• Dias 18, 19 e 20 de abril são datas importantes para as trabalhadoras e os trabalhadores técnicos-administrativos. Nessas datas, às 10h, serão realizadas assembleias nos campi da Cidade Universitária, Duque de Caxias e Macaé, que deliberarão sobre a delegação que nos representará no XXIV Confasubra — instância máxima de decisões do conjunto da categoria.

    Nesse congresso, os delegados aprovarão um plano de lutas para a Campanha Salarial de 2024 — que começa este ano para garantir recursos no orçamento da União para a recuperação das nossas perdas salarias – e reivindicações para aprimoramento da nossa Carreira para ser levada à mesa setorial com o governo. E também elegerão uma nova direção para a nossa Federação.

    Portanto, companheiras e companheiros, a sua presença nas assembleias é muito importante. Porque além de elegermos nossos representantes ao Confasubra, ainda aprovaremos a tese-guia (entre as seis apresentadas pelos coletivos políticos que militam entre nós. Veja o resumo desses documentos no Jornal do Sintufrj) e as nossas propostas para o plano de lutas voltado para a Campanha Salarial 2024 e o aprimoramento da carreira.

    Calendário das assembleias:

    18/4, às 10h – Auditório do Quinhentão (CCS). Cidade Universitária.

    19/4, às 10h – Auditório do Bloco A, campus Duque de Caxias.

    20/4, às 10h – Auditório do Bloco B UFRJ-Macaé.

Veja o vídeo da convocação:

Leia também: 

Coordenação de Organização e Políticas Sindicais faz orientações sobre eleição de delegados(as)

Foto: Daniel Outlander

A Coordenação de Organização e Políticas Sindicais do Sintufrj convoca a categoria a categoria para a eleição de delegados (as) da instituição.

Com o objetivo de conquistar a recomposição total do poder de compra de nossos salários, pra aprimorar nossa carreira, pra lutar contra o assédio moral, pela ampliação de nossos direitos. Dessa forma, só com muita luta e organização pela base!

Venha construir o sindicato participando da eleição dos(as) delegados(as) sindicais de base! Mobilize seus colegas, agende uma reunião e se inscreva como candidato(a).

O edital completo e todas as informações você encontra aqui.

Saiba como fazer parte: 

A Fasubra se reuniu com a secretária de Educação Superior do MEC, Denise Pires de Carvalho, na última quarta-feira, 5 de abril, para retomar o calendário de discussões da pauta específica dos técnico-administrativos em educação das universidades e institutos federais.

No encontro, a Fasubra reafirmou a importância de se reunir com o ministro da Educação, Camilo Santana. A direção já solicitou agenda com o ministro para debater temas que necessariamente não impactam no orçamento do governo. O objetivo é discutir carreira, democracia e autonomia nas universidades, hospitais universitários e outros pontos que estão na pauta de reivindicação.

A direção da Fasubra reforçou ainda a necessidade da retomada da mesa da Comissão Nacional de Supervisão da Carreira (CNSC), do assento no Conselho Nacional de Avaliação da Educação Superior (Conaes) e na Comissão Nacional de Educação. Ficou acertado também a construção de agenda permanente de negociação com a Secretaria de Ensino Superior (Sesu).

Órgãos com maior déficit de pessoal serão priorizados, segundo ministra da Gestão Esther Dweck

Escrito por: Carolina Pimentel, Agência Brasil | Editado por: Aline Leal, Agência Brasil

A ministra da Gestão e da Inovação em Serviços Públicos, Esther Dweck, anunciou que o governo  irá lançar até o dia 10 de abril o primeiro bloco de concursos públicos autorizados para administração federal. Ela, porém, não especificou quais os órgãos do governo que devem abrir novas vagas, mas destacou que há previsão no orçamento deste ano para realização dos concursos, que irão priorizar os órgãos com maior déficit de pessoal.

“Várias áreas estão com dificuldade. Foi um período de muito desmonte, praticamente sem nenhum concurso”, disse, em entrevista aos veículos da Empresa Brasil de Comunicação (EBC).

Até o fim do ano, segundo a ministra, devem ser anunciados três blocos de concursos públicos para recomposição de pessoal. No momento, apenas uma seleção emergencial foi autorizada para a Agência Nacional de Mineração.

Reajuste salarial dos servidores

Sobre a concessão do reajuste salarial linear de 9% aos servidores federais, Esther Dweck explicou que é preciso que Congresso Nacional aprove uma adequação de rubricas na Lei Orçamentária de 2023.

Na última sexta-feira (31), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva enviou ao Parlamento projeto de lei com a alteração. A expectativa do governo é de que a aprovação da proposta ocorra ainda este mês.

“Assim que ele for aprovado, o governo pode encaminhar o reajuste dos servidores. A meta, temos conversado com os líderes no Congresso, é que tenhamos uma aprovação célere desse projeto, para que seja aprovado ainda no mês de abril e o reajuste dos servidores possa valer a partir de maio”, afirmou a ministra em entrevista ao programa A Voz do Brasil.

A negociação salarial, acordada com cerca de 100 entidades sindicais, prevê ainda aumento de R$ 200 no auxílio alimentação dos servidores. Conforme a ministra, o valor adicional já será depositado no pagamento de maio.

Desde 2016, a maioria das categorias do funcionalismo federal não teve reajuste salarial. Em fevereiro, o ministério retomou a Mesa Nacional de Negociação Permanente com os servidores públicos federais, que servirá para discutir recuperação salarial e reestruturação de carreiras. A mesa foi instalada pela primeira vez em 2003.

MINISTRA ESTHER DWECK. Concursos

 

5 de abril, quarta-feira, às 10h
Sobre a importância da assembleia do Confasubra e propostas de Campanha Salarial e Carreira
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Anielle Franco proferiu aula de abertura de um programa de pós-graduação  que teve como tema os 10 anos da Lei de Cotas

O Salão Pedro Calmon no campus da Praia Vermelha ficou lotado para a palestra da ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco, eleita uma das 12 mulheres do ano de 2023 pela revista Time, em aula inaugural do Programa EICOS, do Instituto de Psicologia.

Sob o tema “ 10 anos da lei de cotas, 20 anos da lei 10.639: o que mudou e para onde vamos?”, a aula de abertura do Programa de Pós-Graduação e Psicossociologia de Comunidades e Ecologia Social do Instituto de Psicologia foi carregada de simbolismo e emoção.

A mesa reuniu, além de Anielle, mulheres pioneiras na frente de batalhas para romper preconceitos: Katya Gualter, do Coletivo de Negros e Negras da UFRJ/ primeira diretora negra da Escola de Educação Física e Desportos e candidata a vice- reitora da UFRJ; Ivana Bentes, atual Pró-reitora de Extensão da UFRJ; Ana Cunha, primeira diretora negra do Instituto de Psicologia da UFRJ, e Janete Nascimento, mestranda do Programa EICOS e iniciada no Candomblé.

Elas relataram sua trajetória pessoal, social e profissional para mostrar as dificuldades do povo preto e de seu acesso à educação, principalmente as mulheres, e levar mensagens de esperança e incentivo aos jovens calouros ávidos por ouvir Anielle.

Anielle Franco, após o assassinato de sua irmã a vereadora Marielle Franco, tornou-se uma potente voz  com uma forte ação que se insurge contra o racismo , inspirando e potencializando mulheres negras, pessoas LGBTQIAP+. e periféricas para movimentar estruturas pelo direito a igualdade e justiça social. “O povo preto tem urgências”, afirmou a ministra que elencou e comemorou iniciativas importantes de sua pasta já tomadas no início do governo Lula.

NA PRAIA VERMELHA, Salão Pedro Calmon ficou superlotado na sessão organizada para a palestra de Anielle Franco, ministra da Igualdade Racial
MINISTRA DA IGUALDADE RACIAL falou na UFRJ sobre “10 anos da lei de cotas, 20 anos da lei 10.639: o que mudou e para onde vamos?”

 

 

Imagem de reunião anterior do GT Carreira que nesta terça-feira (4) se reuniu online para buscar consensos. A ideia é chegar as assembleias na UFRJ e ao Confasubra com proposta unificada

O GT Carreira do Sintufrj se reuniu nesta terça-feira, dia 4, via plataforma Zoom, avançou nas discussões de formulação de proposição de consenso que dialogue com o conjunto das teses apresentadas no Congresso da Fasubra que acontece em maio. Este grupo de trabalho vem se reunindo já há alguns meses (a foto que ilustra este texto é da reunião de 21 de março no Sintufrj)

A ideia é que a proposta que está sendo costurada no grupo de trabalho seja levada à apreciação da categoria nas assembleias programadas para  dias 18, 19 e 20 de abril (respectivamente no Fundão, Duque de Caxias e Macaé).

O objetivo da procura pelo consenso é que os trabalhadores da UFRJ cheguem ao Confasubra numa posição de unidade acerca de frentes que levem ao aprimoramento da carreira.

No congresso da federação, como se sabe, questões centrais para a categoria estarão no centro do debate. As assembleias convocadas pelo sindicato vão aprofundar a pauta e eleger delegados para o evento mais importante de decisões da Fasubra.

PGD

Além da questão da Carreira, o grupo de trabalho discutiu outro tema importante para a categoria: a construção da normativa que possibilitará a implantação do Plano de Gestão e Desempenho (PGD).

A implantação do PGD (aprovado em março, no Consuni), prevista para o segundo semestre, está dependendo da Pró-Reitoria de Pessoal (PR-4) emitir uma normativa complementar, para que as unidades e interessados possam aderir ao programa. O conteúdo será discutido em comissão com representantes do GT Carreira do Sintufrj.

Karla Simas, superintendente-geral de Gestão de Pessoas e presidente da comissão que elaborou a proposta da UFRJ (com participação decisiva  do Sintufrj e do seu GT Carreira), para aprovação no Consuni, explicou que a equipe da PR-4 está trabalhando em cima do texto original, que será levado à comissão para os ajustes finais. Mas que já fez tem alguns pilotos em curso para testar o sistema.

Portanto, como indicou o GT Carreira, o Sintufrj vai solicitar à PR-4 informações sobre como está se dando a implantação deste plano piloto.

GT volta a se reunir e 2 de maio

A próxima reunião do GT está marcada para o dia 2 de maio, às 11h. Desta vez, a reunião será hibrida (presencial, na sala de reuniões da sede do Sindicato) e virtual.

GT CARREIRA. Na terça-feira, 21 de março, o grupo se reuniu na sala da diretoria do Sintufrj

 

Inscrição: https://bit.ly/3ZBhyUP

  • Sintufrj convoca assembleias para discutir campanha salarial, carreira e preparar para congresso da Fasubra

  • Jornal em punho, começou nesta segunda-feira (3) o trabalho de mobilização  para a Assembleia dia 18

  • CCMN, IGEO, DRE e Biblioteca fizeram parte do roteiro

Questões essenciais para o futuro dos trabalhadores técnicos-administrativos em particular e para o servidores em geral estão postas na mesa – campanha salarial de 2023 e aperfeiçoamento da carreira entre elas. São esses desafios que dão a dimensão da importância das assembleias que o Sintufrj está convocando para o Fundão (18), Caxias (19) e Macaé (20).

A mobilização vem na sequência dos eventos que surgem com a nova conjuntura que tem como uma das marcas a retomada das negociações com o governo. No governo de extrema direita os servidores foram identificados como inimigos e negociações não existiam.

Após os entendimentos que resultaram no aceite da proposta de reajuste salarial emergencial de 9% a partir de maio agora, substancialmente insuficiente para repor os estragos com anos de congelamento, a energia política do movimento sindical se volta para a construção desde as bases até a Fasubra da Campanha Salarial 2023.

O objetivo é acumular força e fazer pressão para implantar no orçamento da união de 2024 – que é elaborado a partir de agosto de 2023 – recursos para reposição de perdas desde 2010 (ao redor de 50%, pelo IPCA) e melhorias na carreira, com concurso público.

JORNAL DO SINTUFRJ EM MÃOS, a convocação para a assembleia do dia 18 para discutir campanha salarial e carreira começou nesta segunda

“Só foi possível um presidente da República como Bolsonaro por causa parcimônia com as questões relacionadas à ditadura”

Caroline Oliveira
Brasil de Fato | São Paulo (SP) |

 

A ideia de que a ditadura militar brasileira, iniciada em 1964, foi um regime político ameno e brando nasceu como uma narrativa para desresponsabilizar os responsáveis pelos crimes da ditadura. Como consequência, não houve uma ruptura em relação ao passado, o que possibilitou a continuidade da apologia à tortura e à ditadura nas atitudes, por exemplo, do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).

“A forma de transição que o Brasil fez da ditadura para a democracia não foi uma ruptura. Foi uma transição completamente coordenada e controlada pelos próprios militares e, por isso, eles permaneceram no controle dessa narrativa com a justificativa de abalo à governabilidade do país. Isso convence praticamente todos os presidentes, de certa maneira até presidenta Dilma, durante os seus governos democráticos”, afirma Eugênia Gonzaga, procuradora da República e ex-presidente da Comissão Especial Sobre Mortos e Desaparecidos Políticos (CEMDP), em entrevista ao Brasil de Fato.

Para Gonzaga, “só foi possível um presidente da República falando o que o Bolsonaro disse por conta de toda essa parcimônia que se teve com as questões relacionadas à ditadura. Imaginou-se que a ditadura poderia ser deixada de lado”.

Ela destaca que em 2010, o Supremo Tribunal Federal (STF) votou contra a Lei da Anistia, de 1979, que perdoou os representantes do Estado acusados de praticar atos de tortura durante o regime militar. “Eles passaram literalmente por cima dos corpos, dos corpos insepultos, das famílias que perderam seus filhos, seus entes queridos, achando que poderiam ter uma democracia depois disso.” Leia abaixo a entrevista completa:

 

Brasil de Fato – O que explica a ideia de que a ditadura militar brasileira foi uma “ditabranda”? A partir de quais elementos se produziu esse discurso?   

Eugênia Gonzaga – A forma de transição que o Brasil fez da ditadura para a democracia não foi uma ruptura. Foi uma transição completamente coordenada e controlada pelos próprios militares e, por isso, eles permaneceram no controle dessa narrativa com a justificativa de abalo à governabilidade do país. Isso convence praticamente todos os presidentes, de certa maneira até presidenta Dilma, durante os seus governos democráticos.

Essa história de que a ditadura brasileira foi a que menos matou no continente começa já com a lei que criou a própria Comissão de Mortos e Desaparecidos Políticos, que admite apenas algumas mortes, já que não tinha mais como negar. Certas famílias fizeram muita pressão política, acabaram admitindo que houve morte, mas não admitiram porque essas pessoas morreram. Nunca foram ditos os motivos dessas mortes.

Eles admitiram que morreram apenas aquelas pessoas que estavam ligadas a movimentos políticos. Para conseguir o reconhecimento, as famílias tinham que comprovar que essa pessoa tinha atuado, por exemplo, nos movimentos de resistência que existiram durante a ditadura. Esse é um critério completamente diferente do critério dos nossos vizinhos. Nenhum computou entre os mortos apenas as pessoas que eram militantes. Os outros países computaram todas as pessoas que morreram em razão daquele governo ditatorial.

Hoje, se a gente for falar em um número de mortos no país, a gente vai falar no mínimo de 10 mil pessoas. A ditadura Brasileira não teve nada de branda. A comissão de anistia já indenizou mais de 30 mil pessoas que, comprovadamente, individualmente, foram vítimas de tortura direta, fora as situações de tortura indireta. A ditadura foi generalizada. Toda delegacia no país se sentia no direito de “para preservar a pátria” fazer qualquer coisa. Então todo mundo torturava. A lesão a direitos era generalizada e isso se mantém até hoje.

Como esse discurso de “ditabranda” se relaciona com o genocídio indígena na época? 

Quando a gente fala em pelo 10 mil mortes, a gente já está levando em conta que entre esses, no mínimo, são cerca de 8 mil indígenas. Esse é um número que foi apurado pelo Conselho Mundial Indigenista e que conta nos relatórios anexos ao relatório da Comissão Nacional da Verdade (CNV).

Infelizmente, o genocídio indígena sempre aconteceu nesse país e, durante a ditadura, foi um dos momentos em que se intensificou. Inclusive, a própria Comissão Nacional da Verdade apurou que há ordens que fossem tomadas as medidas necessárias caso houvesse resistência indígena durante a construção da Transamazônica.

Só que não há tantos registros. Ninguém sabe o que aconteceu nesse país durante esse período. É uma história que ainda precisa ser muito bem investigada e contada. Nós entendemos que esse foi um capítulo da Comissão Nacional da Verdade que manteve o critério de militância política e, por isso, acaba endossando esse número de 434 mortes. Mas deixa em aberto essa necessidade de continuidade de pesquisas e é isso que a gente precisa fazer no momento atual.

Como que esse discurso de “ditabranda” e omissão de um número expressivo de mortes se relaciona com o cenário atual de negacionismo e relativização de fatos históricos? 

Está tudo interligado. Eu acho que só foi possível um presidente da República falando o que o Bolsonaro disse por conta de toda essa parcimônia que se teve com as questões relacionadas à ditadura. Imaginou-se que a ditadura poderia ser deixada de lado. Foi feito um acordo mesmo. Está escrito na decisão do Supremo Tribunal Federal de 2010 que houve um acordo em 1979 que, para se retomar a democracia, nós deixaríamos de lado os crimes praticados pelos agentes da ditadura.

Eles passaram literalmente por cima dos corpos, dos corpos insepultos, das famílias que perderam seus filhos, seus entes queridos, achando que poderiam ter uma democracia depois disso.

Muito antes do Bolsonaro pensar em virar candidato, ele já praticou atos de apologia à tortura e à ditadura, mas nunca foi questionado sobre isso. Nada foi feito. Ele praticou inúmeros atos jurídicos que ensejariam a perda do mandato de presidente da República, mas isso não foi feito novamente. E foi chegando aonde chegou, o que culminou com 8 de janeiro.

Acredita que esse movimento de negar a proporção da ditadura e esses efeitos também se espalham para outros poderes, já que em 2010 o Supremo Tribunal Federal teve a chance de rever a Lei de Anistia, mas decidiu pela sua manutenção?  

O Judiciário está recheado de pessoas pertencentes a classes sociais que apoiaram a ditadura. Eu ouso dizer que pra muita gente desse tipo não só foi “ditabranda” como foi “ditaboa”, porque lucraram com isso. A imprensa, por grande parte do período, colaborou com a narrativa da ditadura.

Em terra que não tem lei, mas tem autoritarismo, ninguém está seguro, porque você pode achar que não é vítima de perseguição, mas amanhã pode ser. Se vigorassem no país as leis que aqueles defensores do 8 de janeiro queriam que vigorassem, eles agora presos não iam ter direito nenhum. Eles iam ver nas cadeias os mesmos cartazes que os perseguidos políticos da época viram: “Contra a pátria, não há direitos”.

As condutas de Bolsonaro, como a tentativa de extinguir a Comissão Especial Sobre Mortos e Desaparecidos Políticos, podem ser explicadas pelo fato de que o Brasil nunca elucidou os crimes cometidos durante a ditadura? O que motiva esse comportamento e esse discurso? Qual é o interesse? 

Acho que foi realmente uma política de desestruturar tudo aquilo que garantia esse estado social de direitos. A comissão é uma entidade de Estado criada por lei. Entra governo, sai governo, a comissão está lá. Não existe uma troca porque trocou o governo como nos ministérios, por exemplo. E isso incomodava muito. Então, como foi a forma de frustrar a comissão? Foi colocar ali uma maioria de pessoas que eram contra os objetivos da comissão.

A partir daí não se procurou mais corpos. Não se expediu mais nenhum atestado de óbito. Não se reconheceu mais ninguém como vítima da ditadura. Então a comissão já ficou paralisada desde então.

Eles também descobriram que uma brecha na lei determina a produção e entrega de um relatório final quando terminar de cumprir os seus fins. Eles correram para fazer isso no mês de dezembro. Aprovaram o relatório final a toque de caixa, numa reunião convocada às pressas.

Como é que se pode dizer que essa comissão cumpriu os seus fins, se nós temos entre esses 434 pelos menos 160 corpos não localizados? Não temos os atestados de óbito de todas essas pessoas. Mesmo assim, decretaram que a comissão tinha cumprido seus fins.

Ainda assim, toda e qualquer decisão da comissão deve ser ratificada por um decreto presidencial. A aprovação do relatório precisaria ser ratificada pelo presidente da República, que não fez isso. No dia 30 de dezembro, foi para os Estados Unidos. Mas, no dia seguinte, saiu um decreto aprovando o relatório, mas sem assinatura. A meu ver é completamente nulo esse ato de extinção e, por isso, acho que está muito fácil o atual governo reimplantar a comissão e nomear os membros.

Há a expectativa de recriação da Comissão Especial de Mortos e Desaparecidos. Como a senhora, que já presidiu a comissão, acredita que deve se dar o trabalho a partir de agora, tendo em vista o desmonte que foi implementado durante o governo Bolsonaro? Além do trabalho dentro da Comissão Especial de Mortos e Desaparecidos, como o governo Lula pode e deve agir em relação ao negacionismo que há em relação a ditadura a partir das Forças Armadas, por exemplo?  

A gente espera sinais muito claros da Presidência da República. As Forças Armadas são órgãos muito importantes, mas que precisam colaborar, entregar esses documentos que contam nessa verdadeira história. Esses documentos existem.

Nós tivemos um leilão de uma declaração firmada em cartório de uma pessoa que participou dos atos de assassinato de Stuart Angel, que foi parar na mão de um leiloeiro. Esse documento estava firmado em cartório. Como é que isso foi parar lá? Como é que isso foi parar no leilão?

Esses documentos precisam ser entregues pelos militares, pelos aposentados que ainda têm eventualmente esse tipo de coisa. Não se pode mais negar às famílias o direito de saber exatamente o que aconteceu. Acho que isso tem que ser prioridade do governo em relação a todo tipo de desaparecimento.

Tem que ser um recado claro para essas graves lesões do passado e as graves lesões presentes, porque hoje continua desaparecendo gente hoje. O desaparecimento ainda é uma forma de ocultação dos crimes do Estado. Não vamos esquecer agora do assassinato do Bruno e do Dom. Era uma situação montada para o desaparecimento do corpo. É preciso que exista uma política clara de memória de verdade, de preservação das provas. Para isso, é preciso uma sinalização muito clara, principalmente do poder executivo.

Alguma novidade sobre a recriação da comissão? 

A informação que eu tenho do Ministério dos Direitos dos Humanos é que o decreto de restituição da comissão está pronto. Imagino que com essa viagem para a China e problemas de saúde do presidente da República, o assunto esteja entre as próximas pendências.

Esse ano haverá a terceira Caminhada do Silêncio pelas Vítimas de Violência do Estado. Qual é a expectativa? 

Nossos países vizinhos fazem as chamadas caminhadas do silêncio, nas quais as pessoas saem às ruas, normalmente no dia em que houve seus golpes militares levando velas, fotos e flores para homenagear a memória daquelas pessoas que morreram em virtude desses atos de barbárie. No Brasil, nós fizemos essa caminhada a partir de 2019, teve que ser interrompida com a pandemia, mas vamos fazer agora a sua terceira edição. Será neste domingo, dia 2 de abril, a partir de 15 horas, no Ibirapuera.

É uma “descomemoração” do golpe militar no Brasil. Desde a primeira caminhada, eu achei impressionante que as pessoas deixavam cartinhas e rezavam. Eu comentei isso com a familiar de um desaparecido e ela falou: “Eugênia, a gente não tem lápide, a gente não tem onde velar memória”. Então nesse tipo de oportunidade, as pessoas aproveitam para colocar sua espiritualidade para fora, para elevar seu pensamento, para falar em nome da pessoa.