Equipamento criado por pesquisadores no Laboratório de Engenharia Pulmonar e Cardiovascular tem valor mais de dez vezes menos do que o ventilador convencional

Foram concluídos com êxito os testes com o ventilador pulmonar desenvolvido por pesquisadores do Programa de Engenharia Biomédica (PEB) da Coppe/UFRJ. O equipamento foi testado em pacientes de covid-19 internados no Hospital Universitário Clementino Fraga Filho (HUCFF) vítimas de crise respiratória aguda.

Em relação ao valor, o ventilador criado no Laboratório de Engenharia Pulmonar e Cardiovascular da universidade é infinitamente mais em conta. Calcula-se que Ventilador de Exceção para a Covid-19 (VInCo) – (como é chamado o equipamento da UFRJ) – custa R$ 8,5 mil, enquanto o mercado cobra cerca de R$ 100 mil para o ventilador convencional.

Os pesquisadores desenharam unidades para produção em massa, simples e rápida. A meta é produzir mil aparelhos em um mês.

Antes da testagem em pacientes, foram realizados testes in vitro e os resultados submetidos à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para obtenção do parecer da Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (Conep) – que também exigiu testes prévios em animais.

Financiamento

Para que a produção em massa se inicie, são necessários recursos para que as peças sejam compradas. A Fundação Coppetec lançou a campanha receber doações através de depósito bancário, pelo Banco do Brasil – Agência: 2234-9, conta: 55.622-X. CNPJ: 72.060.999/0001-75.

Além disso, a Assembleia Legislativa (Alerj) aprovou, no dia 30 de abril, projeto de lei que permite a destinação de R$ 5 milhões para a produção do VexCo, mas os recursos ainda não chegaram. Este era o valor previsto em contrato para a produção de mil aparelhos para instituições públicas do Estado do Rio, mas, com o passar do tempo, o custo aumentou, está em torno de R$ 7 mil. Portanto, captar recursos é fundamental.

NO PROGRAMA de Engenharia Biomédica (PEB) da Coppe/UFRJ, ventilador pulmonar mais barato e para a produção em massa foi desenvolvido por pesquisadores

 

Segundo a União Nacional dos Estudantes (UNE), enquete realizada pelo próprio ministério apontou que a maioria dos participantes preferia provas em maio

Matéria retirada do site Rede Brasil Atual.

O Ministério da Educação (MEC) e o Instituto Nacional de Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), responsável pelo Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), anunciaram hoje (8) o calendário de provas referentes a 2020. Os exames serão aplicados entre os meses de janeiro e fevereiro do próximo ano. O anúncio foi feito pelo secretário-executivo do MECAntonio Paulo Vogel, e o presidente do Inep, Alexandre Lopes, durante entrevista coletiva, em Brasília.

De acordo com Vogel e com Lopes, os 5,7 milhões de estudantes inscritos para as provas impressas farão o teste em 17 e 24 de janeiro. Já os 96 mil inscritos na modalidade digital, em 31 de janeiro e 7 de fevereiro. Os resultados serão divulgados a partir de 29 de março.

Conforme Vogel, a decisão pode não ser “perfeita e maravilhosa para todos”, mas a decisão foi “técnica” e mais adequada para todos, já que foi necessário articular o calendário com estados e universidades”, disse, referindo a uma enquete que apontou que a maioria dos participantes votou no mês de maio. Mas o governo acredita que o calendário não prejudicará os aprovados quanto ao ingresso nas universidades ainda no primeiro semestre.

O secretário-executivo argumentou que, caso as provas ficassem para maio, os estudantes perderiam o primeiro semestre, já que entrariam somente no segundo semestre na universidade. Segundo o Inep, as questões já estavam prontas mesmo antes de o novo coronavírus chegar ao país.

Desprezo

Se dependesse do ministério, as provas seriam feitas em novembro. Mas houve forte pressão de estudantes e professores, argumentando que a maioria dos alunos seriam penalizados. A maioria não tem acesso a internet e nem lugar adequado para estudar em casa. Com isso, aumentaria a desigualdade no acesso às universidades. Diante da intransigência do governo, houve questionamento judicial e o caso foi parar no Congresso, que votou pelo adiamento.

A União Nacional dos Estudantes (UNE) criticou o calendário adotado. “A divulgação das novas datas para o ENEM 2020 escolhidas pelo MEC (17 e 24 de Janeiro) só demonstram como eles tratam a opinião dos estudantes: com desprezo! Não escutaram as entidades estudantis em nenhum momento e ignoraram o resultado da consulta que eles mesmos fizeram!”, afirmou o presidente da entidade, Iago Montalvão, por meio do Twitter.

“É claro que a opinião de reitores e secretários de Educação é importante. Mas o MEC decidiu não ouvir os principais envolvidos na decisão das novas datas do ENEM: os estudantes. É assim que esse governo fala em democracia.”

 

 

Ocorrências durante esse período de pandemia estão praticamente zeradas no campus do Fundão

A equipe efetiva da Divisão de Segurança (Diseg) da UFRJ que reúne 80 servidores, mesmo tendo 70% incluídos no grupo de risco, montou um esquema de plantão diário para cuidar da segurança daqueles que estão em trabalho presencial na UFRJ e proteger o patrimônio da universidade. O patrulhamento do campus está sendo feito pelos policiais do projeto Rio + Seguro, de acordo com o convênio feito entre a UFRJ e a Prefeitura do Rio.

“Organizamos bem o trabalho, mesmo tendo a maioria do quadro de servidores com idade acima de 60 anos, diabéticos, outros que sofreram infarte e/ou tiveram câncer. São cinco vigilantes por dia. Três para cuidar das ocorrências, um de plantão na sede, e dois para socorrer casos de emergência. O pessoal da velha guarda, apesar da idade, segura bem o rojão”, informa o coordenador de Segurança da Diseg, Jorge Trupiano.

Em relação as ocorrências, Trupiano relata que o índice está praticamente zerado nesse período de pandemia. “A universidade está vazia. Nem cracudo aparece. O índice é quase zero. E quando ocorre algo é pontual. Um roubo de carro na Ponte do Saber, por exemplo”. E quando acontece (um roubo de carro, por exemplo) pode sugerir que a universidade está abandonada, “o que não é o caso”, diz o coordenador da Diseg.

Depredação

Em relação a questão de abandono, Trupiano lamenta a situação do Campo de Rugby. Construído para as Olimpíadas na Cidade Universitária,  a praça de esportes está abandonada e sendo depredada gradualmente.

“Na madrugada vem gente com carro, para na parte do campo próximo ao Mangue e leva as grades que o circundam. Roubaram 10 grades e holofotes. Isso vinha ocorrendo devagar, mas com a pandemia se acentuou. Já pedimos a pró-reitoria de Gestão e Governança (PR-6) a criação de um posto de observação ali, mas até agora nada. Com a pandemia tudo ficou mais difícil para resolvermos problemas como esse”, conta Trupiano.

“É muito triste ver um local tão bonito e que poderia ser usado pela universidade, comunidade e a sociedade, sendo vandalizado. Depredado. O monitoramento das câmeras não está funcionando, pouquíssimas  funcionam”, relata a coordenadora do Sintufrj, Noemi Andrade, que é vigilante da UFRJ.

O problema do Campo de Rugby é similar ao da Ponte do Saber. Um jogo de empurra das autoridades responsáveis. A universidade não tem verba para manter o campo e a Associação de Rugby não quer se comprometer. Quer usar o campo, mas resiste a assumir sua manutenção. A pendenga já foi motivo de reuniões entre a Administração Central da Universidade e a Associação de Rugy sem se chegar a uma solução.

Sobre a situação de infraestrutura e condições de trabalho, uma outra batalha enfrentada pela Diseg, Trupiano afirma que o Prefeito da UFRJ, Marcos Maldonado, tem dado todo o apoio. “Toda semana nos manda álcool em gel, máscaras e luvas. Além disso, recuperou cinco carros para trabalharmos e melhorou as condições de habitabilidade da sede”.

 

 

 

 

 

Entrevista

O serviço de fisioterapia do hospital conta no quadro permanente com nove profissionais concursados e 23 no regime de extraquadro. Para atender este período excepcional de pandemia foram contratados mais 66 fisioterapeutas

A pandemia do coronavírus pôs em evidência o trabalho de um profissional que se tornou essencial para a recuperação dos pacientes da Covid-19. São os fisioterapeutas intensivistas e/ou respiratórios, que sempre atuaram nas Unidades de Terapia Intensiva (UTIs) e atualmente fazem parte da equipe de combate à doença viral.

Sara Lucia Silveira e Menezes chefia o Serviço de Fisioterapia do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho desde 2017, ela é docente do Curso de Fisioterapia da UFRJ há 22 anos e atualmente atua como professora associada III.

“Minha prática assistencial e supervisão de estágio sempre foi realizada no Serviço de Fisioterapia do HUCFF. Fui convidada para assumir a chefia do serviço pelo ex-diretor Leôncio Feitosa e “fiquei muito feliz por ser convidada a continuar após a eleição do professor  Marcos Freire.”

Quantos profissionais fisioterapeutas atuam no HUCFF?

Sara: O Serviço de Fisioterapia do HUCFF possui apenas nove  profissionais concursados (RJU) e 23 fisioterapeutas no regime extraquadro com um déficit de aproximadamente 80 profissionais para atender o quantitativo de leitos existentes atualmente.

Como está sendo feita a divisão de trabalho durante a pandemia do coronavírus?

Sara: Nesta pandemia, foi necessário a contratação de mais 66 profissionais, totalizando 98 fisioterapeutas, que foram divididos no atendimento de Enfermaria Covid e Enfermaria não Covid,  CTIs Covid e CTI não Covid por 24 horas e durante todos os dias da semana.

Em que momento os internos com a Covid-19 passam a ser atendidos pelos fisioterapeutas?

Sara: O fisioterapeuta inicia sua atuação já no momento de chegada do paciente na emergência, quando é necessário ajustar o fluxo de oxigênio para atingir uma saturação entre 92-100%. O profissional então faz a opção entre cateter nasal ou máscara sem reinalação com bolsa reservatório e, dependendo da condição respiratória do paciente, já inicia um posicionamento denominado “pronação ativa”, ou seja, colocar o paciente em decúbito ventral com o objetivo de melhorar a função respiratória.

Caso não ocorra resposta e a insuficiência respiratória se instale, o paciente é entubado pelo médico. Neste momento, o fisioterapeuta ajusta o “respirador”com padrões específicos para cada paciente, como fluxo, pressão e volume, e irá seguir um processo específico para cada paciente para que de forma gradual ele reassuma sua respiração, quando então ocorrerá o desmame e a extubação (retirada do aparelho e do tubo) pelo fisioterapeuta.

Os pacientes com a Covid-19 permanecem internados na UTI de 15 a 30 dias, o que provoca perda significativa de massa muscular, apesar de realizar diariamente a fisioterapia voltada para o sistema neuromuscular. A fraqueza muscular é tão grande que alguns não conseguem sequer permanecer sentado no leito.

O que a fisioterapia faz pelo paciente da Covid-19 após a saída do CTI?

Sara: Após resolvido a insuficiência respiratória, com o paciente sendo capaz de respirar sozinho e clinicamente estável, ele tem alta do CTI e deseja ir embora do hospital o mais rápido possível. Porém, o fato de estarem extremamente fracos, sem condições de andar, uma das opções seria o uso de cadeira de rodas, o que criaria um grave problema social. Porque a maioria não têm em suas residências espaços adequados para a movimentação da cadeira de rodas, além de necessitar de cuidadores, tornando-se uma pessoa dependente para todas as suas atividades de vida diária.

Por isso o Serviço de Fisioterapia do HUCFF elaborou um protocolo de exercícios específicos para esta condição do paciente, que são orientados individualmente, respeitando a fase de déficit de atividade física de cada indivíduo. Este protocolo é coordenado pela fisioterapeuta Ana Paula da Costa Andrade, sendo realizado diariamente em uma enfermaria específica para pacientes pós Covid. Apesar da enorme vontade de ir embora assim que saem do CTI, os pacientes reconhecem que estão fracos  e participam ativamente dos exercícios, que visam recuperar a força muscular e os movimentos.

Os pacientes são avaliados por testes e questionários organizados pelo chefe da Internação da Fisioterapia, professor  Fernando Guimarães, no momento da internação na enfermaria e no momento da alta para que possamos comprovar cientificamente a melhora deles. São realizadas diversas técnicas fisioterapêuticas visando o controle do tronco, fortalecimento dos braços, a permanência em pé, equilíbrio, deambular com apoio e finalmente se ele pode deambular sozinho.

PACIENTE sendo atendido por fisioterapeuta no Hospital do Fundão fazendo exercícios de recuperação

Se esse paciente não fosse tratado pelo fisioterapeuta, como se daria a recuperação dele?

Sara: A recuperação dele seria muito lenta e ele conviveria com as sequelas pós-internação (fraqueza muscular e respiratória, fadiga, alterações de sensibilidade). O desuso da musculatura trazem graves consequências impedindo o paciente de realizar as atividades básicas, como comer e andar, tornando-os dependentes de seus familiares. O imobilismo leva a atrofia muscular, úlcera de pressão, trombose venosa profunda, atelectasias, retenção de secreção que pode propiciar o aparecimento de pneumonias que cria um círculo vicioso, exigindo nova internação destes pacientes.

Quais são as condições de trabalho dos fisioterapeutas neste momento no HUCFF? Eles contam com equipamentos especiais, espaço para repouso, com troca de uniforme, etc?

Sara: Todos os 98 fisioterapeutas que estão atuando dentro do HUCFF neste momento, possuem adequadas condições de trabalho, com espaço de repouso e equipamentos de proteção individual sem restrições. Todos tiveram treinamento básico (paramentação e desparamentação) e específico de sua atividade, e o resultado destas condições e cuidados é que nenhum fisioterapeuta foi contagiado pelo Covid-19 dentro do HUCFF. Não termos nenhuma baixa em nosso grupo e isso  é motivo de orgulho.

Fora a pandemia, qual a importância da fisioterapia para a maioria dos pacientes do HUCFF?

Sara: O fisioterapeuta atua de forma efetiva individual ou em equipes multidisciplinares, com o foco na recuperação funcional dos pacientes. No atendimento intra-hospitalar ele atua na recuperação de pacientes acometidos por diferentes doenças (neurológicas, ortopédicas, respiratórias, cardíacas entre outras) em todos os níveis de gravidade e setores como enfermarias e Unidades de Terapia Intensiva.

PACIENTE volta para casa recuperada depois de 24 dias de internação no hospital. Ela é festejada por profissionais de saúde numa celebração da vida emocionante

 

 

Economistas defendem redução do imposto sobre consumo e taxação maior sobre rendimentos mais elevados, heranças, dividendos e grandes fortunas. Proposta nesse sentido tramita na Câmara

Matéria retirada do site da CUT.

Na contramão mundial, o Brasil tributa em excesso o consumo e menos do que deveria a renda, preservando aqueles que ganham mais e prejudicando quem recebe menos. Assim, há relação direta entre políticas de Estado e desigualdade social e econômica, apontam os pesquisadores Grazielle David e Eduardo Fagnani, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Eles participaram ontem (7) à noite de conferência promovida pela Escola Dieese de Ciências do Trabalho.

Os dois lembram que, além das propostas de emenda à Constituição (PEC) 45 e 110, em tramitação na Câmara e no Senado, respectivamente, há um projeto de viés progressista no parlamento. Mas observam que a mídia tradicional dedica pouco espaço ao tema.

“Hoje, tributamos muito consumo e pouco patrimônio e renda. Você tem de inverter. É a questão central”, afirma Fagnani. O professor e pesquisador também organizou o estudo intitulado “Reforma Tributária Necessária: diagnóstico e premissas”, que resultou em dois livros. Com outros 40 especialistas, ele também ajudou a construir, durante anos, a emenda substitutiva à PEC 45, que ganhou o número 178 e cujo teor pode ser conferido aqui

Renda x consumo

“De tudo que é arrecadado no Brasil, metade vem do consumo. Nos Estados Unidos, são 17%, na Alemanha, 27%. A média da OCDE (Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico) é de 32%, e nós 50%”, lembra Fagnani. “Por outro lado, tributamos muito pouco a renda. Nos Estados Unidos, 49% do que é arrecadado vem da tributação da renda”, acrescenta.

Esse percentual chega a 63% na Dinamarca, diz ainda o pesquisador. Nos países da OCDE, a média é de 34%. No Brasil, cai para 18%. O exemplo que ele cita é simples: ao comprar uma geladeira, por exemplo, quem ganha menos paga proporcionalmente muito mais imposto. “Isso está em desacordo com o princípio da isonomia. É inconstitucional.”

O economista afirma que a maior parte das medidas propostas na emenda atinge 0,4% da população. “Tecnicamente, é possível ampliar a tributação da renda e do patrimônio em R$ 350 bilhões. Com isso, nosso sistema chegaria mais próximo da meta da OCDE. No caso do financiamento da seguridade social, nós extinguimos contribuições que incidem sobre o consumo, mas criamos contribuições que incidem sobre a renda e o patrimônio.”

Isenção maior

Na questão do Imposto de Renda da Pessoa Física, por exemplo, a proposta seria aumentar o número de faixas de quatro para sete. A alíquota mais alta seria de 45%. Haveria isenção para quem recebe até três salários mínimos – em valores atuais, seria o equivalente a R$ 3.135. Hoje, quem ganha R$ 1.903,99 já paga Imposto de Renda.

Grazielle lembra que a tabela não é corrigida desde 2015. E Fagnani acrescenta que isentar até a faixa de três mínimos significa, basicamente, restabelecer essa correção. A medida faz parte do que ele chama de “tributação solidária, para reconstrução do país”.

A função distributiva da tributação aparece pouco no debate, observa Grazielle, que é também assessora da Red de Justicia Fiscal de America Latina e Caribe, além de produtora do podcast É da sua conta. Isso significa que as políticas fiscal e tributária devem ajudar a reduzir desigualdades. Isso se faz reduzindo a tributação sobre o consumo. Além disso, o gasto público é também, por si, um redutor de desigualdade, aponta a pesquisadora. “O que reduz desigualdade no Brasil são gastos sociais, são as transferências sociais”, reforça Fagnani.

Imposto sobre fortunas

Outro ponto é tributação sobre grandes fortunas. O professor lembra que, no Brasil, 60 mil pessoas têm patrimônio acima dos R$ 10 milhões. Outros 700 mil ganham mais de R$ 40 mil por mês. Em países como França e Reino Unido, a taxação sobre herança chega a 50%, com média mundial em torno de 30% a 35%. “No Brasil, a maior parte dos estados cobra 4%, alguns cobram 8%”, compara, defendendo a necessidade de equilibrar a balança, ainda mais em um período como o atual.

“Chegou a hora do 0,3%, 0,4%, 0,5% da população contribuir, porque estamos vivendo uma situação de catástrofe. Você tem mais gente inativa do que na força de trabalho. E essa recuperação não vai ser simples. As pessoas não vão ter emprego, trabalho, renda. E como é que você vai financiar isso?”

Grazielle afirma que a sociedade precisa participar mais da discussão. E cobra também da mídia comercial. “Tem que abrir espaço, ela precisa assumir a responsabilidade, (e não) só ouvir uma vertente econômica, só um grupo de pesquisadores, ela tem de ser democrática.” Fagnani reforça: “A democracia requer o contraditório. A imprensa hoje está fazendo campanha pela democracia, então, tem que praticar”.

Ele lembra que são os benefícios sociais que, em grande medida, estão “segurando a onda” das famílias que perderam renda. E cita a Constituição de 1988. “Teve um pacto em que a sociedade aceitou ter uma proteção social maior, só que não fizeram a reforma tributária”. E é preciso mudar, acrescenta – para que haja, assim como em países desenvolvidos, uma “relação virtuosa entre tributação progressiva e Estado de bem-estar social”.

 

Os responsáveis por dois dos projetos mais avançados para fabricação de vacina contra o coronavírus, o da Universidade de Oxford em parceria com o laboratório AstraZeneca, e o da chinesa Sinovac, realizarão em milhares de brasileiros os testes da fase 3, última etapa antes da homologação. Esse procedimento faz parte do acordo com dois dos maiores produtores de vacinas do Brasil, Bio-Manguinhos, da Fiocruz, e o Instituto Butantan, de São Paulo.

O governo de São Paulo deve começar a testar a vacina chinesa Sinopec em 9 mil voluntários em 20 de julho. Para o diretor do Instituto Butantan, Dimas Covas, com os dois testes em larga escala em território nacional, “aqui no Brasil, nesse momento, é depositada a esperança de boa parte do mundo”.

A Fiocruz firmou acordo com a AstraZeneca para compra de lotes e a transferência de tecnologia da vacina desenvolvida pela Universidade de Oxford. “Como instituição estratégica do Estado brasileiro, a Fiocruz carrega 120 anos de experiência de atuação na saúde pública. Num momento como esse, de emergência sanitária, já temos uma infraestrutura robusta e com capacidade produtiva para incorporar novas tecnologias e introduzir novas vacinas rapidamente no Sistema Único de Saúde (SUS)”, afirmou a presidenta da instituição, Nísia Trindade Lima.

Vai demorar
A chegada da vacina para ser aplicada à população ainda percorrerá um longo caminho, disse o coordenador do GT Coronavírus da UFRJ, Roberto Medronho. O que deve ser destacado, segundo ele, é que o país está participando deste esforço graças aos institutos de pesquisa que são referência mundial na área: Bio-Manguinhos, da Fiocruz, e o Instituto Butantan, do Estado de São Paulo. “Isso mostra também a importância da ciência brasileira no cenário internacional”.

Medronho explicou que, no caso da vacina de Oxford, a Fiocruz conseguiu uma negociação muito importante para transferência de tecnologia: “Se a vacina for exitosa, o Brasil incorporará essa tecnologia e nós passamos a produzir para nossa população e eventualmente para o mundo, como fazemos com a vacina conta a febre amarela” (A Fiocruz produz 80% da vacina da febre amarela que é distribuída no mundo).

“Mais uma vez as instituições públicas mostram que, mesmo sem atenção adequada por parte das autoridades, a despeito de uma verdadeira cruzada contra a ciência e de muitas vezes ficarmos estagnados com o subfinanciamento, conseguimos dar respostas poderosas para a nossa população”, disse Medronho, acrescentando que o Brasil possui um Programa Nacional de Imunização (PNI) totalmente público, com vacinas gratuitas, considerado um dos melhores do mundo.

Para o infectologista e professor da Faculdade de Medicina da UFRJ, tudo isso mostra a importância do Sistema Único de Saúde, público, de qualidade e que possa dar conta de momentos como a pandemia do coronavírus. “Temos um número elevado de mortos e seria muito pior não tivéssemos o SUS, que está salvando muitas vidas”, concluiu.

 

Fundação Oswaldo Cruz, FIOCRUZ

 

 

Como a UFRJ, o ensino remoto como alternativa de emergência é o caminho adotado por várias instituições federais de ensino superior (Ifes) que já iniciaram ou se preparam para a retomada das atividades pedagógicas em meio à quarentena provocada pelo coronavírus.

Na Universidade Federal Fluminense (UFF), desde 1º de julho aulas já são ministradas de forma remota para estudantes de graduação considerados concluintes, aqueles para os quais faltam 272 horas ou quatro disciplinas para terminar o curso.

A universidade está finalizando o Programa de Inclusão Digital e Apoio às Atividades Remotas para ampliar o modelo, em caráter excepcional, a outros estudantes.

Para isso, o corpo docente está sendo treinado e a universidade está mapeando as necessidades e condições de acesso dos estudantes à internet para estruturar a transição. Apresentações de trabalhos de conclusão de curso, monografias, atividades complementares e de pós-graduação e de extensão estão sendo feitas de forma remota.

A Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (Unirio) ainda discute a sua retomada. No dia 14 de julho haverá Sessão Remota Ordinária do Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão (Consepe). A pauta inclui, entre outros pontos, a apresentação e deliberação sobre alternativas de retorno das atividades acadêmicas.

Na Universidade Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), os Conselhos dos Institutos realizaram discussões sobre a “Proposta Preliminar para Estudos Continuados Emergenciais 2020”. Uma segunda versão será elaborada pelo Comitê dos Grupos de Trabalho após avaliação das contribuições recebidas. Posteriormente, haverá uma audiência pública com a comunidade universitária sobre a segunda versão da proposta.

Fachada de prédio da UFMG em Montes Claros

UFMG: aulas em agosto
O ensino remoto emergencial na Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) foi aprovado pelo Conselho Superior (Consu) no dia 6 de julho. A sua realização foi autorizada para as turmas de cursos de pós-graduação lato e stricto sensu.

A Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) definiu que a retomada das atividades acadêmicas da graduação ocorrerá a partir do dia 3 de agosto de forma remota e emergencial.
A fixação da data possibilitou aos colegiados avançar nas discussões sobre o planejamento das disciplinas e ações que serão oferecidas sobre a adaptação dos planos de ensino e as possibilidades de oferta de atividades práticas.

Vista de cima do campus da USP

Em São Paulo, estaduais em modo ensino remoto

A Universidade de São Paulo (USP), a Universidade Estadual Paulista (Unesp) e a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) já estão em sistema de ensino remoto emergencial.

Na Unicamp houve o fornecimento de recursos para que os estudantes tivessem acesso às aulas e flexibilização de tempo para trancamento de disciplinas, sem prejuízo para a vida acadêmica do aluno.

Na USP, mais de 90% das aulas teóricas dos cursos de graduação e mais de 900 disciplinas de pós-graduação estão sendo ministradas on-line. A instituição distribuiu mais de 2 mil kits de internet para os estudantes com necessidades socioeconômicas acompanharem as aulas.

A Unesp comprou chips para telefones celulares que serão distribuídos aos estudantes que não têm acesso à internet de casa.

Corredor principal do campus da UNB.

Brasília

Na Universidade de Brasília (UNB), o Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão (Cepe) discutiu em reunião no dia 2 de julho a minuta de resolução sobre o retorno das atividades de ensino.

O texto já incorpora sugestões feitas em junho pelas unidades acadêmicas e, agora, está novamente sob consulta nos institutos e faculdades, por meio dos representantes do colegiado.

A minuta apresentada aos conselheiros institui o plano de retomada das atividades acadêmicas, dividido em cinco fases: uma delas totalmente remota e outras parcialmente remotas e presenciais. O assunto voltará à pauta do colegiado no dia 9 de julho.

Rio Grande do Norte

Na Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) o Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão (Consepe) aprovou no dia 1º de junho a regulamentação, em caráter excepcional, da oferta de atividades remotas. No dia 16 de junho foi lançado edital de inscrições para o Auxílio de Inclusão Digital voltado para estudantes de mestrado e doutorado que estejam cursando componentes curriculares de forma remota.

O auxílio será concedido em parcela única, de R$ 150,00 para disciplina com duração de 4 a 6 meses e R$ 300,00 para aquela com duração de sete a nove semanas. A verba é para aquisição de pacote de dados e de acesso à internet para permitir aos estudantes de vulnerabilidade social a participar das atividades acadêmicas on line. As inscrições acontecem em duas etapas. De 22 de junho a 1º de julho, e num segundo momento de 13 a 17 de julho.

Pernambuco

A Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) retomou o calendário acadêmico da pós-graduação com aulas à distância no dia 4 de junho. Os encontros serão ministrados seguindo o modelo de ensino remoto emergencial.

Ceará

Em junho a Universidade Federal do Ceará (UFC) estabeleceu um período de planejamento rumo à reposição da jornada acadêmica e à conclusão do primeiro semestre letivo de 2020. A partir desse mês de julho a comunidade volta gradativamente.

O plano de retomada conta com atividades remotas e a universidade oferecerá a estudantes e servidores técnico-administrativos uma série de ações formativas, além de apoio pedagógico e tecnológico.

Na ação de Inclusão Digital da universidade está previsto a distribuição de 6 mil chips de planos de Internet móvel a alunos com vulnerabilidade socioeconômica.

Santa Catarina
Na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) o Conselho Universitário votará no dia 17 de julho as regras relativas à retomada do ensino. O prazo para envio de sugestões e de destaques à Minuta de Resolução que regulamentará o retorno das aulas encerrou-se no dia 6 de julho.

A UFSC criou um site para Inclusão Digital para o cadastramento de estudantes de graduação, pós-graduação stricto sensu e ensino fundamental e médio do Colégio de Aplicação que necessitam de computadores e acesso à internet.

 

 

 

 

 

A dois meses de completar dois anos da fatídica noite de 2 de setembro de 2018 em que o Museu Nacional – patrimônio precioso da humanidade – foi totalmente consumido pelas chamas, a Polícia Federal anunciou a conclusão da investigação sobre o sinistro, e descartou qualquer hipóteses de ação criminosa. O inquérito aponta para possibilidade de o fogo ter começado em um aparelho de ar condicionado instalado no Auditório Roquete Pinto, que ficava no primeiro andar, próximo à entrada principal do palácio.

A direção do Museu Nacional emitiu nota reafirmando as conclusões do laudo divulgado em 2019 sobre a provável origem do incêndio e que já deixava claro que não houve omissão ou ação criminosa. O texto relata os esforços feitos antes do incêndio para reformar e resguardar o prédio:
“Há muitos anos, a direção do Museu Nacional/UFRJ buscava recursos para a reforma do Palácio de São Cristóvão, na Quinta da Boa Vista, bem como para a instalação de um sistema completo de segurança contra incêndios.”

Esforços

Os recursos esperados seriam alocados pelo BNDES, conforme contrato assinado em 2018 e com a previsão de início das obras ainda no segundo semestre de 2019. E, para o mesmo fim, seriam alocados R$ 20 milhões de uma emenda parlamentar obtida em 2013, valor que foi contingenciado em 2014. Segundo a nota, a instituição realizava treinamentos, vigilância, obras, reformas e captação de recursos, um trabalho árduo pela melhoria nas condições de infraestrutura do prédio, e finaliza informando que a direção segue trabalhando nos projetos de reconstrução do museu.

Tragédia

O incêndio no Museu Nacional atingiu a sede – um prédio histórico localizado na Quinta da Boa Vista, sendo destruído quase a totalidade do acervo histórico e científico construído ao longo de duzentos anos, que abrangia cerca de vinte milhões de itens catalogados. As coleções que tiveram mais perdas foram as de antropologia, etnografia, paleontologia, geologia, entomologia (insetos), aracnologia (aranhas) e malacologia (conchas), sendo que esta está tendo uma recuperação razoável no resgate.

Além do rico acervo, também o edifício histórico que abrigava o museu, antiga residência oficial dos imperadores do Brasil, foi extremamente danificado com rachaduras, desabamento de sua cobertura, além da queda de lajes internas.

Resgate

Desde o incêndio, diversos profissionais se dedicaram inteiramente ao trabalho de recuperação do acervo e reconstrução do museu. Foi montada uma equipe de resgate — coordenada pela professora e arqueóloga Cláudia Carvalho, que já foi diretora do museu — formada por técnicos, professores, pesquisadores e colaboradores. Em um ano de trabalho foram resgatadas 1.500 peças.

Eles estão realizando um importante trabalho de resgate da memória e de itens valiosos do ponto de vista histórico e científico. Dentre elas, está o crânio de Luzia, um dos mais valiosos itens do acervo. Luzia é o esqueleto humano mais antigo já encontrado no Brasil.

Outro importante achado foi o Meteorito Angra dos Reis que estava intacto nos escombros porque estava guardado dentro de um armário de ferro. Foram resgatados também objetos de cerâmica pré-colombiana e esculturas de bronze egípcias.

Reabertura

Houve um esforço da UFRJ e da direção do museu para angariar verbas para o trabalho de resgate, recuperação e restauração, tanto dos itens do acervo quanto do próprio prédio do Museu Nacional. Até março de 2020 o museu conseguiu levantar R$ 164 milhões, o que não é suficiente para toda a recuperação.

A previsão da UFRJ é que a reforma completa seja concluída somente em 2025. Por isso, a direção do museu planeja reabrir parcialmente a instituição para as comemorações do bicentenário de independência do Brasil, em 2022, quando deverá estar pronta toda a restauração das fachadas, da cobertura e dos jardins.

Para 2023 estão previstas as obras no interior do paço e no anexo do museu, com término em 2024, quando também será iniciada a museografia e a montagem da exposição, a ser finalizada em 2025.

Museu Vive

Desde o incêndio várias atividades, entre ações científicas, culturais e educacionais, têm sido realizadas pela equipe do museu, na Quinta da Boa Vista principalmente, para manter o museu vivo e pulsante como sempre foi para o público.

Já foram mostrados ao público mais de cem itens resgatados dos escombros, por exemplo. E realizados festivais com atividades variadas. Em 2019, a edição do Festival Museu Nacional Vive levou para a Quinta da Boa Vista uma série de atividades gratuitas e abertas ao público.

 

 

 

Mais de três mil homens e mulheres em situação de precarização acordam todos os dias de madrugada, nas mais diferentes localidades do Rio de Janeiro para trabalhar na UFRJ. São os trabalhadores terceirizados, que executam as tarefas mal remuneradas, como limpeza de salas e banheiros, mas que se não forem feitas a universidade não teria como funcionar.

Seus salários dificilmente ultrapassam o mínimo, mesmo assim é pago com atrasos aviltantes (às vezes chega a mais de três meses), assim como o vale-transporte e o tíquete-refeição. Na hora do almoço, é comum vê-los comendo em suas marmitas sentados num canto de calçada nos campi (ou até mesmo em um banheiro). Se adoecem, o patrão não aceita o atestado médico e o dia é descontado ou pior ainda, o empregado é demitido.

Nesse período de pandemia, a situação desses trabalhadores na instituição só piorou, segundo Associação dos Trabalhadores Terceirizados na UFRJ (Attufrj).
Robson Carvalho, elogiado pelos chefes nas unidades onde já prestou serviços, foi demitido pela empresa Araúna por sua atuação na defesa de direitos dos colegas, segundo a associação. Outros tiveram seu salário reduzido e os benefícios cortados, embora sejam garantidos por lei. A Attufrj afirma que tenta o diálogo e a intermediação com as empresas terceirizadas por meio da pró-reitoria de Governança (PR-6), sem sucesso.

No momento, as demissões em massa ocorrem no Bandejão. “A Attufrj já chamou a pró-reitoria de Gestão e Governança para intermediar algum acordo com os responsáveis pelo Bandejão, mas eles dizem que esta não é sua responsabilidade”, afirma Luciana Calixto, diretora da associação.
Outras empresas também estão fazendo cortes na Praia Vermelha, garante a dirigente.

Menos que salário mínimo

Luciana critica a mudança de gestão na PR-6 e a falta de diálogo. “A gestão da PR-6 mudou e a sua visão também. Observo atualmente uma desresponsabilização da UFRJ sobre as ações das empresas com os trabalhadores terceirizados. As coisas não deveriam funcionar assim. A universidade tem responsabilidade sim”, afirma.

Segundo Luciana, no laboratório Ladetec as carteiras de trabalho foram assinadas com salários de R$ 800,00 (menor que o mínimo). “Os terceirizados não estão recebendo vale-alimentação e a empresa diz que eles não têm direito. Várias coisas estão acontecendo e os chefes de contrato do Ladetec não fazem nenhuma denúncia para a fiscalização”, relata.

A reportagem do Sintufrj entrou em contato com a Assessoria de Imprensa da UFRJ para apurar denúncias feitas pela Associação dos Trabalhadores Terceirizados da UFRJ, muitas ligadas à Pró-Reitoria de Gestão e Governança (PR-6). Reproduzimos aqui as respostas da PR-6 e da Reitoria.

O que diz a PR-6

Por meio da assessoria de imprensa, a PR-6 respondeu, por e-mail, perguntas encaminhadas pela reportagem. Segunda a pró-reitoria, não há registro de denúncia pela Attufrj junto às Divisões da Coordenação-Geral de Contratos e na fiscalização do contrato com a empresa Araúna de perseguição ao dirigente Robson Carvalho, e se isso tivesse ocorrido aquela administração ouviria “inclusive a Procuradoria Federal da UFRJ, se necessário”. Ocorre que o fato foi denunciado até no Conselho Universitário e a reitoria se comprometeu de mandar investigar as demissões de terceirizados durante a pandemia.

Segundo a Attufrj, durante a pandemia mais de 100 trabalhadores terceirizados já foram demitidos. A PR-6 diz, no entanto, que tem se esforçado para manter a continuidade e a regularidade dos contratos administrativos e que o único contrato durante a pandemia que foi duramente atingido até o momento é o de alimentação, que atende aos restaurantes universitários. “(Essa) contratação envolve fornecimento de refeições e não contratação de postos de trabalho, como acontece com os serviços de vigilância, por exemplo. E com a redução das refeições a empresa reduziu a equipe.”

“Nos RUs, a UFRJ paga pelo número de refeições fornecidas. E a empresa emprega sua equipe em função desse fornecimento. Assim, em período de aulas, a média diária de refeições fornecidas é de oito mil. Atualmente, em face da pandemia, caiu para cerca de 800 refeições diárias. Com isso, infelizmente, a empresa reduziu 82 empregados de sua equipe de produção, para adequar-se à demanda atual”, justifica a assessoria de imprensa.

Afora as demissões no Bandejão, a PR-6 informa, através da assessoria, que “outras demissões podem ter ocorrido sem alterar significativamente o número de empregados. Vale registro que os serviços de limpeza são contratados por produção (área limpa), como preceitua a IN nº 05/2017.”
A PR-6 diz ainda que comparando-se o quadro de trabalhadores terceirizados de 2014 até agora, a Reitoria tem evitado demissões em massa em plena pandemia:

“Diferentemente do que ocorreu, por exemplo, nos anos de 2015 e 2016, quando foram desligados 1090 postos de trabalho, hoje, em plena pandemia ainda é possível, mediante um esforço planejado, organizado, estratégico e incansável da Reitoria, por meio de seus vários eixos de atuação, evitar demissões em massa e, ainda, proporcionar a ampliação nas frentes de combate à pandemia, com a contratação de profissionais da área de saúde, mediante licitação”.

Sobre a PR-6 se eximir de responsabilidade sobre as demissões efetuadas pelas empresas, a assessoria responde que por lei a UFRJ não pode interferir na gestão de pessoal das empresas. “Registre-se que, de acordo com o artigo 7º, inciso IV, do Decreto 9.507/2018, é vedada a pessoalidade e a subordinação direta dos empregados da contratada aos gestores da contratante”.

Segundo a assessoria, “quaisquer evidências que indiquem o aludido retrocesso (nas relações da Attufrj com a atual Reitoria) devem ser formalizadas e encaminhadas através dos canais de comunicação da PR-6 e da Reitoria, sem prejuízo de agendas com os responsáveis pela gestão contratual para tratar de questões pontuais ou específicas”.

Mas quanto a preocupação da Attufrj de a Reitoria estar perdendo o controle sobre os contratos e a fiscalização das empresas terceirizadas, a resposta via a assessoria é que “a acusação em questão não apresenta elementos que evidencie essa perda de controle para gerar o devido processo de apuração, visando à correção do problema e as responsabilizações, se for o caso”.

 

Sem alternativas contra a Covid-19, como a vacina ou um medicamento eficaz, a Reitoria da UFRJ anunciou que o retorno presencial completo das atividades acadêmicas não será possível em 2020. Mas para evitar a perda total do ano letivo, a Comissão de Formas Alternativas de Ensino, que é coordenada pelo vice-reitor Carlos Frederico Rocha, está fazendo o levantamento das demandas e reunindo propostas com o objetivo de preparar a universidade para retomar de maneira remota, em agosto, o calendário escolar, depois de aprovado pelo Conselho Universitário.

Um dos limitadores das atividades acadêmicas remota é a dificuldade de acesso por parte de todos os estudantes aos ambientes digitais. A exclusão digital tem sido um tema discutido exaustivamente nos colegiados superiores, e preocupa principalmente aos representantes discentes nesses órgãos de deliberação da instituição.

A palavra de ordem é “Ninguém pode ficar para trás”, posição ardorosamente defendida pelo Sintufrj nos debates acerca da questão. Para que o percentual de toda a comunidade universitária tenha acesso à internet banda larga, a reitoria distribuiu entre os três segmentos um questionário cujos resultados estão logo abaixo.

Questionário


Até o mês de maio, 23.309 estudantes (18.841 de graduação, 4.310 de pós-graduação e 158 do Colégio de Aplicação) responderam as perguntas enviadas pela Superintendência de Tecnologia de Informação e Comunicação (TIC) sobre o acesso à banda larga da internet, por meio do Sistema Integrado de Gestão Acadêmica (Siga). Responderam ao questionário 2.298 técnicos-administrativos e 3.234 docentes.

Segundo os organizadores, a pesquisa atingiu 40% dos estudantes de graduação com matrícula ativa, 30% dos estudantes de pós-graduação, três quartos dos professores e um quarto dos técnico-administrativos. Num total é de 28.841 respondentes. O que foi considerado uma amostra substantiva, apesar de ser levado em conta algum vício possível no levantamento devido a capacidade de resposta diferenciada entre extratos diferentes de cada segmento. Entre os estudantes, por exemplo, cerca de 45% estão em faixas de renda familiar abaixo de três salários mínimos. Outra preocupação é se há algum viés por ausência de internet na residência.

Resultados

– Dos 18.841 estudantes de graduação que responderam ao questionário da TIC, 17.123 (91% ) declararam ter acesso à internet.
– Aproximadamente 82% dos discentes com renda familiar de até 1,5 salário mínimo (SM) têm acesso à internet banda larga; esse percentual chega a 97% nos discentes com renda superior a 10 salários mínimos.
– Entre os estudantes de pós-graduação que responderam (4300), 4.020 tem acesso à banda larga.
– Entre os estudantes com renda familiar até 1,5 salário mínimo, 85,9% dos respondentes declararam ter acesso a smartphone; índice que sobe para 90% em faixas mais altas de renda.
– O acesso a desktop e notebook na faixa de renda de até 1,5 salário mínimo corresponde a 75%; em faixas superiores de renda, ultrapassa 90%.
– 4.281 alunos de graduação são favoráveis sem restrição a atividades didáticas remotas; 8.489 concordam parcialmente; 6.070 discordam parcialmente; 3.858 rejeitam a ideia.
– Dos 2.298 técnicos-administrativos que responderam ao questionário, 2.244 (97,7%) informaram ter internet na residência ou local onde passa a quarentena; 24 (1%) não têm acesso, 30 não responderam.

Banda larga — Apesar de quase a totalidade do corpo social da universidade respondente ter acesso à internet, o formulário buscou apurar a capacidade de acesso para assistir ou ministrar aulas on-line e acesso à internet banda larga.

“Essa resposta apresenta o primeiro problema substantivo de acesso”, conclui o estudo, que mostra que 9,1% dos discentes de graduação, 12% dos discentes de educação básica, 6,7% dos discentes de pós-graduação, 4,6% dos docentes e 8,7% dos técnicos-administrativos declararam não ter acesso à internet banda-larga em suas residências.

Equipamento –99,1% dos estudantes de graduação e 98,4% dos técnicos-administrativos responderam que têm equipamentos. Só que o estudo considera o déficit maior do que o representado, porque há diferença entre estudar num computador e num smartphone. Os números dos que têm computador são menores.

Inclusão
O edital do programa de inclusão digital para ensino remoto emergencial lançado no dia 24 de junho pela pró-reitoria de Políticas Estudantis (PR-7) prevê a oferta de até 13 mil kits internet (chip ou chip e modem, com franquia de internet móvel) a estudantes em situação de vulnerabilidade socioeconômica.

Segundo a reitoria, o auxílio é destinado a estudantes de graduação presencial e de pós-graduação stricto sensu com matrícula ativa e que tenham renda familiar per capita de até um salário mínimo e meio. Serão atendidos até 12 mil alunos de graduação e mil de pós-graduação. O auxílio terá duração de seis meses, podendo ser renovado por mais seis.

Inscrições
A inscrição, segundo o site da pró-reitoria de Assuntos Estudantis, será pelo Siga (portalaluno.ufrj.br). Para se inscrever, o usuário deve acessar a opção “Pesquisa Avaliativa” e, em seguida, a aba “Inscrição Auxílio Inclusão Digital”. A inscrição vai das 10h de 9 de julho até às 17h do dia 16 de julho. O resultado será divulgado na página da PR-7 no dia 20 e os recursos contra o resultado poderão ser apresentados entre 21 e 24 de julho. (Dúvidas: inclusaodigital@pr7.ufrj.br).

Pesquisa
Segundo o vice-reitor Carlos Frederico Rocha, a pesquisa reflete que “nós temos duas fontes de informações diferentes” e que para aprimorar a análise, os dados apurados entre abril e junho foram cruzados com informações da pesquisa socioeconômica realizada no momento de ingresso dos alunos na UFRJ. Dos 57 mil estudantes na graduação, pouco mais de 45 mil responderam a esta pesquisa e se encontram com matrículas ativas (12 mil estão com matrículas trancadas).

“Quando eu falo internet, estou falando de banda larga” diz o coordenador da Comissão de Formas Alternativas de Ensino, explicando que, segundo o questionário socioeconômico, dos 45 mil estudantes de graduação, só dois mil declararam não ter acesso à internet. “Mas se o aluno paga R$ 10 reais por três gigabytes (GB) de dados (por exemplo), isso talvez não permita nem o acesso a quatro horas de aulas”, pondera — cada hora de aula com qualidade HD (não full HD) requisita 0,7 GB. O pacote que está sendo adquirido para estudantes de graduação é de 50 GB e de 30 GB para os de pós-graduação.

Afirmaram não ter acesso a internet 1.650, Entre 1.450 com renda familiar até cinco salários mínimos disseram que não têm acesso à internet, mas deste segmento, 450 não responderam ao questionário da TIC. Os que ficaram de fora da pesquisa e não têm internet, Rocha garante que foram considerados nas estimativas para cálculo da demanda. Ainda com base no cruzamento dos dados das duas pesquisas (a sócioeconômica e a da TIC), segundo o vice-reitor, 1% não tem equipamentos.

Sem internet
“Vamos fazer o que tiver que ser feito para chegar aos que não têm internet promete o vice-reitor, que espera contar com a ajuda do DCE para isso, além de ampla divulgação pelas mídias da UFRJ. Se for necessário, ele não descarta a publicação de outro edital.

Segundo Rocha, a previsão de 13 mil kits foi feita para incluir todos os estudantes que têm perfil Pnaes (Programa Nacional de Assistência Estudantil do MEC para permanência nas universidades federais de jovens de baixa renda). Embora, segundo as pesquisas, somente cinco mil não tenha internet. No caso de equipamentos estão previstos cerca de 6 mil.

Servidores — Na licitação estão previstos dois mil chips para professores e técnico-administrativos para manutenção do trabalho remoto. A destinação será feita conforme necessidades administrativas.

 

Guia
Está previsto para a próxima semana, segundo rocha, o lançamento do guia do ensino remoto e, embora seja dirigido aos docentes com orientações gerais sobre biossegurança, estará acessível a todos os interessados. A Comissão de Formas Alternativas de Ensino também prevê treinamento para a realização das aulas remotas, mas essa parte será fechada na reunião de terça-feira, 14. Há ainda a previsão de criação de um site para auxiliar nas atividades remotas.

Rocha espera que haja grande adesão à proposta do ensino remoto. Ele mesmo já planeja oferecer uma disciplina de primeiro período. E, embora a preferência (na inscrição de alunos) seja para concluintes de cursos, ele defende tratamento igual para todos os estudantes.

Ifes juntas
De acordo com o vice-reitor, um grupo com representantes de todas as universidades federais do Rio de Janeiro tem se reunido regularmente em ambiente virtual para troca de experiências e eventuais atividades em comum. Uma das propostas prevê o treinamento para montagem de aulas remotas, que pode ser ofertado por especialistas no ensino à distância.

Outra ideia é a possibilidade das instituições buscarem áreas nas comunidades do Rio de Janeiro, como igrejas e ginásios, que seriam minimamente equipadas para que os alunos possam acompanhar as aulas, sem que tenham que se deslocar pela cidade. Isso, segundo Rocha, precisa ser uma ação colaborativa entre as universidades.