Portugal foi principal destino de militantes que estavam na Argentina após golpe de 1973 no Chile
Leandro Melito
Brasil de Fato | São Paulo (SP
Nas primeiras horas do dia 25 de abril de 1974 forças armadas progressistas derrubaram a ditadura salazarista que governou Portugal por mais de quatro décadas. O movimento conhecido como Revolução dos Cravos não apenas instituiu a democracia no país, mas também levou à independência de ex-colônias na África – cujas lutas de independência foram cruciais para que ela ocorresse – e deu esperança para povos que ainda ansiavam por liberdade, como o nosso.
No dia 25 de abril de 1974, quando os militares portugueses derrubaram a ditadura fascista em Portugal, que deu início à instauração da democracia no país, o Brasil havia completado dez anos sob ditadura militar (1964-1985), que entrava no período mais duro da repressão.
Parte significativa da militância de esquerda brasileira, assim como artistas e intelectuais perseguidos pelo regime, haviam se exilado no Chile, sob o governo socialista de Salvador Allende. Após o golpe de 11 de setembro de 1973, que terminou com a morte de Allende e o início da ditadura de Augusto Pinochet (1973-1990), os exilados buscaram refúgio em embaixadas estrangeiras, e encontraram abrigo nos espaços diplomáticos da Argentina e da França.
“Com o golpe, os que não foram presos obrigaram-se a fugir do país ou se refugiar em embaixadas, lá ficando até órgão internacionais conseguirem acordar com o governo ditatorial chileno a saída segura desses estrangeiros. Estes então vão para Argentina, mas com a condição de deixarem o país o quanto antes”, explica o historiador Rodrigo Pezzonia, pesquisador da Unicamp e autor do livro Guarda um cravo para mim (Alameda, 2019).
Depois de certa desconfiança dos militantes brasileiros que estavam na Argentina “por não crerem que seria possível uma revolução à esquerda vinda de militares”, o historiador aponta que Portugal acaba se tornando o destino dos exilados brasileiros naquele momento, uma “porta de entrada” para a esquerda na Europa. “A maioria acaba por não permanecer e vão para os outros países europeus, mas os que ficam se aliam fortemente ao movimento das Forças Armadas e vão trabalhar junto aos revolucionários na concretização da Revolução nos mais diversos campos.”
Uma vez em Portugal, as organizações de esquerda brasileira logo se alinham às suas “irmãs” portuguesas: Partido Comunista Português (PCP) e Partido Comunista Brasileiro (PCB); Partido Comunista do Brasil (PCdoB) e União Democrática Popular(UDP); e outros ex-adeptos da esquerda armada brasileira ligados a organizações como Movimento Revolucionário Oito de Outubro (MR-8), VAR-Palmares (VPR) e Aliança de Libertação Nacional (ALN), “que, após um longo processo de autocrítica, vão se alinhar ao Partido Socialista de Mário Soares”, explica Pezzonia.
“Este último grupo talvez tenha sido o que mais influiu na política brasileira a partir de Portugal após a Anistia e a reestruturação partidária. Foi a partir deste grupo e seu alinhamento com a social-democracia europeia, sobretudo após a chegada de Brizola em terras lusas, que a reestruturação do trabalhismo foi culminando na criação do PDT (Partido Democrático Trabalhista), bem como na introdução da social-democracia no Brasil.”
Colunista do Brasil de Fato, professor titular no Instituto Federal de São Paulo (IFSP) e militante da Resistência/Psol, Valerio Arcary foi um dos brasileiros que se exilaram em Portugal, em 1966. Ele permaneceu no país europeu até 1978. “A imensa maioria dos trotskistas da minha geração aprenderam que a luta pela revolução socialista era possível lendo livros sobre a revolução de outubro, e as que vieram depois. Eu tinha aprendido vivendo a revolução nos meses intensos do ‘verão quente’ de 1974 em Lisboa”, relatou em sua coluna sobre o retorno do exílio.
Guerras de independência e movimento negro no Brasil
Além de terem um papel central para o desgaste da ditadura fascista e influenciarem diretamente o golpe militar que deu início à Revolução dos Cravos, as guerras de independência nas colônias portuguesas de Angola, Moçambique, Guiné-Bissau e Cabo Verde também influenciaram as lutas da esquerda no Brasil, em particular do movimento negro, aponta a historiadora Patrícia Teixeira Santos, docente na Universidade Federal de São Paulo e pesquisadora de Estudos Africanos na Universidade de Bordeaux na França e do Departamento de Estudos Africanos da Universidade de Dehli (Índia).
“São movimentos altamente inspiradores que vão dar força para a manutenção da luta antirracista e um reforço extremamente importante da ideia de um poder negro que ascende, de um governo negro que se estabelece com a vitória contra a exploração colonial, contra uma ditadura. Para o movimento negro no Brasil, as lutas de libertação nacional são um alento no meio da ditadura militar e o incentivo para a continuação dessa militância, mesmo na clandestinidade, de protestos e de uma série de ações.”
“O orçamento proposto para técnicos-administrativos em Educação é insuficiente para valorizar mais de 224 mil servidores” afirma o comando do movimento
Os técnicos-administrativos da UFRJ reunidos em assembleia simultânea (Fundão, Macaé e Praia Vermelha) nesta quarta-feira, 24 de abril, no auditório do CT, aprovaram por unanimidade a continuidade da greve por tempo indeterminado e referendaram as orientações do Comando Nacional de Greve, aprovando também os encaminhamentos do Comando Local de Greve (CLG) que apresentou um calendário de fôlego para abril e maio – com atividades vigorosas nas ruas – já incorporada a agenda nacional de luta.
Foi reafirmada a proposta de reestruturação de carreira aprovada em plenária e protocolada no Ministério da Gestão e Inovação (MGI), rejeitando a proposta do governo apresentada na mesa específica de negociação dia 19 de abril. A rejeição não foi integral: houve concordância em pontos acatados pelo governo. A assembleia aprovou, também, a apresentação de contraproposta de 34% de reajuste.
Na maioria das avaliações feitas na assembleia a proposta do governo é insuficiente para as demandas dos técnicos-administrativos em educação das universidades e que é preciso ampliar e fortalecer ainda mais a greve para arrancar do governo mais verba para atender a reestruturação da carreira e da reposição salarial desta categoria que têm o pior salário do Executivo Federal.
“O comando e a assembleia sinalizou que a gente precisa cumprir uma agenda muito forte de mobilização. Aprovamos a continuidade da greve e o fortalecimento da greve. Então, se é para fortalecer a greve, nós temos uma agenda intensa para cumprir e que todos possam participar. Essa é uma agenda do CLG, inclusive, a qual o Comando Nacional de Greve disse para realizarmos, com os trabalhadores ocupando as ruas”, anunciou Francisco de Assis.
Contraproposta de 34% de reajuste
A assembleia referendou também a apresentação de contraproposta do índice de recomposição salarial trazendo, da mesa geral para a específica, o índice construído pelo Fórum Nacional das Entidades das Entidades Nacionais dos Servidores Públicos Federais (Fonasefe) e calculado pelo Dieese, de 34%, dividido em 2024, 2025 e 2026 (10,34% a cada ano) como orientado pelo relatório da Comissão Nacional de Supervisão da Carreira (CNSC).
Proposta da carreira é reafirmada
E ainda aprovou a reafirmação da proposta de carreira apresentada pela Fasubra em outubro do ano passado, analisada no relatório do GT Reestruturação, incluindo a aglutinação dos níveis A/B (com 40% da remuneração do nível E) e C/D (com 60% da remuneração do nível E), o estabelecimento do RSC (Reconhecimento de Saberes e Competência) e todos os demais pontos.
Explicações na mesa
A mesa da assembleia foi composta pelos companheiros Agnaldo Fernandes (integrante do CNSC/Fasubra), Vera Valente (CLG/Sintufrj), Esteban Crescente (coordenador-geral Sintufrj/CLG), Antônia Karina (CLG/Macaé) e Nivaldo Holmes Filho (coordenador de comunicação Sintufrj/CLG).
Houve leitura da avaliação e orientações do Comando Nacional de Greve da Fasubra e logo após explicações de Agnaldo de forma reduzida do que foi proposto pelo governo. Haverá uma nova live a ser realizada pelo Sintufrj com Agnaldo e Marcelo Rosa (também da CNCS/Fasubra) para explicar a categoria o que está em jogo.
“É muito importante que o governo entenda o momento que a gente está vivendo, a importância dos técnicos administrativos em educação do país inteiro que estão clamando por justiça social, e ampliar o orçamento para que a gente possa ter atendido as nossas reivindicações. Vamos continuar com a greve em busca das nossas vitórias”, afirmou Agnaldo Fernandes.
“Já temos ganhos reais com a nossa greve. E vamos cavar mais para nossa carreira”, completou Vera Valente.
“Estou na assembleia representando Macaé. Aqui a gente reforçou a unidade na luta nessa greve, a unidade de técnicos com alunos e outros servidores, e defendemos a unidade entre as pessoas da categoria. E para fortalecer nosso movimento, nesta quinta-feira, 25, Macaé fará um ato muito importante na Praça Veríssimo de Mello. Essa luta com a gente, vai ser um ato muito importante de valorização da universidade, e técnicos do Fundão estarão lá também com a gente”, anunciou Antônia Karina.
Avaliação do CNG
“Após a instalação da greve da Fasubra há 40 dias, com ampla adesão (66 Universidades, 2 Institutos Federais e 1 CEFET) e forte mobilização demonstrada na jornada de lutas realizada no período de 16 a 19 de abril de 2024 em Brasília, o governo apresentou na reunião do dia 19 uma proposta insuficiente que mantém o reajuste de 0% nos salários em 2024, 9% em 2025 e 3,5% em 2026, que não atende a maioria das reivindicações que constam na pauta de reivindicações da categoria.
Importante registrar que a FASUBRA entregou nossa proposta de reestruturação de carreira em outubro de 2023 e, somente agora, após 6 (seis) meses, o governo respondeu com uma contraproposta em que o avanço na reestruturação e na recomposição salarial se mostra insuficiente como demonstrado no quadro elaborado pela CNSC.
Não é verdade o que foi divulgado pelo Ministério de Gestão e Inovação (MGI) e reproduzido em alguns veículos de imprensa sobre terem concordado com 9 dos 12 pontos apresentados pela FASUBRA. Na realidade, apenas 5 estão contemplados.
No que tange à recomposição salarial, o avanço do governo passando de 9% em 3 anos para 12,8% no mesmo período, além de insuficiente, nos coloca abaixo do oferecido a outras categorias do executivo federal, tanto nos percentuais de reajuste, quanto em relação ao montante investido do orçamento.
É, portanto, contraditório ao anunciado pelo próprio governo, que investiria na redução das desigualdades de remuneração no serviço público brasileiro. Os montantes alocados até aqui nos acordos celebrados e na oferta que recebemos, não só não levam à redução, como ampliam a desigualdade.
Nesta conjuntura, a necessidade de continuidade e de fortalecimento da greve é inquestionável!
Inquestionável porque foi a greve e a mobilização por ela produzida, que nos trouxeram ao cenário atual em que, finalmente, o governo saiu da inércia e apresentou uma contraproposta sobre a carreira e alterou para mais o percentual da recomposição oferecida.
Também foi a greve que nos tirou do isolamento em que estávamos sem nenhuma proposta para uma mesa de negociação real que agora tem números para serem debatidos e ampliados. Há espaço para avançar mais. Esse avanço dependerá de nossa organização, coesão e força demonstrada por novas atividades de mobilização na base e em Brasília.
Considerando que:
O pequeno aumento em relação à proposta anterior de 3,5% nos índices de 2025 e 2026 é fruto da força da greve e demonstra que, com mobilização, podemos derrotar a política de reajuste zero do governo para 2024;
A greve dos TAE está forte e ainda pode crescer paralisando 100% os setores não essenciais das universidades e institutos federais;
A caravana a Brasília (16 a 19/4) fortaleceu e deu visibilidade nacional para a greve da Educação Federal;
A política econômica do governo Lula-Alckmin é baseada no Arcabouço Fiscal e no desvio de 46% do orçamento de 2024 para pagamento de juros e amortizações da dívida pública;
O governo garantiu verbas para reestruturar várias carreiras em 2024, além de garantir R$ 360 bilhões ao agronegócio, através do Plano Safra, e R$ 20 bilhões aos militares, via PAC, como o negociado com a PF, PRF, entre outras categorias, o 3 IG ABR – 4 Senado acaba de aprovar na CCJ, o reajuste de 5% para servidores da categoria juízes que poderá custar para a união 42 bilhões.
Portanto, o orçamento para os Técnico-administrativos em Educação é insuficiente para valorizar mais de 224 mil servidores com a proposta oferecida pelo governo.
No primeiro bimestre de 2024, o Brasil bateu o recorde com valor acumulado de R$ 467 bilhões. Nesse sentido, há orçamento para atender às reivindicações dos Técnico-administrativos em Educação sem permanecer com o pior salário do serviço público federal.”
Sob o impacto das negociações em Brasília e da mobilização que resultou nas caravanas até a capital federal, o Conselho Local de Greve (CLG) reuniu-se na manhã desta quarta-feira (24) para avaliar a situação e organizar a assembleia que se realizou à tarde. Veja a agenda aprovada pelo movimento para os próximos dias.
CALENDÁRIO DE LUTA
QUI 25/04
9h30 – Consuni – Fala de atualização da Greve.
10h – Ato em Macaé.
14h – GT Antirracista na sala de reuniões do sindicato.
SEX 26/04
Reuniões das Comissões (cada comissão fica responsável pelo horário)
SEG 29/04
Dia de fortalecer visual da greve com colagem de cartazes e de pendurar faixas: Comissão de Mobilização/Infraestrutura organizar equipes e horários.
TER 30/04
10h – Reunião do Comando Local de Greve (CLG).
Reunião com TIC UFRJ (solicitar/marcar).
Visita nas unidades hospitalares.
QUA – 01/05
11h Protesto do Dia do Trabalhador, Viaduto Negrão de Lima – Rumo a Parque Madureira e Shopping. Concentração às 10h.
QUI 02/05
10h – Assembleia
Visita às unidades hospitalares
SEG 06/05
Audiência Pública sobre Carreira TAE na Câmara Municipal Rio
Visita às unidades hospitalares
QUA 08/05
10h – Assembleia. Pauta: prestação de contas, avaliação de greve e Fundo de Greve.
QUI 09/05
9h30 Consuni / Indicação de Dia Nacional de lutas nas Reitorias
Nesta segunda-feira, 22 de abril, o Comando Nacional de Greve (CNG) se reuniu para avaliar a proposta do governo à luz da análise crítica feita pela representação da FASUBRA na Comissão Nacional de Supervisão de Carreira (CNSC). A CNSC FASUBRA, se reuniu no final de semana e elaborou um relatório preliminar, analisando, ponto a ponto, a proposta do governo.
O governo apresentou uma proposta insuficiente. Manteve o reajuste de 0% para 2024, oferecendo 9% de reajuste em 2025 e 3,5% em 2026. Quanto à reestruturação, atendeu, parcialmente, cinco dos doze pontos destacados na proposta construída pela CNSC, apresentando um pequeno avanço neste ponto, porém, recuando, especialmente se considerarmos que foram descartadas proposições construídas com seus representantes no Grupo de Trabalho de Aprimoramento, diferentemente do que foi divulgado pelo Secretário de Relações do MGI, José Lopez Feijóo na imprensa.
Os delegados, reunidos em Plenária, reforçaram a necessidade de continuidade e fortalecimento da greve. O avanço na proposta do governo, apesar de insuficiente, demonstra a importância da nossa greve para a conquista das nossas pautas. É imprescindível continuar a pressão junto ao governo e conquistar a opinião pública.
Devemos lembrar que essa é a primeira proposta concreta feita pelo governo na mesa de negociação. O processo está em curso. É necessário esperançar!
Vamos fortalecer a greve, construir atividades conjuntas, participar de todas as ações chamadas pelos sindicatos na base, compartilhar as #hashtags# do nosso movimento, acompanhar e seguir as orientações locais e nacionais nas ruas e nas redes.
Assembleias simultâneas na próxima quarta-feira (24), às 14h: Fundão (auditório Bloco A do CT); Praia Vermelha (Auditório Manoel Maurício), e em Macaé – com local a confirmar.
Na pauta estão decisões importantes como a discussão sobre a proposta do governo, avaliação da greve, representação no CNG e o fundo de greve.
Nas universidades, cresce a adesão de docentes à greve iniciada por técnicos nas instituições federais de ensino
Até sexta-feira(19) professores de 26 universidades e institutos já haviam entrado em greve e docentes de 11instituições se preparavam para aderir ao movimento – iniciado pelos técnicos-administrativos em educação, em 11 de março, por orientação da Fasubra.
A informação foi dada pela vice-presidenta do Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições de Ensino Superior no Rio de Janeiro (Andes-RJ)), Claudia Piccinini, durante o ato promovido pela Adufrj – Seção Sindical nas escadarias do prédio do Ministério da Fazenda, no Centro da cidade.
Segundo a dirigente, a pauta de reivindicações da categoria foi protocolada em 2023 e depois de um ano de lutas, não houve até agora efetiva negociação com o governo.
Os docentes reivindicam reajuste salarial e recomposição orçamentária para as universidades e institutos federais, e revogaço de portarias e resoluções, especialmente dos governos de Temer e Bolsonaro, como as relacionadas à reforma do Ensino Médio e a Instrução Normativa nº 15, que cortou os adicionais de periculosidade e insalubridade.
“Os prédios estão caindo nas nossas cabeças na UFRJ”, denunciou Piccinini, lembrando o desabamento de parte do teto da Faculdade de Educação Física e Desportos ocorrido em setembro de 2023, por falta de manutenção.
Além dos problemas graves na infraestrutura e nas instalações hidráulicas e elétricas das unidades acadêmicas e administrativas, a vice-presidenta da Andes-RJ disse que falta recursos para pagamento de fornecedores, de água, energia elétrica e demais despesas, como salários de prestadores de serviços e terceirizados.
“É preciso ir às ruas para que essas pautas andem. A Mesa de Carreira é importante para os jovens professores como também para os demais. O processo de reconstrução da nossa unidade é importante para reforçar a luta que a Fasubra deflagrou em março. O movimento tem o apoio dos estudantes e nós, docentes, precisamos nos posicionar. Conclamo a Adufrj a realizar um debate e chamar uma assembleia para discussão com seriedade sobre a nossa adesão à greve”, propôs a sindicalista.
“Eu amo a UFRJ”
Uma faixa com a frase em destaque “Reajuste zero é desrespeito” cobriu os degraus no centro da escadaria da representação do Ministério da Fazenda no Rio de Janeiro, na Rua Primeiro de Março, e balões coloridos em formato de coração com reivindicando “Mais verbas”, “Condições dignas de trabalho” e “Por mais bolsas” completavam o cenário do ato de protesto da Adufrj. Botons com a palavra de ordem da campanha “Eu amo a UFRJ”, lançada pela entidade, foram amplamente distribuídos.
“Um ato de amor” foi como definiu a manifestação a presidenta da Adufrj, Mayra Goulart, falando no megafone. Segundo a dirigente sindical, o local foi escolhido para sensibilizar operadores e políticos para o projeto que a categoria defende, que é uma universidade inclusiva e de excelência”, que ofereça condições de trabalho, mas que para isso era preciso que “o Brasil cuidasse da gente”.
O estudante de História e coordenador do DCE Mário Prata, Andrei, defendeu que a mobilização era importante. “Vivemos um cenário na UFRJ, com a estrutura dos prédios, que todos percebem. E se a gente não lutar por orçamento, não teremos a UFRJ com a nossa cara”. Gabriel Batista, da Associação dos Pós-graduandos (APG), disse que “estavam ali para manter a unidade das categorias do funcionalismo para lutar por orçamento e mostrar ao Ministério da Fazenda que a UFRJ está agonizando”.
“Este é um ato de afirmação em prol da educação pública de qualidade, transformadora e até revolucionária. A educação precisa ser reconhecida. Nós precisamos mudar os rumos desse país com ensino, ciência e tecnologia”, afirmou o reitor Roberto Medronho, chamando a atenção para a existência da extrema direita que “está muito viva e quer destruir o Brasil”.
O reitor reconheceu que é fundamental a valorização da carreira dos técnicos-administrativos e dos professores e a recomposição salarial das duas categorias de servidores.
Rodrigo Fonseca Nunes, diretor da UFRJ-Macaé, manifestou-se contra a adesão à greve em curso. Segundo ele, a universidade tem problemas, mas é preciso ter responsabilidade com os alunos e manter a UFRJ aberta. E propôs que todos divulgassem a campanha “Eu amo a UFRJ” pelo Instagram.
Manifesto
O ato foi encerrado com a leitura do manifesto “Nós amamos a UFRJ” pela vice-diretora da Adufrj, Nadir do Espirito Santo. “Exigimos mais verbas, melhores salários, condições de trabalho dignas e mais bolsas para nossos estudantes”, diz o texto.
A proposta feita pelo governo aos trabalhadores da educação não foi aceita por nenhuma das entidades representativas – Fasubra, Sinasefe. Os representantes das categorias em greve saíram indignados da reunião realizada na manhã desta sexta-feira, 19 de abril, no Ministério da Gestão e Inovação em Serviços Públicos (MGI). A proposta feita pelo governo foi considerada muito aquém das reivindicações do movimento e será submetida para avaliação das bases.
Apesar de propor a reestruturação da carreira com reposição salarial, o governo manteve 0% de reajuste este ano, penalizando mais ainda os aposentados. Segundo o governo, a reestruturação com reposição seria em torno de 22,97% incluído o reajuste de 9% concedido ano passado. Somente em 2025 haveria 9% de reajuste e 3,5% em 2026. Algumas mudanças foram propostas na estrutura da carreira e serão detalhadas para a categoria.
“A proposta apresentada não foi aceita por nenhuma das entidades. Até porque as direções junto com os comandos de greve terão de debater e a proposta será enviada para avaliação nas assembleias de base. O governo propôs reestruturação da carreira com reposição salarial, que seria em torno de 22,97% incluído o reajuste emergencial de 9% concedido ano passado. Para esse ano 0% de reajuste, 9% em 2025 e 3,5% em 2026 o que não chega a 13%. Em relação a estruturação colocaram a tabela lateralizada com piso do nível superior”, informou a coordenadora-geral da Fasubra, Cristina del Papa.
“Não tem orçamento para 2024. A proposta está aquém e foi rebaixada. Não representa o tamanho da nossa greve”, afirmou a coordenadora-geral da Fasubra, Loiva Chansis.
“Para os aposentados é nada mesmo em 2024 já que eles estão excluídos do aumento dos benefícios. A proposta como um todo está muito aquém da valorização que precisamos. Não é possível um governo que vai para a mídia dizer que vai valorizar a educação não o faz na prática. Então continuamos em greve e vamos avaliar com a categoria”, ressaltou a coordenadora-geral da Fasubra, Ivanilda Reis.
“Mais uma vez o governo demonstra não conhece as especificidades do fazer dos trabalhadores técnico-administrativos em educação. Por isso é muito importante que a nossa greve tenha força para arrancar do governo os recursos que precisamos para deixarmos de ser a tabela mais baixa do serviço público federal”, observou o integrante da Comissão Nacional de Supervisão da Carreira, Marcelo Rosa
“Colocamos na mesa que a categoria do PCCTAE estrou em greve porque recebe a pior remuneração do serviço público. Na proposta apresentada pelo governo continuamos com o pior salário do serviço público. Vamos fortalecer essa luta para na próxima mesa exigir que o governo coloque mais dinheiro”, frisou o coordenador-geral do Sinasefe, David Lobão
O que fazer agora
O Comando Nacional de Greve iniciou o debate sobre os próximos passos do movimento para decidir o que será apresentado às bases em nova rodada de assembleias. Aqui na UFRJ, o Comando Local de Greve (CLG) se reúne na manhã de quarta-feira (24). A assembleia simultânea (Fundão (CT), Macaé (local a definir) e Praia Vermelha – auditório Manoel Maurício.) será às 14h.
ANDES
Os docentes vão discutir nas suas bases a proposta do governo apresentada em reunião em separado na tarde de sexta-feira. Da mesma forma do que foi proposto aos técnicos-administrativos, o governo insistiu nos 0% de reajuste para docentes do Magistério Federal em 2024. Como contrapartida, prometeu reajuste de 9% apenas em 2025 e 3,5% para 2026.
Com faixas, bandeiras e cartazes dezenas de estudantes da UFRJ marcharam da Faculdade de Letras até a Ponte do Saber que foi fechada por vários minutos na manhã desta sexta-feira(19) Representantes do Sintufrj e do Andes-SN participaram do ato.
A manifestação – deliberada em assembleia do DCE Mário Prata – tem um nome característico de campanha: SOS UFRJ: a Educação grita por verbas!
Foi um protesto ruidoso e colorido contra o sucateamento e a restrição progressiva de recursos da universidade, exigindo verbas para a sua sobrevivência. “Educação não é gasto, é investimento!”, dizia um dos cartazes.
“A nossa luta unificou. É o estudante junto com trabalhador!”
“Nas ruas, nas praças, quem disse que sumiu. Aqui está presente o movimento estudantil!”
Em uníssono nas palavras de ordem ou nas falas que se sucederam, os manifestantes denunciaram a gravidade da situação da UFRJ, exigindo recomposição orçamentária, na passeata que saiu da Faculdade de Letras, ocupando todas as pistas da Avenida Horácio Macedo (no sentido da Reitoria) e da Avenida Pedro Calmon até a ponte.
Olha pra cá!
“Queremos uma sociedade diferente, que não tenha ninguém que passe fome e que não tenha condições de estar aqui. Defendemos que a universidade deve estar aberta para todo mundo”, disse o representante do DCE Alex Borges, puxando uma palavra de ordem, acompanhado pelo enorme grupo: “Olha para cá! Estou na rua, para o seu filho estudar”.
Segundo ele, o DCE realizou nesta sexta-feira, 24 horas de paralisação com atividades políticas e ações descentralizadas e que o ato no Fundão contou com a participação de todos os centros.
Ele contou que, no dia anterior houve paralisação na Praia Vermelha, com o fechamento do Avenida Venceslau Brás, com o apoio dos Centros Acadêmicos (CAs). E que a unidade dos CAs com o DCE cresce cada vez mais. Os cursos estão realizando assembleia e em breve o DCE irá convocar assembleias gerais para debater sobre a mobilização e defesa da universidade.
Jogral na ponte
“Nós somos estudante e trabalhadores da UFRJ em defesa da educação pública, gratuita e de qualidade. O nosso futuro não será precarizado. Queremos dignidade para estudar e para trabalhar, e não seremos coagidos porque essa é primeira das muitas manifestações que a UFRJ vai protagonizar enquanto a gente não tiver uma recomposição orçamentária que de conta dos nossos sonhos,”, disse a representante do DCE e do CA de Engenharia Camile Gonçalves, repetida em jogral por dezenas de estudantes, em meio a aproximação de policiais em uma viatura e duas motos no intuito de desobstruir o acesso à Linha Vermelha.
Crescendo
Eles chegavam à Letras, local da concentração, em grandes grupos, e se juntavam aos demais, vindos de diferentes unidades do CCS, do HU, Educação Física, EBA, FAU. Seus representantes se revezavam no microfone, denunciando a precariedade dos prédios, como na EBA que teve o ateliê Pamplonão fechado por falta de condições, o do IFCS que contam estar sob risco de um incêndio pela fragilidade das instalações, unidades cujos terceirizados sofrem com atrasos de salários e estudantes sem acesso a bolsas fundamentais para sua permanência.
“A UFRJ vai parar”
Representante o Sintufrj, a coordenadora Marly Rodrigues lembrou que o futuro da universidade estava ali. “Os técnicos-administrativos estão em greve desde o dia 11 de maio, numa luta que é de vocês também. E dos professores que ainda não entenderam por que a gente tem que lutar. Mas vão entender. Se a gente não parar esta universidade, ela é que vai parar sem condições de manter seus alunos. Sem bandejões ou moradia. Hoje temos uma universidade sucateada, e o governo diminui o orçamento. Precisamos fazer este movimento para mostrar para a sociedade que não é um mar de rosas. Esta é a maior universidade federal do país, mas que esta ‘sendo sucateada a cada dia”.
Claudia Piccinini, representante da Regional do Andes, contou que o Sindicato em Nacional está em greve e, aplaudida pelos estudantes, que mais da metade das ifes estão na greve. “Vamos fazer uma grande greve da Educação neste país, porque o governo está nos empurrando para a greve. Estamos juntos nesta luta com a Fasubra e o Sinasefe”, afirmou.
Os dirigentes do Diretório Central dos Estudantes comemoravam o crescendo da mobilização.
O vice-presidente do CA de Engenharia, Samuel Carvalho apontou a redução de recursos para educação e saúde públicas para favorecer a privatização de serviços em que a população pobre não poderá ter acesso. Ele citou dados levantados pelo DCE: a UFRJ perdeu de 2012 a 2024 quase R$400 milhões e já tem esse ano um déficit que não permitirá nem o funcionamento adequado muito menos a expansão. Os orçamentos para as universidades sofreram uma redução de R$ R$310 milhões, enquanto a verba para pagamento da dívida pública é de R$2,5 trilhões e o previsto para as emendas parlamentares é de R$ 44,6 bilhões.
Os estudantes comemoraram o sucesso do ato que foi concluído em frente a escadaria da Reitoria.
A coordenadora do Sintufrj Marly Rodrigues na manifestação dos estudantes que percorreu as vias do Fundão e fechou a Ponte do Saber no dia 19 de abril
Abaixo, o trânsito parado no chegada à ponte. Policiais se aproximas mas os estudantes, em jogral, mandam seu recado: “Essa é primeira das muitas manifestações que a UFRJ vai protagonizar enquanto a gente não tiver uma recomposição orçamentária que de conta dos nossos sonhos!”
Com 239 votos favoráveis e 138 contrários, os professores da Universidade Federal Fluminense (UFF) decidiram entrar em greve a partir da segunda-feira, 29 de abril. Com isso já soma 24 instituições federais de ensino com professores que aderiram ao movimento. A greve na educação foi puxada inicialmente pelos trabalhadores técnico-administrativos.
A direção do Sintufrj manifesta sua consternação com o falecimento do professor Luiz Afonso Henriques Mariz. Médico formado pela UFRJ, atuou no Departamento de Pediatria e foi diretor do Instituto de Puericultura e Pediatria Martagão Gesteira (IPPMG). Como pró-reitor de Pessoal entre 2002 e 2011 durante os dois mandatos do reitor Aloísio Teixeira, integrou a equipe que respondeu naquela circunstância à necessidade de pacificação da universidade depois dos atropelos da gestão do “interventor” José Henrique Vilhena.