“Ciência, arte e cultura são campos que já costumam travar algum tipo de batalha contra barreiras disciplinares para poderem dialogar, mas nos últimos anos passaram também a enfrentar o cerco e o assédio, digamos, de teses obscurantistas. Tudo isso se complica mais nesse cenário de pandemia. Como avaliam esse momento, que limites ele impõe e que janelas podem abrir para pensar novas formas de diálogo entre ciência, arte e cultura na escola pública?”

Com estes questionamentos Corynto Baldez, jornalista da universidade, abriu o debate sobre o tema “Escola pública: uma articulação necessária entre ciência, arte e cultura”, que fez parte da programação do Festival do Conhecimento da UFRJ, na quinta-feira, 16. Ele com Daniel Gallo foram os mediadores da mesa, que reuniu as docentes Ana Medeiros, do Instituto de Biologia da Unicamp, e Celeia Machado, aposentada do curso de Artes Cênicas do Colégio de Aplicação da UFRJ.

Além de integrar o Festival do Conhecimento da UFRJ, o debate fez parte também da programação do Ciclo Tempos Inéditos, um projeto do Complexo de Formação de Professores, que é um espaço da estrutura média da universidade responsável por sistematizar e desenvolver iniciativas voltadas à formação inicial e continuada de profissionais da educação básica.

 Leveza 

“Essa ideia de pensar a ciência com a arte acho que é uma das grandes possibilidades de a gente conseguir trabalhar a ciência de uma maneira mais próxima das pessoas, tornando-a mais leve, pois a gente pensa a ciência como uma coisa muito séria. E a arte estabelece diálogos. Trabalhar isso dentro da escola é trabalhar o ensino de uma maneira geral, mostrando que existe toda uma interlocução da academia entre o ensino formal escolar e a vida das pessoas. Então é trazer um pouco mais de significado para o mundo; o conhecimento como uma grande ferramenta cotidiana”, refletiu Ana Medeiros.

Blogsunicamp –A professora participa de um projeto de divulgação científica que se chama Blogs de Ciência da Unicamp, criado em 2015 e que ganhou projeção fora dos muros da universidade. É o maior portal de canais de blogs científicos do mundo e reúne 151 canais. O nome nas redes é blogsunicamp.

É um coletivo de autores da universidade ou que passaram pela instituição e trabalham com a divulgação do conhecimento produzido. “A divulgação científica trabalha um pouco com essa ideia de tirar a universidade dela mesma e dialogar socialmente”, explicou Ana.

Para a pandemia foi montado um blog especial há 120 dias com novidades quase que diárias de todas as áreas de conhecimento. Inclusive tem um setor voltado para as escolas com materiais didáticos específicos da Covid-19.

Resistência

“Acho que a escola pública é a linha de frente dessa batalha. Os professores trouxeram como problematização o que é o ensino, o que é a escola, o que é o espaço escola. E a pandemia trouxe uma questão que é muito importante: a escola não é só espaço do conhecimento. Ela é um espaço também social, de merenda, de atendimento, do acolhimento deste aluno, da comunidade”, definiu Celeia.

 

“Os professores da escola pública  são uma resistência, porque eles têm denunciado o perigo que é as crianças estarem juntas na escola nesse período de pandemia e porque se recusam em dar aula presencial nesse momento, apesar da grande pressão do capital, que quer ver o aluno lá como se fosse uma grande empresa. A escola é hoje uma grande resistência contra essa política e contra o negacionismo,  e vem bravamente lutando”, acrescentou.

 

Na avaliação de Celeia, quem precisa da escola pública é a universidade e não a educação básica. A universidade precisa muito da escola para poder pensar sua licenciatura, pensar o seu conhecimento, pensar o seu lugar de saber como forma de se ampliar. Precisa conversar com os professores e escutar os alunos, disse.

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Futuro

 

Apesar de todas as adversidades e políticas contrárias empreendidas para a educação, a ciência e a cultura pelo governo Bolsonaro, Celeia Machado vislumbra um futuro esperançoso pós-pandemia. “A arte, a ciência e a cultura, o que elas vêm colocar é que o riso, a curiosidade, a alegria é que movem o mundo. O afeto e as presenças movem o mundo. E acho que é isso o que pode ficar. Uma nova escola está se reinventando para o pós-pandemia”, acredita a professora.

 

 

Na faixa etária, mais de 10 milhões de jovens abandonaram os estudos, segundo dados da PNAD Contínua 2019, do IBGE

Matéria retirada do site da Carta Capital.

Mais de dez milhões de jovens de 14 a 29 anos não completaram alguma das etapas da educação básica, seja por  abandono da escola, seja por nunca a terem frequentado.

Isso representa 20,2% das 50 milhões de pessoas na faixa etária. Desse total, 71,7% eram pretos ou pardos.

Os dados são da PNAD Contínua 2019, divulgado nesta quarta-feira 15, pelo IBGE. Pela primeira vez, a pesquisa divulga dados sobre abandono escolar.

A pesquisa evidenciou que o abandono escolar se acentua na fase de transição entre o Ensino Fundamental e o Ensino Médio, situação exposta pelo maior índice de abandono de acordo com a faixa etária relativa às etapas escolares.

Aos 14 anos, o percentual de estudantes fora da escola foi de 8,1%; aos 15 anos, de 14,1%, quase o dobro. O número é ainda maior a partir dos 16 anos, chegando a 18,0% aos 19 anos ou mais.

O estudo ainda identificou as principais razões para a evasão escolar. A necessidade de trabalhar aparece em primeiro lugar, com 39,1%. Depois vem a falta de interesse 29,2%. Entre as mulheres, destaca-se ainda gravidez (23,8%) e afazeres domésticos (11,5%).

O atraso ou abandono escolar atingia 12,5% dos adolescentes de 11 a 14 anos e 28,6% das pessoas de 15 a 17 anos. Entre os jovens de 18 a 24 anos, quase 75% estavam atrasados ou abandonaram os estudos, sendo que 11,0% estavam atrasados e 63,5% não frequentavam escola e não tinham concluído o ensino obrigatório.

Por outro lado, a taxa de frequência líquida das pessoas de 15 a 17 anos cresceu 2,1 p.p em relação a 2018, com mais de 70% dessa faixa etária na etapa escolar adequada.

Entre as pessoas de 15 a 17 anos de idade, ou seja, em idade escolar obrigatória, 78,8% se dedicavam exclusivamente ao estudo.

No entanto, considerando as 46,9 milhões de pessoas de 15 a 29 anos de idade, 22,1% não trabalhavam, não estudavam, nem se qualificavam, sendo que entre as mulheres esse percentual foi de 27,5% e entre pessoas pretas e pardas, 25,3%.

A pesquisa ainda mapeou o número de pessoas com 25 anos ou mais que não concluíram o Ensino Médio no País. Apesar da proporção de pessoas que concluíram a etapa da Educação Básica ter crescido – passando de 45,0% em 2016 para 47,4% em 2018 e 48,8% em 2019 -,  mais de 69 milhões (51,2%) dos adultos não concluíram essa etapa educacional.

No Nordeste, três em cada cinco adultos (60,1%) não completaram o ensino médio. Entre as pessoas de cor branca, 57,0% tinham concluído esse nível no país, enquanto essa proporção foi de 41,8% entre pretos ou pardos.

 

 

 

“A gente não discute racismo numa universidade totalmente branca. Mas, hoje, quando vou à UFRJ dar palestras vejo uma universidade preta. Mesmo por cotas, fico hiper feliz”, disse Vilma Piedade,  professora, escritora e colunista do Canal Pensar Africanamente e do Coletivo Putaria, uma das palestrantes de quinta-feira, 16, da mesa “Dororidade: feminismo, racismo e branquitude”, no terceiro dia do Festival do Conhecimento da UFRJ.

Ex-aluna da instituição, quando entrou em 1974 para cursar Letras — “um privilégio porque era preta, da classe média e filha única” –, ela saudou emocionada o evento: “Estou feliz pelos 100 anos da Universidade Federal do Rio de Janeiro viva e de excelência”, e acrescentou: “Precisamos ocupar a academia, sim, porque ela também é nossa”. Na apresentação da palestrante, Annyelly Nascimento destacou que Vilma é uma “intelectual que abrilhanta a cena literária nacional e internacional”.

Dororidade e Sororidade

“O conceito de dororidade não se contrapõe ao de sororidade, que  apresenta a ideia de irmandade. “Sororidade é um conceito que ancora o feminismo desde o surgimento. Dororidade veio dialogar com sororidade, um conceito não anula outro. Para mim, dororidade nasce da minha inquietude em relação à sororidade para contemplar as mulheres negras. Crio primeiro o vocábulo e queria saber o que é isso. O que acontece com a gente quando 56% da população brasileira é negra, mas a outra parte, 54%, fica com o dobro de oportunidades? Dororidade surge frente a sororidade não dar conta da nossa pretitude. Estou inaugurando o conceito”, constatou Rute Costa, professora do curso de Nutrição da UFRJ – Macaé, coordenadora do Núcleo de Estudos Afro-brasileiro e Indígena e vice-coordenadora de Extensão daquele campus, palestrante e mediadora do debate.

Vilma é autora do livro “Dororidade”, publicado em 2018, portanto, foi ela a criadora desse novo conceito feminista, cuja centralidade está na luta antirracista. Segundo Rute, um novo e ampliado olhar para o feminismo a partir desta centralidade. “Dororidade carrega no seu significado a dor provocada em todas as mulheres pelo machismo. Mas nós, mulheres pretas, temos a dor provocada pelo racismo”, completa a escritora.

Dororidade, segundo Vilma, refere-se também a transformar a dor em potência: “é o que estamos fazendo, que é o que você faz na universidade. É isso o que eu faço, o que a juventude está fazendo, o que está acontecendo nesta academia, Nós vencemos. Quando transformamos a dor em potência é porque rompemos com o determinismo histórico que nos colocava na cozinha, por exemplo. Continuamos”.

“Somos silenciadas pela história pelo racismo, pelo sexismo. São 132 anos de abolição entre aspas e a gente luta por equidade. Nessa luta pós-abolição ainda temos os piores índices sociais, culturais e ambientais”, disse Vilma, que citou dados do IBGE de 2019: 13 milhões e meio vivem abaixo da linha de pobreza. Desses, 75% são negros. “Isso não é por acaso”, frisou.

Mais desigualdades

No Brasil, chama atenção Vilma, há outras situações e lugares ruins, como por exemplo, na pirâmide do emprego, em que mulheres negras estão com menores salários. “E ainda se diz que o Brasil não se considera um país racista. Não há racismo, mas nós sofremos racismo a toda hora, no cotidiano. Quando a gente diz vidas negras importam, quando vemos o episódio macabro do George Floyd (afro-americano morto sufocado em maio por policial branco nos Estados Unidos), e em São Paulo uma senhora negra com uma bota no pescoço, a gente tem dificuldade de respirar. Mas temos dificuldade de respirar há muito séculos, só que agora a coisa está mais escancarada”, afirmou, acrescentando que “não basta não ser racista, é necessário fazer a luta antirracista”.

A escrita, disse a escritora, também traz a marca das aberrações que o racismo imprime até hoje. O racismo se expressa também no arcabouço linguístico. No léxico, lembra ela, a palavra preto ainda é descrita como escravo liberto, apontando todo conceito que trazem outras expressões como mercado negro, situação preta. E cita sinônimos de preto como encardido, ladino, infeliz, enquanto ao conceito de branco é associado o de alegre, feliz. “Nossa língua é do colonizador”, constatou.

Ela lembrou autoras negras premiadas para demonstrar que publicar é um ato político e a produção que está surgindo é o que de mais importante há atualmente. “Nunca ocupamos tanto espaço de poder como agora, principalmente na literatura”, citando autores negros importantes no cenário nacional. “Quando somos sujeito da história, deixamos de ser objetos de estudo para ocupar estes espaços (fala se referindo a academia), como professora universitária no mestrado”, observou.

Um compromisso

Para ela, o antirracismo deve ser um compromisso de toda sociedade, lembrando que depois da morte de Floyd, muitos artistas estão abrindo espaço para essa luta. “Porque a branquitude precisa ouvir, se colocar como aliada, a gente tem que ter brancos aliado nessa luta”,  apontando que a educação é da maior importância para a desconstrução do racismo.

Dor e potência

“A gente tem que resistir e transformar a dor em potência, se virar e dizer: conseguimos! Você está dentro da universidade! Este Festival do Conhecimento da UFRJ é uma honra para mim. Eu consegui e me orgulho de ter estado na federal, de transformar. Não quero que seja só um privilégio, que as cotas ampliem e seja para essa juventude toda. A gente tem que resistir no transformar dor em potência!”, concluiu.

Vilma apresentou o vídeoclip com o Rap “Dororidade” (no Youtube https://youtu.be/fmJAWeXIhDUdo) do projeto #AfroGrafiteiras, da rede NAMI (rede de mulheres que usa artes para promover direitos), de formação em arte urbana com foco na expressão e promoção do protagonismo de mulheres afro-brasileiras. Mostrou Também imagens do lançamento do Mural Dororidade, da artista Panmela Castro, exposto na Rua do Lavradio, quando a Lei Maria da Penha completou oito anos.

A música e vídeo são uma homenagem a todas às mulheres brasileiras e onde a dor do racismo e machismo é transformada em luta e força. “Somos irmãs por dores, por perdas, somos irmãs de ideais, somos AfroGrafiteiras”, diz o verso. O painel com o mesmo nome (seu lançamento está no documentário Somos um só, exibido na Netflix), mostra a imagem de duas mulheres unidas pelos cabelos, ou seja, pelas ideias. A composição, explicou Vilma, não fala só sobre a dor, mas como esta se transforma em potência.

 

 

A necessidade de o trabalho remoto no serviço público ser regulamentado para que não haja perda de direitos deu o tom do debate que marcou o início da participação do Sintufrj no Festival do Conhecimento na UFRJ.

O assunto também foi abordado  numa perspectiva estratégica como nova engenharia capitalista de apropriação e precarização da força de trabalho.

A questão está na ordem do dia das preocupações dos trabalhadores da universidade na qual servidores, técnico-administrativos e docentes, enfrentaram batalha recente para neutralizar instrução normativa do governo Bolsonaro que subtrai direitos e benefícios.

A mesa reuniu a coordenadora-geral do Sindicato, Neuza Luzia, a técnica em assuntos educacionais Ana Maria Ribeiro e o ex-pró-reitor de Pessoal, Roberto Gambine (os dois já foram dirigentes do sindicato).

Joana de Angelis, coordenadora de Educação do Sintufrj, apresentou o tema “Trabalho Remoto: balanço e perspectiva” e mediou o debate que ofereceu um aprofundamento incomum sobre as variáveis que envolvem o exercício de atividades nesta nova forma que foi acelerada com a crise sanitária.

Protagonismo

“A gente precisa envolver a categoria nessa discussão”, disse Neuza Luzia. “O trabalho remoto já é desenvolvido em muitas empresas e está regulamentado no setor privado como opcional”, informou Ana Maria Ribeiro. “Eu proponho uma reflexão profunda: quais são os limites do trabalho remoto, do uso pelo trabalhador do seu próprio equipamento, a relação com as chefias”, disse Roberto Gambine.

O Sintufrj, garantiu Neuza Luzia, está colocando a discussão do trabalho remoto na ordem do dia. “A categoria precisa acordar e se juntar  com essa perspectiva. Eu já estou aqui e isso não vai me atingir é uma visão errada. Tudo é novo e pela diversidade do fazer da categoria, se faz necessário que os técnico-administrativos se informem, se organizem e construam suas propostas de forma unitária, sem abandonar os fundamentos da carreira. Devemos ser protagonistas desse processo e cabe a nós, sindicalistas, associar essa discussão ao movimento sindical, fazer um link”, afirmou a coordenadora.

Questionamentos

Roberto Gambine que é atualmente um dos representantes da categoria no Conselho Universitário, expôs vários questionamentos sobre a imposição do trabalho remoto para os técnicos-administrativos pelo menos durante o período da crise sanitária no país.

“Precisamos começar a tratar destas questões relacionadas aos direitos trabalhistas e aos limites do trabalho remoto, já. Tem que ser objeto de preocupação imediata dos docentes e dos técnicos-administrativos. Em que dimensão se dará o trabalho remoto? Em que limite? Poderemos combinar trabalho presencial com trabalho remoto? Teremos a mesma jornada em trabalho remoto que temos presencialmente?”, questionou Gambine.

“Ao fazer um pacto de funcionamento, quais serão as contrapartidas trabalhistas de servidores docentes e técnico-administrativos para que possam realizar suas atividades em suas residências ou afastados de seu local de trabalho? Quais os limites das relações com os dirigentes para não haver um processo incontrolável de subordinação ao trabalho remoto?”, concluiu ele a lista de perguntas ainda sem respostas.

Quantidade x qualidade

Ana Maria, que já foi coordenadora do Sintufrj e atualmente faz doutorado em Ciência da Informação, alertou que é preciso estar atento com a forma com que o governo estabelecerá a normatização do trabalho remoto, já que este tem como política a imposição às universidades de instruções normativas e comunicados, ignorando e passando por cima das leis existentes.

“Está se planejando uma instrução normativa para determinar como será o trabalho remoto no serviço público. O Ministério da Economia está se espelhando numa prática já realizada pela Controladoria Geral da União (CGU)”, disse.

Ela ilustrou sua participação no debate apresentando parte do estudo que está realizando no doutorado sobre o trabalho informacional. O objetivo foi facilitar o entendimento das pessoas sobre os problemas que acompanham o trabalho remoto para quem utilizar seu próprio equipamento ou manipular dados sigilosos fora do ambiente universitário. “Meu computador pode ser objeto de auditoria”, exemplificou.

“O trabalho remoto traz outro tipo de visão. É a produtividade quantificada em detrimento da qualificada. O que vai importar é a quantidade”, acredita.

Segundo Ana Maria, não há acúmulo no serviço público sobre a mudança do papel do trabalhador e a precarização do trabalho, o que reforça a necessidade de a categoria ser convocada e estimulada a mergulhar nesse debate.

“Há uma mudança no papel do trabalhador e que está levando à precarização. Hoje é uma das discussões mais importantes da sociedade em nível internacional. O mundo todo está vivendo essa pressão, que é levar a população ao subemprego. À precarização completa. E essa discussão não tem acúmulo no serviço público. E a gente precisa responder a isso”, finalizou.

Mesas do Sintufrj

O Sintufrj organizou mais três mesas de debates para o Festival do Conhecimento.  Confira:

▪️”Novos atores na cena universitária” – dia 17 (sexta-feira), das 11h30 às 13h30.

▪️”Saúde mental do trabalhador(a) na pandemia” – dia 22 (quarta-feira), das 17h às 19h.

▪️”Recortes raciais da sociedade em debate” – dia 24 (sexta-feira), das 17h às 19h.

Aplausos

A iniciativa e o trabalho em equipe da pró-reitoria de Extensão na proposta e organização do evento, que está sendo um sucesso de público ouvinte e de participações, foi muito elogiada pelos três debatedores da mesa do Sintufrj, como também a atuação eficiente dos tradutores de libra Laisa e Marcos, e o profissional do Departamento de Comunicação Sindical do Sintufrj (Decos), Jamil Malafaia, que colaborou para a transmissão do debate nas redes sociais.

 

Sindicato faz alerta

Durante a transmissão do debate, alguns técnicos-administrativos se  manifestaram informando ao Sintufrj que após a divulgação do  calendário de início das aulas remotas, chefias de algumas unidades estariam pressionando para que retornassem ao trabalho presencial. A orientação da direção sindical é a seguinte: Quem estiver sofrendo qualquer tipo de pressão deve informar imediatamente ao Sindicato, e também deve procurar a entidade para esclarecer dúvidas. 

“Estamos nos orientando pela resolução do Conselho Universitário e pelo GT Covid da UFRJ, que determina que não é para realizar trabalho presencial na universidade. Vamos fazer todas as movimentações necessárias para mostrar que precisamos ser coerentes. O que a UFRJ diz para a sociedade deve aplicar aqui dentro também”, explicou Neuza Luzia, coordenadora-geral do Sintufrj.

 

 

 

A união de unidades, do corpo social e de instituições permitiu que a UFRJ se destacasse no enfrentamento à Covid-19 e também na construção de um legado de avanços na ciência, além da tão almejada integração de saberes em resposta às demandas da sociedade. Foram essas conclusões que ficaram evidentes na palestra dos pesquisadores e dirigentes, no segundo dia de atividades do Festival do Conhecimento.

“A pandemia serviu de lição, inclusive que a união faz a força. A UFRJ mostrou o quanto pode ser diferenciada, o quanto esta universidade pode ser exemplo. Em nenhum momento vi esta universidade tão unida. Este é o exemplo que deve ficar daqui para frente”, destacou Renata Alvim, professora da Faculdade de Farmácia e pesquisadora da Coppe. “A pandemia serviu de lição para muita coisa; inclusive que a união faz a força”, completou Marcos Freire, diretor do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho.

Testes

Amilcar Tanuri, professor do Departamento de Genética e chefe do Laboratório de Virologia Molecular do Instituto de Biologia, e integrante do Grupo de Trabalho da Covid-19 na UFRJ, ressaltou a importância dos milhares de testes realizados pela universidade desde o início da pandemia para as pesquisas sobre a Covid-19. No primeiro momento a testagem foi feita nos profissionais de saúde da UFRJ e nos de fora da universidade e em pacientes do Hospital Universitário. Trabalho que contou, segundo ele, com 80 voluntários. Eles explicou os métodos utilizados e sobre os estudos em andamento para saber se o vírus permanece após a doença (estudo da Inglaterra indica que não) e se quem adoeceu uma vez fica suscetível ou não ao novo coronavírus. 

Ele defendeu a continuidade do trabalho no laboratório, inclusive para servir de base para a retomada de atividades presenciais na UFRJ com segurança.

15 mil atendidos 

Terezinha Marta Castanheiras, professora e chefe do Departamento de Doenças Infecto Parasitárias da Faculdade de Medicina também está à frente da pesquisa sobre o vírus, a partir dos testes realizados no Centro de Triagem e Diagnóstico para a Covid- 19, e faz parte do GT Coronavírus da UFRJ. A parceria entre a Faculdade de Medicina, onde é professora e chefe do Departamento de Doenças Infecto parasitárias, e o Laboratório de Virologia Molecular ocorre desde o início da pandemia no país, contou. Os testes são realizados nas pessoas (incluindo estudantes e todos os trabalhadores da UFRJ) em salas no bloco N do Centro de Ciências da Saúde. 

Segundo a professora, não teria sido possível dar conta do trabalho se não fosse à adesão maciça principalmente de estudantes. E graças a eles foram realizados até agora mais de 15 mil testes.

“O mais significativo de toda esta experiência é que de fato houve uma integração muito valiosa. Pode-se dizer que realmente foi muito produtivo. Nós entendemos que conseguimos criar dentro do bloco N um espaço para diagnóstico com a perspectiva de dar elementos para pesquisa com a possibilidade de respostas concretas a tantas perguntas ainda em abertas, seja da esfera virológica como imunológica”, disse Teresinha. Ela reivindicou que a grande rede que se criou continue viva na UFRJ e propôs que o bloco N passe a se chamar Pavilhão Carlos Chagas com a continuidade do centro de triagem.

Proteina S

A pesquisa sobre uma proteína que compõe o novo coronavírus para checar a novos testes sobre a Covid-19, que está sendo desenvolvida pelo Laboratório de Engenharia de Cultivos Celulares (LECC) da Coppe, sob a coordenação da professora Leda Castilho, foi explicada ao público por Renata Alvim. Segundo a pesquisadora, a equipe está produzindo e purificando a proteína S (inicial da palavra spike, espícula, em português) e esse trabalho integra a rede de ações emergenciais no combate aos efeitos da Covid-19, coordenada por Amilcar Tanuri.  

A proposta é aumentar a escala de produção do laboratório para atender a demanda. A meta da equipe é chegar a uma produção de proteína S suficiente para a fabricação de cerca de cinco milhões de testes por mês. A pesquisadora apontou outras aplicações da proteína S, como em estudos desenvolvidos em conjunto com o Instituto Vital Brazil para criação de um soro hiperimune, como os usados contra a raiva a partir do plasma de cavalos.

Hospital Universitário 

Marcos Freire, diretor do HUCFF fez um balanço das mudanças ocorridas na unidade para o atendimento dos pacientes com a Covid-19, com recursos de doações do Movimento União Rio e de outras instituições da sociedade civil e da Pró-Reitoria de Gestão e Governança. Ele citou a abertura de novos 60 leitos de CTI, obras no 9 º andar, reformas e aquisição de equipamentos, além de compra de equipamentos de proteção individual e pagamento de profissionais contratados. 

O diretor agradeceu o empenho dos profissionais da unidade para o sucesso das ações neste período crítico. Freire acredita que o hospital talvez tenha sido a  unidade de saúde que mais se preparou para a pandemia, não apenas com as obras e abertura de leitos, mas com equipamentos de proteção e até com projetos inovadores, como a constante comunicação com familiares, contando com a participação de alunos, e as visitas virtuais aos pacientes através de tablets. E adiantou que estão em andamento a instalação do circuito interno e a reforma de ambulatórios.

 

 

A voz rascante da mulher e artista do milênio, acompanhada do músico J P Silva, Elza Soares foi a grande atração musical do Festival do Conhecimento da UFRJ, na terça-feira, 14. “Universidade vive” é um evento organizado pela Pró-Reitoria de Extensão em comemoração ao centenário da instituição, as atividades gravadas e ao vivo acontecem até o dia 24 de julho. Veja a programação completa pelo site festivaldoconhecimento.ufrj.br.

O show “100 anos de UFRJ, 90 anos de Elza teve duração de 50 minutos e 5,7 mil visualizações. Em 1999, Elza foi eleita a “melhor cantora do milênio” pela BBC, sendo descrita como “uma mistura de Tina Turner e Celia Cruz” pela Time Out . Essa ilustre, vibrante, talentosa e militante brasileira é sobrevivente da pobreza, da fome e do racismo, aniversaria na sexta-feira, 23.

Nascida em 1937 na favela Maria Bonita, no Rio de Janeiro, a filha de um operário e de uma lavadeira precisou aprender desde cedo a sobreviver: aos 12 anos foi obrigada pelo pai a casar, aos 13, teve seu primeiro filho e, aos 15, viu o segundo falecer.

Ao longo da vida, gerou nove filhos, mas cinco faleceram – sendo três de fome. Aos 20 anos, Elza conciliava sua vida de cantora com outras profissões, como encaixotadora e conferente. Aos 21 ficou viúva de seu primeiro marido e aos 32 conheceu o segundo, o astro do futebol Garrincha.

Nesse momento, já reconhecida como um dos nomes do samba brasileiro, a cantora sofreu com os holofotes: foi chamada de “vadia” pelo país, ao se envolver com o jogador, que largou a esposa para se casar com Elza. Era xingada de “bruxa” pelos amigos do marido, que não aceitavam sua relutância em deixá-lo beber (tentando protegê-lo de seu alcoolismo). Em 1969 precisou lidar com a morte da mãe, Rosária Maria Gomes, em um acidente de carro provocado pela embriaguez de Garrincha.

Hoje, com 60 anos de carreira, a cantora continua surpreendendo. Em 2015 , aos 79 anos, lançou seu primeiro álbum com músicas inéditas, o A Mulher do Fim do Mundo. O disco, que discute racismo, machismo e feminicídio, ganhou no ano passado o Grammy Latino de melhor álbum de Música Popular Brasileira; ocupou a décima colocação na lista do editor de artes Jon Pareles, do jornal The New York Times e ficou entre os 50 melhores discos da lista do Pitchfork, um site independente de crítica musical. Por conta desse trabalho, Elza Soares foi eleita personalidade Cultural de 2016 nos Prêmios Bravo!

Elza gravou o primeiro clipe da carreira somente em 2017, que atingiu a marca de milhão de visualizações no YouTube há dois dias.

 

 

Declaração foi feita no Festival do Conhecimento na mesa que também reuniu outro ex-ministro da Educação, o professor Renato Janine Ribeiro. Professora e ativista do movimento negro, Giovana Xavier, e o vice-reitor Carlos Frederico Rocha participaram do debate mediado pela pró-reitora de Extensão, Ivana Bentes.

O ex-ministro da Educação Fernando Haddad (de 2005 a 2007 nos governos Lula e Dilma Roussef) disse na UFRJ que o governo Bolsonaro cai pelas tabelas na área da educação”. Segundo Haddad, que disputou o segundo turno das eleições presidenciais pelo PT contra Bolsonaro, o atual presidente não tem projeto para a rede de ensino “a não ser o desmonte”.

Fernando Haddad elogiou a rede de educação superior no país.“Temos muitas razões para nos orgulharmos (da educação superior). Na América Latina, o Brasil é o principal produtor do conhecimento. Nós conseguimos nesse século mostrar o talento da nossa gente. Um talento

reconhecido internacionalmente, inclusive, diante das ameaças do governo Bolsonaro, que não foram poucas. A comunidade científica internacional se mobilizou em defesa da ciência brasileira e isso não é pouca coisa”, disse.

 

Avanços

 

Ex- ministro da Educação fez um histórico do surgimento da educação superior no Brasil até a criação da UFRJ, e destacou a coragem de seus gestores em apostar na expansão de vagas e instituir políticas de inclusão e ações afirmativas.

Ele citou os investimentos feitos no setor pelos mandatos petistas, a excelência da educação superior, a produção do conhecimento e a pesquisa, que, segundo ele, vêm sofrendo revés desde o governo Temer e que se exacerbou com o governo Bolsonaro.

 

“Cumprimento a resistência universitária em relação a tudo o que vem sofrendo. Já estamos no quarto ministro da Educação de um governo fracassado nessa área. Isso significa dizer que a universidade está firme e forte com seus propósitos, enquanto o governo cai pelas tabelas na área da educação porque não tem projeto para a rede de ensino, a não ser o seu desmonte”, finalizou Haddad.

Desafio 

O professor de filosofia da Universidade de São Paulo, ministro da Educação entre abril e setembro de 2015, Renato Janine Ribeiro, lançou questionamentos. Para ele, que é também cientista político, a universidade tem de estar à frente no processo de mudanças que serão necessárias num cenário pós-pandemia. “A ciência, o conhecimento, a pesquisa é que nos ajudarão. As humanidades, chamando para a questão dos valores. Penso que a universidade deve liderar a mudança. Estamos vivendo uma situação com um governo contrário ao conhecimento e que nos prejudica, mas nós temos o futuro. Trazemos a semente para o futuro. Temos o conhecimento que pode proporcionar as mudanças”, refletiu.

Racismo na academia

 

Giovana Xavier que além de professora é uma ativista que direciona seus  estudos ao aprofundamento do combate às desigualdades raciais, apontou a existência de racismo dentro da academia. Ela afirmou que há negros na história da UFRJ, como o escritor Lima Barreto e a historiadora Beatriz Nascimento, mas eles não tiveram o devido reconhecimento da instituição.

 

Giovana chamou a atenção para o que classifica de pandemia racial. Aquela que atinge a população pobre e negra. “Que a UFRJ, que é uma referência no controle da Covid-19, dê mais atenção à pandemia racial. Dados da Fiocruz comprovam que 57% das mortes no país estão na população negra”, propôs.

 

O vice-reitor da UFRJ, Carlos Frederico Rocha, disse que obteve mais clareza sobre a pandemia no aspecto racial com a colocação de Giovana. “Devemos ter um olhar melhor sobre essa pandemia”, acrescentou.

E fez um relatou sobre os preparativos da universidade para iniciar o ensino remoto durante a Covid-19: “E um grande desafio, porque  envolve a inclusão social e digital de seus alunos. Além disso, a pandemia trouxe ensinamentos que devem ser aproveitados para a pós-pandemia”, concluiu.

 

 

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“Os desafios das universidades federais” foi o tema da primeira mesa do Festival do Conhecimento, evento que celebra o centenário da instituição que começou nesta terça-feira, 14, e seguirá 24 de julho. Participaram o presidente e o vice-presidente da Associação Nacional dos Dirigentes das Ifes (Andifes), João Carlos Salles e Edward Madureira Brasil, respectivamente.

O Teatro Municipal do Rio de Janeiro foi o palco da abertura, pela reitora Denise Pires de Carvalho e o vice-reitor Carlos Frederico Leão Rocha. Mas, as cadeiras vazias não tiraram o brilho do festival que, em virtude da pandemia, tornou-se virtual, numa demonstração inequívoca de que a instituição continua produzindo e transmitindo conhecimento, cujo slogan do evento faz jus: “Universidade viva”.  

Resistência 

Os desafios das universidades públicas federais no Brasil foi o centro do debate na mesa de abertura das atividades programadas para o festival. “A UFRJ segue com suas atividades em ambiente remoto, porque fomos capazes de nos reinventar e estamos hoje brindando a produção e a geração do conhecimento que acontece nas nossas universidades públicas no Brasil. Mais de 95% da produção intelectual do país é produzida nos laboratórios, nas salas de aula, nos escritórios das nossas universidades. Estão todos de parabéns. E essa casa de quem produz conhecimento não há nada que possa nos tolher, impedir a liberdade de pensamento e de ação. Lutaremos sempre e defendermos as instituições públicas que são a casa do saber”, acrescentou a reitora.

O presidente da Andifes, João João Carlos Salles, afirmou: “Enfrentamos o absurdo extremo do obscurantismo, negacionistas, manifestações tão extremas de autoridades que vemos estimular o descontrole de uma pandemia como está até esquecemos que a crise na universidade é anterior, e tem dimensões mais antigas. A universidade está em perigo já há algum tempo”. 

Segundo o reitor da UFBA, a universidade não é apenas um lugar de produção de conhecimento, mas também um espaço de solidariedade e por isso incomoda num contexto obscurantista e de práticas autoritárias. “A universidade tem histórico de luta por liberdade democrática, contra a ditadura militar. Logo, é uma instituição que incomoda quem quer atacar a democracia, o estado democrático de direito”.  

Na avaliação de Salles, independente de reagir a ataques de diretores e ministros, reitores e estudantes têm desafios ainda maiores, que é fazer com que mais pessoas interajam na vida da universidade, compondo seus quadros. “Uma universidade é enriquecida quando se enegrece, quando tem o talento de sua gente bem acolhido, quando pessoas em condições niveladas têm os recursos para mostrar seu talento e podem, assim, enfrentar ameaças extremas, orçamentárias e políticas”, disse.  

O vice-presidente da Andifes, Edward Madureira Brasil, lembrou que atualmente o sistema federal de ensino conta com 69 universidades, mas até bem pouco tempo eram cerca de 30. Esse aumento ocorreu, disse, graças às políticas públicas que capilarizaram por todo país. “Não é mais privilégio de determinadas cidades ou estados. Chega ao Brasil inteiro”. “Peguei (entre 2006 e 2013) um momento em que a universidade pode sonhar de fato. Pode se projetar, se expandir e dar vazão ao seu projeto de se interiorizar. A universidade, naquela época, mais que dobrou de tamanho, fruto de políticas de expansão. Um momento em que olhavam para a gente com mais generosidade”,  observou o reitor da UFG, se referindo aos ataques atuais às instituições de ensino federais, que ele considera que se intensificaram a partir de 2019. 

Brasil lembrou que, em 2003, a Andifes entregou ao então presidente Lula o projeto de expansão do sistema federal que se materializou no Projeto de Reestruturação de Expansão das Universidades Públicas Brasileiras, com a criação de campus e interiorização da universidade. “Hoje temos mais de 300 campi espalhados pelo país”, contabilizou. 

“Eu diria que talvez o maior desafio com o qual a gente convive é o de  fazer valer aquilo que o artigo 207 da Constituição traz, ou seja autonomia universitária. E que neste momento é atacada a todo momento por agentes públicos da mais diferentes instituições”, apontou, referindo-se às instruções normativas e medidas provisórias com as quais o governo tenta intervir nas universidades. 

Ele concluiu sua participação no debate ressaltando que cabe à sociedade ser a avalizadora da universidade na certidão da autonomia. “Se temos uma meta a perseguir é a conquista de mais autonomia, se apoiando na importância do papel da universidade, como agora, na pandemia e quando especialistas da universidade são chamados a opinar em questões complexas. A palavra serena da ciência contra o negacionista, contra tudo que temos visto de tão ruim na nossa sociedade”.

Evento 

O evento prossegue nos próximos dias com a sua proposta de promover uma profunda reflexão sobre os desafios que as universidades federais, notadamente a UFRJ, têm pela frente, e não apenas por conta da pandemia do novo coronavírus, mas por conta dos tremendos retrocessos que a sociedade enfrenta neste momento. Estão previstas mais de duas mil atividades gravadas e ao vivo,  num festival que se propõe a ser plural, e contando com mais de 16 mil inscrições de ouvintes, entre alunos, professores, técnicos administrativos e trabalhadores terceirizados e do público em geral.  

 

 

CUT e movimentos sociais entregaram documento a parlamentares da oposição que o encaminharão à mesa diretora da Câmara. Próximo passo, diz Sérgio Nobre, presidente da CUT, é mobilizar sociedade pelo impeachment.

Matéria retirada do site da CUT. 

O pedido de impeachment de Jair Bolsonaro (ex-PSL), assinado pela CUT, Movimento dos Trabalhadores e Trabalhadoras sem Terra (MST) e União Nacional dos Estudantes (UNE) e mais de mil organizações da sociedade civil, foi entregue nesta terça-feira (14) a parlamentares da bancada de oposição, em Brasília. Os deputados vão protocolar o documento no Congresso Nacional.

Durante o ato simbólico em frente ao Congresso Nacional que marcou a entrega do documento, o presidente da CUT, Sérgio Nobre, afirmou que as entidades não têm a ilusão de que o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), dê andamento ao pedido de impeachment. Maia já havia anunciado publicamente que “impeachment se dá por clamor popular”, lembrou Sérgio que explicou que o pedido é apenas o primeiro passo da campanha “fora, Bolsonaro”.

“Não temos ilusão de que eles vão aprovar o pedido se não tiver pressão popular. O passo mais importante vem agora e é mobilização com o povo brasileiro pedindo nas ruas para que o Brasil volte a ter esperança e volte a crescer”, disse Sérgio Nobre.

“Os crimes de responsabilidade [cometidos por Bolsonaro] são inúmeros e o maior deles, que estamos apontamos desde o início da pandemia, é que se o governo não tomasse medidas de proteger a vida, teríamos um genocídio, o que está se confirmando hoje”, disse o presidente da CUT reafirmando os motivos do pedido de impeachment e ressaltando que o Brasil já tem mais de 73 mil mortos pela Covid-19.

“Se Bolsonaro não for impedido, vai haver uma crise social sem precedentes no Brasil. É condição para a classe trabalhadora o ‘fora Bolsonaro’”, disse Sérgio, se referindo não só à crise sanitária, mas também à crise econômica que o Brasil enfrenta.

Um Brasil diferente, com geração de emprego não dá com Bolsonaro no governo

– Sérgio Nobre
Os deputados federais Erika Kokay (PT-DF), Natália Bonavides (PT-RN), Paulo Pimenta (PT-RS) e Carlos Zarattini (PT-SP) receberam o documento entregue pelas lideranças dos movimentos e se comprometeram a entregá-lo à mesa diretora da Câmara.

“Vamos encaminhar o documento e lutar para que, dentro do Congresso, o pedido siga em frente, seja analisado, que Maia abra o processo, e para isso, precisamos de mobilização popular contra esse genocida entreguista que quer acabar com o povo brasileiro”, afirmou Zarattini.

A deputada Erika Kokay reforçou o empenho dos deputados para que o pedido tramite na Câmara. “É um pedido para que o país possa apurar os crimes desse [Bolsonaro], que estufa o peito do fascismo para se perpetuar no poder e só se preocupa em dominar o Estado brasileiro, colocando-o a serviço de seus interesses”.

Bolsonaro tem que tirar o joelho do pescoço do Estado brasileiro

– Erika Kokay
O deputado Paulo Pimenta também apontou a necessidade de mobilização para que o processo de impeachment vá em frente na Câmara.

“Não existe outro caminho que não seja da luta, da organização e da resistência popular para derrotar esse governo genocida e criminoso de Bolsonaro e da gangue de milicianos que tomaram de assalto o país”, disse o deputado.

A deputada Natália Bonavides reforçou que “nesses momentos é que o povo brasileiro dispensa suas maiores energias em defesa da democracia”.

 

Ato que deu exemplo

O gramado da Esplanada dos Ministérios não foi tomado pela militância de forma a causar aglomerações, mas teve a presença de representantes dos vários movimentos que apoiam e assinam o pedido de impeachment de Bolsonaro.

Sérgio Nobre, presidente da CUT, afirmou que o objetivo do ato era ser simbólico para respeitar as recomendações de autoridades médicas e sanitárias de isolamento e distanciamento social para evitar a propagação e contágio pelo novo coronavírus.

Para a Secretária-Geral da CUT, Carmen Foro, o ato mostrou que mais uma vez a CUT e os movimentos sociais cumprem seu papel histórico de defender a democracia e a soberania no país. “Estamos mais uma vez, aqui no centro do poder, fazendo resistência, mostrando que somos de luta e não vamos aceitar o Brasil ser destruído por esse genocida que não tem a menor preocupação com o povo trabalhador brasileiro”

MST, UNE, representantes de outras entidades como União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (Ubes), Marcha Mundial das Mulheres e entidades representativas de religiosos também participaram do ato.

“Quem tem fé é favor da democracia e da vida”, foi a frase dita pela pastora Romi Bencke, secretária-geral do Conselho Nacional de Igrejas Cristãs do Brasil (CONIC).

O ato também contou com representantes de povos indígenas, LGBT´s e até mesmo de torcidas de futebol que lutam por democracia.

Para Alexandre Conceição, do MST, a entrega do pedido de impeachment é “um passo para vencer Bolsonaro, destruir o governo e construir democracia e vida no Brasil”.

“Estamos aqui contra um governo que destrói nossa soberania, nosso meio-ambiente, nossa Amazônia, que assassina indígenas, negros e quilombolas e que não se comove com as mais de 73 mil mortes no Brasil. Ao contrário, espalha mais o vírus”, disse.

Iago Montalvão, presidente da Une, afirmou ser porta-voz de mais de 200 entidades naquele momento, que se somaram à iniciativa e apoiaram o pedido de impechment.

“No Brasil, os estudantes já entendem que não há mais possiblidade de continuar com esse governo, da morte, em meio à pandemia. Não é possível que haja um governo que não se preocupa com a vida do povo”, disse Iago.

No ato, ele citou as mobilizações dos estudantes em 2019, quando Bolsonaro cortou investimentos na educação, o que levou milhões de estudantes às ruas em todo o país.

“A bandeira da educação uniu o Brasil. E um ano e meio desse governo foi só destruição da educação, das universidades, por isso não há mais condição. Acreditamos que essa é mais uma etapa de conclamar o povo à luta e tirar de lá todo esse governo”.

Para Vilmara do Carmo, da Marcha Mundial das Mulheres, o pedido de impeachment é um passo essencial na luta contra o governo Bolsonaro, mas a mobilização é necessária para que o processo tramite na Câmara.

“Temos certeza que ao nos livrarmos da pandemia seremos milhares em todas as cidades do Brasil para derrubar o governo que ataca direitos de mulheres, crianças, ataca a questão ambiental desrespeitando indígenas. Mas hoje estamos aqui para exigir que a chapa Bolsonaro/Mourão seja caçada e vamos seguir em marcha até que o país esteja livre desse tipo de gente.

Ainda durante o ato, o advogado Gustavo Ramos, do escritório Mauro Menezes Advocacia, que junto com o escritório LBS Associados foi um dos muitos a prestar assessoria jurídica para a elaboração do pedido de impeachment, explicou os principais pontos do documento.

Para ele a ação da CUT e movimentos, em conjunto com as dezenas de denúncias e outros pedidos de i impeachment chamam a atenção, mais uma vez, para que o Congresso Nacional dê andamento ao processo contra Bolsonaro.

Ele destacou a importância do documento por ser assinado por entidades representativas da sociedade civil de diversos setores que, segundo ele, dão ainda mais força ao pedido de impeachment.

Entidades de todo o país preparam denúncia por crimes de responsabilidade de Jair Bolsonaro 

O pedido de impeachment, que faz parte da Campanha Fora Bolsonaro, que teve início na última sexta-feira (10), com atos e panelaços em todo o país.