Ao que parece há duas UFRJ: uma, do diálogo, que promoveu uma regulação importante sobre o trabalho remoto, criou GTs com especialistas para organizar — com base em critérios científicos — suas ações e o trabalho na pandemia. Outra, da realidade nas unidades.

Essa dualidade foi levada pelo Sintufrj e por conselheiros técnico-administrativos ao Conselho Universitário (Consuni) desta quinta-feira, 23, ao relatarem a ocorrência de convocações precipitadas para o trabalho presencial sem segurança pelas unidades hospitalares.

Outro grave problema exposto diz respeito aos cortes retroativos de benefícios devido a informações erradas dos códigos de frequência e exigências pouco claras, por parte da Pró-Reitoria de Pessoal, de comprovação de documentos no formulário para o auxílio-saúde. Situações que estão assustando os servidores.

Solução
“As questões levantadas pelo Sintufrj e a bancada dos técnicos-administrativos sobre a frequência solicitada pela Pró-Reitoria de Pessoal a chefes de departamento de pessoal não eram comuns para anexar aos formulários do auxílio-saúde, documentos dos planos de saúde e assinar as avaliações que não são de sua competência, como também a convocação pelas direções de hospitais para o retorno ao trabalho presencial sem condições de segurança, desrespeitando inclusive as próprias orientações do GT Covid-19 da UFRJ foram encaminhadas pela reitora Denise Carvalho”, informou Joana de Angelis, coordenadora do Sintufrj e conselheira, avaliando, portanto, que a sessão do colegiado foi boa pelos encaminhamentos obtidos sobre os problemas da categoria.

Ponto a ponto
Em relação ao formulário do auxílio-saúde, a reitora se comprometeu a se reunir com a Pró-reitoria de Pessoal e os chefes de DP das unidades, junto com representantes da bancada técnico-administrativa do Consuni. Joana solicitou que isso ocorresse o mais breve possível, porque existe prazo para a entrega dos formulários.

A reitora também concordou com a solicitação de que os recursos para alteração do código de frequência fossem avaliados pelo Conselho Universitário — porque o colegiado máximo da universidade é sim uma instância de recursos, desde que o processo passe primeiro pela unidade.
Relatos deram conta que as unidades não estão dando retorno aos recursos impetrados.

Ela também reforçou o compromisso assumido um dia antes — na reunião do GT Pós-Pandemiada qual o Sintufrj participou –, de que seria revista a convocação sem critérios para o trabalho presencial. Segundo a reitora, o documento que o Complexo Hospitalar e os diretores das unidades de saúde estão elaborando consideraram os compromissos assumidos no GT. (veja matéria a seguir).

Avaliações
“Retomamos questões que estavam mal resolvidas, bem como o caminho do diálogo e da construção acordada e unificada, respeitando os direitos dos trabalhadores. Até porque o Sintufrj não aceitará o retorno das atividades presenciais sem garantia de todas as condições que preserve a vida dos trabalhadores e que as determinações do GT Covid da UFRJ sejam respeitadas pela própria UFRJ ao estabelecer esse retorno”, disse Joana.

A coordenadora-geral do Sintufrj, Neuza Luzia, reiterou que, hoje, a comunidade vive em duas UFRJ. Uma grandiosa, que produz um Festival do Conhecimento que orgulha a todos e eleva a autoestima, que dialoga (mencionou a reunião do Sindicato com o GT Saúde Pós-Pandemia) com a proposta de um documento unificado. E, outra, acuada, movida pelo medo, em que vários funcionários sofrem desconto retroativo de benefícios, com prejuízos enormes, principalmente para aqueles com renda muito baixa, e a cobrança dos documentos (para o auxílio saúde) neste momento delicado. Segundo pontuou, deve haver uma razão para que isso ocorra e que ela gostaria de saber.

Sintufrj faz denúncia ao GT Pós-Pandemia

Na quarta-feira, 22, a direção do Sintufrj informou ao GT Saúde Pós-Pandemia da UFRJ sobre as convocatórias para o trabalho presencial que estavam ocorrendo, em desobediência aos protocolos criados pela universidade e à resolução do Consuni, que organiza o trabalho na instituição em tempos de pandemia.
O Sindicato defendeu que fosse seguida à risca as orientações e o compromisso com a defesa da vida. O Sindicato reivindicou a publicação das orientações garantindo o afastamento dos servidores do grupo de risco e alterando procedimentos inadequados adotados de forma isolada.

Consuni reunido presencialmente. Cenário não se aplica à realidade virtual imposta pela pandemia do coronavírus

 

Um projeto criado na década de 1980 pela então Asufrj e que atravessou gestões foi contado em detalhes, nas suas diversas fases, por quatro técnicos-administrativos em educação na quarta-feira, 23, em uma das mesas do Festival do Conhecimento da UFRJ, que debateu “Universidade para os trabalhadores: o papel dos TAEs na universidade”. O debate foi mediado por Rogério Silva, funcionário da Pró-Reitoria de Pessoal.

Márcia Tosta Xavier fez um histórico da criação do projeto, reafirmando sempre que ele foi fruto da luta dos trabalhadores técnico-administrativos que tomaram para si um movimento reivindicatório de caráter sindicalista, visando melhorias salariais e perspectivas de carreira, mais voltado também para a construção e a defesa de uma universidade de caráter público, gratuito e de qualidade voltada para as necessidades da sociedade.

“Esse projeto constituía numa proposta de democratização interna da universidade e maior interação com a sociedade brasileira. A proposta incentivava a nossa participação em estruturas de poder dentro da universidade, que até então era ocupada única e exclusivamente por docentes e já naquela época propúnhamos a democratização do acesso.
Tivemos então a ideia de criar nesse projeto o Curso Pré-Vestibular (CPV), mas que preparava os alunos para além do vestibular. Mudamos o perfil da categoria associando sempre a luta pela universidade às lutas democráticas do país. Lembro da nossa participação ativa na conquista, em 1988, do artigo da autonomia universitária na Constituição, que até hoje utilizamos como arma de defesa da universidade,”contou Márcia Tosta.

Testemunho

Lenin Pires, que durante 25 anos foi técnico-administrativo da UFRJ e coordenador-geral do Sintufrj de 1996 a 2001, e hoje é professor da UFF, onde dirige o Instituto de Estudos Comparados de Administração de Conflitos, afirmou que deixou de ser técnico em química para tornar-se doutor em antropologia, inspirado e estimulado pelo projeto Universidade para os Trabalhadores.

“O CPV se estabeleceu num momento que não tinha política de cotas. Era muito concorrido e eu participei dele. O CPV foi muito importante para mim, particularmente na desmistificação de um saber que está acima de outro, e me estimulou depois de muitos anos a fazer vestibular. Foi a oportunidade que tive para concluir a minha graduação em Ciências Sociais, que havia substituído pela minha militância. O que fica para mim de saldo desse projeto é que você pode ir mais e além”, falou emocionado Lenin.

Momento atual

As transformações necessárias que o projeto sofreu desde 1986 e sua adequação às necessidades da nova realidade funcional e profissional dos técnico-administrativos em educação por mais qualificação a partir de 2011 e 2017 oferecendo preparação para ingresso no mestrado e doutorado, foi explicado por Carla Danielle, coordenadora atual do CPV do Sintufrj.

“O projeto Universidade para os Trabalhadores tem 34 anos e só resiste porque tem características muito particulares. Não é só um nome. É pensado para o trabalhador. A sua longevidade e o seu sucesso estão exatamente em você olhar para a categoria técnico-administrativa e compreender qual a sua demanda. O que o técnico precisa”, resumiu Danielle.

Balanço

A atual aluna de doutorado em Ciência da Informação, Ana Maria Ribeiro, participa da história da UFRJ desde quando era estudante na graduação. Ela atuou nos colegiados da universidade como representante da bancada técnico-administrativa e foi coordenadora-geral do Sintufrj em três mandatos sindicais.

Ana Maria fez um balanço do projeto associando-o ao Plano de Carreira dos Técnico-Administrativos em educação, conquistado em 2005, mas olhando para o futuro. Na opinião dela o projeto deve ser atualizado sob o novo perfil dos trabalhadores que ingressaram na universidade, retomando sua função de formação política aliado ao seu conteúdo formacional.

Segundo ela, isso ajudará na retomada da discussão da valorização do técnico-administrativo e do seu papel de intervenção na política institucional da universidade. E ainda: o projeto deve se voltar para o aprofundamento da discussão do papel da universidade pública no Brasil frente ao mundo polarizado. “Embora tenhamos avançado muito nos anos 1980, temos um desafio que é a superação da subalternização e a visão de alienação do nível de trabalho”, acrescentou.

“É repensar a universidade em bases autônomas e democráticas. A autonomia universitária tem que estar na boca do técnico-administrativo, ele tem que pensar e elaborar como a universidade pode ser autônoma e não fazer corte e cola das decisões do governo federal. E defender que essa construção do saber sirva à construção de uma sociedade mais justa e menos desigual. Esse é o que deve continuar sendo o objetivo do nosso projeto”, afirmou Ana Maria.

 

As inscrições para o curso pré-universitário Samora Machel já começaram e vão até a próxima quinta, 30 de julho.

Nesta edição, o curso será ministrado remotamente, por meio de ambientes virtuais. Para participar, preencha aqui o formulário e consulte o edital abaixo.

 

Edital 2020 aulas remotas – Curso Pré-universitário Samora Machel – Parceria SINTUFRJ