Os desafios nas relações de trabalho trazidos pela pandemia aos servidores ganharam vitrine na exposição de Ana Maria Ribeiro feita na manhã desta quarta-feira 25 no Seminário de Integração dos Servidores Técnico-Administrativos em Educação (Sintae) na UFRJ. Um dos eixos de sua intervenção foi a contestação da Instrução Normativa (IN) 65 baixada pelo governo. Ela defendeu que a normatização do trabalho seja feita internamente.

O conteúdo da apresentação de Ana Maria, que é técnica em assuntos educacionais da UFRJ e doutoranda em Ciência da Informação, foi fruto do que se discutiu no Grupo de Trabalho (GT) constituído pelo Sintufrj para responder as novas situações criadas com a expansão do trabalho remoto com a epidemia do coronavírus e as cobranças surgidas nesse novo cenário na vida dos servidores.

O assunto foi explorado na sua apresentação cujo tema foi “Trabalho remoto, teletrabalho, trabalho externo, trabalho presencial: o que nos reserva o futuro?” Sua palestra trouxe elementos importantes para o debate que hoje faz parte do cotidiano do servidor da universidade, seja em casa, seja presencialmente, e que tem de ser feito pela categoria diante da regulamentação do teletrabalho pelo governo federal.

A integrante do GT Sintufrj coloca que na avaliação final do grupo ficou evidente que é melhor organizar internamente na universidade uma normatização do que é o trabalho externo, ao invés de adotar o teletrabalho regulamentado pela Instrução Normativa 65/2020 (IN 65). “É fazer uma normatização interna. Tem mais ligação com o nosso fazer dentro da universidade, com nossos cargos e a natureza da instituição de ensino”, declara Ana Maria.

Trabalho Remoto

Ao serem colocados na modalidade não regulamentada de “Trabalho Remoto”, os servidores passaram a trabalhar de suas casas arcando com todas as despesas: luz, acesso à internet, telefonia celular, computador, plataformas etc. Em especial, nas universidades federais, eles abraçaram a causa da luta contra a Covid 19, sem medir esforços para continuar a atender a sociedade e a retomada das aulas de forma remota.

Apesar disso, “fomos brindados, em setembro, com uma nova instrução normativa que regulamenta o teletrabalho onde expressa claramente uma necessidade de mensurar a prestação do serviço. Ou seja, ela traz conceitos gerencialistas para a esfera pública, assim como distingue teletrabalho do trabalho externo”, explica Ana Maria em referência a IN 65.

A não adesão a essa IN, que é defendida pelo Sintufrj, é explicada pela técnica em assuntos educacionais. “Então a posição do GT, que é a que está sendo defendida pelo Sintufrj, parte da leitura e análise das normativas existentes e da análise da atual etapa de desenvolvimento do capitalismo. Dizemos que as Instituições Federais de Ensino Superior não devem aderir ao teletrabalho e sim buscar novas formas de organização. E que não passa pelo projeto Future-se que o governo federal apresentou”.

Argumentos

Ana Maria coloca que a IN 65 não pode ser analisada descaracterizando da toda a legislação existente:
“Nós temos hoje várias legislações, desde a Constituição Federal até o nosso PCCTAE – Plano de Carreira dos Técnicos Administrativos em Educação. Nosso plano de carreira é pautado sob a visão de um Plano de Desenvolvimento Institucional. Então, o nosso fazer, o nosso desempenho dentro da instituição não pode ficar preso a um programa de gestão produtivista como o apresentado pela IN, quando nós temos um plano de carreira que está vinculado ao dimensionamento, a formação e a capacitação. E a uma avaliação de desempenho vinculado a um plano de desenvolvimento institucional que está previsto na Lei 10.861/2009 – SINAES. Então não cabe pegar esse modelo gerencialista que o governo está apresentando e nos empurrar goela abaixo”.

Ana Maria afirma que o mais importante nesse momento para os servidores técnico-administrativos é identificar a diferença entre jornada de trabalho e o controle da frequência. “Esse controle da frequência só é possível através do trabalho presencial”, sustenta.
Ela avalia que o teletrabalho traz uma visão neoliberal concomitante a uma visão gerencialista com uma visão própria de destruição do estado. “É uma visão de trabalho mensurado que daqui a pouco abre espaço para que eu não precise ser servidor público para prestar esse serviço. Eu poderei terceirizar ele no momento que posso fazê-lo a distância”.

A apresentação de Ana Maria Ribeiro está disponível no canal do Youtube da Pró-Reitoria de Pessoal.

Captura de tela do slide inicial da apresentação da companheira técnica-administrativa Ana Maria Ribeiro.

 

 

Genial nos campos, jogador argentino nunca escondeu sua proximidade com líderes da esquerda latino-americana

Matéria retirada do Brasil de Fato. 

 

Ele parecia imortal. Tantas vezes, Diego Armando Maradona driblou os boatos sobre sua morte e as circunstâncias que poderiam levá-lo ao óbito. Porém, por volta das 13h15 desta quarta-feira (25), chegou a informação de que o ex-jogador argentino faleceu em sua casa, aos 60 anos, após uma parada cardiorrespiratória.

Maradona foi operado no dia 6 de novembro para remover um hematoma subdural. Porém, sofreu com uma baixa anímica, anemia e desidratação, que o mantiveram internado até 11 de novembro, quando finalmente teve alta hospitalar e foi levado para sua residência em Buenos Aires.

Diego Maradona estreou em 1977 pela seleção argentina. Tinha apenas 16 anos e todo o país desejava que fosse convocado para a Copa do Mundo de 1978, disputada na Argentina e ganha pelos argentinos.

Em 1986, veio a consagração. No México, Maradona, que já era uma estrela mundial, teve uma atuação épica e levou a Copa do Mundo, pela segunda vez, para a Argentina. Durante o torneio, o craque argentino fez um dos mais importantes gols de sua carreira, nas quartas-de-final, contra a seleção da Inglaterra.

Quatro anos antes, ingleses e argentinos guerrearam pela posse das Ilhas Malvinhas, um arquipélago ao sul da Argentina, que acabou sob comando da Inglaterra, após conflitos sangrentos, que vitimaram cerca de 650 soldados argentinos.

Durante a Copa do Mundo, um gol de mão e outro antológico, driblando metade do time inglês, serviram para eliminar a seleção europeia. Era a vingança de Maradona e de todos os argentinos.

A partida, transformada em ato político por Maradona, é apenas um capítulo de sua história com a política. No corpo, o ex-jogador carregava duas tatuagens, uma do revolucionário argentino Che Guevara, no braço direito, e outra do ex-presidente cubano Fidel Castro, na perna esquerda.

Com Fidel Castro, manteve a amizade mais próxima. Por diversas vezes, visitou o ex-presidente cubano na ilha. Em uma delas, para se tratar da dependência química que o acompanhou durante toda a vida. Foi em Cuba que Maradona ganhou uma sobrevida, após uma série de complicações em decorrência do vício.

Hugo Chavéz, ex-presidente venezuelano, foi outro amigo próximo de Maradona, que também recebeu visitas do jogador durante o seu mandato. Em março deste ano, o argentino recordou os sete anos de morte do líder da Venezuela. “Nunca se rendeu, lutou até seu último suspiro. Depois de sete anos de sua morte, está mais vivo que nunca.”

A amizade foi estendida à Nicolás Maduro, sucessor de Chávez no comando da Venezuela. Em agosto de 2017, após mais uma turbulência no mandato do venezuelano, Maradona anunciou em suas redes sociais. “Somos chavistas até a morte. E quando Maduro ordenar, estarei vestido de soldado para uma Venezuela livre, para lutar contra o imperialismo e os que desejam apoderar nossas bandeiras, que é o que temos de mais sagrado.”

Diego Maradona equilibra uma bola de futebol na cabeça enquanto sai do campo após o treino da seleção argentina na Cidade do México em 22 de maio de 1986 / JORGE DURAN / AFP

Diego Maradona equilibra uma bola de futebol na cabeça enquanto sai do campo após o treino da seleção argentina na Cidade do México em 22 de maio de 1986 / JORGE DURAN / AFP

Maradona sempre explicitou sua admiração pelo ex-presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva. Quando o petista estava preso, o argentino enviou uma mensagem. “Se querem voltar à era dos desaparecidos, como hoje fazem Lula ‘desaparecer’, estão muito enganados”, afirmou o ex-jogador.

Quando Lula foi solto, em 8 de novembro de 2019, Maradona se manifestou. O ídolo argentino publicou uma foto abraçado ao ex-presidente brasileiro e escreveu. “Hoje, se fez justiça.”

Com o casal Kirchner, Cristina e Nestor, manteve uma relação próxima e de apoio incontestável nas eleições presidenciais enfrentadas por cada um. A adesão se estendeu a Alberto Fernandez, eleito presidente da Argentina em outubro de 2019.

Duas semana após a posse de Fernandez, Maradona o visitou e mandou um recado a Maurício Macri, presidente argentino derrotado nas urnas e alvo constante do ex-jogador. “Esse não volta mais. Que vá morar na Tailândia”. “Falei em nome dos mais necessitados, para que neste momento tão complicado, todos possamos comer e trabalhar”, concluiu.

Macri nunca teve vida fácil com Maradona. Quando presidia o Boca Junior já era alvo de críticas do ídolo argentino. Hoje, Fernandéz se despediu da lenda. “Você nos levou ao lugar mais alto do mundo, Nos fez imensamente felizes. Foi o maior de todos. Obrigado por ter existido, Diego. Sentiremos sua falta pelo resto de nossas vidas.”

No último ano de sua vida, Maradonna foi técnico do modesto Gimnasia y Esgrima La Plata.

Maradona com Fidel Castro e Hugo Chavez – Foto: Estudios Revolución/Archivo de Cubadebate

 

 

 

Para minar resistência da população em relação à privatização das estatais, órgão do Ministério da Economia lança documento comparando salários nessas empresas com a iniciativa privada

Matéria retirada do site da CUT. 

Com o título “Estudo mostra paraíso salarial em estatais” estampado na manchete de um dos maiores jornais do país, o governo neoliberal de Jair Bolsonaro (ex-PSL) tenta mais uma vez colocar a população brasileira contra  os trabalhadores e as trabalhadoras das empresas públicas. O objetivo é abrir caminho para a privatização, minando resistências à venda do patrimônio dos brasileiros. Pesquisa Datafolha de agosto de 2019 mostrou que 67% (dois em cada três brasileiros), são contrários a qualquer tipo de privatização.

A reportagem, baseada na análise do Relatório Agregado das Empresas Estatais Federais (RAEEF), da Secretaria Especial de Desestatização, Desinvestimento e Mercados e Secretaria de Coordenação e Governança das Empresas Estatais, ligada ao ministério da Economia, compara os salários pagos entre a iniciativa privada e as estatais, traz diversos pontos que merecem uma revisão mais apurada.

Alegando números elevados e excessivos de empresas, altos salários pagos aos trabalhadores, ineficiência e peso negativo sobre as contas públicas, o relatório não condiz com a realidade atual e ainda despreza o papel e a contribuição dessas empresas para o desenvolvimento do país, bem como a alta qualificação dos trabalhadores e trabalhadoras das estatais, afirma o  economista do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), da subseção da Federação Única dos Petroleiros (FUP) , Cloviomar Cararine.

“O governo Bolsonaro desconsidera a importância das empresas estatais e públicas. São empresas que atuam em diversos setores e atividades de políticas públicas. Não é objetivo gerar lucro, mesmo gerando”.

O economista diz que o estudo divulgado pelo governo não leva em consideração algumas questões importantes como:

– os valores apresentados pelo estudo do governo não são em relação aos salários, e sim à remuneração total, que incluem outros benefícios como adicionais de periculosidade, sobreaviso e outros;

– apresenta um valor médio de remuneração e não mostra a imensa desigualdade salarial entre os trabalhadores de uma mesma estatal. No caso da Petrobras, por exemplo, a maior remuneração mensal é de R$106.189,00, do presidente da estatal, Roberto Castello Branco, e a menor é de R$1.510,00, representando assim uma diferença de 70 vezes;

O economista reforça que os trabalhadores brasileiros de maneira geral são muito mal remunerados, e no caso da Petrobras, vale uma comparação também com a remuneração de outras petroleiras, estatais ou privadas, no mundo. Os trabalhadores brasileiros recebem a menor média de remuneração anual (em US$) por trabalhador, como mostra o quadro abaixo.

“Quando compara a remuneração de trabalhadores estatais com a média nacional, o governo Bolsonaro inverte a questão central. Não são os trabalhadores das estatais que ganham muito e sim a média nacional que é pequena. Os trabalhadores no Brasil são muito mal remunerados”, reforça Cloviomar.

Ainda de acordo com o economista do Dieese, o relatório do governo desconsidera o processo histórico de luta de décadas que culminaram em  conquistas de direitos, com melhores salários e outros benefícios recebidos.

“Após 2016, ano do golpe contra a ex-presidenta Dilma, a difusão de informações parciais e enviesadas sobre as estatais como estratégia se tornaram recorrentes, para tentar criar ambiente de revolta na população”, alerta o economista do Dieese.

 

 

Durante a pandemia, quantidade de doações caíram em até 50%

Brasil de Fato | São Paulo (SP) | 25/11/2020

Nesse contexto, doar sangue, neste período pandêmico, faz-se ainda mais necessário para ajudar a salvar vidas – Foto: Erasmo Salomão/MS

O Dia Nacional do Doador de Sangue é celebrado nesta quarta-feira (25), em meio a um período de diminuição dos estoques nos hemocentros de todo o país. De acordo com a Fundação Pró-Sangue, durante a pandemia de coronavírus, houve uma diminuição de até 50% nas doações em algumas regiões do país.  

É nesse contexto que a campanha Somos todos do mesmo sangue, realizada pela Fundação Pró-Sangue e hemocentros de todo o país, está alertando para a demanda de doações.   

Como doar?


É preciso cumprir alguns requisitos básicos. A pessoa doadora precisar estar em boas condições de saúde, ter entre 16 e 69 anos e pesar no mínimo 50kg. Além disso, antes da doação é necessário estar descansado, o que significa ter dormido pelo menos seis horas no último período, estar alimentado e não ter ingerido alimentos gordurosos nas últimas quatro horas. No ato da doação é exigida a apresentação de um documento de identidade com foto. 

Também é necessário esperar um período de 60 dias entre uma doação e outra, para homens; e 90 dias, para mulheres.

A pessoa doadora também precisa observar os períodos dos chamados impeditivos temporários, que são os prazos estabelecidos em situações específicas. Por exemplo, é preciso esperar sete dias após os sintomas de um resfriado. No caso de gravidez são 90 dias após parto normal e 180 dias após cesariana e amamentação. Há também impeditivo temporário em casos de ingestão de bebida alcoólica nas últimas 12 horas, além de realização de tatuagem ou maquiagem definitiva nos últimos 12 meses, entre outros.

Por outro lado, também existem os impeditivos definitivos, que proíbem a doação em qualquer período da vida, como hepatite após os 11 anos de idade, hepatites B e C, AIDS (vírus HIV), doenças associadas aos vírus HTLV I e II, Doença de Chagas, malária e Mal de Parkinson.

DÚVIDAS SOBRE DOAR SANGUE?

Disque 0800 2820 708

 

 

Anualmente, o Brasil registra mais de 50 mil casos de violência verbal; 48% das vítimas apontam companheiro como autores

Matéria retirada do Brasil de Fato. 

 

Nesta quarta-feira (25) é celebrado o Dia Internacional de Combate à Violência Contra a Mulher. A data busca conscientizar pessoas em todo o mundo de que a violência contra mulheres é uma violação de direitos humanos enraizada em séculos de dominação masculina.

Este ano, uma campanha global realizada pela Babbel, uma empresa de ensino de idiomas, em parceria com o Movimento Me Too Brasil e o Instituto Maria da Penha, ajudará a amplificar vozes femininas em vários países com o intuito de estabelecer a consciência linguística de que a violência muitas vezes começa em palavras.

No Brasil, a Lei Maria da Penha enquadra agressões psicológicas. O crime de violência verbal, que afeta profundamente a saúde mental, é registrado, anualmente, cerca de 50 mil vezes.

48% das vítimas apontam namorados, cônjuges ou ex-parceiros como autores, segundo dados do Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan), do Ministério da Saúde.

Para Isabel Del Monte, formada em direito pela Universidade de São Paulo (USP), que atua na defesa e expansão dos direitos de mulheres e demais grupos minorizados, os maiores agressores de mulheres são os parceiros amorosos.

“Cônjuges e ex-cônjuges, companheiros ou ex-companheiros, também é comum que haja violência cometida pelo pai, filho, um neto e até mesmo por vizinhos em moradias de coabitação”, diz ela.

Del Monte, que também é consultora em equidade, cofundadora da Rede Feminista de Juristas e coordenadora do MeToo Brasil, afirma que é preciso expor que a violência psicológica não é natural e não é aceitável.

“É necessário que haja um desenvolvimento das capacidades emocionais dos homens e também das mulheres, primeiro para que os homens parem de cometer esse tipo de violência e, segundo, para que as mulheres consigam identificar rapidamente esse tipo de violência e se retirar dessa relação”, resume.

Confira abaixo a entrevista:

Brasil de Fato: Isabel, o que podemos classificar como violência psicológica?

Isabel Del Monte: A violência psicológica e moral, normalmente, se manifesta pela fala ou depreciação de coisas que são importantes para a vítima, como a sua fé, família, amigos ou o seu trabalho.

Ela se traduz em forma de xingamentos, humilhações e falas que deixam essa mulher para baixo e faz com que ela se sinta com menos valor. Para isso, o agressor usa xingamentos e também manipulações emocionais.

Em um dia o agressor diz que ama a vítima, no outro, diz que odeia e vai passando o tempo, ele oferece uma série de mensagens, falas e comportamentos contraditórios, ou seja, que você não tem certeza no que pode acreditar, se é no amor ou no ódio.

É como se a vítima vivesse uma eterna sensação de estar “pisando em ovos”

E essa manipulação funciona, ela encontra terreno fértil, porque é assim que a nossa psique funciona. Nós tendemos a ficar envolvidos em manipulações emocionais, justamente, porque elas se baseiam nessa contradição.

Logo, é muito comum ouvirmos mulheres vítimas de violência psicológica dizerem: “Mas às vezes ele também é um anjo, me trata muito bem, diz que me ama, me dá presentes”. Isso não é nada excepcional. Normalmente, o agressor tem, de fato, essas condutas contraditórias e instáveis.

É como se a vítima vivesse uma eterna sensação de estar “pisando em ovos”. Não é possível identificar qual é o gatilho, o que desperta uma reação violenta, uma reação destemperada por parte do companheiro, do pai, do filho, enfim, do sujeito que está ali cometendo agressões.

Logo, é importante ter essa visão mais macro do que é essa violência.

Quem são comumente os agressores dessas mulheres? São os cônjuges?

Infelizmente sim. Os maiores agressores de mulher são cônjuges e ex-cônjuges,  companheiros ou ex-companheiros, também é comum que haja violência cometida pelo pai, por filho, um neto, e até mesmo por vizinhos em moradias de coabitação.

É importante destacar que essa informação é comprovada por dados, como por exemplo, o Fórum Brasileiro de Segurança Pública [FBSP], IPEA [Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada], IBGE [Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística], Dieese [Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos]  e demais órgãos de produção de pesquisa e dados do Brasil. E não apenas no Brasil, mas também fora daqui, porque a violência, normalmente, acontece por companheiro ou ex-companheiro contra a mulher.

Como as vítimas de violência psicológica podem procurar ajuda e quais tipos de provas elas podem ter contra o agressor?

Normalmente, as vítimas têm algum tipo de registro. O agressor pode mandar mensagem cometendo a violência. Logo, o print dessas mensagens valem, o relato que se faz para amigas, quando se está em uma situação dessas, seja pessoalmente ou por mensagem, isso é prova.

É o que chamamos de testemunha indireta . Ou seja, a pessoa não estava no local do fato quando a violência psicológica aconteceu, mas ela foi a primeira pessoa procurada pela vítima para desabafar. Isso é um tipo de prova válida.

Além disso, ela pode fazer um diário relatando: dia x, hora x, no local x, isso aconteceu. Isso é prova de memória.

Se a vítima tem uma anotação de janeiro, outra de fevereiro, uma de abril, outra de maio e resolve procurar ajuda em junho, você já tem um registo de memória que pode ser usado como prova.

Conte com uma advogada, uma psicóloga que vão te apoiar na criação de um conjunto provas que evidencie perante o judiciário a situação de violência

Além disso, é muito comum que seja feita uma varredura do histórico do agressor pela defensora da vítima. Então, ela também pode contatar outras mulheres que se relacionaram com esse homem de modo a comprovar – caso seja o caso evidentemente –, que ele tem um comportamento em série. Que ele agride mulheres psicologicamente em série. O que, normalmente, e infelizmente, se comprova.

Há pesquisas também que revelam que o comportamento abusivo em relacionamentos se inicia na adolescência. Raramente um homem adulto acaba cometendo uma violência doméstica pela primeira vez. Ele vai cometendo isso ao longo de todos os seus relacionamentos.

É importante também que a gente estabeleça que nesse crime, que acontece em um ambiente privado – como a violência doméstica e a violência sexual – são crimes em que a palavra da vítima tem especial relevância. O judiciário brasileiro já está mais acostumado com isso e de toda forma é muito importante que qualquer mulher vítima de violência doméstica procure ajuda especializada.

Essa ajuda pode ser encontrada no MeToo Brasil, na Rede Feminista de Juristas, no Projeto Justiceiras, já existem várias redes gratuitas que as mulheres podem procurar ajuda acerca dos seus direitos.

Conte com uma advogada, uma psicóloga que vão te apoiar na criação de um conjunto provas que evidencie perante o judiciário a situação de violência.

Os dados estatísticos apontam que as mulheres estão denunciando mais os casos de violência psicológica?

Na pandemia, houve sim um aumento da busca, um aumento exponencial da busca por ajuda. Então, redes como o Projeto Justiceiras tiveram o aumento da procura na pandemia. No entanto, alguns dados que mostram que reduziu o número de denúncias formalizadas perante a polícia.

Entretanto, isso não é uma surpresa na medida em que por conta da pandemia, o isolamento social enclausurou as vítimas na mesma casa que o seu agressor, e evidentemente, o medo de fazer uma denuncia aumenta. Afinal de contas, a vítima vai até a delegacia fazer um boletim de ocorrência e vai voltar pra onde depois? Para a mesma casa onde está o agressor.

E esse agressor vai ficar sabendo, ele vai ser intimado para falar no processo de investigação, na fase de inquérito policial. Por isso, as vítimas estão com muito medo de formalizar a denúncia porque elas não encontram no aparato público uma estrutura de segurança que as protejam e, principalmente, que protejam seus filhos.

A gente teve um retrocesso de 30 anos das mulheres no mercado de trabalho em apenas sete meses de pandemia

Uma grande preocupação das mulheres vítimas de violência – e uma preocupação justíssima – é a segurança e a subsistência ao seus filhos. Então, muitas mulheres também perderam o emprego na pandemia. Há também vários dados que mostram que a gente teve um retrocesso de 30 anos das mulheres no mercado de trabalho em apenas sete meses de pandemia.

Logo, essa mulher se encontra em uma situação onde ela está desempregada, sem autonomia financeira e isso, evidentemente, a desestimula de denunciar na medida que ela vê no próprio agressor a fonte de renda. É uma situação extremamente cruel.

Então, uma das necessidades que a gente tem no Brasil hoje é um maior investimento público em políticas para a segurança de mulheres e crianças, e infelizmente, não é o que a gente está vendo.

Para se ter uma ideia, na esfera federal o orçamento da pasta de mulheres que era de R$ 290 milhões em 2015 , caiu para 48,8 milhões de reais em 2019. O que você faz com R$ 49 milhões junto a 110 milhões de mulheres e meninas?

Nada. Não se implementa política pública com esse valor. E em janeiro deste ano, o orçamento do executivo previu uma redução de 2 milhões de reais ainda desse orçamento já muito diminuto.

Só teve um aumento do orçamento, quando o Congresso Nacional, diante da situação de emergência da pandemia destinou emendas parlamentares para o Ministério da Mulher [da Família e dos Direitos Humanos]. Com isso, se não me engano, o orçamento passou para a casa de 110, 120 milhões de reais.

Mas mesmo assim, o ministério da Mulher, conduzido pela ministra Damares, não está fazendo os devidos investimentos. Inclusive, ela tem respondido a questionamentos tanto do Congresso, quanto do Ministério Público a respeito da sua falta de investimento em políticas públicas para mulheres em um momento de extrema emergência

Falando especificamente da campanha: por que focar na questão da violência psicológica e verbal e quais são os desafios mais complexos para combater esse tipo de crime?

Como surgiu a campanha?

A campanha surgiu como iniciativa do Babbel, que é um aplicativo destinado a idiomas. Então, tem a ver com a temática desenvolvida pelo aplicativo e nós, como Movimento MeTooBrasil, nos interessamos em apoiar essa campanha, primeiro porque a gente sabe que a violência psicológica e moral é a primeira violência.

Muito raramente, muito raramente mesmo você vê uma violência doméstica começar com uma agressão física ou com a tentativa de feminicídio ou com feminicídio consumado. Existe uma escala: ela começa com xingamento, com uma agressão verbal.

Logo, se a gente joga luz para essa fase, para esse momento da violência, nós podemos trabalhar no fortalecimento de mulheres para que elas consigam sair dessas relações de violência e também atingir a reflexão masculina à respeito desses comportamentos.

Outro motivo para a gente jogar luz para esse problema é que esse tipo de violência ainda é muito naturalizado. Há muitas pessoas que acham que a violência doméstica é só violência física e não é. E por que é naturalizado?

Porque nós crescemos em uma sociedade, nós vivemos em uma sociedade em que a opressão do homem contra a mulher, do gênero masculino contra o gênero feminino, ou a masculinidade contra as mulheres é naturalizada.

O que se reflete nas falas de dizerem: “Homem é assim mesmo; homem se comporta assim; homem é agressivo; homem sente raiva; você tem que entender”. E assim natutaliza o xingamento, como se o xingamento, a humilhação, uma depreciação fossem fatos normais de um relacionamento amoroso, assim como é o sexo, assim como é fazer programa junto, conhecer as famílias.

Então, nós queremos expor que isso não é natural, não é aceitável. É necessário que haja um desenvolvimento das capacidades emocionais dos homens e também das mulheres, primeiro para que os homens parem de cometer esse tipo de violência e, segundo, para que as mulheres consigam identificar rapidamente esse tipo de violência e se retirar dessa relação.

Um tipo de violência psicológica, por exemplo, o cara mandar você sair do carro quando ele está dirigindo e vocês estão brigando e está de madrugada, no meio da rua, ele abre a porta do carro e fala: sai.

Ele não te bateu, ele não te empurrou, ele só mandou a mulher sair. Por que isso é uma violência psicológica? Porque ele está deixando aquela mulher sozinha, na rua, de madrugada, numa situação de perigo, já que sabemos que a rua de madrugada não é um lugar acolhedor para uma mulher sozinha. Deveria, mas infelizmente não é.

Logo, é sobre essas questões que precisamos jogar luz. Sobre o comportamentos que são, historicamente, tidos como comportamentos normais como comportamentos comuns dentro de uma relação amorosa. Não é normal. Não é comum. É violência. E toda relação tem que ser focada em parceria, respeito, troca e reciprocidade, e amor evidentemente.

Quanto aos principais desafios que a gente enfrenta atualmente é um governo anti-mulheres, anti-direitos humanos, anti-equidades, mas que tenho esperanças de que estamos avançando no debate da sociedade com relação a esse tema e muitos dos desafios que a gente encontra está na cultura, tanto a brasileiro quanto de outros países.

Isso porque a cultura ainda é segmentada na ideia de prevalência física, intelectual e financeira de homens sobre mulheres e é justamente um desafio grande que a gente enfrenta no sentido de desnaturalizar essa estrutura.

Houve, durante muito tempo, por exemplo, o mito de que as mulheres da pré-história eram mulheres que ficavam dentro das cavernas cuidando das crianças e hoje os cientistas descobriram que na verdade não, as mulheres eram tão caçadoras, tão coletoras, tão ativas na vida da comunidade quanto eram os homens.

Então, essa estrutura que nós vivemos hoje é uma estrutura construída social e culturalmente. O que a gente tem desejado é a transformação dessa estrutura para isso a gente precisa contar com o trabalho de escolas, jornais, imprensa como um todo, da cultura, então, novelas, cinemas, séries.

Quem sedimentou determinados estereótipos sobre mulheres, por exemplo, foi a música, foi a televisão, foram as novelas, foram as notícias de jornais. E agora precisamos de um novo olhar, que trabalhe para a disrupção desses estereótipos.

Outras iniciativas

Em alusão à data, a Articulação de Mulheres Brasileiras (AMB) lançou uma série de cards e também uma carta de posicionamento em suas redes sociais. A ideia é provocar a reflexão quanto aos casos de violência contra as mulheres, no Brasil, em diversos formatos.

O material possui quatro eixos temáticos: Violência contra as mulheres negras; Violência contra a mulher e as lideranças religiosas; Violência contra as mulheres lésbicas; O Judiciário e o patriarcado.

Outra iniciativa trata-se de um evento internacional, intitulado “Unidas: Mulheres em Diálogos“, que une diversas nacionalidades e trajetórias, todas com o intuito de promover ações que fortaleçam a luta feminina e feminista.

Assim, até 28 de novembro , Salvador e Berlim serão cidades-sedes do evento, realizado pela UNIDAS, Goethe-Institut e Ministério Alemão das Relações Exteriores.

O encontro terá transmissão na internet e uma programação intensa dividida em quatro blocos temáticos: “Interseccionalidade”, “Direitos das Mulheres e Igualdade de Gênero”, “Violência contra as Mulheres” e “Prevenção de Crises”.