urgente e necessária. A importância desta instituição exige gestos de grandeza das forças que influenciam nas decisões relacionadas ao seu futuro.

A UFRJ está sob risco no rastro das ameaças que põe a democracia em xeque no Brasil. A UFRJ está acossada por uma conjuntura absolutamente hostil, criada pela ascensão de um bloco dominante voraz e inimigo da universidade pública. Que ninguém se engane: o inimigo é forte e poderoso o suficiente para projetar o ímpeto autoritário na universidade e impor seus arreganhos ditatoriais numa área, a da produção do saber, que considera inimiga.

A experiência histórica de anos anteriores nesta universidade concede exemplos nos quais a compreensão política resultou na construção de abrangente arco de alianças.

É inescapável, aqui, resgatar a experiência da primeira escolha democrática de reitor na UFRJ. O ano era 1985 e, embora coincidisse com o fim da ditadura, a herança de preconceitos e medos de duas décadas de terrorismo de Estado prevalecia fortemente. Horácio Macedo se tornou reitor como expressão da vontade da comunidade universitária, a bordo de ampla base de apoio formada por forças com entendimentos diversos da realidade.

O país encontra-se mergulhado na era da incerteza. O momento adverso vivido por todos nós, com ataques à liberdade de cátedra, à pluralidade de pensamento, ao financiamento da ciência e tecnologia, às carreiras do funcionalismo e ao próprio caráter público da universidade torna imperativa a construção de um amplo movimento em defesa da UFRJ.

Desde o final do ano passado, uma frente se articula para debater os rumos da universidade e a sucessão da reitoria. Desta bem-vinda iniciativa já resultaram um manifesto com princípios e diretrizes, um conjunto de proposta de amplo espectro em salutar construção coletiva.

É preciso, no entanto, um passo além: a plataforma programática construída a várias mãos deve transformar-se em uma chapa que expresse a virtude de uma ampla coalizão plural e radicalmente comprometida com a educação e a democracia. A busca deste entendimento deve nortear os diálogos entre os diversos setores da comunidade acadêmica, sem anular diferentes concepções, mas atando-as na defesa de direitos e garantias fundamentais.

Está em jogo a defesa da universidade pública, a autonomia universitária, o direito soberano da comunidade da UFRJ de decidir sobre a escolha de seus dirigentes.

Qualquer alternativa fora da unidade dos defensores da democracia e da universidade pública, gratuita e de qualidade pode abrir perigosas brechas para a ação autoritária de um conluio entre privatistas e porta-vozes do obscurantismo, cuja capacidade de causar danos irremediáveis não só à UFRJ, como ao Brasil inteiro, é difícil de estimar.

A partir de fevereiro a Amil Dental será administrada pela empresa All Care Benefícios, como ocorreu com o Plano de Saúde Amil. Com isso, a forma de pagamento será destinada a essa administradora.
Esclarecemos que os sindicalizados que têm esse convênio não terão o desconto através do débito automático e não deverão pagar o boleto no mês de fevereiro.
A administradora All Care entrará em contato com cada sindicalizado agora em fevereiro para acordar a forma de pagamento (débito em conta ou boleto) das mensalidades de fevereiro em diante.
Ressaltamos que no mês de fevereiro (data do aniversário do contrato) as mensalidades sofrerão reajuste de 3,57%.
Destacamos ainda que nenhum beneficiário terá qualquer tipo de problema no seu atendimento da rede da Amil Dental.

Qualquer dúvida entrar em contato com o Setor de Convênios pelo telefone 3194-7102 ou 3194-7103.

A plenária da Frente Ampla Democrática e Solidária da UFRJ na quinta-feira, 7,  foi marcada pela apresentação de uma proposta de programa na defesa da democracia, da autonomia universitária e da universidade pública.
O documento, que está sendo construído coletivamente, está aberto a contribuições, as quais serão consolidadas para apresentação na próxima plenária da frente marcada para o dia 15 de fevereiro.
As propostas do documento de amplo espectro, depois de consolidadas, serão apresentadas à chapa ou às chapas que se apresentarem para a consulta de que resultará o próximo reitor da universidade.
Um manifesto com os 20 Princípios e Diretrizes do movimento da frente – que se define como democrático e progressista em defesa da universidade pública, gratuita e autônoma – já obteve inúmeras adesões da comunidade universitária.

Conjuntura hostil
A hostilidade da conjuntura que mergulha o país na era da incerteza fez despertar na comunidade universitária movimento sem precedentes na história política recente da UFRJ: a construção de uma frente que se mobiliza na defesa da universidade pública e de sua democracia interna.
As articulações ganharam velocidade pela coincidência das ameaças vindas de Brasília com o período de sucessão na Reitoria da universidade. O mandato de Roberto Leher termina em junho e o processo de consulta – como tradicionalmente acontece desde o fim da ditadura – será aberto no próximo dia 18, com a inscrição de chapas.
Como se trata de uma frente, é natural o entendimento de que se trata da convergência de forças com abordagens diversas da realidade. Forças ou grupos que se unem diante de uma ameaça maior, como o obscurantismo intelectual e a ânsia privatista presente no governo Bolsonaro.
A democracia sob risco na universidade – que quer ter o direito de escolher com liberdade seus dirigentes, defender a universidade pública e gratuita e a autonomia universitária – é o que tem inspirado a frente que vem se reunindo nas últimas semanas.
Fica claro que esta unidade é em torno de princípios que se desdobram num esboço de objetivos ou, de forma mais precisa, em algum momento, em um programa.
A plenária do dia 7 reafirmou a necessidade de consolidar as forças que se esforçam em busca da unidade na defesa da universidade.

Vontade da comunidade tem que ser respeitada

Com exceção do governo de FHC, que impôs o segundo candidato da lista tríplice, José Vilhena, abrindo uma crise institucional sem precedentes, há algumas décadas a vontade da comunidade na escolha para reitor e vice-reitor da UFRJ, apurada em pesquisa informal, vem sendo respeitada.
No entanto, no dia 10 de dezembro a Secretaria de Ensino Superior (Sesu) do MEC emitiu uma nota técnica (nº 400/2018) com considerações sobre a organização da lista tríplice para nomeação de reitor, opinando que, mesmo no caso da pesquisa informal, se deve observar o peso de 70% para docentes. Lógico que a nota causou indignação na comunidade universitária.
A eleição, no colégio eleitoral, segue o determinado pela Lei nº 9.192/95, com peso de 70% de votos para docentes. Mas consultas à comunidade são informais com configuração de votação conforme resolução de cada comunidade, sem que isso contrarie qualquer norma.
Neste ano, nada menos que 10 universidades federais, entre elas a UFRJ (com pleito previsto para abril), vão encaminhar lista tríplice a Brasília.
Segundo a Andifes, diversas universidades federais também têm mandados que terminam este ano: UFC (Ceará), UFGD (Grande Dourado), UFMA (Maranhão), UFPE (Pernambuco), UFRB (Recôncavo da Bahia), UFRN (Rio Grande do Norte), UFV (Viçosa) UFVJM (Jequitinhonha e Mucuri) e UniRio (Estado do Rio de Janeiro). No caso da UFRN, cuja eleição ocorreu em 2018, a instituição sustenta que a nota técnica não se aplica porque teria sido assinada após o envio da lista tríplice.

Consuni: resolução sobre a pesquisa

Em sessão do dia 13 de dezembro, o Conselho Universitário apreciou duas resoluções, uma sobre normas do processo de escolha e outra que define a constituição da Comissão Coordenadora da Pesquisa (de caráter informativo e não vinculante à elaboração da lista tríplice, conforme destaca o documento), prévia antes da eleição.
As normas reproduzem, basicamente, o último processo de escolha, e à comissão foram acrescentados representantes do campus Duque de Caxias, aumentando para nove os representantes docentes, e consequentemente para nove os indicados pelos conselhos superiores e representações dos segmentos técnico-administrativo (indicados pelo Sintufrj) e discente (indicado pelo DCE e APG).
Os nove representantes técnico-administrativos foram aprovados em assembleia convocada pelo Sintufrj no dia 6 de fevereiro.
Pelo texto aprovado, a comissão apresentaria na sessão do dia 14 de fevereiro a proposta de regimento para normatização do processo sucessório do mandato 2018 a 2023.

Confira o calendário aprovado em dezembro

Inscrição de candidaturas nos dias 18 e 19 de fevereiro junto à comissão; 
Campanha entre os dias 20 de fevereiro e 1º de abril;
Primeiro turno da pesquisa – 2, 3 e 4 de abril;
Divulgação de resultados – 5 de abril;
Eventual segundo turno – 15, 16 e 17 de abril;
Divulgação de resultado – 18 de abril.

Escolha de nomes

A escolha dos nomes que comporão a lista tríplice será no dia 30 de abril, em reunião conjunta dos Colegiados Superiores da UFRJ (Consuni, Conselho de Ensino de Graduação, Conselho de Ensino para Graduados e Conselho de Curadores), que constituirão o Colégio Eleitoral.
A elaboração da lista seguirá a legislação em vigor. Os candidatos deverão formalizar pedido de inscrição na Secretaria de Órgãos Colegiados nos dias 24 e 25 de abril.

Constituindo a comissão
Embora prevista para o dia 14 de fevereiro, a sessão em que a Comissão Coordenadora da Pesquisa apresentaria proposta de regimento, até o dia 8, ainda faltavam alguns nomes para sua composição. Assim, cogita-se que, no Consuni, possa haver alguma adequação no calendário.

COMUNIDADE UNIVERSITÁRIA no campus. UFRJ é uma das principais instituições da rede federal de ensino superior

Para os servidores públicos, prever a elevação na alíquota previdenciária que hoje é de 11%. Assembleia dos Trabalhadores convocada pela CUT e outras centrais vai iniciar a mobilização contra a reforma

 

“A reforma da Previdência é o sonho de consumo dos bancos”, definiu Marcello Azevedo, mestre em políticas públicas e ex-dirigente da CUT Rio de Janeiro, na exposição promovida pela Central na quinta-feira, 7 de fevereiro. A reunião antecede uma plenária dos sindicatos convocada pela CUT para o próximo dia 20, quarta-feira, para iniciar a luta contra a reforma (leia mais na página 6).
No debate, o dirigente, que é da Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf), alertou para a necessidade de os dirigentes e os trabalhadores revelarem a real intenção do governo em querer reformar a Previdência: acabar com a obrigatoriedade constitucional da seguridade social, desobrigar o governo da questão previdenciária, favorecendo bancos e fundos de pensão privados e desonerar a folha salarial das empresas retirando INSS, FGTS, 13º e férias.

Servidores
Para os servidores públicos das três esferas, Azevedo destacou que o projeto prevê progressividade de cobrança; elevação na alíquota previdenciária, que hoje é de 11% e da idade (65 anos para ambos os sexos), 60 anos para professores que ingressaram no serviço público até 31/12/2003, aumento do tempo de contribuição para 25 anos e obrigatoriedade de aderir a um fundo de pensão. O direito adquirido só será válido até a data da promulgação da reforma.
Azevedo, que também é especialista em economia do trabalho pela Unicamp, afirmou que a proposta veiculada, ainda não definitiva, é para medir a reação do mercado e da sociedade. De acordo com as reações é que o governo irá enviar sua proposta final, que pode ser ainda pior ou mais palatável à aprovação. Desconstitucionalizar o Regime Geral da Previdência Social, transformando todas as questões em leis complementares, é o pulo do gato do governo Bolsonaro. “De bate-pronto, a criação de um sistema de capitalização – cada trabalhador contribui para sua aposentadoria – é o carro-chefe”, disse Azevedo.
O dirigente afirmou ainda que a proposta apresentada até agora vai reduzir de 30% a 40% as aposentadorias e impedirá na prática o trabalhador de se aposentar com o aumento de tempo de contribuição (40 anos) e da idade (65 anos) para ter direito à integralidade. O tempo mínimo de contribuição passaria a ser de 20 anos (hoje é de 15 anos) e, caso se aposente por esse tempo, o trabalhador receberia 60% da aposentadoria.
O valor dos benefícios seria calculado pela média de todas as contribuições e não pelas últimas 36 contribuições, ou pelas maiores, como hoje é feito. O resultado será a redução de valores. “E menores que o salário mínimo para milhões de trabalhadores”, destaca.

AZEVEDO. Trabalhador perde

 

O que o governo esconde?

  • Que acabará com a previdência como uma política social.
  • Que não existe separação entre seguridade social e previdência na Constituição.
  • Que chama de déficit aquilo que é aportado somente no regime geral da previdência por empregados e empregadores e omite as receitas que deveriam vir dos impostos.
  • Que omite do cálculo os valores que não são aportados ou desviados da seguridade e da previdência por conta das isenções fiscais, sonegação, perdões de dívidas e desvinculação de receitas da União (DRU).

 

Problemas com o regime de capitalização

No Chile, onde a capitalização foi aplicada, houve exclusão de milhões de chilenos da aposentadoria, os benefícios pagos chegam em média a ser de 40% a 60% do salário mínimo, ocorreu um alto índice de suicídios de idosos, concomitantemente ao crescimento vertiginoso dos lucros dos fundos de pensão e dos bancos.
Marcello Azevedo elencou as mazelas que envolvem o sistema de capitalização aqui no Brasil, menina dos olhos do ministro da Economia, Paulo Guedes:

  • A aposentadoria é calculada em cima de depósitos mensais feitos pelos trabalhadores.
  • Em caso de prejuízo ou falta de recursos para cobrir a aposentadoria, quem paga são os trabalhadores.
  • Falta de fiscalização dos trabalhadores sobre a utilização dos recursos, pois são administrados por entidades privadas.
  • O governo só ajuda os aposentados com uma aposentadoria solidária, que é um valor pago também aos inválidos.
  • Utilização do FGTS.

Causou alvoroço o “vazamento” de uma minuta da reforma da Previdência a ser enviada pelo governo Bolsonaro ao Congresso Nacional. Embora o governo, mostrando a habitual descoordenação, negue que o texto represente a versão definitiva da reforma e o secretário do Tesouro Nacional, Mansueto Almeida, afirme que caberá ao presidente Jair Bolsonaro arbitrar entre diferentes versões elaboradas pela equipe do governo, o fato é que o texto revelado deixou o mercado ouriçado e os trabalhadores em pânico: a seguir a toada da minuta, estamos às vésperas de um ataque descomunal aos direitos.
Miguel Rossetto, ex-ministro do Trabalho (ministério extinto por Bolsonaro), foi uma das vozes a se levantar contra a proposta. Segundo ele, “a reforma vai transformar idosos e pobres em indigentes. Esta proposta tem tudo para empurrar para a miséria absoluta milhões de brasileiros que não têm condições de poupar dinheiro ao longo da vida”.
A ex-presidenta do INSS, Elisete Iwai, também detonou o texto, considerado nefasto: “Nesse modelo, as empresas deixam de contribuir, e o que esse trabalhador contribui é colocado numa espécie de poupança que os bancos vão gerir e em consequência vão ganhar com isso. Esse modelo privilegia o sistema financeiro”.
O texto vazado, de fato, foi muito bem recebido pelos bancos. O regime de capitalização, nos moldes da previdência chilena, constantemente elogiada por Bolsonaro e seu ministro da Economia, Paulo Guedes, abre um mercado extremamente rentável. No entanto, o modelo adotado é responsável por um drama crescente na sociedade chilena: o aumento de suicídios, do abandono e da indigência entre idosos. Em um país desigual como o Brasil, o modelo é o prenúncio de uma tragédia social de proporções incalculáveis.

CUT reagiu imediatamente. Primeiro, contra a MP 871, que prevê, entre outras medidas polêmicas, a quebra de sigilo bancário de aposentados e pensionistas que recebem o Benefício de Prestação Continuada. Essa MP provocou uma nota pública conjunta de 8 centrais sindicais questionando o tratamento dado pelo governo aos trabalhadores, considerados fraudadores em potencial, enquanto as empresas sonegadoras permanecem devendo bilhões à Previdência.
Em relação à reforma da Previdência de Jair Bolsonaro e Paulo Guedes, a CUT convocou plenárias estaduais para preparar a mobilização, culminando com uma Assembleia da Classe Trabalhadora, no dia 20 de fevereiro, em São Paulo (leia matéria na página 5).
O chamado vem em boa hora: a unidade do movimento sindical será fundamental para fazer frente ao verdadeiro atentado em gestação nas fileiras do governo. A previdência brasileira é uma conquista civilizatória que acolhe e protege pessoas idosas, com doença ou deficiência que não conseguem se sustentar no mercado de trabalho. É um modelo que incorpora seus conceitos baseado numa ideia sólida de solidariedade entre gerações e financiado de forma compartilhada entre trabalhadores, empregadores e a sociedade.

Modelo que é vitorioso, especialmente porque a imensa maioria da população não tem condições de poupar. Esse é um conceito básico que tem de ser reafirmado. Se aprovada, a mudança proposta representará o fim da era do emprego e do salário e a consolidação definitiva da era do trabalho e da renda – com o aumento da precarização e a diminuição do poder aquisitivo.
É urgente, portanto, abrir o debate com a sociedade sobre os aspectos draconianos do projeto do governo. A CPI da Previdência demonstrou, por exemplo, que a dívida ativa na cobrança previdenciária beira meio trilhão de reais, resultado da sonegação e fraudes de empresas que recolheram o dinheiro do trabalhador e não repassaram para a Previdência. Ao invés de combater as grandes fraudes e enfrentar os privilégios dos militares e do Judiciário, o governo prefere divulgar dados apocalípticos, sem o menor rigor técnico, e esboça a destruição de um sistema que, segundo o estudo “Previdência Social e Redistribuição de Renda Intermunicipal, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea)”, é a maior distribuidora de renda do país.
Mais do que nunca, somente a mobilização dos trabalhadores brasileiros poderá impedir que milhões de brasileiros sejam arremessados no desamparo para multiplicar os lucros do rentismo.

Serviços públicos universalizados, como saúde e educação, são alicerces das sociedades livres e justas, diz relatório da Oxfam

Coordenador da Oxfam no Brasil, Rafael Georges é autor do relatório apresentado no final de 2018 pela organização não governamental britânica que apontou o retorno do crescimento da desigualdade no Brasil depois de 15 anos. O documento também aponta a necessidade de mudanças no sistema tributário brasileiro.

Segundo o relatório, no cenário no qual se evidencia a importância de serviços públicos de qualidade e universalizados como elemento motor da redução da desigualdade, congelar gastos em investimentos públicos por 20 anos, como determina a Emenda Constitucional 95, aprovada no governo Temer em 2016, tem efeito devastador.

A medida, que já leva à acumulação de uma perda bilionária no SUS e ao contingenciamento progressivo de recursos para a educação (só na UFRJ o déficit projetado para 2019 passa de R$ 300 milhões), é uma política que, segundo Rafael Georges, não existe em nenhum lugar do planeta. “É a adoção de um remédio que vai matar o paciente”, diz. Para ele, a medida está na contramão do que os brasileiros precisam.

“A emenda do teto de gastos é um desastre”, diz, ponderando que é preciso parar de pensar nesta medida como solução para estabilização da economia. “A emenda precisa ser revogada e o debate sobre contas públicas no Brasil tem que assumir outro patamar”, sugere.

Papel dos governos

O relatório “Bem público ou riqueza privada?”, da Oxfam , além de mostrar o aumento da concentração de renda no planeta, aponta o poder inigualável dos serviços públicos universais para combater a pobreza e reduzir a desigualdade.

Hoje em dia, aponta a Oxfam, os governos enfrentam uma escolha: uma vida digna para todos os seus cidadãos ou riqueza extrema para muitos poucos.

Rafael Georges observa que as desigualdades não são naturais, são produzidas, e são produto de escolhas, de políticas públicas.

Segundo ele, a Oxfam reuniu uma série de estudos feitos durante vários anos para mostrar que investimentos em serviços públicos, em particular em saúde e educação, têm papel importante na redução da desigualdade.

O representante da Oxfam no Brasil explicou que a proposta da divulgação do relatório próximo ao encontro de Davos (realizado em janeiro), reunião da elite econômica do mundo, foi pautar o debate sobre a importância estratégica das políticas públicas.

É preciso compromisso das lideranças com a redução da desigualdade, e os governos têm papel central, destaca Rafael Georges.

A Oxfam, diz ele, não é antimercado, mas se deixarmos nas mãos do mercado as decisões relacionadas à distribuição de rendas , isso não irá acontecer.

Infância punida

Nos países em desenvolvimento, as crianças das famílias mais ricas têm 32% mais probabilidades de concluir o ensino fundamental do que as de famílias mais pobres.

Nos países de renda baixa e média, estima-se que 3,6 milhões das mortes possam ser atribuídas à falta de acesso a serviços de saúde a cada ano.

Para a Oxfam, deve haver serviços públicos gratuitos e de boa qualidade para todos: “Para reduzir o fosso entre riscos e pobres, os serviços públicos precisam ser universais, livres, públicos, transparentes e funcionar bem”.

Em alguns casos, serviços de saúde podem representar questões de vida ou morte. De fato muitos morrem por não poder pagar, e 100 milhões são levados à pobreza extrema em razão deste custo. Há países, como Quênia, República Democrática do Congo e Índia, em que às vezes pobres são mantidos como prisioneiros em hospitais enquanto não puderem pagar.

Segundo o relatório, países em desenvolvimento bem-sucedidos já demonstraram o potencial e a capacidade de os serviços públicos serem universais e favorecerem os pobres.

LONGE DA ESCOLA. Menino em atividade no lixão de Ribeirão Preto, interior de São Paulo

Reunião aprova nomes para comissão do Consuni. Delegação à plenária da Fasubra também é indicada

Com uma pauta que remete a dois importantes temas para a categoria – a consulta para escolha do novo reitor (no final de abril) e a indicação de delegados à plenária nacional da Fasubra –  a assembleia dos técnicos-administrativos da UFRJ na manhã desta quarta-feira 6, aprovou, com apenas uma abstenção, os nomes dos representantes dos servidores que comporão a comissão de pesquisa do Conselho Universitário e a chapa única para o encontro da federação em 15 e 16 de fevereiro.

Os graves ataques que se anunciam por parte do governo Bolsonaro, em particular a reforma da previdência, as ameaças de ingerência nas universidades públicas, privatizações e restrições de direitos, levaram à percepção por parte dos presentes de que é necessário construir a unidade.

“A conjuntura demonstra que os ataques vão ser fortes e que é necessário deixar as diferenças de lado. Essa assembleia foi marcada por isso”, disse a coordenadora-geral do Sintufrj Neuza Luzia.

“Conseguimos fechar o consenso para a formação de uma chapa (para a plenária da Fasubra) com representantes da direção e da oposição, cada um no seu papel”, resumiu ela.

 

Trabalhadores

A assembleia aprovou também organizar a participação da categoria na assembleia nacional da classe trabalhadora que será realizada na Praça da Sé, em São Paulo, no dia 20.

Essa assembleia está sendo organizada pela CUT, CTB e CPS Conlutas e tem como centro a resistência aos planos do governo para a previdência.

Na agenda interna, o Sintufrj vai organizar uma assembleia especial para discutir propostas e um programa com as reivindicações da categoria para ser apresentado aos candidatos que concorrerão ao cargo de reitor.

 

 

As fortunas do super-ricos cresceram a níveis nunca vistos”, aponta relatório da Oxfam, organização internacional com presença em 90 países

 

Em 2018, os bilionários do mundo aumentaram seu patrimônio em 2,5 bilhões de dólares por dia, enquanto a metade da humanidade ficou mais pobre em 11%, ou 500 milhões de dólares por dia.

Esses são os números do mais recente relatório da Oxfam, uma confederação internacional de 19 organizações trabalhando em rede em mais de 90 países.

 

Segundo o documento, a desigualdade extrema não é inevitável. Ela é uma escolha política. Mas o que se vê mostra que as decisões têm sido no caminho contrário: centenas de milhões vivem em extrema pobreza, enquanto quem está no topo recebe enormes recompensas.

 

O relatório, intitulado “Bem público, riqueza privada?”, divulgado no dia 21 de janeiro, às vésperas do Fórum Econômico Mundial de Davos, informa que o número de bilionários duplicou desde a crise financeira de 2007-2008 e que suas fortunas cresceram bilhões de dólares por dia. Só que os super-ricos e as grande empresas estão pagando o menor nível de impostos em décadas.

RETRATO. Em São Paulo, cidade mais rica do país, a imagem contundente da desigualdade
Com base no relatório, o jornal e o site do Sintufrj iniciam a publicação de uma série de reportagens, repercutindo o conteúdo do documento, com atenção especial para o Brasil, país campeão em concentração de renda, no qual a desigualdade social alcança proporções obscenas.

 

“Diante da crescente desigualdade, até o Fundo Monetário Internacional (FMI) e a revista britânica The Economist estão dizendo que há ampla margem para tributar os mais ricos sem prejudicar o desenvolvimento econômico e que essa redistribuição é necessária para combater a desigualdade.”, diz o texto.

Os custos humanos são imensos, atingindo serviços públicos, os quais poderiam reduzir o fosso da desigualdade (ou seja, crianças sem professores, unidades de saúde sem medicamentos).

Fazer com que o 1% mais rico pague apenas mais 0,5% de impostos sobre sua riqueza poderia gerar mais dinheiro do que o custo de educar todas as 262 milhões de crianças que estão fora da escola e fornecer serviço de saúde que salvaria 3,3 milhões de pessoas.

Autoritarismo

O relatório aponta que a desigualdade é desestabilizadora: “Nos últimos anos, assistimos a um aumento do autoritarismo por parte de governos em todo o mundo, com repressão à liberdade de expressão e à democracia. Também vimos um crescimento da popularidade de ideias racistas e sexistas e dos políticos autoritários que as apoiam. Muitos apontaram a ligação entre essa tendência global e altos níveis de desigualdade”.

Seria cômico se não fosse trágico: a sucessão de nomeações inexplicáveis, declarações absurdas e iniciativas retrógradas sinaliza que o Ministério da Educação, que no passado recente impulsionou uma formidável expansão do ensino superior e técnico no Brasil, ampliando e democratizando o acesso à educação, tornou-se um depósito de trapalhões, reacionários e descompensados. O estrago que estes farão na educação brasileira é algo que ninguém consegue estimar – só temer.

 

A lista de atrocidades começou com a intervenção no Instituto Nacional de Educação de Surdos: rompendo com a tradição, o ministro Ricardo Vélez Rodríguez nomeou para dirigir a instituição o candidato derrotado na consulta realizada pela instituição. O novo dirigente, inclusive, havia assinado um documento comprometendo-se a respeitar a vontade da comunidade acadêmica. Para piorar, vídeos produzidos pela premiadíssima TV INES, produtora de conteúdo para a população surda, simplesmente “desapareceram” do portal. Por uma “coincidência”, os programas retirados do ar abordavam vida e obra de pensadores como Rosseau, Marx, Gramsci, Nietzsche e Benjamin, e temas como população indígena e luta contra a aids.

 

Mas a questão não parou por aí: o MEC resolveu passar da censura ao realismo fantástico e, em nota oficial publicada nas redes sociais, escrita em maiúsculas (o que, na internet, indica que a pessoa está “gritando” com o interlocutor) e repleta de erros de português, acusou o jornalista Ancelmo Gois, responsável pela divulgação da notícia, de ser “treinado pela KGB, serviço secreto da União Soviética”, e de mentir para enganar os leitores. A nota – uma pérola da paranoia delirante que costuma aparecer com vigor nos pronunciamentos do ministro – afirma que a retirada dos conteúdos aconteceu durante o governo Temer, mas não explica os vários prints que provam que alguns programas ainda estavam no ar na primeira semana de janeiro.

 

Também causou espanto a nomeação da advogada Maria Eduarda Manso Mostaço, de 27 anos, como coordenadora-geral de formação de professores na Secretaria de Alfabetização. Se o secretário, Carlos Francisco Nadalim, defensor do ensino domiciliar e dono da escola Mundo do Balão Mágico, já havia despertado desconfiança, o nome de Mostaço, sem qualquer experiência profissional ou formação na área, foi recebido como uma bomba. Mostaço junta-se ao inexpressivo time de ex-alunos de Rodríguez e discípulos de Olavo de Carvalho no comando da educação brasileira.

 

Fechando o vendaval de notícias ruins, o próprio titular da pasta, ministro Rodríguez, concedeu entrevista para as “páginas amarelas” da revista Veja e destilou um repertório assombroso de ideias de jerico: defendeu a cobrança de mensalidades nas universidades públicas, a extinção do sistema de cotas, a nomeação de reitores a partir de um “banco de currículos”, a necessidade de uma “faxina ideológica” na educação brasileira, “dominada pelos marxistas”, e confessou a vontade de homenagear seu guru Olavo de Carvalho com um busto na entrada do MEC. O ministro afirmou também que a universidade deve abrigar apenas uma elite intelectual, e não ser um direito universal, já que “nem todos estão preparados” para fazer parte desta elite, e coroou o festival de impropérios com uma “peculiar” observação sobre o país que o acolheu (Rodríguez é colombiano): “O brasileiro viajando é um canibal. Rouba coisas dos hotéis, rouba assento salva-vidas do avião; ele acha que sai de casa e pode carregar tudo. Esse é o tipo de coisa que tem que ser revertido na escola”.

 

Em apenas 30 dias, Rodríguez e seus pupilos conseguiram atacar pilares fundamentais da educação, como o caráter plural do ensino e a gratuidade, e protagonizar cenas lamentáveis. Embora caricata, a malta que ocupa o ministério é perigosa e disposta a patrocinar uma viagem sem escalas rumo ao obscurantismo. Urge ligar o alerta e preparar, desde já, a comunidade universitária e a sociedade brasileira para defender a educação pública, antes que o trator bolsonarista faça um estrago irreversível por gerações.

 

VÉLEZ RODRÍGUEZ. Obsceno reacionarismo rumo ao obscurantismo