Desde a semana passada, algumas unidades hospitalares da UFRJ convocaram seus servidores para se apresentarem no local de trabalho, sem uma definição sobre o que seria essencial e impossível de ser executado de forma remota, sem garantias quanto ao fornecimento de EPIs, adequação das estruturas físicas, condições de higiene e climatização, sem definição dos procedimentos de atendimento e sem respeitar o afastamento dos trabalhadores que fazem parte do grupo de risco. O sindicato esteve presente nessas unidades e vem, desde então, trabalhando para proteger os servidores.

Foi com este intuito que o Sintufrj participou da reunião do GT Saúde Pós-Pandemia da UFRJ. Nossa maior preocupação era fazer o debate no interior do GT sobre o retorno ao trabalho que começou a ocorrer de forma desorganizada, sem um padrão de procedimento e, pior, desobedecendo os protocolos sanitários da própria UFRJ, assim como a resolução do Consuni que organiza o trabalho em tempos de pandemia.

Em diálogo com os membros do GT Saúde, defendemos mais uma vez que a UFRJ deve seguir à risca exatamente as orientações que formula para o Rio de Janeiro e o país, dando exemplo de responsabilidade e compromisso com a defesa da vida. Hoje avançamos na construção de diretrizes unificadas orientadas pelo GT Pandemia da universidade e que, respeitando a autonomia das unidades, garante que os trabalhadores da universidade não sejam expostos ao risco desnecessário em um processo açodado de retorno que pode gerar, no momento seguinte, uma explosão de contágio e a paralisação radical do trabalho.

O Sintufrj está atento e solicita a publicação pela UFRJ das orientações construídas pelo GT, garantindo que seja respeitado o afastamento dos servidores que são de grupo de risco e alterando os procedimentos inadequados adotados de forma isolada, adequando-os à Lei 14.023 (Lei Covid) e à Resolução nº7 de 2020 do Consuni, resgatando a tranquilidade e a segurança para a comunidade acadêmica.

 

Direção do Sintufrj
Gestão Ressignificar

 

O novo “normal” alimentou a discussão de palestrantes que representam a diversidade de gênero no Brasil. O encontro promovido pela UFRJ no Festival do Conhecimento reuniu Mônica Benício – homossexual, ativista dos direitos humanos e ex-companheira de Marielle Franco; Amara Moita – transexual, escritora e professora de literatura; e Severa Paraguaçu – drag com deficiência e integrante do setor de Produção Cultural do Fórum de Ciência e Cultura da UFRJ. A mediação coube a Chalini Torquato, professora da Escola de Comunicação da UFRJ.

“Nós estamos em tempos de pandemia e as pessoas estão ansiosas sobre o novo normal. Chamamos de normal quando nós LGBTs somos lidos pela sociedade como os anormais, os que estão fora da norma da sociedade. Já por si só é uma afronta ao sistema e uma afronta as normas da sociedade a nossa existência, a nossa resistência, a nossa reivindicação pelo direito de ser”, disse Mônica Benício.
Segundo ela, a promoção de debates como esse é fundamental para compreender que existe um sistema que está colocado na ordem vigente e existe outro que está querendo fazer a subversão desta dita lógica normal.

“Estamos falando de um Brasil que beira a patamares da miséria com a fome aumentando a cada dia. É isso que a gente vai ter como normal?”, provocou Monica. “Estamos falando do país que mais mata pessoas trans no mundo! É isso que a gente chama de normal?”
Ela lembrou que o Brasil é um dos países que tem os maiores índices de feminicídio no mundo e que mais mata sua população LGBT. “Um dos países que tem a maior população negra fora do continente africano, e é um dos países mais racistas do mundo”.

Na avaliação de Mônica, no entanto, hoje existe uma dinâmica que mostra que já há uma revolução em curso. “E nessa revolução não cabem governos como os de Jair Bolsonaro, não cabe a gente admitir que a lógica da estrutura de poder, do poder político, do poder social, seja comandada única e especificamente por homens brancos, héteros, Cis, ricos, fundamentalistas que não sabem o que significa laicidade e que governam através da religião”.

Para a ativista, eventos como o Festival do Conhecimento da UFRJ mostra que coletivamente não estamos caminhando sozinhos.

*A SEGUNDA PARTE DESTA MATÉRIA SERÁ PUBLICADA AMANHÃ