Regime implantou aparato de vigilância, promoveu expurgo, perseguiu, prendeu e torturou com apoio de colaboracionistas na universidade

A historiadora Andrea Cristina de Barros Queiroz afirma que a ditadura civil-militar que durou 21 anos promoveu “perseguições e cassações do corpo social”, da UFRJ implantando um aparato para vigiar a comunidade universitária com apoio de setores que apoiavam o regime dentro da universidade.

Andrea, que pesquisa a memória institucional da UFRJ, diz que o regime montou uma Assessoria Especial de Informações ao lado do Gabinete da Reitoria, a partir da década de 1970.

Nessa tarefa, ela diz, o governo contou com o apoio de servidores que defendiam a ditadura.

Esses servidores, relata a pesquisadora, passaram a ocupar cargos na gestão administrativa para dedurar membros do corpo social considerados “subversivos”. Segundo Andrea, por contar com apoio de membros da comunidade acadêmica estes mecanismos e coerção de controle foram muito eficientes.

A memória do período sombrio de ditadura é oportuna diante da possibilidade de ruptura democrática no país que se apresenta como alternativa cogitada pela extrema direita. As universidades públicas federais foram um dos alvos preferidos da repressão, especialmente a UFRJ.

Violências

Andrea Cristina é diretora da Divisão de Memória Institucional SIBI-UFRJ. Ao analisar o comportamento de segmentos da comunidade universitária, ela faz uma reflexão. “Essa experiência nos ensina, que dentro da universidade, da mesma forma que tiveram pessoas que resistiram à ditadura, e que participaram de movimentos sociais em prol das campanhas de retorno dos servidores cassados, também houve àqueles indivíduos que apoiavam e se beneficiaram do governo ditatorial, mostrando exatamente como a Universidade é múltipla e ao mesmo tempo fragmentada”.

A historiadora faz outra observação: “Quando falamos da repressão no período ditatorial, também temos que refletir que além da violência científica com a interrupção de várias pesquisas, houve também a violência física”.

Ela lembra a invasão à Faculdade Nacional de Medicina em setembro de 1966, conhecida como “Massacre da Praia Vermelha” com 600 estudantes feridos neste confronto, e da invasão ao campus da Praia Vermelha em junho de 1968.”.

Universidades eram alvos preferenciais

As universidades federais se constituíram em um dos alvos preferenciais da repressão da ditadura – especialmente pela capacidade crítica e de resistência ao regime autoritário.  Andrea recorda a Lei 477/1969, instrumento voltado para cassações nas instituições e que ficou conhecido como “AI-5 das universidades”. Perseguição, expulsão e prisão de professores, estudantes e técnico-administrativos se tornaram recorrentes, assim como as violações dos direitos humanos no interior da universidade. Muitos foram torturados e tiveram seus direitos cassados.

“Assim como ocorreu em várias universidades do país, públicas e privadas, durante a ditadura civil-militar (1964-1985) houve uma grande “operação limpeza” para expurgar do corpo social das instituições todas as pessoas consideradas subversivas, ou seja, todos aqueles e aquelas que se posicionavam contra o regime autoritário, ou que integravam o Partido Comunista”, relata Andrea.

“E neste sentido, apesar da modernização conservadora implementada pela ditadura, quer dizer investimentos em Programas de Pós-Graduação, sobretudo, no campo das ciências tecnológicas e da saúde, houve um grande esvaziamento político, científico, cultural e social dentro das universidades, com as perseguições e cassações, além da censura às pesquisas e às bibliotecas”, observa.

1968: Polícia se prepara para o desembarque no campus da Praia Vermelha invadido por forças da repressão da ditadura civil-militar que durante 21 anos trouxe sombras à vida do país