O tempo não para

Parceria entre o Sintufrj e o Laboratório de Informática para Educação (Lipe), da UFRJ, amplia perspectivas do cotidiano de aposentados e pensionistas

 

A vida da aposentada Marinês Vitariano da Cruz e Souza mudou depois que passou a frequentar as aulas do Curso de Apropriação da Cultura Digital, no Centro de Tecnologia (CT). “Foi como se eu tivesse tirado uma venda dos olhos. Vocês imaginam que eu agora encontro o meu contracheque na internet, e até fiz meu check in quando viajei?” –, comentou a auxiliar de enfermagem da UFRJ.
O aposentado Roberto Bonfim, 76 anos, não só aprendeu a acessar os recursos do computador, como também a navegar pelo display eletrônico do celular.
“Meu modo de vida está totalmente diferente, mas como quero saber mais, vou continuar no curso”, disse ele.
Esse é o resultado prático da parceria entre o Sintufrj e o Laboratório de Informática para Educação (Lipe) em benefício dos aposentados e pensionistas.
No dia 3, a primeira turma concluiu seu aprendizado e foi diplomada, um feito comemorado com entusiasmo e emoção. Afinal, é difícil viver num mundo cada vez mais digital sem dominar noções básicas de informática. A direção sindical atentou para isso e buscou uma solução.

Iniciativa exitosa
“Mais importante que aprender uma linguagem de computador é a relação humana; este laboratório é construído por todos”, definiu a razão social do Lipe o professor do curso Antônio Claudio Gomez de Souza.
O laboratório também desenvolve outras atividades de extensão, inclusive com escolas públicas. Aqui no Fundão, ministra informática básica para os trabalhadores da UFRJ e para a comunidade da Vila Residencial, e agora para os aposentados e pensionistas encaminhados pelo Sintufrj.
Um dos responsáveis pelo curso, e que também responde pela coordenação pedagógica do projeto, junto com outros profissionais, é Gilmar Constantino de Brito Junior. De acordo com ele, a iniciativa só está dando certo graças à dedicação de toda a equipe de trabalho, que inclui os técnicos-administrativos Ricardo Julian, Claudia Marques e Rejane Gadelha. “É uma grande comunhão de pessoas voltadas para a formação”, afirma.

 

Primeira turma

A Coordenação e o Departamento de Aposentados e Pensionistas do Sintufrj foram representados na solenidade de formatura pelas companheiras Maria Sidônia dos Santos Lira e Leila Castro.
“É muito importante para quem se aposenta se engajar em alguma atividade, por isso é muito importante o trabalho realizado pelo Lipe”, destacou Leila.
“Como coordenadora de Aposentados e Pensionistas, convido todos a participar das oficinas e deste projeto de inclusão digital que o Sintufrj faz parte”, disse Sidônia.

 

Veja quem está ingressando no mundo digital

“Conheci o Lipe pelo Jornal do Sintufrj e agradeço aos professores pela paciência, porque depois de certa idade o aprendizado é mais lento”, disse a enfermeira Maria Heloisa Monteiro Resende.

A aposentada Dorvalina Ponciana de Brito, acompanhada do neto Nicolas e do marido, Joel José Alves, servidor do IPPMG e que também fez o curso, foi uma das que mais comemorou a conquista do diploma de inclusão digital. “Agora não dependo mais de filhos para acessar o computador”, festejou. “Antes das aulas, eu via informática como um bicho de sete cabeças. Não é nada disso”, garante Joel.

“Com este diploma, não somos mais analfabetos digitais. Para nós é como se fosse o mestrado”, disse o marceneiro aposentado Antônio Irineu.

Aula aberta debate educação democrática

Docentes organizam atividade para refletir sobre a liberdade de crítica em tempos de tentativa de escola com mordaça

Em tempos de Escola sem Partido e ameaça à liberdade de expressão e de ensino em escolas e universidades, o Instituto de Filosofia e Ciências Sociais (IFCS) da UFRJ realizou, na quarta-feira, 5, uma aula aberta sobre educação democrática.
A iniciativa foi de um grupo de professores da Faculdade de Educação com o objetivo de provocar a reflexão sobre a liberdade de difundir o pensamento crítico e em apoio à professora Amanda Mendonça, cujas aulas foram gravadas e postadas na internet sem sua autorização.
“Agradeço todo o apoio que tenho recebido, mas essa aula é para mostrarmos que é possível um confronto de visões diferentes. E isso é saudável e enriquecedor. Precisamos organizar mais eventos como esse, onde haja espaço para a crítica acontecer”, disse Amanda aos presentes à aula aberta a estudantes, professores (inclusive de colégios federais e estaduais), técnicos-administrativos da universidade, entre outros.

Povo distante
A preocupação de Amanda é o debate sobre educação estar ocorrendo ao largo da população. Ela citou como exemplo a própria aula especial que estava sendo ministrada no IFCS, ao mesmo tempo que era realizada no Congresso Nacional uma audiência pública para discutir a proposta da Escola sem Partido. E lembrou que em 2019 a nova Base Nacional Comum Curricular (BNCC) vai entrar em vigor, mas poucos sabem disso.
“Para nós, parece óbvio e fácil nossas palavras e argumentos, mas não é tão simples quanto parece fazer esse diálogo. Como a gente dialoga e transforma nossos argumentos de forma a fazer com que a maioria entenda o que defendemos ou a importância disso? Quando falamos em educação democrática, é preciso pensar nossa comunicação para fora”, afirmou a professora.

 

Sintufrj defende unidade

A coordenadora de Educação, Cultura e Formação Sindical do Sintufrj e técnica em assuntos educacionais do IFCS, Damires França, compartilhou com os presentes a preocupação do Sindicato em relação ao cerceamento das liberdades democráticas nos tempos atuais. Segundo a dirigente, há necessidade de união entre os segmentos da comunidade universitária da UFRJ para criar estratégias de enfrentamento na atual conjuntura. Os professores da Faculdade de Educação Anita Handfas e Luiz Antonio Cunha provocaram os presentes a refletir sobre os últimos acontecimentos.

 

Entenda o caso

No início de novembro, Amanda Mendonça foi informada por alunos da sua turma no IFCS que um estudante estava gravando aulas de diferentes disciplinas e postando na internet. O fato foi levado por ela à direção da Faculdade de Educação (sua unidade), ao IFCS e à Adufrj, e chegou ao Conselho Superior de Coordenação Executivo e ao Conselho do Centro de Filosofia e Ciências Humanas (CFCH).
Ouvida pelo Jornal do Sintufrj, a ouvidora-geral da UFRJ, Cristina Riche, disse que a autonomia universitária é garantia constitucional que não pode ser desconhecida, desvalorizada ou desconsiderada. E orientou que questões como essa devem ser levadas primeiramente ao conhecimento de departamentos e congregações, respectivamente.
Mas, preventivamente, ela recomenda que é importante dar ciência a todos sobre o posicionamento do Supremo Tribunal Federal (STF), que reafirma a autonomia universitária e a liberdade de cátedra.
A ouvidora cita ainda a recomendação da Defensoria Pública da União aos reitores, datada de 26 de outubro, que assegura a livre iniciativa do corpo docente, discente e técnico-administrativo na promoção e efetivação do princípio da autonomia universitária referente a qualquer tipo de manifestação de ideias, independentemente de posição político-ideológica.
A ouvidora propõe que, na divulgação dos programas e disciplinas, os alunos sejam informados que tem que haver autorização do professor para gravar uma aula ou copiar um slide, porque envolve direito autoral e há limites legais.

Brasil, 9º país mais desigual do planeta

A piora na desigualdade da renda está de volta, resultado da desconstrução de políticas que melhoraram a vida dos pobres

Entre 2016 e 2017, a redução da desigualdade de renda no Brasil foi interrompida pela primeira vez nos últimos 15 anos, como mostra o relatório “País estagnado: um retrato das desigualdades brasileiras 2018”, divulgado no dia 26 de dezembro pela organização não governamental Oxfam Brasil.
A estagnação fez com que o Brasil caísse da 10ª para 9ª posição de país mais desigual do planeta, no ranking global de desigualdade de renda de 2017.
A onda de desemprego reduziu a renda geral, sobretudo entre os mais pobres. Houve aumento da desigualdade na renda do trabalho, aumento da pobreza e estagnação da equiparação de renda entre os gêneros, e recuo na equiparação de renda entre negros e brancos.

Relatório aponta que o aumento real do salário mínimo e a revogação da lei do teto dos gastos, que reduz investimentos na área social, são caminhos para a redução das desigualdades.

 

Retrocesso
A distância entre os mais ricos e os mais pobres vinha diminuindo há 15 anos no Brasil (desde 2002), conforme o índice de Gini de rendimentos totais per capita medido pelas Pesquisas Nacionais por Amostra de Domicílios (Pnads-IBGE). Mas em 2017 o país voltou ao patamar de 2012.
Para o autor do relatório e coordenador de campanhas da organização no Brasil, Rafael Georges, em entrevista à Agência Brasil, o país está tendo que aprender a “dura lição” de que conquistas sociais se perdem muito rapidamente.
“Em 2017, nós voltamos para os mesmos níveis de 2012 em termos de porcentagem da população na pobreza. Em dois anos, voltamos cinco. Esse movimento nos lembra que é importante adotar medidas estruturais. O Brasil aprendeu a combater a desigualdade por meio do incremento de renda, o que é importante, mas renda não é tudo. É importante garantir uma infraestrutura social por meio da oferta de serviços de saúde e educação, principalmente, com aumento de investimentos nessas áreas”, analisa Georges.

 

Temer serviu aos ricos

O economista Marcio Pochmann, professor do Instituto de Economia da Unicamp, em artigo para a Rede Brasil Atual, explica que após o golpe de 2016 e as reformas do governo Temer contra os pobres e os segmentos de rendimentos intermediários o favorecimento aos mais ricos aumentou.
Em 2004, estudo de economistas publicado no livro Os ricos no Brasil informava que somente 0,001% das famílias brasileiras concentravam 40% de todo o estoque da riqueza nacional.
Já um estudo de 2017 – “Desigualdade extrema e persistente”, de M. Morgan, cuja pesquisa foi feita entre 2001 e 2015 – indica que a desigualdade havia caído para o conjunto dos pobres e dos segmentos de renda intermediária, isto é, para aqueles que se sustentam dos rendimentos do trabalho e das políticas públicas (pensões, aposentadorias e bolsas), mas manteve a renda extremamente elevada nos detentores do capital.
Desigualdade caiu
nos anos 2000
Segundo Pochmann, os dados censitários e das Pesquisas Nacionais por Amostra de domicílios (Pnads), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mostram que nos anos 2000, ao contrário da década de 1990, a desigualdade de renda caiu significativamente com o avanço de políticas para melhorar a vida dos pobres e daqueles com renda intermediária.
“Quando as políticas públicas começavam a desenhar uma ação para atacar a desigualdade extrema do capital, o condomínio de interesses em torno do Projeto para o Futuro destitui a presidenta democraticamente eleita. No seu lugar, emergiram as reformas contra os pobres e os segmentos de rendimentos intermediários, o que tem favorecido ainda mais as rendas do capital”, diz Pochmann, concluindo: “Mas isso os estudos recentes não mostram.”

 

 

 

 

 

Quinta-feira, 29 de novembro das 10h às 14h

Anfiteatro do Salão Nobre IPPMG

Pauta: conjuntura e os cenários de ataque à carreira, à universidade e ao serviço público anunciados pelo novo governo. Eleição dos delegados à Plenária Nacional da Fasubra.

A Reitoria já iniciou o envio das primeiras listagens com o cálculo dos valores que os servidores que estão na ação dos 26,06% referente ao Plano Bresser têm a receber. A listagem é imediatamente publicada no site do Sindicato (sintufrj.org.br), que a atualiza todas as vezes que chega uma nova lista de servidores.

 

[O PORTAL]

 

Esta ação que o Sintufrj ganhou corresponde ao percentual que deixamos de receber no período de 17 de julho de 1987 a 11 de dezembro de 1990. À época (governo Sarney) existia um gatilho acionado sobre os salários toda vez que a inflação atingia um determinado patamar.

A ação movida pelo Sindicato foi para recuperar a diferença gerada pelo gatilho que deixamos de receber.

Repetindo: o pagamento desses atrasados corresponde ao período de 17 de julho de 1987 a 11 de dezembro de 1990. Naquela época, só existia a Asufrj, e somente os associados eram representados pela associação. Por esta razão, à época desse processo judicial (Plano Bresser) o juiz pediu que fosse anexado a ele a listagem oficial dos associados até maio de 1991. Essa listagem de associados foi elaborada pela Reitoria.

Como já informamos, a Reitoria aceitou a solicitação do Sintufrj para que esta efetivasse os cálculos para os sindicalizados. Como o número de servidores é grande, a listagem com os cálculos está sendo enviada gradualmente.

 

O PORTAL

A direção do Sindicato, com apoio técnico da assessoria jurídica, criou um portal (veja o link abaixo) na internet para facilitar o acesso dos servidores interessados na ação. Nesse portal serão encontradas informações mais detalhadas sobre o processo e, importantíssimo, o passo a passo da execução para o recebimento dos atrasados.

 

COMO FAZER

Atenção sindicalizados para a lista da ação vitoriosa dos 26,06% do Plano Bresser:

1 – Para promovermos a execução em seu nome, o escritório necessitará de seus dados cadastrais pessoais e cópia dos documentos (identidade, CPF, comprovante de endereço e 1 contracheque atual), que devem ser digitalizados e entregues no portal http://2606-sintufrj.servidor.adv.br/login .

2 – Além disso, é necessária a procuração para os advogados atuarem. A procuração já preenchida está disponível neste portal. A procuração deve ser impressa, assinada, ter a firma reconhecida, ser digitalizada e entregue no portal.

3 – Depois, a procuração original deve ser entregue na sede do sindicato (na Av. Brigadeiro Trompowsky, Praça Jorge Machado Moreira, s/nº, Ilha do Fundão, Rio de Janeiro).

 

 

Os desafios que duas mulheres negras eleitas em outubro vão enfrentar no plenário da Assembleia Legislativa, numa conjuntura adversa para a pauta dos interesses populares, foi o tema da roda de conversa organizada pelo Sintufrj – como atividade do Mês da Consciência Negra.

 

Nascida e criada na Maré, Renata Souza (PSOL), a parlamentar mais votada no campo da esquerda (63 mil votos), sintetizou o tamanho do risco: “impedir que a barbárie vire política pública” será o desafio.

 

Quando o governador eleito do Rio de Janeiro, Wilson Witzel, põe na pauta a política de extermínio para enfrentar a violência, e tem irrestrito apoio do presidente eleito, o cenário temerário se apresenta.

 

Mônica Francisco (PSOL), com base de atuação no Morro do Boréu, compartilha das preocupações de Renata. Mas observou um contraponto no cenário. Segundo ela, a eleição de mais mulheres negras é a resposta social aos que repugnam corpos negros nos espaços de poder.

 

Impedir a barbárie é o desafio

Mulheres negras falam do desafio da atuação no Parlamento estadual

Mas a deputada eleita diz que a representatividade dos mandatos só se justifica se for lastreada nas pautas que defendem.

 

A presença das duas futuras parlamentares marcou o encerramento das atividades do recém-criado Departamento de Raça e Gênero, criado pelo Sintufrj. Noemi de Andrade, diretora, e Denise Góes, ativista do movimento negro, conduziram, na quinta-feira 22, o encontro com Renata e Mônica Francisco.

 

Além do debate, uma oficina de turbante enfeitou com adereços coloridos várias mulheres presentes ao evento. Exposição de peças artesanais com motivos afros e uma feijoada fizeram parte do cardápio.

 

O bloco afro Agbara Dudu, fundado em 1982, em Madureira, encerrou as atividades. No repertório, canções tradicionais africanas. “É uma alegria muito grande estar aqui, trazendo muita música e arte para o público”, disse o componente do grupo Julvano Martins.

 

Aliança progressista

 

Renata Souza, que foi aluna da UFRJ e estagiária do Sintufrj, teme que o medo seja a mola condutora da barbárie enquanto política de Estado.

Ela aposta, no entanto, na formação de um campo progressista para conseguir barrar os retrocessos e as ações parlamentares que possam vir a ferir a integridade física e moral dos indivíduos pertencentes às minorias sociais.

 

Ela lamenta também o cerceamento e as ameaças que pairam sobre a autonomia dos professores e deseja que a universidade seja o universo da cidade, não fechada em si.

 

Para Mônica, o período que é anunciado para o Rio de Janeiro e para o Brasil exigirá de nós  muitos esforços para garantir a manutenção dos direitos conquistados. “As instituições de educação passam por uma desqualificação dos processos intelectuais, onde se filma professores e tentam cercear o pensamento crítico”, afirmou.

Edital

Dia: 13/12/2018.

Local: Casa de Festas Lajedo

Endereço: Vargem Pequena

Horário: 12h às 18h

Inscrição: Será feita on line através do site do Sintufrj. No ato da inscrição o sindicalizado deverá informar o local de retirada do passaporte: sede no Fundão, das 9h às 17h, subsede na Praia Vermelha, das 10h às 18h ou subsede no HU das 8h  às 17h. Após finalizar a inscrição o sindicalizado deverá imprimir o comprovante de inscrição.

Período de inscrição: 19 a 30 de novembro de 2018.

Período de entrega dos passaportes: 7, 10 e 11 de dezembro de 2018. A  entrega só será feita ao próprio, munido de comprovante de identidade com foto.

Transporte: Será feita a conferência na entrada do ônibus, portanto, é extremamente necessária a apresentação do passaporte com o comprovante de identidade com foto.

Haverá ônibus saindo da sede do Sintufrj, na Cidade Universitária e na Praia vermelha. O horário de saída dos ônibus será as 10:30hs.

A mesma conferência será realizada no local do evento para quem utilizar outros meios de transporte.

[FAZER INSCRIÇÃO]  [IMPRIMIR CONFIRMAÇÃO]

 

[Atualização] Errata: erramos ao informar a data anterior de encerramento das inscrições para a festa de confraternização dos sindicalizados. O correto é de 19 a 30 de novembro.

 

 

Especializado em história da África, o professor Jorge Nascimento sustenta a tese que identifica o racismo como uma criação para subjugar os negros e legitimar seu genocídio. “O racismo antes de tudo é um sistema de poder que visa o extermínio da população negra no mundo”, diz ele.

 

Nascimento participou do debate “A história do racismo e seus impactos na contemporaneidade” no Instituto de Filosofia e Ciências Sociais (IFCS), uma das atividades do Mês da Consciência Negra, organizado pelo Sintufrj. Mediou o encontro a coordenadora do Sindicato Noemi Andrade.

 

Rodrigo Santos, o outro debatedor convidado pelo Sindicato, é pesquisador do tema na UFRJ. Ele chamou a atenção para o reforço do racismo de acordo com o pensamento intelectual tradicional, que desqualificou e renegou a população negra.

Segundo Santos, em textos registra-se que os negros não têm sentimentos, não têm talento, e de tão matraqueiros deveriam ser dispensados a pauladas.

 

Eurocentrismo

No debate, Jorge Nascimento destacou que a visão oficial eurocêntrica – a partir dos brancos europeus – destituiu o real valor do continente e de seu povo para a história da humanidade.

 

Segundo ele, o eurocentrismo exibiu, por exemplo, a civilização egípcia como sendo a de um povo branco, sendo ela reverenciada, mas os historiadores revisionistas comprovaram que se tratava de povos de pele negra – constituídos da mistura de vários povos africanos existentes ao sul e ao norte do vale do rio Nilo.

 

O professor explicou que a África é um continente antigo, e nela existiram grandes reinos africanos. Algumas grandes chefias, consideradas Estados tradicionais, são conhecidas desde o século IV, mas desconstruiu-se a história desses povos através de uma visão pejorativa e preconceituosa sobre o continente africano. E isso prepondera até hoje.

 

“O negro não sabe da sua história, a não ser pela visão do europeu. Suas contribuições na filosofia, na medicina, na matemática são colocadas na conta dos gregos”, diz.

 

Nascimento afirma que a história oficial torna os negros invisíveis, quando não inferiores, o que fragiliza sua autoestima. Conhecer a história africana, disse, é também saber os caminhos que foram tomados para se chegar à liberdade.

 

“Nós africanos fomos alijados de conhecer nossa própria história. Digo que nenhum branco foi responsável pela nossa libertação, coube isso a nós negros”, sublinhou.

 

Ódio e medo

O pesquisador Rodrigo Santos afirma que o racismo é um poder que mobiliza as energias do corpo e está relacionado ao ódio e ao medo. “Um ódio que gera impulsos de assassinatos, de destruição e violência. Um medo que leva o povo ariano ao massacre pela existência da diferença”.

De acordo com Santos, o capitalismo se apropriou desses sentimentos para justificar o massacre para a expropriação. E tem no racismo estrutural o alicerce para as políticas econômicas e sociais excludentes e predatórias.

 

Rodrigo Santos afirma que não há o desejo de se reverter essa situação na nossa sociedade, mas que cabe àqueles que defendem a igualdade a luta pela mudança. “Corpos negros são alvo. Estão na mira do fogo. É o racismo instituído. Por isso, o combate ao racismo precisa acontecer em todas as frentes, com as associações, grupos culturais, universidades e sociedade civil, defendeu. “Não podemos esperar da institucionalidade e dos governos qualquer medida que nos contemple”, finalizou.

Ruy de Azevedo e Ivania de Jesus Severo, integrantes da Coordenação de Políticas Sociais do Sintufrj, festejaram o êxito dos eventos que marcaram o Mês da Consciência Negra com debates, exposições artesanais, oficina e turbantes e uma roda de conversa com deputadas negras eleitas em outubro. Os dois dirigentes disseram que o objetivo de marcar posição contra o racismo foi alcançado.