Desde 2020, renda dos bilionários cresceu 42%, enquanto os 40% mais pobres perderam 6,7% dos ganhos

Publicado: 24 Maio, 2022 – 13h02 | Última modificação: 24 Maio, 2022 – 14h22 | Escrito por: Redação CUT | Editado por: Marize Muniz

©VLADIMIR PLATONOW/AGÊNCIA BRASIL

 

 

“A eleição de 2022 é mais importante de nossas vidas, da nossa história. Se vamos ter eleição democrática daqui para frente, se vamos ter universidade com recursos, se vamos ter uma universidade onde se possa sonhar, produzir pesquisa e extensão. Tudo vai passar por esta eleição de 2022”. 

A afirmação foi feita pelo deputado federal Marcelo freixo (PSB- -RJ), professor de história e pré-candidato ao governo estadual, durante o debate “Ciência e Tecnologia para a Reconstrução do Rio de Janeiro”, organizado pela seção sindical dos docentes (Adufrj) e pela Associação de Pós-Graduandos (APG) da UFRJ, no início da tarde desta segunda-feira, 23, no hall do auditório do bloco A do CT.  

foto: Regina Rocha

Além de Freixo, participaram o presidente da Alerj, deputado estadual e pré-candidato ao Senado, André Ceciliano (PT-RJ), a coordenadora do Fórum de Ciência e cultura da UFRJ, Tatiana Roque, e a presidenta estadual da Fundação Maurício Grabois, Dani Balbi. A intenção das entidades é dar continuidade às discussões sobre o tema.   

Eleição será um plebiscito

Na avaliação de Marcelo Freixo, o Brasil não suporta mais quatro anos de fascismo, mais quatro anos de Claudio Castro e Bolsonaro. Segundo o  parlamentar, tanto o governador como o presidente da República não têm só uma aliança política e, sim, um projeto de sociedade miliciana. E a eleição de 2022 será um plebiscito sobre a Constituição de 1988, se ela continuará valendo ou não. 

“O que está em jogo é a chamada Constituição Cidadã, que materializou a derrota da ditadura civil-militar”, disse Freixo, lembrando que em todos os lugares do mundo foi no segundo mandato (de governos como o de Bolsonaro) que os regimes foram fechados.

O deputado André Ceciliano destacou a importância da ciência e tecnologia para o Rio de janeiro. Ele citou especialistas da Coppe para chamar a atenção para a importância do desenvolvimento do estado, que precisa sair da inércia e voltar a crescer. Movimento esse, segundo o candidato ao Senado, que depende do conhecimento que é produzido na UFRJ. 

Dani Balbi, pós-doutoranda da UFRJ, apontou o cenário de resistência contra o desmonte da educação e a importância do ensino público para os jovens, que pode não apenar garantir um futuro para as próximas gerações, como superar o atraso e contribuir para o desenvolvimento do país.

Tatiana Roque disse que uma das principais tarefas hoje é manter a UFRJ e expandir a política de ampliação democrática, de interiorização e expansão da universidade com cotas para negros e indígenas. 

Estavam presentes no debate representantes da direção do Sintufrj, a reitora Denise Pires e o vice-reitor Carlos Frederico Rocha – que pediu atenção dos pré-candidatos para a universidade Elika Sakamoto, à Câmara Federal,  e a liberação de recursos para o Museu Nacional –, e as pré-candidatas Elika Sakamoto, à Câmara Federal, e Marina de Souza, à Assembleia Legislativa do Rio. 

 

 

 

Dinheiro destinado ao combate à Covid-19 em comunidades pobres foi usado na compra de equipamentos para aliados. Para CUT, decisão vai na contramão das necessidades dos pobres que vivem no campo

 Publicado: 23 Maio, 2022 – 15h24 | Última modificação: 23 Maio, 2022 – 17h05 | Escrito por: Rosely Rocha | Editado por: Marize Muniz

AGÊNCIA BRASIL / ARQUIVO

 

Burlando uma determinação do Tribunal de Contas da União (TCU), de maio do ano passado, de que os R$ 88,9 milhões que sobraram da transição do Bolsa Família para o Auxílio Brasil deveriam ser destinados exclusivamente ao custeio de despesas com enfrentamento da calamidade relativa à pandemia de Covid-19 e de seus efeitos sociais e econômicos, o governo de Jair Bolsonaro (PL), simplesmente usou a verba para agradar aliados políticos.

O dinheiro foi destinado pelo Ministério da Cidadania, então comandado por João Roma (PL) que se exonerou do cargo para se candidatar ao governo da Bahia, para a compra de 247 equipamentos entre tratores, motoniveladoras e pá-carregadeiras para municípios de 23 estados, mas o estado do ex-ministro foi a campeão no número de equipamentos: a Bahia recebeu 22, seguido do Maranhão com 19 e São Paulo com 17.

Ministério ignorou 45 mil pobres que vivem no campo

Na distribuição dos recursos, o Ministério da Cidadania ignorou pedido da área técnica da pasta para incluir mais 45 mil famílias de extrema pobreza que vivem no campo em iniciativa de transferência de recursos diretos, dentro do programa Fomento Rural, com investimentos de R$ 108 milhões.

Embora a infraestrutura seja parte importante da agricultura familiar, a maioria das propriedades é pequena e não cabe nem um trator, além disso, neste momento é preciso pensar em outras políticas para o desenvolvimento agrícola, afirma a secretária de Formação da CUT Nacional, Rosane Bertotti.

“Hoje, a principal necessidade dos agricultores é crédito para a produção de sementes e adubos. Por isso, que este ‘investimento’ do governo vai na contramão das necessidades da agricultura familiar”, disse.

A dirigente condena a mudança do objetivo de recurso que retira a alimentação da mesa das famílias mais pobres. Para ela, o fato do governo Bolsonaro ter diminuído de R$ 111 milhões, em 2021, para apenas R$ 25,3 milhões a verba destinada para o programa Inclusão Produtiva Rural, deste ano, mostra bem que a agricultura familiar nunca foi prioridade deste governo, assim como não é prioridade a população pobre que vive no campo.

“Bolsonaro só privilegia o agronegócio, os grandes produtores de carne, soja e outras monoculturas. Ele não se importa se a agricultura familiar é responsável por 70% dos alimentos que os brasileiros põem à mesa. Ao contrário, corta investimentos e crédito e o resultado é a inflação dos alimentos. Está cada vez mais difícil para as famílias se alimentarem”, critica Bertotti.

Entenda o caso

Para retirar o dinheiro dos pobres e destinar aos aliados políticos, o ministério da Economia, abriu um crédito suplementar, em 3 de novembro de 2021, no Orçamento da União para a ação orçamentária “20GD -Inclusão Produtiva Rural”, que inclui o programa Fomento Rural, destinado a apoio técnico aos agricultores e transferência de dinheiro para as famílias rurais pobres, inscritas no Cadastro Único (CADúnico). Mas o governo preferiu comprar máquinas a atender milhares de famílias pobres e assinou, em novembro do ano passado, contrato para a compra dos equipamentos com a empresa chinesa XCMG, que no Brasil tem sede em Pouso Alegre (MG).

As máquinas estão paradas no pátio da XCMG, por que o ministério da Cidadania não concluiu as exigências técnicas para escoar os equipamentos aos municípios, como a própria definição de cidades e os termos de doação às prefeituras que ficarão responsáveis pelos equipamentos, de acordo com o jornal Folha de São Paulo que publicou a denúncia nesta segunda-feira (23).

Apesar da empresa não ter recebido os pagamentos há pressão dentro da pasta para que o dinheiro seja depositado para a XCMG, enquanto técnicos do ministério questionam as lideranças políticas sobre o atendimento dos trâmites legais.

 

Ministro Ciro Nogueira destinou R$ 240 mil para a compra de um caminhão de lixo fornecido pela empresa de uma amiga, Carla Morgana Denardin, dona do Grupo Mônaco Diesel Caminhões, Ônibus e Tratores. Ltda.

 Publicado: 23 Maio, 2022 – 09h45 | Última modificação: 23 Maio, 2022 – 17h04 | Escrito por: Redação CUT

JOSÉ CRUZ/AGÊNCIA BRASIL

Entre 2019 e 2022, o orçamento secreto para compras de caminhões de lixo com recursos do governo federal aumentou 833%, passando de R$ 24 milhões para R$ 200,2 milhões. O número de veículos comprados saltou de 85 para 453 – alta de 532%, segundo reportagem do Estadão, publicada neste domingo (22). Ao analisar 1,2 mil documentos referentes à aquisição desses veículos, o jornal encontrou suspeitas de sobrepreço de R$ 109,3 milhões. A diferença dos preços de compra de modelos idênticos, em alguns casos, chegou a 30%.

Em outra reportagem publicada nesta segunda (23), o jornal mostra que, por meio de emendas do relator, sem transparência e sem que o nome do parlamentar conste no documento, o ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira (PP-PI), destinou R$ 240 mil para a compra de um caminhão de lixo fornecido pela empresa de uma amiga, Carla Morgana Denardin, dona do Grupo Mônaco Diesel Caminhões, Ônibus e Tratores Ltda, para uma cidade pequena que não comporta esse tipo de equipamento.

A emenda de Nogueira, senador licenciado, garantiu a compra de um caminhão compactador de lixo para atender a cidade de Brasileira (PI), que tem 8.364 habitantes. O equipamento é desaconselhado para municípios com menos de 17 mil habitantes por causa do alto custo, segundo especialistas. O ideal, nesses casos, seria caminhão basculante.

Com Bolsonaro, clientelismo político está em alta 

Desde que Ciro virou ministro, a empresa de Carla ampliou a venda de veículos compactadores de lixo para o governo federal e já conseguiu um contrato no valor de R$ 11,9 milhões com a Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf).

O presidente da Codevasp é Marcelo Moreira Pinto. Foi indicado pelo presidente da Câmara, Arthur Lira (PP) e por Ciro Nogueira. A Codevasf está envolvida em vária denúncias de corrupção.

O que é o orçamento secreto?

O esquema do orçamento secreto, criado em 2019 por políticos do Centrão e pelo governo de Jair Bolsonaro (PL), favorece aliados com verba em troca de apoio em votações, evitando, inclusive, que eventuais pedidos de impeachment sejam analisados.

Só Arthur Lira, um dos líderes do Centrão, que mandou milhões dessas emendas para aliados do seu estado comprarem, e ainda com superfaturamento, coisas como kits de robótica para escolas sem internet e sem água, segurou mais de 100 pedidos de impeachment.

Bolsolão do Lixo

De acordo com as reportagens do Estadão, assinada pelos jornalistas André Shalders, Julia Affonso e Vinícius Valfré, o esquema, que já está sendo chamado nas redes sociais de Bolsolão do Lixo, abastece pequenas cidades de redutos eleitorais de aliados do governo, funciona por meio de órgãos controlados pelo Centrão como a Superintendência de Desenvolvimento do Centro-Oeste (Sudeco), a Fundação Nacional de Saúde (Funasa) e principalmente a Codevasf.

Por meio de emendas do relator, o dinheiro é remetido a apadrinhados políticos, que fazem licitações em muitos casos com preços superaturaados, como foi o caso dos kits robótica de Alagoas e dos caminhões de lixo.

No caso dos caminhões, a entrega do veículo geralmente é feita em atos políticos com a presença dos parlamentares, como fez Fernando Collor de Mello (PTB) em Minador do Negrão, no interior de Alagoas, em agosto de 2021.
“Em Minador do Negrão, na festa de 59 anos da cidade, anunciei a pavimentação asfáltica do centro da cidade até o Povoado Jequiri, um sonho antigo que finalmente sai do papel. Entreguei também um caminhão compactador de lixo, um tratador e anunciei mais de R$ 850 mil para a Saúde”, escreveu o senador junto com fotos em frente ao caminhão de lixo.

Segundo a reportagem, caminhões são destinados a pequenas cidades sem qualquer plano para construção de aterros sanitários, como determinado em lei. Em cidades, como Minador do Negrão, o caminhão é muito maior que a capacidade de produção de lixo. Com 15 metros cúbicos, o município leva dois dias para encher a caçamba do veículo, que custou R$ 361,9 mil.

Desde 2019, o governo já destinou R$ 381 milhões para essa finalidade.

Bolsolão do lixo bomba no Twitter; confira algumas postagens:

Média chegou a de R$ 6,943 por litro na semana passada, mas tem locais onde o litro do diesel pode custar mais de R$ 8

 

Entre política e ontologia: o bom na República de Platão, de Germano Nogueira Prado, investiga uma obra clássica e fundamental do pensamento filosófico e político para tratar de um tema igualmente clássico e fundamental: o que é o bom? o que significa algo ou alguém ser bom? O autor aborda as questões mais intrincadas da filosofia platônica sem aparar suas arestas, mas também sem deixar de aproximá-las de nossas experiências cotidianas. A Editora UFRJ fará seu lançamento no dia 25 de maio, das 17h às 19h, na livraria Folha Seca, à Rua do Ouvidor, 37.

O tema do livro diz respeito àquilo que toda pessoa, “toda alma”, diria Platão, procura alcançar. Segundo o autor, “fazemos tudo o que fazemos, pensamos tudo o que pensamos porque vislumbramos que aquele caminho de pensamento e/ou curso de ação é o melhor, porque nos parece que encontraremos algo de bom ali. Mesmo quem pratica algo que “sabe” que é mau, o faz, em princípio, porque acha que é melhor fazer isso do que outra coisa”. A questão, ou boa parte dela, está nesse “saber”.

Platão argumenta que o mais alto aprendizado a ser perseguido por quem governa diz respeito ao que é realmente bom e não apenas ao que parece bom. Ao governante cabe organizar a distribuição do que é o “bem comum” e, assim, do que é o bem próprio a cada um(a). Por isso, argumenta Platão, o mais alto aprendizado ao qual quem governa precisa se dedicar é o aprendizado do que é o bom enquanto tal, o que, em termos platônicos, quer dizer: a ideia de bom. Da mesma maneira que é fundamental para toda e cada alma, o bom é também central para o governo de cada alma e das comunidades de almas (a cidade, a pólis).

É esse encontro entre filosofia (identificada aqui, grosso modo, como “ontologia”) e política, através da ideia de bom, que o autor procura pensar, e o faz a partir de duas hipóteses. Primeiro, aponta para a ideia de que Platão não está tentando dar uma fundamentação à política a partir de uma teoria “fechada” sobre a realidade, nem tampouco basear a ontologia nas “contingências” dos regimes políticos. Germano Nogueira Prado busca pensar uma raiz ou um poder “comum” que se faz presente tanto na estruturação da realidade quanto na organização das comunidades (d)e almas.

A maneira como essa questão se dá remete à segunda hipótese: o bom diria respeito ao que é mais próprio a cada pessoa, coisa, divindade, evento, a cada alma, ao limite que a realiza enquanto tal. Esse limite próprio é singular e realizável tendo em vista essa singularidade. Daí a ideia de bom não apresentar uma definição cabal e fechada, pois diria respeito a esse mais alto aprendizado ou saber, o da singularidade, o da unicidade que, por sua própria natureza, requisita a disciplina de colocar, sempre de novo, a questão: o que é bom, o que é melhor? Entre outras razões, seria por isso que os diálogos platônicos se desenrolam em situações singulares, em que personagens singulares retornam às mesmas questões para pensar o que unifica, o que torna únicas e, nessa medida, talvez, universais, as várias ações e pensamentos questionados, sob um mesmo nome (justiça, beleza, coragem), naquela situação singular.

Procurando desenvolver essas hipóteses, o livro passa por várias noções importantes para a filosofia em geral e a filosofia platônica em particular: os usos de “bem” e de “bom”, as noções de totalidade, de desejo, de paradigma, de ideia, de aprendizado, de limite, de próprio e de singularidade.

O percurso desemboca, por fim, na ideia de uma “pedagogia da singularidade”, pensada a partir da prática docente do autor, sobretudo no Ensino Médio. Trata-se de honrar, ainda que de modo singelo, a relação entre prática e teoria, entre política e ontologia, que constitui a filosofia de Platão, a qual não é apenas discurso, mas também uma forma de vida.

Germano Nogueira Prado é doutor em Filosofia pela UFRJ (com estágio de doutorado sanduíche na Università degli Studi di Bari “Aldo Moro), professor e, atualmente, coordenador geral do Departamento de Filosofia do Colégio Pedro II. Sua tese de doutorado, que resultou neste livro, recebeu menção honrosa no Prêmio Capes de Teses de 2017.

 

 

 15:39 | 19 de maio de 2022

Entidades Nacionais da Educação – FASUBRA Sindical, Andes-SN e Sinasefe – realizam neste sábado (21/05), a partir das 14h, Reunião Ampliada Unificada da Educação. A reunião será realizada de forma híbrida, virtual pelo zoom e presencial em Brasília/DF, no San Marco Hotel.

O objetivo é consolidar o chamamento da Greve da Educação de forma unificada e articular a construção de uma pauta de reivindicações da Educação Federal. O governo insiste em não negociar com as categorias e a mobilização será intensificada.

A Direção Nacional (DN) da FASUBRA Sindical convoca suas entidades de base para participarem da reunião. As entidades poderão indicar de três a cinco pessoas, integrantes da direção da entidade. As indicações, com nome completo, telefone/whatsapp e e-mail, deverão ser encaminhadas para o e-mail secretaria@fasubra.org.br, até o dia 20/05, às 16h.

A DN informa ainda, que as entidades terão direito a fazer uso da fala na reunião unificada (total de sete falas). Para tanto, a FASUBRA realizará uma reunião virtual no dia 21 de maio, das 13h às 14h, para o sorteio das entidades que farão as intervenções na reunião.

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Em ano eleitoral, os grupos da extrema direita são dominantes na plataforma, onde disseminam dados falsos sobre fraude

Caroline Oliveira | Brasil de Fato | Brasília (DF) |
As recentes e constantes bravatas do presidente e de seus aliados sobre a suposta fragilidade das urnas eletrônicas são uma representação disso – Alan Santos/PR

Se no ano eleitoral de 2018, as mensagens falsas que mais circulavam nas redes sociais estavam de alguma forma relacionadas aos próprios candidatos, agora o padrão são desinformações que visam lançar dúvidas sobre o processo eleitoral em si, segundo especialistas ouvidas pelo Brasil de Fato. As recentes e constantes bravatas do presidente Jair Bolsonaro (PL) e de seus aliados sobre a suposta fragilidade das urnas eletrônicas são exemplos dessa mudança.

Não à toa, a pauta também é “dominante” nos grupos de extrema direita nas profudezas do Telegram. “Nessas plataformas mais subterrâneas, como o Telegram, é dominância total da extrema direita. E os [assuntos] mais compartilhados, as pautas e as narrativas que se sobressaem no conjunto dos grupos e canais que a gente analisa, tem a ver não necessariamente com alegação direta de fraude nas urnas, mas com a deslegitimação da institucionalidade que garante o resultado da eleição”, diz Letícia Cesarino, professora no Departamento de Antropologia e no Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social (PPGAS) da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).

Leia também: Telegram será ferramenta eleitoral do bolsonarismo para articular fake news, aponta pesquisador

No mais recente ato, o capitão reformado afirmou que o Partido Liberal, do qual faz parte, irá contratar uma empresa privada para fazer auditoria nas eleições. “A empresa vai pedir ao TSE algumas informações. O que pode acontecer? Essa empresa que faz auditoria no mundo todo, empresa de ponta, pode chegar à conclusão que, dada a documentação que se tem na mão, ela pode falar que não foi auditável. Olha a que ponto vamos chegar”, afirmou Bolsonaro.


Apoiadores de Bolsonaro em ato antidemocrático realizado em 7 de setembro de 2021 / Miguel Schincariol / AFP

“Isso sempre esteve colocado, mas nesse ano a pauta ganhou corpo”, afirma Letícia Cesarino. “No 7 de setembro, por exemplo, uma pauta que ganhou proeminência foi o passaporte sanitário, mas numa espécie de crossover com a pauta de fraude nas urnas. Eram boatos de que pessoas não vacinadas seriam impedidas de votar. Então mesmo que não seja a pauta [naquele momento], o tema está circulando pelo menos desde setembro.”

O movimento é parecido com o do ex-presidente dos Estados Unidos Donald Trump. Antes mesmo de perder as eleições do ano passado para Joe Biden, o empresário apontou para uma suposta fraude eleitoral no pleito. “Em todo caso, nada importa porque as eleições na Califórnia estão totalmente manipuladas”, afirmou Trump, na época. Mesmo depois de derrotado, ele não reconheceu os resultados das urnas, estimulando sua base eleitoral a se rebelar, levando-os a invadir o Capitólio.

Revelando verdades

Segundo Cesarino, uma das características desses grupos da extrema direita que habitam os subterrâneos das redes sociais é a pretensão de revelar verdades que a imprensa e os opositores querem esconder. “O modo como eles se vendem, como produtores de conteúdo tem a ver com estar revelando verdades que a mídia esconde. E é assim que eles ganham fidelidade desses seguidores”, afirma a pesquisadora.

Coluna | Qual é o Capitólio de Jair?

Revelar a verdade também é o que o presidente Jair Bolsonaro diz fazer. Em julho do ano passado, por exemplo, ele prometeu apresentar provas de que teria ocorrido uma fraude no sistema eleitoral durante o pleito de 2018. Na época, disse que havia ganhado o pleito já no primeiro turno, contra o candidato do PT, Fernando Haddad. Logo depois, no entanto, a verdade revelada não passou de alegações antigas e falsas de que as urnas eletrônicas completaram o voto no número do PT à revelia da escolha dos eleitores.


Fake news e desinformação marcam a condução da pandemia pelo governo Bolsonaro / Reprodução Arte IQC

A pretensão de revelar verdades é comum a esses grupos, nesses espaços, explica a pesquisadora.

“O modo como eles se vendem, como pseudojornalistas, tem a ver com estar revelando verdades que a mídia esconde. Esse é o branding deles. Não faz sentido eles saírem disso, porque é assim que atraem os consumidores e ganham fidelidade, com essa alegação de que ‘depois da internet a mídia nunca mais vai conseguir esconder nada’”, afirma Cesarino. Por isso, “é um nicho da direita, e vai continuar sendo, porque é ali que eles operam”.

A esquerda, por outro lado, “tem uma interface com a grande mídia, que essa direita, principalmente dos deputados para baixo, não têm. Eles não têm onde ter visibilidade que não na internet. Então por mais que a esquerda cresça, esse continua sendo um nicho deles”.

Movimento orgânico e artificial

Além do caráter revelatório, os grupos da extrema direita também trabalham com a insegurança das pessoas, o que as faz se sentirem ameaçadas. “A questão da ameaça é bem importante, porque isso mantém as pessoas ligadas, além da questão da revelação. A direita conseguiu a rede orgânica através desse apelo normal”, afirma Cesarino.

::Brasil não avançou no entendimento de quem financia fake news, diz pesquisadora::

Flávia Lefèvre, advogada, integrante do Intervozes e da Coalizão Direitos na Rede, concorda: “a primeira coisa que se faz é a identificação dos medos e inseguranças”, como o receio de perder o emprego, da violência e da supressão das liberdades.

“Empresas de marketing político utilizam dados de usuários das redes sociais para identificar e formar perfis de eleitores, fazendo a perfilização das pessoas. E aí definem mensagens e notícias falsas para difundir para esses perfis, de acordo com as questões de medo e insegurança identificadas”, explica Lefèvre.


Steve Bannon começou a testar algumas ideias mediante Cambridge Analytics, consultora que sugou dados de 50 milhões de usuários do Facebook / Wikicommons

Um bom exemplo foram as notícias falsas destinadas aos habitantes do Reino Unido, numa campanha a favor do Brexit, isto é, da saída da Grã-Bretanha da União Europeia ao longo de 2020. Uma das mentiras mais divulgadas na época era de que imigrantes roubariam os empregos dos ingleses. Outro exemplo: “na época da eleição de 2018, esses produtores e divulgadores de notícias falsas começaram a difundir a notícia de que se o [Fernando] Haddad ganhasse, ele ia soltar os presos. Aí as pessoas ficaram morrendo de medo”, lembrou Lefèvre.

Com a manipulação artificial desses sentimentos, os grupos conseguem atrair e manter as pessoas fiéis aos conteúdos publicados, gerando um movimento orgânico de divulgação da desinformação.

Telegram e Youtube

Letícia Cesarino explica que a produção e difusão de conteúdo da extrema direita estão diretamente conectadas à relação estrutural entre o Telegram e o Youtube. Se até 2018, o WhatsApp era o principal repositório dos conteúdos da extrema direita que eram produzidos no Youtube, com o Telegram, a circulação desses materiais atingiu quantidades recordes. Isso porque o Telegram permite, por exemplo, grupos de até 200 mil pessoas. No WhatsApp, o máximo são 256 pessoas. O encaminhamento de mensagens também é restrito na plataforma do Grupo Meta, o que não existem no aplicativo russo.

::Resposta das instituições brasileiras a fake news é insuficiente para eleições, diz pesquisador::

Com isso, a relação entre o Youtube o Telegram se tornou estrutural na difusão da desinformação por parte da extrema direita. “Circula muito link de canal de vídeo do YouTube no Telegram. O YouTube presume que tem um controle sobre a plataforma que não tem, porque está conectado com todas as outras. O bolsonarismo se aproveita disso”, afirma Letícia Cesarino.


Arte de divulgação sobre a conta de Jair Bolsonaro no Telegram; imagem foi postada nesta quarta (16) no perfil oficial no presidente no Twitter / Reprodução/Twitter

“A gente vê uma incidência do Youtube dentro do Telegram de cinco a seis vezes maior do que a segunda plataforma, que é o próprio Telegram”, afirma Cesarino. Em outras palavras, os conteúdos que mais circulam dentro do Telegram são links do Youtube. Em segundo lugar, estão os links criados no próprio Telegram, que permite, por exemplo, transmissões ao vivo e etc. “Tem uma relação aí que é estrutural mesmo entre os dois”, afirma.

WhatsApp

Apesar de o Telegram ter ganhado espaço nessa esfera, o WhatsApp ainda é mais popular, e há um motivo para isso. Dados da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) mostram que cerca de 100 milhões planos de telefonia são pré-pagos. Isso significa que as pessoas têm uma quantidade limitada de dados, ou seja, conseguem acessar a internet de maneira limitada. Depois que a quantidade de dados acaba, o usuário tem acesso somente ao WhatsApp e ao Facebook.

“Nesses casos, o usuário recebe uma notícia e não tem como checar, porque não consegue acessar outros sites e fontes. Por isso que, em 2018, a estratégia utilizada para a campanha de desinformação foi aquela compra de chips pré-pagos, porque aí não precisa se identificar na hora da compra e dá para difundir notícia falsa pelo WhatsApp de forma ilimitada”, explica Lefèvre.


Uma das centenas imagens que circulam pelos grupos de Whatsapp bolsonaristas em favor do voto impresso nas Eleições de 2022 / Reprodução

Segundo o Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade Informação (Cetic.br), que é um órgão do Comitê Gestor da Internet no Brasil, 95% das classes D e E só acessam a internet via rede móvel e principalmente com planos pré-pagos. Na classe C, o percentual cai para 65%.

“Então, por baixo, existem 120 milhões de usuários que têm acesso limitado e que estão vulneráveis a essas campanhas desinformativas mais do que quem pode pagar por um plano ilimitado de internet”, afirma a advogada do Intervozes.

Outros aplicativos

O WhatsApp continua importante, “mas o ecossistema como um todo se diversificou”, na visão de Letícia Cesarino. “A gente tem, por exemplo, o TikTok, que apesar de não ser grande, tem um investimento do bolsonarismo. Só que geralmente são conteúdos camuflados, que ficam naquela zona cinzenta, entre o entretenimento e a propaganda política. Mas os vídeos do TikTok também circulam no WhatsApp, então tem esse trânsito também”, afirma a pesquisadora.

Um estudo do grupo de monitoramento de mídia Media Matters for America, divulgado ainda em março do ano passado, mostrou que o TikTok estava direcionando os usuários para conteúdos relacionados à extrema direita nos Estados Unidos. Mais recentemente, o grupo informou que os algoritmos da plataforma estão permitindo a disseminação de desinformação em meio à invasão russa ao território ucraniano.

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Cesarino também cita “o próprio Instagram, que não expressa muito esse uso político, tem uma incidência adjacente ao bolsonarismo com desinformação sobre tratamento precoce, ciências alternativas, a pauta antivacina”.

Ao longo desses anos também surgiram plataformas alternativas às mais conhecidas, principalente depois que estas passaram a endurecer as regras de moderação de conteúdo, com banimento de canais, por exemplo. Entram nesse rol as redes Gettr – lançada por membros da equipe do ex-presidente dos Estados Unidos Donald Trump –, Rumble e BitChute, para onde grupos da extrema direita migraram.


Perfil do presidente Jair Bolsonaro no Gettr – rede social que não impede propagação de fake news e defende “liberdade de expressão” / Reprodução

Jair Bolsonaro e seus apoiadores criaram perfis na Gettr, dias depois que a rede foi criada, a exemplo dos filhos Flávio Bolsonaro (Patriota-RJ) e Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), além dos apoiadores Carla Zambelli (PSL-SP), Paulo Eduardo Martins (PSC-PR), o ministro Fábio Faria (Comunicações) e o blogueiro Allan dos Santos. Flávio Bolsonaro caracterizou a Gettr como “mais uma rede em defesa da liberdade” ao anunciar o seu perfil aos seguidores do Twitter.

Cruzando certas linhas

Na visão de Cesarino, é possível “aumentar bastante” a abrangência da esquerda nas redes sociais, mas chegar no nível em que estão os grupos da extrema direita é “difícil sem cruzar certas linhas éticas e até legais”. “Eles sempre vão estar na frente, porque não tem limite nenhum de distorção e sensacionalismo, porque é baseado na eficácia. Se uma mídia viraliza, o conteúdo vai seguir na mesma linha, e a tendencia é o sensacionalismo viralizar. É o diferencial dessa mídia com relação à grande mídia”, afirma.

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“A esquerda está melhorando, mas é questão de organicidade. A esquerda precisa de canais orgânicos. Não adianta o PT ter uma ótima estratégia de comunicação para falar a linguagem da internet se não tem a rede de criadores orgânicos”, afirma Cesarino.

Flávia Lefèvre também vê outra linha que separa os grupos da esquerda dessa abrangência: o financiamento e a organização internacional na produção e difusão de notícias falsas que chegou aos grupos da extrema direita brasileira.


Então, qual o escopo do projeto e porque ele continuou sendo chamado de PL de Fake News? / Marcello Casal Jr. / Agência Brasil

“A indústria é muito bem financiada. Aqui no Brasil, as pesquisas que foram feitas com base nas eleições de 2018 e que têm sido feitas de lá para cá identificaram que esses grupos são financiados por forças de direita, não só daqui do Brasil, mas por um financiamento internacional. Existem instituições internacionais que financiam que são voltadas para a defesa do neoliberalismo, e a necessidade de sustentação do neoliberalismo não acontece só no Brasil”, afirma Lefèvre.

Brasil, um passo atrás

Desde 2018, no entanto, o Brasil pouco caminhou na identificação desses setores e grupos que financiam a produção e difusão de desinformação no país, segundo Lefèvre.

Recentemente, o Tribunal Superior Eleitoral [TSE] ampliou as medidas de combate às notícias falsas tendo em vista as eleições presidenciais deste ano, com a ampliação da Comissão de Segurança Cibernética, a fim de incluir a incidência sobre notícias falsas. Agora a comissão também irá “monitorar, elaborar estudos e implementar ações para combate à disseminação em massa de informações falsas em redes sociais”.

Antes, o TSE e o Twitter, por exemplo, firmaram um memorando de entendimento para juntar esforços no combate à desinformação no processo eleitoral deste ano. Entre as medidas do memorando, o Twitter se comprometeu a criar uma ferramenta em sua plataforma que possibilite aos usuários buscar informações sobre as eleições sem sair da rede.


Responsável por suspender Telegram no Brasil, ministro Alexandre de Moraes conduz inquérito sobre fake news no STF / Nelson Jr./STF

As mudanças ainda, no entanto, são insuficientes para fazer frente à disseminação de desinformação e estão longe de identificar os grupos financiadores da disseminação no Brasil. “A gente ainda não conhece esses grupos. A gente precisa que as instituições, a Polícia Federal, o TSE e o Ministério Público Eleitoral sigam o rastro do dinheiro e identifiquem as forças que estão financiando [a desinformação]”, afirma Lefèvre. “Para confrontar essas forças de direita ultraneoliberais, é necessário ter uma rede muito bem articulada entre as instituições, os partidos, a sociedade civil e o terceiro setor.”

Entre o primeiro e segundo turno das eleições de 2018, a então presidente do TSE, Rosa Weber, afirmou que “notícias falsas não são novidade”, contra as quais não há milagre, e que aqueles que tivessem “uma solução para que se coíbam fake news” deveriam apresentá-la.

Edição: Rodrigo Durão Coelho

 

Na noite desta quarta (18), em regime de urgência, a Câmara aprovou o texto base do Projeto de Lei (PL) que regulamenta o ensino domiciliar no Brasil.

 Publicado: 19 Maio, 2022 – 11h25 | Última modificação: 19 Maio, 2022 – 11h34 | Escrito por: Thiago Marinho/ Confetam

AGÊNCIA CÂMARA

 

Vital do Rêgo, ministro do TCU, falou em irregularidades no processo de privatização, alertou sobre aumento nos preços das contas de luz e venda a preço de banana, mesmo assim maioria aprovou venda da estatal

 Publicado: 19 Maio, 2022 – 11h00 | Última modificação: 19 Maio, 2022 – 11h07

Escrito por: Redação CUT

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