A união de unidades, do corpo social e de instituições permitiu que a UFRJ se destacasse no enfrentamento à Covid-19 e também na construção de um legado de avanços na ciência, além da tão almejada integração de saberes em resposta às demandas da sociedade. Foram essas conclusões que ficaram evidentes na palestra dos pesquisadores e dirigentes, no segundo dia de atividades do Festival do Conhecimento.

“A pandemia serviu de lição, inclusive que a união faz a força. A UFRJ mostrou o quanto pode ser diferenciada, o quanto esta universidade pode ser exemplo. Em nenhum momento vi esta universidade tão unida. Este é o exemplo que deve ficar daqui para frente”, destacou Renata Alvim, professora da Faculdade de Farmácia e pesquisadora da Coppe. “A pandemia serviu de lição para muita coisa; inclusive que a união faz a força”, completou Marcos Freire, diretor do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho.

Testes

Amilcar Tanuri, professor do Departamento de Genética e chefe do Laboratório de Virologia Molecular do Instituto de Biologia, e integrante do Grupo de Trabalho da Covid-19 na UFRJ, ressaltou a importância dos milhares de testes realizados pela universidade desde o início da pandemia para as pesquisas sobre a Covid-19. No primeiro momento a testagem foi feita nos profissionais de saúde da UFRJ e nos de fora da universidade e em pacientes do Hospital Universitário. Trabalho que contou, segundo ele, com 80 voluntários. Eles explicou os métodos utilizados e sobre os estudos em andamento para saber se o vírus permanece após a doença (estudo da Inglaterra indica que não) e se quem adoeceu uma vez fica suscetível ou não ao novo coronavírus. 

Ele defendeu a continuidade do trabalho no laboratório, inclusive para servir de base para a retomada de atividades presenciais na UFRJ com segurança.

15 mil atendidos 

Terezinha Marta Castanheiras, professora e chefe do Departamento de Doenças Infecto Parasitárias da Faculdade de Medicina também está à frente da pesquisa sobre o vírus, a partir dos testes realizados no Centro de Triagem e Diagnóstico para a Covid- 19, e faz parte do GT Coronavírus da UFRJ. A parceria entre a Faculdade de Medicina, onde é professora e chefe do Departamento de Doenças Infecto parasitárias, e o Laboratório de Virologia Molecular ocorre desde o início da pandemia no país, contou. Os testes são realizados nas pessoas (incluindo estudantes e todos os trabalhadores da UFRJ) em salas no bloco N do Centro de Ciências da Saúde. 

Segundo a professora, não teria sido possível dar conta do trabalho se não fosse à adesão maciça principalmente de estudantes. E graças a eles foram realizados até agora mais de 15 mil testes.

“O mais significativo de toda esta experiência é que de fato houve uma integração muito valiosa. Pode-se dizer que realmente foi muito produtivo. Nós entendemos que conseguimos criar dentro do bloco N um espaço para diagnóstico com a perspectiva de dar elementos para pesquisa com a possibilidade de respostas concretas a tantas perguntas ainda em abertas, seja da esfera virológica como imunológica”, disse Teresinha. Ela reivindicou que a grande rede que se criou continue viva na UFRJ e propôs que o bloco N passe a se chamar Pavilhão Carlos Chagas com a continuidade do centro de triagem.

Proteina S

A pesquisa sobre uma proteína que compõe o novo coronavírus para checar a novos testes sobre a Covid-19, que está sendo desenvolvida pelo Laboratório de Engenharia de Cultivos Celulares (LECC) da Coppe, sob a coordenação da professora Leda Castilho, foi explicada ao público por Renata Alvim. Segundo a pesquisadora, a equipe está produzindo e purificando a proteína S (inicial da palavra spike, espícula, em português) e esse trabalho integra a rede de ações emergenciais no combate aos efeitos da Covid-19, coordenada por Amilcar Tanuri.  

A proposta é aumentar a escala de produção do laboratório para atender a demanda. A meta da equipe é chegar a uma produção de proteína S suficiente para a fabricação de cerca de cinco milhões de testes por mês. A pesquisadora apontou outras aplicações da proteína S, como em estudos desenvolvidos em conjunto com o Instituto Vital Brazil para criação de um soro hiperimune, como os usados contra a raiva a partir do plasma de cavalos.

Hospital Universitário 

Marcos Freire, diretor do HUCFF fez um balanço das mudanças ocorridas na unidade para o atendimento dos pacientes com a Covid-19, com recursos de doações do Movimento União Rio e de outras instituições da sociedade civil e da Pró-Reitoria de Gestão e Governança. Ele citou a abertura de novos 60 leitos de CTI, obras no 9 º andar, reformas e aquisição de equipamentos, além de compra de equipamentos de proteção individual e pagamento de profissionais contratados. 

O diretor agradeceu o empenho dos profissionais da unidade para o sucesso das ações neste período crítico. Freire acredita que o hospital talvez tenha sido a  unidade de saúde que mais se preparou para a pandemia, não apenas com as obras e abertura de leitos, mas com equipamentos de proteção e até com projetos inovadores, como a constante comunicação com familiares, contando com a participação de alunos, e as visitas virtuais aos pacientes através de tablets. E adiantou que estão em andamento a instalação do circuito interno e a reforma de ambulatórios.

 

 

A voz rascante da mulher e artista do milênio, acompanhada do músico J P Silva, Elza Soares foi a grande atração musical do Festival do Conhecimento da UFRJ, na terça-feira, 14. “Universidade vive” é um evento organizado pela Pró-Reitoria de Extensão em comemoração ao centenário da instituição, as atividades gravadas e ao vivo acontecem até o dia 24 de julho. Veja a programação completa pelo site festivaldoconhecimento.ufrj.br.

O show “100 anos de UFRJ, 90 anos de Elza teve duração de 50 minutos e 5,7 mil visualizações. Em 1999, Elza foi eleita a “melhor cantora do milênio” pela BBC, sendo descrita como “uma mistura de Tina Turner e Celia Cruz” pela Time Out . Essa ilustre, vibrante, talentosa e militante brasileira é sobrevivente da pobreza, da fome e do racismo, aniversaria na sexta-feira, 23.

Nascida em 1937 na favela Maria Bonita, no Rio de Janeiro, a filha de um operário e de uma lavadeira precisou aprender desde cedo a sobreviver: aos 12 anos foi obrigada pelo pai a casar, aos 13, teve seu primeiro filho e, aos 15, viu o segundo falecer.

Ao longo da vida, gerou nove filhos, mas cinco faleceram – sendo três de fome. Aos 20 anos, Elza conciliava sua vida de cantora com outras profissões, como encaixotadora e conferente. Aos 21 ficou viúva de seu primeiro marido e aos 32 conheceu o segundo, o astro do futebol Garrincha.

Nesse momento, já reconhecida como um dos nomes do samba brasileiro, a cantora sofreu com os holofotes: foi chamada de “vadia” pelo país, ao se envolver com o jogador, que largou a esposa para se casar com Elza. Era xingada de “bruxa” pelos amigos do marido, que não aceitavam sua relutância em deixá-lo beber (tentando protegê-lo de seu alcoolismo). Em 1969 precisou lidar com a morte da mãe, Rosária Maria Gomes, em um acidente de carro provocado pela embriaguez de Garrincha.

Hoje, com 60 anos de carreira, a cantora continua surpreendendo. Em 2015 , aos 79 anos, lançou seu primeiro álbum com músicas inéditas, o A Mulher do Fim do Mundo. O disco, que discute racismo, machismo e feminicídio, ganhou no ano passado o Grammy Latino de melhor álbum de Música Popular Brasileira; ocupou a décima colocação na lista do editor de artes Jon Pareles, do jornal The New York Times e ficou entre os 50 melhores discos da lista do Pitchfork, um site independente de crítica musical. Por conta desse trabalho, Elza Soares foi eleita personalidade Cultural de 2016 nos Prêmios Bravo!

Elza gravou o primeiro clipe da carreira somente em 2017, que atingiu a marca de milhão de visualizações no YouTube há dois dias.

 

 

Declaração foi feita no Festival do Conhecimento na mesa que também reuniu outro ex-ministro da Educação, o professor Renato Janine Ribeiro. Professora e ativista do movimento negro, Giovana Xavier, e o vice-reitor Carlos Frederico Rocha participaram do debate mediado pela pró-reitora de Extensão, Ivana Bentes.

O ex-ministro da Educação Fernando Haddad (de 2005 a 2007 nos governos Lula e Dilma Roussef) disse na UFRJ que o governo Bolsonaro cai pelas tabelas na área da educação”. Segundo Haddad, que disputou o segundo turno das eleições presidenciais pelo PT contra Bolsonaro, o atual presidente não tem projeto para a rede de ensino “a não ser o desmonte”.

Fernando Haddad elogiou a rede de educação superior no país.“Temos muitas razões para nos orgulharmos (da educação superior). Na América Latina, o Brasil é o principal produtor do conhecimento. Nós conseguimos nesse século mostrar o talento da nossa gente. Um talento

reconhecido internacionalmente, inclusive, diante das ameaças do governo Bolsonaro, que não foram poucas. A comunidade científica internacional se mobilizou em defesa da ciência brasileira e isso não é pouca coisa”, disse.

 

Avanços

 

Ex- ministro da Educação fez um histórico do surgimento da educação superior no Brasil até a criação da UFRJ, e destacou a coragem de seus gestores em apostar na expansão de vagas e instituir políticas de inclusão e ações afirmativas.

Ele citou os investimentos feitos no setor pelos mandatos petistas, a excelência da educação superior, a produção do conhecimento e a pesquisa, que, segundo ele, vêm sofrendo revés desde o governo Temer e que se exacerbou com o governo Bolsonaro.

 

“Cumprimento a resistência universitária em relação a tudo o que vem sofrendo. Já estamos no quarto ministro da Educação de um governo fracassado nessa área. Isso significa dizer que a universidade está firme e forte com seus propósitos, enquanto o governo cai pelas tabelas na área da educação porque não tem projeto para a rede de ensino, a não ser o seu desmonte”, finalizou Haddad.

Desafio 

O professor de filosofia da Universidade de São Paulo, ministro da Educação entre abril e setembro de 2015, Renato Janine Ribeiro, lançou questionamentos. Para ele, que é também cientista político, a universidade tem de estar à frente no processo de mudanças que serão necessárias num cenário pós-pandemia. “A ciência, o conhecimento, a pesquisa é que nos ajudarão. As humanidades, chamando para a questão dos valores. Penso que a universidade deve liderar a mudança. Estamos vivendo uma situação com um governo contrário ao conhecimento e que nos prejudica, mas nós temos o futuro. Trazemos a semente para o futuro. Temos o conhecimento que pode proporcionar as mudanças”, refletiu.

Racismo na academia

 

Giovana Xavier que além de professora é uma ativista que direciona seus  estudos ao aprofundamento do combate às desigualdades raciais, apontou a existência de racismo dentro da academia. Ela afirmou que há negros na história da UFRJ, como o escritor Lima Barreto e a historiadora Beatriz Nascimento, mas eles não tiveram o devido reconhecimento da instituição.

 

Giovana chamou a atenção para o que classifica de pandemia racial. Aquela que atinge a população pobre e negra. “Que a UFRJ, que é uma referência no controle da Covid-19, dê mais atenção à pandemia racial. Dados da Fiocruz comprovam que 57% das mortes no país estão na população negra”, propôs.

 

O vice-reitor da UFRJ, Carlos Frederico Rocha, disse que obteve mais clareza sobre a pandemia no aspecto racial com a colocação de Giovana. “Devemos ter um olhar melhor sobre essa pandemia”, acrescentou.

E fez um relatou sobre os preparativos da universidade para iniciar o ensino remoto durante a Covid-19: “E um grande desafio, porque  envolve a inclusão social e digital de seus alunos. Além disso, a pandemia trouxe ensinamentos que devem ser aproveitados para a pós-pandemia”, concluiu.