Na comemoração dos 100 anos da UFRJ, o Museu Nacional também mostra a sua “volta por cima”, com o engajamento de seu corpo social, superando o trágico incêndio de 2018.

“Museu nacional vive” foi o tema da live apresentada nesta terça-feira, dia 8,com a participação do diretor da unidade, Alexander Kellner, do antropólogo e ex-diretor do Museu, Luiz Fernando Dias Duarte, também presidente da Associação Amigos do Museu Nacional.

A museóloga Amanda Cavalcanti, integrante da Coordenação de Novas Exposições, apresentou iniciativas para superação dos desafios que o Museu enfrenta para sua recomposição.

Amigos do Museu
Dias Duarte traçou o histórico da Sociedade dos Amigos do Museu Nacional, instituição privada fundada em 1937, quando a Universidade do Brasil incorporou o Museu Nacional, que em 2006 a entidade foi renomeada Associação de Amigos, e que a partir daí angariou importantes recursos para o Museu, antes mesmo do incêndio.

Ele mencionou as ações que entidade realizou, como a gestão de 57 projetos, com captação de R$ 67 milhões, com parceiros como Petrobras, e os governos alemão e britânico e doações.

Informou ainda que a entidade gerencia três emendas parlamentares na ordem de R$ 1,7 milhão, e que em 2020 foi chamada para gerir o projeto para reconstrução do Palácio de São Cristóvão (com teto de R$ 23 milhões) e o termo de doação assinado com Alerj para reconstrução da sede (da ordem de R$ 20 milhões).

Neste momento, a associação faz gestão de obras em curso para o novo Museu, como o prédio administrativo em construção no novo campus, vizinho ao Horto Botânico, e a reforma do prédio da Biblioteca, ambos com recursos do BNDES.

Museu será referência em exposições
Depois do incêndio, segundo Amanda Cavalcanti, chegaram inúmeras cartas, fotos, desenhos de crianças que visitavam as exposições, refletindo o carinho do público e a certeza de que é preciso devolver a ele o espaço expositivo.

Logo após o incêndio, segundo Amanda, os funcionários do Museu se organizaram para pensar na retomada, como museólogos e arquitetos, alguns dos quais, como ela, estão à frente da Coordenação das Novas Exposições.

A coordenação reuniu técnicos-administrativos, docentes e alunos para definir objetivos e estratégias do projeto de novas exposições para criar circuitos que prometem não ser apenas expositivos: “A gente quer que a UFRJ se torne referência como essa nova exposição”, diz, empolgada.

Mas lembra de que não se pode falar em exposição sem a reconstrução do Paço de São Cristóvão: “Agora vai ser possível. O o Paço vai ser completamente dedicado ao público”.

Antes do incêndio, além das exposições, o palácio abrigava escritório, reserva técnica, laboratórios e salas de aula. Agora, essas atividades vão para o novo campus, em terreno próximo à Quinta da Boa Vista.

No palácio fica apenas a exposição, que terá agora área bem maior, e outros espaços de uso do público, com áreas temáticas, novos acervos e atividades para os visitantes. A equipe planeja acessibilidade universal como um dos princípios da exposição, para que os espaços possam ser vivenciados por todos.

O conteúdo da nova exposição também espera refletir o que é a instituição de 202 anos que agrega história natural e antropologia, porém mais moderna, com novos recursos, transmitindo a conexão que há entre todos os assuntos, de formigas ao meteorito, passando por diversas culturas humanas.

Segundo Amanda, seria importante aproximar o público desta faceta do Museu que antes não ficava tão evidente: a integração entre as diferentes áreas para que o público reflita sobre o fato de graças a vontade de conhecimento, o fazer científico se desenvolveu. Assim, os temas deverão abranger questões históricas, diversidade cultural, evolução da vida, geo e biodiversidade, impacto sobre o ser humano e a conservação ambiental. “Assuntos que ajudam a entender o mundo e nosso papel nele”.

Para criar essa exposição, a equipe planeja uma consulta pública e até grupos focais com visitantes, professores e coletivos sociais, como indígenas e afro-brasileiros. E ela convida todos a seguirem o Museu nas redes e a participarem da consulta, quando for lançada.

Apoio
O diretor abordou a importância da ajuda externa, comentando que o Museu não vai recompor sua coleção “no esplendor que tinha antes, e ir além”, sem apoio, citando o exemplo de instituições da Alemanha que pode auxiliar em todas as fases, “inclusive na abordagem difícil que é a questão dos acervos originais”. Mas, segundo ele, será preciso merecer o novo acervo e reconstruir o palácio com todas as normas de segurança, não só para visitantes como para o pessoal das áreas técnicas. “O Brasil aprendeu com esta enorme tragédia”, disse ele, lembrou que todos podem contribuir, reforçando o apoio da Associação.

 

Sintufrj exibiu vídeo que mostra técnicos-administrativos em diversos ambientes de trabalho

Na comemoração dos 100 anos da UFRJ não poderiam faltar as organizações representativas de trabalhadores e estudantes que participaram de sua construção e fazem parte de sua biografia.

“Uma história de luta e muitas mãos na construção dos 100 anos da UFRJ” reuniu virtualmente, na tarde desta terça-feira 8, Sintufrj, Adufrj, DCE, APG e Attufrj – entidades que constroem o FORMAS (Fórum de Mobilização e Ação Solidária). A live foi transmitida pelo canal do Fórum de Ciência e Cultura no YouTube.

O Sintufrj inovou na homenagem aos técnico-administrativos em educação da universidade ao exibir o vídeo “Retrato do Trabalho na UFRJ” com imagens, acompanhadas de depoimentos, dos trabalhadores em seus variados locais de trabalho.

“Fizemos esse vídeo para mostrar o que é a universidade pública, gratuita de qualidade com a participação dos técnico-administrativos, como atores na sua construção”, declarou a coordenadora do Sintufrj, Noemi Andrade.

A frase da técnica Jaciara Roberta resume tudo: “A gente produz o que se chama o conhecimento. Nós damos o suporte”.

A presidente da Adufrj, Eleonora Ziller, alertou para as ameaças que estão por vir relacionadas ao orçamento e a reforma administrativa. Ela enalteceu a participação da comunidade universitária para a construção da UFRJ e a da Adufrj, em seus 42 anos de existência.

Eleonora destacou a força da coletividade da UFRJ. “Essa universidade é nossa. É construída por nós. Cada um pode afirmar essa relação numa ação efetiva e solidária. Viva a UFRJ plural, gratuita, autônoma, democrática e inclusiva”.

“Os terceirizados chegaram para somar”, anunciou Néa Nascimento, da Associação dos Trabalhadores Terceirizados da UFRJ – Attufrj.

Rafaela Corrêa, dirigente do Diretório Central dos Estudantes da UFRJ – Mário Prata, informou que o DCE esse ano fez 90 anos para mostrar como a organização dos estudantes tem história na centenária UFRJ.

“O DCE da UFRJ participou da fundação da Une e de diversas lutas. Nossa principal luta é pela autonomia universitária, hoje um tema central nesse governo que a ataca”, sublinhou Rafaela.

O secretário geral da Associação de Pós-Graduandos -APG/UFRJ, Igor Alves, falou da campanha da entidade que defende ações afirmativas obrigatórias para a pós-graduação, uma política de bolsas para alunos em situação de vulnerabilidade e uma política para a representação discente nos colegiados.

Igor denunciou a possibilidade de corte de 30% nas bolsas da Capes e apontou para o futuro ao fim de sua fala. “Somos capazes juntos. Façamos história agora para que nos próximos anos a universidade seja mais plural, inclusiva e colorida”, conclamou.

Embates
Em suas falas os representantes das entidades lembraram de importantes batalhas e lutas travadas através dos anos e a necessidade de mais um novo embate diante das ameaças do governo Bolsonaro como perda maior da autonomia, corte de verbas e fim da estabilidade do servidor com a reforma administrativa. Para reforçar a importância da unidade das entidades foi enaltecida iniciativa do Fórum de Mobilização e Ação Solidária.

Mais homenagens
A UFRJ também homenageou os servidores através de dois representantes da categoria, Roseli Frochgarten (Sibi) e Ivan Hidalgo (Secretaria de Órgãos Colegiados). Não houve como não conter a emoção.

“É uma honra e um privilégio fazer parte da UFRJ”, declarou Roseli com voz embargada.

“Esta homenagem é para muitos Ivans na UFRJ. Para aqueles que já tivemos, temos e teremos”, disse com lágrimas nos olhos o funcionário que em junho do ano que vem completará 50 anos de UFRJ.

“Sem todos nós unidos seríamos mais fracos”, declarou a reitora Denise Pires.