Na comemoração dos 100 anos da UFRJ, o Museu Nacional também mostra a sua “volta por cima”, com o engajamento de seu corpo social, superando o trágico incêndio de 2018.

“Museu nacional vive” foi o tema da live apresentada nesta terça-feira, dia 8,com a participação do diretor da unidade, Alexander Kellner, do antropólogo e ex-diretor do Museu, Luiz Fernando Dias Duarte, também presidente da Associação Amigos do Museu Nacional.

A museóloga Amanda Cavalcanti, integrante da Coordenação de Novas Exposições, apresentou iniciativas para superação dos desafios que o Museu enfrenta para sua recomposição.

Amigos do Museu
Dias Duarte traçou o histórico da Sociedade dos Amigos do Museu Nacional, instituição privada fundada em 1937, quando a Universidade do Brasil incorporou o Museu Nacional, que em 2006 a entidade foi renomeada Associação de Amigos, e que a partir daí angariou importantes recursos para o Museu, antes mesmo do incêndio.

Ele mencionou as ações que entidade realizou, como a gestão de 57 projetos, com captação de R$ 67 milhões, com parceiros como Petrobras, e os governos alemão e britânico e doações.

Informou ainda que a entidade gerencia três emendas parlamentares na ordem de R$ 1,7 milhão, e que em 2020 foi chamada para gerir o projeto para reconstrução do Palácio de São Cristóvão (com teto de R$ 23 milhões) e o termo de doação assinado com Alerj para reconstrução da sede (da ordem de R$ 20 milhões).

Neste momento, a associação faz gestão de obras em curso para o novo Museu, como o prédio administrativo em construção no novo campus, vizinho ao Horto Botânico, e a reforma do prédio da Biblioteca, ambos com recursos do BNDES.

Museu será referência em exposições
Depois do incêndio, segundo Amanda Cavalcanti, chegaram inúmeras cartas, fotos, desenhos de crianças que visitavam as exposições, refletindo o carinho do público e a certeza de que é preciso devolver a ele o espaço expositivo.

Logo após o incêndio, segundo Amanda, os funcionários do Museu se organizaram para pensar na retomada, como museólogos e arquitetos, alguns dos quais, como ela, estão à frente da Coordenação das Novas Exposições.

A coordenação reuniu técnicos-administrativos, docentes e alunos para definir objetivos e estratégias do projeto de novas exposições para criar circuitos que prometem não ser apenas expositivos: “A gente quer que a UFRJ se torne referência como essa nova exposição”, diz, empolgada.

Mas lembra de que não se pode falar em exposição sem a reconstrução do Paço de São Cristóvão: “Agora vai ser possível. O o Paço vai ser completamente dedicado ao público”.

Antes do incêndio, além das exposições, o palácio abrigava escritório, reserva técnica, laboratórios e salas de aula. Agora, essas atividades vão para o novo campus, em terreno próximo à Quinta da Boa Vista.

No palácio fica apenas a exposição, que terá agora área bem maior, e outros espaços de uso do público, com áreas temáticas, novos acervos e atividades para os visitantes. A equipe planeja acessibilidade universal como um dos princípios da exposição, para que os espaços possam ser vivenciados por todos.

O conteúdo da nova exposição também espera refletir o que é a instituição de 202 anos que agrega história natural e antropologia, porém mais moderna, com novos recursos, transmitindo a conexão que há entre todos os assuntos, de formigas ao meteorito, passando por diversas culturas humanas.

Segundo Amanda, seria importante aproximar o público desta faceta do Museu que antes não ficava tão evidente: a integração entre as diferentes áreas para que o público reflita sobre o fato de graças a vontade de conhecimento, o fazer científico se desenvolveu. Assim, os temas deverão abranger questões históricas, diversidade cultural, evolução da vida, geo e biodiversidade, impacto sobre o ser humano e a conservação ambiental. “Assuntos que ajudam a entender o mundo e nosso papel nele”.

Para criar essa exposição, a equipe planeja uma consulta pública e até grupos focais com visitantes, professores e coletivos sociais, como indígenas e afro-brasileiros. E ela convida todos a seguirem o Museu nas redes e a participarem da consulta, quando for lançada.

Apoio
O diretor abordou a importância da ajuda externa, comentando que o Museu não vai recompor sua coleção “no esplendor que tinha antes, e ir além”, sem apoio, citando o exemplo de instituições da Alemanha que pode auxiliar em todas as fases, “inclusive na abordagem difícil que é a questão dos acervos originais”. Mas, segundo ele, será preciso merecer o novo acervo e reconstruir o palácio com todas as normas de segurança, não só para visitantes como para o pessoal das áreas técnicas. “O Brasil aprendeu com esta enorme tragédia”, disse ele, lembrou que todos podem contribuir, reforçando o apoio da Associação.

 

Sintufrj exibiu vídeo que mostra técnicos-administrativos em diversos ambientes de trabalho

Na comemoração dos 100 anos da UFRJ não poderiam faltar as organizações representativas de trabalhadores e estudantes que participaram de sua construção e fazem parte de sua biografia.

“Uma história de luta e muitas mãos na construção dos 100 anos da UFRJ” reuniu virtualmente, na tarde desta terça-feira 8, Sintufrj, Adufrj, DCE, APG e Attufrj – entidades que constroem o FORMAS (Fórum de Mobilização e Ação Solidária). A live foi transmitida pelo canal do Fórum de Ciência e Cultura no YouTube.

O Sintufrj inovou na homenagem aos técnico-administrativos em educação da universidade ao exibir o vídeo “Retrato do Trabalho na UFRJ” com imagens, acompanhadas de depoimentos, dos trabalhadores em seus variados locais de trabalho.

“Fizemos esse vídeo para mostrar o que é a universidade pública, gratuita de qualidade com a participação dos técnico-administrativos, como atores na sua construção”, declarou a coordenadora do Sintufrj, Noemi Andrade.

A frase da técnica Jaciara Roberta resume tudo: “A gente produz o que se chama o conhecimento. Nós damos o suporte”.

A presidente da Adufrj, Eleonora Ziller, alertou para as ameaças que estão por vir relacionadas ao orçamento e a reforma administrativa. Ela enalteceu a participação da comunidade universitária para a construção da UFRJ e a da Adufrj, em seus 42 anos de existência.

Eleonora destacou a força da coletividade da UFRJ. “Essa universidade é nossa. É construída por nós. Cada um pode afirmar essa relação numa ação efetiva e solidária. Viva a UFRJ plural, gratuita, autônoma, democrática e inclusiva”.

“Os terceirizados chegaram para somar”, anunciou Néa Nascimento, da Associação dos Trabalhadores Terceirizados da UFRJ – Attufrj.

Rafaela Corrêa, dirigente do Diretório Central dos Estudantes da UFRJ – Mário Prata, informou que o DCE esse ano fez 90 anos para mostrar como a organização dos estudantes tem história na centenária UFRJ.

“O DCE da UFRJ participou da fundação da Une e de diversas lutas. Nossa principal luta é pela autonomia universitária, hoje um tema central nesse governo que a ataca”, sublinhou Rafaela.

O secretário geral da Associação de Pós-Graduandos -APG/UFRJ, Igor Alves, falou da campanha da entidade que defende ações afirmativas obrigatórias para a pós-graduação, uma política de bolsas para alunos em situação de vulnerabilidade e uma política para a representação discente nos colegiados.

Igor denunciou a possibilidade de corte de 30% nas bolsas da Capes e apontou para o futuro ao fim de sua fala. “Somos capazes juntos. Façamos história agora para que nos próximos anos a universidade seja mais plural, inclusiva e colorida”, conclamou.

Embates
Em suas falas os representantes das entidades lembraram de importantes batalhas e lutas travadas através dos anos e a necessidade de mais um novo embate diante das ameaças do governo Bolsonaro como perda maior da autonomia, corte de verbas e fim da estabilidade do servidor com a reforma administrativa. Para reforçar a importância da unidade das entidades foi enaltecida iniciativa do Fórum de Mobilização e Ação Solidária.

Mais homenagens
A UFRJ também homenageou os servidores através de dois representantes da categoria, Roseli Frochgarten (Sibi) e Ivan Hidalgo (Secretaria de Órgãos Colegiados). Não houve como não conter a emoção.

“É uma honra e um privilégio fazer parte da UFRJ”, declarou Roseli com voz embargada.

“Esta homenagem é para muitos Ivans na UFRJ. Para aqueles que já tivemos, temos e teremos”, disse com lágrimas nos olhos o funcionário que em junho do ano que vem completará 50 anos de UFRJ.

“Sem todos nós unidos seríamos mais fracos”, declarou a reitora Denise Pires.

A escolha dos três melhores trabalhos apresentados no 1º Fórum Técnico-Administrativo da UFRJ encerrado na quinta-feira 3 será anunciada numa live nesta quarta-feira 9, às 16h30 – e não às 14h como anunciamos anteriormente.

A banca está avaliando os 27 trabalhos apresentados durante o fórum – entre os quais, três no formato de vídeo. O Sintufrj premiará com notebooks os trabalhos escolhidos.

Vitor Matos, Marisa Gaspary, Iris Guardatti, Simone Silva e Rogério Cruz integram a banca que avaliou os trabalhos e tem a responsabilidade de eleger os melhores conteúdos.

Ao final da live será reproduzida o programa apresentado no domingo, 31 de agosto, com o bloco Minerva Assanhada em homenagem aos 100 anos da UFRJ.

O êxito do fórum virtual com a presença de 15 convidados, apresentação de trabalhos de técnicos-administrativos com pauta diversa e audiência de milhares de acessos por meio da internet está sendo celebrado pela direção do Sintufrj – gestão Ressignificar.

A pauta do fórum foi certeira, ao qualificar o debate que teve como centro a precarização do trabalho em geral e do servidor público em particular no momento em que o governo de ultradireita apresenta uma reforma administrativa que desfigura o serviço público.

Veja, neste vídeo, o balanço do 1º Fórum TAE da UFRJ:

 

PEC de Paulo Guedes preserva parlamentares, ministros de tribunais superiores, promotores, juízes e militares, e ameaça servidores menos privilegiados

Matéria retirada do site Rede Brasil Atual.

A Proposta de Emenda à Constituição (PEC) da reforma administrativa encaminhada ao Congresso pelo governo Jair Bolsonaro, nesta quinta-feira (3), em nada impacta os rendimentos e a carreira de parlamentares, ministros de tribunais superiores, promotores, juízes e militares. O economista Amir Khair, que foi secretário municipal de Finanças de São Paulo na gestão de Luiza Erundina, defende que haja uma discussão ampla sobre o que deve ocorrer em relação ao serviço público e o aprofundamento do debate.

Esse debate, diz Amir, deveria ser amplamente levado à sociedade, que é quem, em última análise, vai sofrer os impactos da reforma, como no caso da reforma da Previdência. Para o economista, porém, essa discussão profunda não vai ocorrer, porque o ritmo que se impõe no Congresso “é burocrático, para não deixar haver discussão”.

“Não é todo mundo igual. Não só na escala salarial, como também no tipo de trabalho. Não vejo necessidade alguma de reduzir funcionários nas áreas carentes. E as áreas carentes são educação, saúde etc.”, diz.

“Por outro lado, é preciso que não haja tantos funcionários na área burocrática e nem se permitam tantos cargos de confiança como hoje”, continua. Segundo Khair, a situação chega a ser esdrúxula. “Por exemplo, se você vê a folha de pagamento de servidores e localiza onde estão fisicamente, leva um choque. Funcionários do Executivo são emprestados para cá e para lá, inclusive para o Legislativo. É impressionante.”

Demonização do servidor

A reforma de Paulo Guedes não pretende modernizar e reorganizar o serviço público brasileiro, mas vai no sentido que tem orientado as reformas no país desde o governo Michel Temer. Os princípios são os da demonização do servidor e da diminuição do Estado, de maneira generalizada. “Sem dúvida”, constata Khair.

“Mas estão fazendo isso com o Estado não só nessa reforma, como em todas.  Principalmente a que mais sacrificou o povo, a reforma da Previdência, que tira 100 bilhões de reais por ano (do sistema previdenciário). O que pega inclusive quem ganha até dois ou três salários mínimos.”

Em relação à reforma administrativa, para o economista, a enorme quantidade de dinheiro destinada à burocracia deveria ir pra “funções-fim”. “Para melhorar salário de professores, profissionais da saúde, assistência social e outros. A turma que se sacrifica, que põe a mão na massa e é sempre cobrada.”

Na mídia tradicional, analistas afirmam considerar a proposta como importante para o “equilíbrio das contas públicas”, mas alguns ressalvem que ainda não é o “ideal”. Isso porque, afirmam, esse resultado só virá a longo prazo, dado que a PEC não atinge os atuais servidores, só os que vierem a ser contratados. Redução do salário inicial e flexibilização da estabilidade no emprego só devem ser aplicadas em futuras contratações. Para estes comentaristas, a reforma “sinaliza” positivamente ao mercado, mas o “enxugamento” do Estado deveria ser mais rápido.

Estabilidade ameaçada

A PEC prevê que servidores concursados com contratos de duração indeterminada não terão mais estabilidade e poderão ser demitidos. Por exemplo, se o governo necessitar promover cortes de gastos.

Em postagem nas redes sociais, o deputado federal Paulo Pimenta (PT-RS) afirmou que a PEC do governo “pretende redefinir as carreiras e os direitos do servidor público brasileiro”. “É uma vergonha. A primeira declaração de Bolsonaro é a seguinte: militares, juízes, promotores e parlamentares estão fora (da reforma). Aqueles que têm privilégios, salários e pensões, milionários”, disse. Segundo ele, as distorções do serviço público estão justamente no Judiciário, no Ministério Público, entre servidores do Legislativo e  militares.

“Ele quer atingir o servidor que ganha mil, 2 mil, 3 mil, (o trabalhador) das universidades, que dá a vida para garantir atendimento à população na educação, na saúde, na agricultura. São esses que quer perseguir”, questiona o parlamentar. “É covarde!”, protesta.

Reforma de Estado

Para Fausto Augusto Júnior, diretor técnico do Dieese,  a reforma administrativa pode ser, na prática, uma “reforma de Estado”.  Em entrevista a Glauco Faria, no Jornal Brasil Atual, ele destacou que a proposta “deve avançar para cima de uma parte importante do patrimônio público de todos os brasileiros”.

A ideia do governo seria a de que, com o enfraquecimento do setor público e das estatais, as privatizações sejam facilitadas.  “Então, de certo modo, ele vai entregar boa parte das nossas empresas. Ou de um jeito efetivo, ou em pedaços, como está fazendo com a Petrobras, em especial para os grupos internacionais”, observa.

Embora o governo argumente que as novas regras irão abarcar apenas os novos servidores, Fausto avalia que, “a proposta vai acabar atingindo todo mundo”. Isso porque a PEC prevê o fim do Regime Jurídico Único, que garante a estabilidade dos servidores. A medida, para o diretor do Dieese, deve paulatinamente diminuir o número de trabalhadores estáveis e estatutários promovidos por concurso público. “E eles vão passar a ingressar (no serviço público) por meio da CLT (Consolidação das Leis do Trabalho) que está em desconstrução por esse próprio governo”, conclui.

 

 

O debate que abriu o último dia do 1º Fórum TAE da UFRJ, organizado pelo Sintufrj, entre os dias 1º e 3 de setembro, com o tema “Saúde do trabalhador no olho do furacão”, reuniu o médico Leôncio Feitosa, diretor do Complexo Hospitalar da UFRJ, Simone Silva, coordenadora de Extensão do Núcleo de Bioética e Ética Aplicada do Laboratório de Ética em Pesquisa da UFRJ, e o médico sanitarista Hêider Aurélio Pinto, que coordenou o programa Mais Médicos no governo de Dilma Rousseff.

Foi mediado pela coordenadora de Educação, Cultura e Formação Sindical do Sintufrj, Damires França, que lembrou que a pandemia alterou vidas, agravada pela negligência do governo Bolsonaro, com o sucateamento do SUS, cortes do orçamento e precarização do trabalho.

SUS em foco

Para o médico sanitarista Hêider Aurélio, dentre os fatores que levaram a saúde ao olho do furacão está a omissão do governo. O país não preparou a atenção primária, muito menos a rede hospitalar. Estados tentaram reagir sem apoio federal; foram insuficientes as testagens e não foram conseguidos, de modo efetivo, o isolamento social e as políticas adequadas de seguridade.

A reestruturação do trabalho, ele explica, deu-se de formas diferentes para os que podem ficar em casa (em que incidem problemas como lesões por esforços repetitivos, de saúde mental e de invasão dos tempos e espaços da vida familiar) e para os que não podem (que precisam se expor à contaminação em ônibus e espaços de trabalho).

Mas, segundo ele, a situação traz oportunidades, como, por exemplo, colocar em foco o SUS (sem o qual a situação seria muito pior) ou a discussão sobre a uberização e superexploração. Temas que devem tomar a agenda de debates para que se enfrente a situação antes que se alastre pelas relações de trabalho, sem regulação que preserve a vida do trabalhador.

Não aceitar imposições

Simone Silva apontou que, neste momento, o trabalho remoto é uma emergência, para assegurar que a universidade funcione e o servidor se mantenha em segurança. Mas o risco é que essa modalidade torne-se permanente e o governo queira continuar economizando com os prédios vazios e até negociá-los, como preconiza o projeto Future-se.

Ela lembra a situação política assustadora, com extermínio de uma parte da população e superexploração de outra, um governo que elegeu o servidor como inimigo e comemora a economia de quase R$ 500 milhões em três meses da pandemia com o trabalho remoto, gasto transferido para o bolso do servidor.

“Achar que o que acontece no setor privado não vai chegar aqui é um engano”, diz ela, alertando que é preciso enfrentar essa “granada” que o governo quer lançar no servidor, garantir saúde e condições de trabalho e não aceitar regras − com as instruções normativas − impostas sem discussão com a categoria. “O que está dado é que os trabalhadores têm que se organizar”, alertou.

Lado contrário

Leôncio Feitosa contou que de três anos para cá vêm aumentando casos de doenças antigas, como as de origem mental. “Tivemos que fazer um ambulatório específico para estudantes. Vê-se um acréscimo de casos. Isso também parece que está ocorrendo com trabalhadores, numa época em que tudo tende a piorar”, diz ele, devido à insegurança do sistema que aí está, e deu como exemplo os ataques da reforma administrativa.

O médico lembrou que hoje, sem internet, nada funciona; por outro lado, as pessoas adquirem lesões por esforços repetitivos. Portanto, é preciso regulação permanente em relação à saúde, e aprimorá-la no sentido da proteção física e mental. Embora hoje em dia, alerta ele, se esteja indo “para o lado contrário”, com a retirada de direitos adquiridos em anos de luta.

“Precisamos tomar cuidado na hora de escolher nossos representantes, seja na Câmara de Vereadores, seja na Presidência da República. Frequentemente votamos de boa-fé, mas errado. Queremos um país inclusivo, como foi trabalhado dez, quinze anos atrás, tirando gente da pobreza, colocando mais vulneráveis nas universidades”, ponderou.

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“Ensino e trabalho remoto no capitalismo de plataformas” foi a mesa que reuniu, no segundo dia do Fórum Técnico-Administrativo em Educação da UFRJ, na quarta-feira, 2, o analista da Superintendência da Tecnologia da Informação (TIC), da UFRJ, Rafael Raposo, e os professores Marilane Teixeira, economista da Unicamp, Marcos Dantas, da Escola de Comunicação da UFRJ, e Sergio Amadeu, da UFABC.

O trabalho e o ensino remoto foram impostos em consequência da pandemia do novo coranavírus, sem que tenha sido feito um censo sociotécnico dos trabalhadores e estudantes, é a opinião de Sergio Amadeu. Segundo ele, atualmente, 52% dos brasileiros acessam a internet usando celulares limitados. A qualidade da conexão é precária, assim como a moradia da maioria das pessoas não é adequada para ser transformada em local de trabalho ou sala de aula, atrapalhando o cotidiano dos familiares. Sem falar nos custos com energia elétrica, entre outros insumos que recaem sobre o trabalhador ou estudante.

“O mais importante mercado da atualidade é o de compra e venda de dados pessoais. Existem empresas cujas especialidades é a coleta e o tratamento de dados a respeito dos hábitos dos consumidores”, disse o professor. De acordo com ele, o trabalho remoto significa que estão querendo dominar todos os espaços para a coleta de dados. “Estamos entregando dados para as plataformas existentes, e dados também são levados para fora, como os do Sisu, que foram entregues para uma empresa norte-americana. O contrário jamais ocorreria, porque o Congresso americano não permitiria”, afirmou.

Ele defende que as universidades criem as suas próprias plataformas, e que os sindicatos devem entrar nessa luta.

“Os serviços são oferecidos por meio de aplicativos, e o empregador fica como intermediário. Precisamos saber que regulação pública vamos reivindicar para esses trabalhadores uberizados. Com a ampliação dessa forma de gestão de trabalho aliada a novas tecnologias, temos que pensar, por exemplo, sobre o tempo de produção, que começa a ser contabilizado em minutos e passamos a fazer muita coisa. Nos é exigido mais agilidade, mais desempenho. Deixamos de interagir com os colegas, chefias, perdemos a hora do cafezinho”, lista a economista Marilane Teixeira. “A educação também não é só transferência de conhecimento, é interatividade, construção coletiva. Por meio dessa plataforma, professores estão sendo dispensados, além disso, o cansaço mental é muito grande”, acrescenta ela.

De acordo com o técnico em TI da UFRJ, Rafael Raposo, há muito tempo os profissionais da área da universidade atuam com uma infraestrutura que não se atualizou à luz da ciência e da tecnologia. “Somos um capitalismo de dependência. As plataformas que sempre estiveram à disposição da universidade não ofereciam um trabalho gratuito, mas em troca dos nossos dados. Essas ferramentas são colocadas publicamente, e nós entregamos nossos dados. O capitalismo vai aumentando seus lucros, e nós estamos sem reajustes”, constatou.

Jornada ampliada

Os trabalhadores de TI, segundo Rafael, sempre trabalharam mais que a maioria na universidade, porque ficam à disposição para serem acessados fora do horário de expediente. E na pandemia eles têm perdido dinheiro, o não pagamento da insalubridade e do vale-transporte, e de todas as despesas com o trabalho executado de casa. “A gente precisa se organizar e dar uma resposta sobre trabalho remoto”, afirmou.

“Os dados são o petróleo do século XXI, porque com eles se molda o que aquela sociedade está pensando. Nós trabalhamos de graça para as plataformas produzindo dados”, disse Marcos Dantas. “A internet surge sem lei e se expande sem qualquer tipo de regulamentação. E hoje estamos conectados o tempo todo. Assim como a tevê, a internet vende produtos e audiência. Precisamos ter regulação pública nacional para legitimar o negócio”, defendeu o professor.

Ele também é a favor de que a UFRJ monte sua própria plataforma para atuar com trabalho e ensino remotos. “Sou chato, porque a universidade tem tradição na construção dessas coisas”, concluiu.

VEJA O VÍDEO.

A retrospectiva da organização sindical da categoria, as lutas corporativas e sociais, o surgimento de entidades com perfil combativo, todo esse mosaico de fatos das últimas quatro décadas foi recomposto por lideranças históricas do movimento no debate da manhã desta quarta-feira, dia 2, do 1º Fórum Técnico-Administrativo da UFRJ, realizado pelo Sintufrj.

Vânia Galvão e Honório Rocha, ex-dirigentes da Fasubra, Toninho Alves, coordenador da atual gestão da Federação, e João Eduardo do Nascimento, ex-dirigente da Asufrj, protagonizaram o debate “Construção do movimento técnico-administrativo na UFRJ e no Brasil”, mediado por Márcia Tosta, também militante histórica que participou ativamente para a construção do sindicato.

A coordenadora-geral do Sintufrj Gerly Miceli lembrou conquistas, fruto da organização da categoria, como o PUCRCE e o RJU. “Mas hoje estamos vendo o retrocesso com este governo, em que servidores são apontados como inimigos da sociedade”, disse, lembrando que o Sintufrj construiu o fórum para provocar corações e mentes e alertar para o fato de que o momento requer mais uma vez muita unidade, resistência e luta.

Márcia Tosta observou que as lutas não foram apenas corporativas e extrapolaram os muros das universidades: “Vocês poderão ver (com o debate) como esta história se constituiu, desde a retomada da Fasubra para o campo combativo até os dias de hoje e o panorama atual do nosso movimento”, disse, sugerindo um documentário sobre o tema.

Legado

Como lembrou a mediadora, Vânia Galvão foi a primeira presidenta da Fasubra combativa, hoje à frente da Secretaria Municipal de Educação de Lauro de Freitas (BA). Ela resgatou grandes momentos do movimento, como as greves de 1982 e de 1984, marco na história e que deixou saldo na organização da categoria, até a conquista do Plano de Carreira e a resistência contra da transformação das universidades em organizações sociais, como propunha o governo FHC: “Foi uma luta grande em defesa da universidade pública”, disse.

João Eduardo, autor do livro “Novos atores na cena universitária” (1996), desde 2014 assessor do governador da Paraíba, ponderou que é sempre bom refazer criticamente caminhos percorridos para identificar virtudes e dificuldades e prosseguir na caminhada. Em particular neste momento de absoluta distopia na história social, com ascensão do pensamento de extrema direita. Ele pontuou a importância da construção de um movimento com profunda ligação com as lutas sociais: “Temos que ter isso como referência”, disse, apontando como estratégica a vinculação entre a universidade e a sociedade.

Unidade

Honório Rocha, que foi vice-presidente da Fasubra, lembrou militantes históricos que participaram da sua construção e o papel destacado que alcançou a Federação, por exemplo no movimento pela Constituinte de 1988. Ponderou que cada época tem seu desafio, como a unificação da categoria neste país continental. E avalia que é preciso pensar numa frente ampla: “Além da unidade, além da amplitude, o respeito. Temos que construir estas perspectivas, elementos centrais para construção de saídas, pois vivemos hoje um momento muito difícil”.

Papel do Estado

Toninho Alves lembrou que a Fasubra foi uma das primeiras a convocar a palavra de ordem “Fora Collor” e que enfrentou os ataques à categoria e à universidade pública na década de 1990, assim como a criação do projeto Universidade Cidadã para os Trabalhadores, marco no diálogo sobre o papel do Estado. Para ele, é preciso mais que nunca construir um processo junto à categoria que busque não só o diálogo, mas que recupere o debate do papel do Estado nacional, do servidor público no Brasil, para enfrentar o negacionismo e o processo de uberização dos trabalhadores.

Reflexão − Além da importância da construção coletiva e do caminhar unificado, foi comum entre os debatedores a proposta de um encontro nacional para resgatar este histórico e aprofundar a reflexão.

Veja o vídeo

No 1º Fórum Técnico-Administrativo da UFRJ, a deputada Margarida Salomão (PT-MG) abriu o debate sobre Uberizaçao do Serviço Público e precarização do trabalho com a constatação de que o trabalho humano está sendo reorganizado sob o impacto da tecnologia. Com a pandemia, observou a parlamentar, ex-reitora da UFJF, esta realidade foi acelerada e se tornou mais visível. F

A deputada – que no Congresso integra a Frente Parlamentar do Serviço – manifestou sua preocupação com o projeto de reforma administrativa que tramita no Senado e que pode configurar o aprofundamento do sequestro de direitos dos servidores. Por trás dessas investidas, disse Margarida, está a criminalização do funcionalismo público.

Num debate mediado por Carlos Maldonado (ex-dirigente do movimento sindical), Margarida Salomão dividiu a mesa com Gisele Ricobon, jurista/, que atua na FND/UFRJ, Luci Praun, pesquisadora da Unicamp, que investiga o mundo do trabalho, e com Rafael Grohmann, professor que estuda o uso de plataformas digitais na exploração do trabalho.

Os quatro palestrantes protagonizaram uma reflexão que desnudou os artifícios da engenharia do capital em novas formas de apropriação do traba lho usando a tecnologia.

Luci Praun, por exemplo, depois de afirmar que o processo de precarização do trabalho vem da década de 1970 e se aprofundou com o neoliberalismo, disse que as novas tecnologias elevaram os padrões de exploração ocultando as relações de trabalho.

Gisele Ricobom abordou processo amplo e global denominado fascismo social. Ela situou a defesa de direitos na resistência ao arbítrio. Deu exemplos de como o governo Bolsonaro define os servidores públicos como inimigo. A professora lembrou a frase do ministro da Economia, Paulo Guedes. “Nós já botamos a granada no bolso do inimigo: dois anos sem aumento de salário”,

Rafael Ghrohmann abordou a exploração do trabalho por meio de plataformas digitais. Plataformização, ele explica, trata-se da crescente dependência de plataformas digitais para se manter em alguma atividade de trabalho. O que significa dependência das lógicas digitais, com flexibilização do trabalho numa racionalidade neoliberal.

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Ao abrir o 1º Fórum Tecnico-Administrativo da UFRJ organizado pelo Sintufrj iniciado na manhã desta terça-feira, 1º, e transmitido on-line, Neuza Luzia, coordenadora geral, disse que “além da unidade, é preciso buscarmos informação” para que se tenha a dimensão dos desafios que os servidores estão enfrentando.

A dirigente traçou um breve quadro da conjuntura adversa que a universidade e o país enfrenta no ambiente de pandemia “tratada de forma cruel e covarde pelos governantes”. Lembrou que o governo apresenta um pacote de medidas que atingem frontalmente os trabalhadores em geral e servidores como um dos alvos preferenciais.

“Congela salários e ameaça cortar 18% do orçamento das universidades, inviabilizando uma série de projetos”, registrou. Dentro deste quadro, acrescentou a coordenadora-geral do sindicato, o governo apresenta proposta do teletrabalho.

“O trabalho remoto veio associado ao corte de direitos” disse, explicando que o Fórum se propõe a discutir a “uberização” do serviço público em busca de soluções coletivas pois “as medidas do governo” estão dentro dessa lógica de precarização.

Várias entidades estiveram presentes virtualmente para saudar o 1º Fórum TAE na universidade. Julia Vilhena e Juliana Paiva representaram o DCE Mário Prata; Miguel Papi, a APG; Josué Medeiros, a Adufrj; Rosângela Costa a Fasubra.

A íntegra do pronunciamento da Neuza e  dos representantes de entidades pode ser vista no vídeo abaixo.