Plantões na Praia Vermelha (segunda-feira), Sintufrj (terças-feiras) e HUCFF (quartas-feiras) das 9h às 16h.

O guardião das memórias da Biofísica

 

“Se houvesse um pouco mais de cidadania, nós tínhamos constituído uma sociedade muito menos desigual. E cada vez que o mundo se globaliza, se torna cada vez mais desigual. Não basta mandar um foguete à Lua, eu tenho que ver que existem milhares de pessoas morrendo de fome. Há milhares de pessoas que não conseguem chegar à escola primária.

Então tudo isso se perde. Realmente os valores humanos se perdem. São eles que mantêm a sociedade viva. Uma sociedade não é um conjunto de indivíduos, uma sociedade é um conjunto de seres pensantes. Não basta a presença. É preciso a dinâmica do pensamento que leve essa sociedade aos conflitos naturais e que se resolvam esses conflitos.”

 Cezar Antônio Elias

 

A inauguração da Vitrine Memorial em homenagem ao professor Cezar Antônio Elias, dia 24 de setembro, no auditório do Instituto de Biofísica Carlos Chagas Filho (IBCCF), foi um momento especial para a comunidade universidade daquela unidade e, principalmente, para os que tiveram a felicidade de desfrutar seu convívio.
A Vitrine, localizada no interior do Museu Espaço Memorial Carlos Chagas Filho, do qual Cezar Elias foi curador, marca a trajetória e as realizações do pesquisador. Também nesse dia, uma outra sala com suas pinturas e instrumentos pessoais foi aberta ao público. Foi uma tarde dedicada ao “guardião de memórias do IBCCF”.
Humanista
Cezar Antônio Elias, nascido no Rio de Janeiro numa família de sete irmãos e pais libaneses (ganharam a vida como vendedores ambulantes), ingressou no Instituto de Biofísica em 1945, a convite do professor Carlos Chagas Filho, na Seção de Radiobiologia. Dedicou-se à pesquisa e ao ensino das disciplinas de Biofísica e Fisiologia, e ocupou por anos o cargo de chefe do Laboratório de Biofísica das Radiações.
Era também ligado às artes, cultura, história e filosofia. Viveu intensamente diferentes épocas e contextos, formando contatos e amizades que ultrapassaram o meio acadêmico e o próprio Brasil. Fluente em idiomas, fez medicina, botânica, direito e pintava. Humilde e generoso, não ostentava os títulos. Faleceu em novembro de 2018, aos 92 anos.

Emoção

Professores, técnicos-administrativos, estudantes, amigos e parentes celebraram a memória de Cezar Elias, relembrando suas histórias, algumas inusitadas, seus ensinamentos e suas realizações. Toda a trajetória do pesquisador humanista na Biofísica, no Centro Universitário Serra dos Órgãos (Unifeso), em Teresópolis, onde também dava aulas, e no Ibeu, onde foi coordenador, foi mostrada.
“Conheci o Elias em 2016. Ele transcendeu a questão profissional. Temos um patrimônio muito importante e devemos isso graças a ele, que guardou tudo ao longo de décadas”, falou, emocionada, Érika Negreiros, coordenadora do Museu Carlos Chagas Filho.
Ivanete Marins, técnica em laboratório que trabalhou com Elias por 43 anos, lembrou com a voz embargada: “Ele era maravilhoso e incentivava todo mundo. Tudo o que fiz e conquistei agradeço a ele, que dava força para você ir para a frente”.
“Uma pessoa muito especial, e continua sendo na memória de todos nós. Por isso celebramos toda sua vida e obra. Ele foi fundamental para transformar o espaço que hoje é o museu”, registrou o diretor do IBCFF, Bruno Diaz.
“Toda terça tínhamos o prazer e a honra de encontrá-lo. Quando chegava, já sabíamos, pois vinha lá do início do corredor falando árabe e francês. Tudo a gente aprendia com ele: sobre instrumentos do museu, idiomas, política, arte”, contou Gabriella Mendes, mestranda do museu.