Ana Lúcia Goes, professora da UFBA e vice-presidente da Apub, aborda o assunto em entrevista

Gabriela Amorim
Brasil de Fato | Lençóis (BA) |

 

Com o bloqueio de verbas promovido pelo governo federal para o custeio das universidades públicas, diversas instituições de ensino superior do país afirmam que não conseguirão manter-se funcionando neste segundo semestre.

Na Bahia, o Instituto Federal da Bahia e a Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB) já se pronunciaram afirmando que, caso o bloqueio se mantenha, devem suspender o funcionamento em setembro.

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Este bloqueio se soma à ameaça de aprovação de uma PEC que autoriza a cobrança de mensalidades em universidades públicas e à diminuição do orçamento das instituições de ensino superior que vem acontecendo nos últimos anos.

Ana Lúcia Góes, vice-presidente do Sindicato dos Professores Universitários da Bahia (Apub) e professora da Universidade Federal da Bahia (UFBA), explica que esses cortes e bloqueios têm colocado em risco as atividades dessas instituições e a permanência dos estudantes nas universidades.

Brasil de Fato Bahia: Professora, o que significa esse bloqueio do orçamento das universidades federais? Qual o impacto disso para as universidades baianas?

Ana Lúcia Goes: No último dia 27 de maio, as universidades públicas foram negativamente surpreendidas pelo anúncio do MEC de um bloqueio de 14,5% do orçamento discricionário das instituições federais de ensino superior, isso representa algo em torno de R$ 3 bilhões. Esse orçamento é para pagar o custeio, que são as despesas elementares, como água, energia, serviços terceirizados de segurança, portaria, limpeza, manutenção em geral, além de bolsas de monitoria e pesquisas acadêmicas e bolsas de assistência estudantil. Então, no caso da UFBA, esse bloqueio corresponde a mais de R$ 26 milhões. E o impacto disso nas universidades baianas é a incapacidade de pagar as despesas básicas para manter as instituições funcionando no segundo semestre de 2022. Estamos falando de limpeza, segurança e infraestrutura. O Instituto Federal da Bahia e a Universidade Federal do Recôncavo da Bahia já emitiram notas de que não conseguirão continuar após setembro. Então é o colapso das instituições federais de ensino superior.

Além desse bloqueio, o orçamento destinado às universidades federais tem decaído ou estagnado nos últimos anos a despeito da inflação, aumento do número de estudantes etc. Isso coloca em risco o tripé do ensino, pesquisa e extensão de qualidade?

Desde 2019, vivemos tempos turbulentos para organizar essa equação. Vivemos constantes bloqueios e cortes orçamentários anualmente. Só pra se ter uma ideia, em abril de 2019, houve um anúncio de bloqueio de 30% para três universidades federais, a UFBA inclusa. Em 2020, a UFBA teve uma redução de 5% para as verbas de custeio se comparando com o orçamento de 2017. Em 2021, houve corte de 18% no orçamento da UFBA. Em termos reais, em 2022, a UFBA voltou a ter o orçamento de 2010. O Plano Nacional de Educação incentivou a expansão das instituições federais de ensino superior ao longo dos últimos anos. E isso fez aumentar a entrada de estudantes, aumentou o concurso docente e para técnico, aumentou a oferta de cursos, mas esse investimento não está sendo acompanhado pelo aumento do orçamento. Ou seja, as instituições federais de ensino superior têm mais despesas e menos receita. As universidades públicas estão intencionalmente sendo sucateadas por um projeto de Brasil que deseja manter as desigualdades, deseja manter a educação para a elite, manter um falso ideal de meritocracia e de oportunidades para todos e todas. E, respondendo a segunda parte da sua pergunta, para além de colocar em risco o tripé ensino, pesquisa e extensão, coloca em risco a própria universidade e o fim a que se destina, que é ser um lugar de produção de conhecimento, de fomento cultural, de crescimento social. As verbas discricionárias também garantem as bolsas de monitoria e de pesquisa, o que ajuda no desenvolvimento de pesquisa, ciência e tecnologia. Nós não podemos esquecer jamais do papel das universidades e institutos públicos brasileiros no combate à pandemia de coronavírus. Na busca incessante para entender a genética, o comportamento desse vírus, produzir vacinas, desenvolver engenharia reversa para manutenção e reutilização de aparelhos de ventilação mecânica e insumos, como a própria fabricação de face shield. As universidades públicas e institutos federais produzem 90% da ciência no país. Os cortes orçamentários, no geral, imobilizam a atuação das instituições federais de ensino superior nos pontos de transformação sócio-cultural e econômica. Muitas atividades de extensão acontecem em locais distantes da cidade, junto à população vulnerável como a população indígena, quilombola, população ribeirinha, periférica, em situação de encarceramento e privação de liberdade. Essas práticas envolvem deslocamentos de pessoas e claro verba para atuação local. Tudo isso se perde com os cortes dessas verbas.

Muitos estudantes também dependem dos auxílios permanência e bolsas para conseguir concluir os estudos no ensino superior. Esses orçamentos também foram afetados?

Com certeza. O maior impacto desses cortes é em relação aos estudantes sócio-economicamente vulneráveis. Pois essa verba também era direcionada para bolsas de programas de assistência estudantil, para moradia, alimentação e transporte, como o Programa Permanecer, por exemplo. E são esses programas que fazem com que muitos jovens permaneçam estudando. E vou lhe dizer mais: nós já observamos os efeitos dessa ação governamental nas IFES. Esses constantes bloqueios e cortes já estão afetando as matrículas nas universidades federais. Houve uma queda de 60% de matrículas no Sisu entre 2015 e 2021. A taxa de desemprego geral, a inflação afastam os estudantes do sonho de um futuro de Brasil mais justo e igual. O aumento na taxa de inscrição do ENEM volta a elitizar a universidade. Para aqueles que resistem, a perda dos auxílios obriga o estudante a deixar de estudar para trabalhar, para ajudar a família, para colocar comida no prato em casa. A universidade não tem como concorrer com essa situação. Quando a taxa desemprego está enorme, a inflação sobe a cada mês e a economia está destruída. Além dos cortes, estamos observando também que parece existir um ataque direto a populações específicas. A cada 10 estudantes indígenas e quilombolas que pedem auxílio permanência, 6 têm seu pedido negado. O aumento da burocracia também afasta estudantes das universidades públicas. Além da autodeclaração, os estudantes indígenas e quilombolas precisam apresentar uma declaração da comunidade de residência, uma declaração da Funai ou da Fundação Palmares e um termo de compromisso, quando antes bastava a solicitação.

A PEC 206/2019 que prevê cobrança de mensalidade nas universidades públicas começou a ser discutida recentemente na Câmara dos Deputados. Por que tantos sindicatos e entidades ligadas à educação se posicionaram contra esta PEC?

A Proposta de Emenda à Constituição 206 de 2019 dá uma nova redação ao artigo 206, inciso 4, e acrescenta um parágrafo 3º ao artigo 207, ambos da Constituição Federal, para dispor sobre a cobrança de mensalidades pelas universidades públicas. E essa PEC já traz em si dois equívocos importantes. O primeiro quando fere a garantia de acesso gratuito e universal ao ensino superior que a Carta Magna da Constituinte de 1988 afirma como princípio. O segundo, ao desconsiderar que hoje a universidade está ocupada por uma parcela de pessoas com menor nível sócio-econômico graças às políticas e programas de cotas e de bolsas de assistência estudantil, mesmo que essas ainda estejam sob ataque. Aliás, posso até fazer um parêntese e dizer que acredito que é exatamente por isso que esses programas estão sob ataque. E segundo a Andifes, em 2019, com a ampliação do número de universidades, cursos e matrículas, que facilitou o acesso das pessoas às instituições federais, em torno de 86% são de estudantes com renda familiar per capita abaixo de 3 salários mínimos. E em torno de 4,5% dos estudantes estão na faixa de renda familiar acima de 5 salários. A PEC 206 não é viável por diversos motivos. O desejo da base governista é de aprovar a PEC 206 e só depois criar o ponto de corte da renda. E só será definido pelo Poder Executivo sem detalhamento de como será esse controle. Um terceiro ponto diz respeito a criar castas e dividir a universidade entre os que podem e os que não podem pagar. Isso está contramão de tudo que pensamos sobre o projeto de universidade coletiva, integrada, diversa, inclusiva, plural, em que as diferenças possam ser respeitadas em um espaço que acolhe e transforma. Quarto, não existe um estudo que fundamente que o pagamento de mensalidades por aqueles mais ricos será a solução do orçamento das instituições federais de ensino superior. O que inevitavelmente pode levar a um subfinanciamento. Essa PEC 206 já começa fadada ao fim! Nós não a deixaremos passar!

Brasília – Alunos ocupam a reitoria da Universidade de Brasília em protesto contra a PEC do teto de gastos que tramita no Congresso Nacional (Marcelo Camargo/Agência Brasil)

 

A direção sindical convida as companheiras e companheiros caravaneiros para a reunião na quinta-feira, 14, às 10h, no Espaço Cultural do Sintufrj.

Pauta: discussão sobre critérios de participação em caravanas.

Os trabalhadores do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho (HUCFF) vão decidir em plebiscito se aceitam fazer o teste para o sistema de controle de frequência proposto pela Reitoria. A consulta está prevista para os dias 11, 12 e 13 (segunda, terça e quarta-feira da próxima semana).

Esta foi a decisão tomada na reunião de trabalhadores da base do hospital junto com a direção do Sintufrj no início da tarde desta segunda-feira, dia 4, no auditório Alice Rosa: apurar a vontade coletiva da categoria do HU.

O Sintufrj vai organizar a estrutura do plebiscito, que deve contar com uma urna na subsede do HU e outra volante (o horário ainda será definido). E a comissão de trabalhadores que acompanha o debate vai participar da construção do plebiscito.

Resistência

Os presentes na reunião manifestaram resistência à participação no teste do novo sistema, mas, preocupados em garantir a participação de toda base na decisão, com responsabilidade coletiva, propuseram o plebiscito.

No início de junho, a Reitoria anunciou a proposta de realizar na unidade (a partir do dia 15) o teste do piloto de controle de frequência, com participação voluntária dos servidores.

Duas reuniões com trabalhadores já foram realizadas. Na primeira, foi tirada uma comissão de representantes da categoria para acompanhar a discussão.

Na segunda, representantes da Pró-Reitoria de Pessoal e da Superintendência de Tecnologia da Informação e Comunicação, que desenvolveu o sistema, explicaram o funcionamento do piloto.

Mas surgiram muitas dúvidas e ainda mais incertezas. Em particular da coincidência da proposta de um novo sistema justo quando setores da universidade cogitam a adesão à Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh), empresa que emprega metas produtivistas que se chocam com os propósitos de um hospital escola com assistência socialmente referenciada:

Muitas críticas

Para o assistente social Rodrigo Martins, membro da comissão, na reunião de apresentação do piloto, foram quase unanimes as críticas. As explicações permeadas de muitos “por enquanto”, deixaram todos inseguros. Mas lembrou que participar do teste, segundo dito na reunião, é uma opção. Também integrante da comissão, Mônica Costa, auxiliar de enfermagem, apontou pontos que ficaram obscuros, como a falta de previsão no sistema para as especificidades do trabalho no hospital.

O coordenador de Administração do Sintufrj Vander de Araújo alertou para o fato da imposição do ponto eletrônico por parte do governo ser mais uma forma de controlar os servidores. A coordenadora de Aposentados e Pensionistas, Ana Célia, apontou a necessidade de que mais pessoas fortaleçam a decisão coletiva.

Rodrigo, Mônica, Vander e Ana Célia compuseram a mesa que coordenou a reunião.

O coordenador-geral Esteban Crescente lembrou que o HU seria a maior unidade em que o piloto seria testado e que as pessoas precisam se posicionar sobre o teste voluntário.

Pediu que todos os presentes divulguem a informação do plebiscito para seus amigos e contatos. Para o assessor da direção, Francisco de Assis, é preciso que a categoria apresente uma posição unificada.

PONTO ELETRÔNICO. Desde 20 de junho, trabalhadores do hospital e dirigentes sindicais discutem a conveniência de se fazer o teste de controle digital de frequência

“Violência sexual contra a mulher: abordagens, contextos e desafios”
O Grupo de Pesquisa e Extensão Prevenção à Violência Sexual e a Editora UFRJ convidam para o lançamento presencial da coletânea ‘Violência sexual contra a mulher: abordagens, contextos e desafios’.
Dia: 23 de junho (5ª-feira).
Local: Livraria Travessa de Ipanema.
Horário: 19h.

Será terça feira as 10h no auditório do Centro de Tecnologia no Fundão.

Participe, neste dia completaremos 1 mês da entrada dos documentos em cartório, de lá para cá já mobilizamos assembleias, reuniões de base, atendimento a sindicalizados, protestos e caravana à Brasília, tudo em nome dos direitos da categoria e do conjunto da classe trabalhadora, além da defesa da Universidade Pública.

Mas, finalmente chegou a hora de nosso ato de posse, queremos contar com sua presença, neste momento especial, que simbolize um ponto de resistência e esperança para nossa classe na conjuntura em que vivemos!

O Hospital Universitário Clementino Fraga Filho (HUCFF) precisa de sangue. Com apenas 280 doadores mensais – a necessidade é de pelo menos 450 doadores – o hospital entra para a campanha Junho Vermelho. Neste 14 de junho é celebrado o Dia Mundial do Doador de Sangue.

Nesta terça, às 9 h, haverá um ato nas escadarias do CCS.  A iniciativa da campanha no HUCFF é da Coordenação de Políticas Institucionais (CPI) em parceria com o Serviço de Hemoterapia, do grupo Sangue da UFRJ, projetos de extensão, ligas e diversos outros grupos de alunos da UFRJ.

A ação é para chamar a atenção sobre a importância de doar sangue. O grupo Sangue da UFRJ reúne alunos que buscam conscientizar a comunidade universitária quanto a doação de sangue.

Além da informação, o grupo fará abordagem pelo campus da UFRJ nos dias 13 e 14 de junho. Pela manhã a Trupe Cabeça Oca (palhaços doutores) fará ação lúdica nos ambulatórios para captação de doadores.

A Caravana Sintufrj, DCE Mario Prata UFRJ e AdUFRJ partiu na manhã desta segunda-feira (13). Estudantes e técnicos se mobilizaram por meio do Sintufrj e DCE, e Adufrj e Sintufrj deram apoio material

No ato político que marcou o embarque dos caravaneiros da UFRJ com destino ao Ocupa Brasília foi dado alerta geral contra as ameaças de golpes do governo neofascista que se sucedem na medida em que fica evidente a derrota de Bolsonaro nas próximas eleições.

“É a batalha de nossas vidas”, disse Esteban Crescente, coordenador-geral do Sintufrj, fazendo referência ao enfrentamento contra o golpismo que fecha sindicatos, elimina lutadores sociais, prende, arrebenta e reprime para manter a exploração.

As intervenções diante do Espaço Cultural do Sintufrj contextualizaram os eventos desta terça-feira, 14, em Brasília. Além da defesa da democracia, a luta contra os cortes que asfixiam as universidades públicas, contra a proposta de instituir mensalidades nelas e a jornada da campanha salarial em busca da recomposição de 19,99%.

O envolvimento do Sintufrj, DCE e Adufrj na organização da caravana foi enfatizado como atestado de unidade da comunidade universitária em defesa UFRJ.

Cuidados sanitários

A direção do Sintufrj atenta aos cuidados sanitários diante da permanência da pandemia providenciou uma equipe formada de enfermeiros e técnicos de enfermagem para testar servidores e estudantes da caravana. Além do teste, foi exigido cobertura de vacinas (imunização de terceira dose para Covid e Influenza para gripe).