O sacrifício é todo do trabalhador, que tem de trabalhar mais e ganhar um valor menor de aposentadoria. Já os devedores de bilhões ao INSS, não pagaram nenhum centavo nem foram cobrados pelo governo

Matéria retirada do site da CUT. 

A reforma da Previdência proposta por Jair Bolsonaro (ex-PSL) e aprovada pelo Congresso Nacional, que aumentou o tempo de contribuição, diminuiu o valor da aposentadoria, prejudicando trabalhadores, trabalhadoras, viúvas e órfãos, completou um ano na semana passada. E este aniversário não há nada a ser comemorado porque o presente foi de grego e está sendo pago com o suor dos trabalhadores.

O discurso do governo federal de que o sacrifício deveria ser de todos não se concretizou. Os militares ficaram de fora da reforma e os 500 maiores  devedores do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) continuam devendo trilhões aos cofres públicos. As medidas previstas para acelerar a recuperação de dívidas com a Previdência, em uma estratégia para neutralizar discursos contrários à reforma, ficaram somente no discurso.

O último levantamento, divulgado pelo senador Paulo Paim (PT/RS) mostra que somente os maiores devedores do caixa da Previdência são as empresas Vale do Rio Doce, JBS, Itaú, Caixa Econômica Federal, Banco Bradesco, e alguns outros deviam juntos, em 2015, segundo o Ministério da Fazenda, R$ 426,07 bilhões.

“Essa dívida ocorre por causa da inadimplência e do não repasse das contribuições previdenciárias, além da morosidade da justiça”, declarou Paim à época do levantamento.

Uma lista com os 500 maiores devedores do INSS, com dados atualizados até 2017, também foi divulgada pela Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional (PGFN) – Entre os maiores devedores estão companhias de aviação, bancos, grandes frigoríficos, entre outros.

O economista Eduardo Fagnani é categórico ao afirmar que o governo Bolsonaro não deu nenhum passo e não vai dar para receber esses valores, mesmo com a dívida ativa (débitos com o governo), crescendo.

“Os grandes devedores da Previdência são parte do problema da dívida ativa que já está na casa dos R$ 3 trilhões, o que equivale a 35% do Produto Interno Bruto (PIB), mas sem esforço de fiscalização essa dívida só vai crescer”, afirma Fagnani.

Segundo o professor, a dívida dos maiores devedores do INSS é três vezes maior do que a economia que o ministro, Paulo Guedes, diz que vai fazer em 10 anos, na Previdência.

No Brasil, o sonegador é premiado por refinanciamentos. Ele não paga a Previdência porque espera refinanciamento em 10 anos, mas paga somente seis meses, para e de novo vai tentar refinanciar

– Eduardo Fagnani

A técnica do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Diesse/ subseção CUT), Adriana Marcolino reforça que a propaganda do governo dizia que a reforma da Previdência resolveria o problema fiscal do país e, como não resolveu, Paulo Guedes, volta a falar em sistema de capitalização

“Neste primeiro ano os trabalhadores ainda não sentiram de fato o peso da reforma. Vai levar 10 anos para os novos aposentados e pensionistas sentirem o baque. O Chile acordou depois de 30 anos quando a população percebeu que o sistema privado estava matando os idosos de fome”, diz Adriana,  lembrando que a revolta popular culminou com um plebiscito aprovando a realização de uma nova Constituição naquele país para corrigir o drama dos idosos que morrem na miséria por causa do sistema de capitalização da Previdência.

Adriana se baseia nos dados sobre o número de pessoas que se aposentaram e os valores recebidos ao comparar o período de setembro de 2019 com setembro deste ano, último mês divulgado pelo Boletim Estatístico da Previdência Social, da Secretaria de Políticas de Previdência Social. A variação nos últimos doze meses foi muito pequena.

 

SET/ 2020 CONCEDIDOS EMITIDOS NO ANO
Benefícios Valores pagos (R$) Valor médio do benefício (R$) Benefícios Valores pagos (R$) Valor médio do benefício (R$)
Total de benefícios emitidos 35.778.958 48.292.171.000 1.349,74 5.191.239 7.559.239.000 1.456,15
Urbano 26.183.562 39.246.697.000 1.498,91 4.414.384 6.784.288.000 1.536,86
Rural 9.595.396 9.046.074.000 942,75 775.855 774.950.000 998,83
SET/ 2019 EMITIDOS CONCEDIDOS NO ANO
Benefícios Valores pagos (R$) Valor médio do benefício (R$) Benefícios Valores pagos (R$) Valor médio do benefício (R$)
Total de benefícios emitidos 35.373.791 45.438.693.000 1.284,53 5.123.777 7.062.463.000 1.378,37
Urbano 25.800.505 36.847.233.000 1.428,16 4.268.557 6.246.594.000 1.463,40
Rural 9.573.286 8.591.460.000 897,44 855.220 815.869.000 953,99

 

 

 

Fonte: Boletim Estatístico da Previdência Social, da Secretaria de Políticas de Previdência Social (últimos dados disponibilizados).

OBS: Os benefícios emitidos são aqueles que foram efetivamente pagos, de janeiro a setembro. Os benefícios concedidos são os novos que foram pagos a partir de setembro.

“A avaliação de uma reforma da Previdência é de longo prazo porque nos primeiros anos há regras de transição e quem estava prestes a se aposentar consegue depois de alguns meses o benefício”, explica Adriana.

Na avaliação do economista Eduardo Fagnani ,a reforma da Previdência já demonstrou tudo aquilo que os seus críticos diziam: que ela afetaria apenas os mais pobres e vulneráveis. Segundo ele, o INSS foi o sustentáculo das rendas das famílias mais pobres durante a pandemia do novo coronavírus (Covid 19).

“Se pensarmos que 35 milhões de pessoas recebem pouco mais de um salário mínimo, e se cada beneficiário sustentar três pessoas em sua casa, já são 90 milhões de pessoas sobrevivendo dos benefícios do INSS”, diz.

“Quem não se aposentou em novembro do ano passado, já faz as contas e sente na pele que a porque a aposentadoria ficou mais longe, com regras mais duras e valores menores”, conclui Fagnani.

Clique aqui para entender o que mudou com a reforma da Previdência

 

 

Discurso da extrema direita começa a ser derrotado, mas o eleitor caminha no sentido do centro, avaliam cientistas políticos. Para Camila Rocha e William Nozaki, pandemia reflete o resultado das urnas

Matéria retirada do site da CUT.

O resultado das urnas no primeiro turno das eleições municipais deste domingo (15) mostra que o eleitor brasileiro caminha mais em direção ao centro, deixando de lado a pauta dos costumes e o discurso da violência pregado por Jair Bolsonaro (ex-PSL) e a extrema direita, mas ainda aliado ao neoliberalismo e desconfiado das lideranças da esquerda.

Em síntese, esta é a análise feita pelos cientistas políticos William Nozaki, professor na Faculdade de Sociologia de São Paulo e por Camila Rocha, pesquisadora do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (Cebrap), que estuda junto com a professora Esther Solano, desde 2017, a extrema direita e o bolsonarismo no país.

Para eles, o fato do presidente ter conseguido ajudar a eleger apenas sete dos seus 45 candidatos a vereador, e apenas dois dos seus 13 candidatos a prefeito passarem para o segundo turno, (Marcelo Crivella do Republicanos, no Rio de Janeiro  e Capitão Wagner, do Pros, em Fortaleza), significa que o bolsonarismo e a extrema direita foram os principais derrotados, mas eles não morreram.

Na análise de William Nozaki, as urnas revelaram o cansaço da “nova política” que o presidente representa e, que se demonstrou desastrosa para as políticas públicas, principalmente em relação à pandemia do novo coronavírus (Covid-19). Bolsonaro, negacionista da doença, tem entrado em conflito com a ciência ao criticar a obrigatoriedade de vacinação para a população, é contra o distanciamento social e chamou os brasileiros que temem a Covid -19 de “maricas”, entre outros embates.

“Teve uma reação da sociedade contra este projeto que não ofereceu o resultado esperado, sobretudo na pandemia. Isto não significa que as forças da extrema direita estão derrotadas. Há ainda candidatos que não tiveram apoio explicito do presidente, nas foram eleitos para as câmaras municipais. Seu filho Carlos, apesar de ter conquistado menos votos do que na última eleição, ainda teve votação expressiva no Rio de Janeiro. O bolsonarismo sofreu derrota, mas nem de longe está acabado”, diz o professor de ciência política.

A atuação do presidente na pandemia foi o principal desgaste do bolsonarismo, principalmente entre as mulheres e os mais jovens, acredita a pesquisadora do Cebrap, Camila Rocha.

Em seu estudo publicado em junho deste ano, com o título “Bolsonarismo em crise” ? , em co-autoria com a professora Esther Solano, que teve como fonte a pesquisa de caráter qualitativo com eleitores do presidente  (faixas C e D de rendimentos, residentes na Região Metropolitana de São Paulo), já se percebia que as narrativas sobre o coro­navírus  ser uma “gripezinha” não convencia nem mesmo os bolsonaristas mais fiéis.

“Esses eleitores, no entanto, olharam nesta eleição para a dinâmica municipal e consideraram que não deveriam levar a sério as suas indicações. Mas como eles gostam muito do presidente eu não apostaria no desgaste da imagem de Bolsonaro”, diz Camila.

Na eleição da capital de São Paulo, ao analisar outro extrato de eleitores de faixa de renda das classes A e B, que apoiam Bolsonaro 100%, a pesquisadora do Cebrap acredita que esses votos migraram para Bruno Covas (PSDB/SP) e não para Celso Russomano (Republicanos-SP) que teve o apoio presidencial.

“Além da pandemia, o fato de Bolsonaro não ter conseguido montar um partido próprio, nem constituir alianças sólidas, e ter sido praticamente coagido a indicar candidatos como foi o caso de Crivella, no Rio [o presidente declarou que apoiava o atual prefeito, mas que ninguém era obrigado a votar nele] levou o seu eleitor, até mesmo o mais fiel, a não levar a sério suas indicações”, afirma Camila Rocha.

O voto dos jovens e dos mais velhos

Dois elementos também refletiram nos resultados das urnas, segundo William Nozaki: o aumento da abstenção, em função da pandemia, e dos votos brancos e nulos.

“Este calendário eleitoral foi assoberbado pela discussão da pandemia e muitos eleitores mais velhos deixaram de votar. Também já vínhamos numa trajetória de muita abstenção e votos nulos, pelo desencantamento de parte do eleitorado. Por outro lado, muitos jovens foram votar. Um exemplo é o eleitor do Boulos [Guilherme Boulos –PSOL], que recebeu mais votos dos jovens e de parte da classe média com  mais estudo. Mas este eleitorado jovem também se dividiu e está se deixando levar pelo discurso neoliberal do Arthur ‘Mamãe Falei’ “, afirma Nozaki ao analisar as eleições municipais de São Paulo.

O candidato ‘Mamãe Falei’ ficou em quinto lugar na disputa pela prefeitura da capital paulista. Em 2018, a abstenção foi de 20% e este ano subiu para 23%. A porcentagem representa mais de 45 milhões de eleitores.

Reflexos nas eleições de 2022

William Nozaki alerta que o resultado desta eleição deixou claro a tendência que já mostrava que o PSDB não tem capacidade de dirigir o centro e a direita,  abrindo flanco para o DEM e o PSD ocuparem este espaço.

Para o cientista político, é preciso aguardar o resultado do segundo turno de três capitais: São Paulo, Porto Alegre e Recife, em que os candidatos da esquerda têm boas chances de vencer para fazer uma análise mais profunda de como essas eleições municipais refletirão em 2022, quando Bolsonaro tentará a reeleição para a Presidência da República.

“O PT perdeu a hegemonia da esquerda, mas há um volume significativo do eleitorado a ser disputado. São três trincheiras importantes e pelo tamanho do peso politico e regional elas são as mais relevantes. O desafio é a aglutinação das forças progressivas contra a direita e a extrema direita. O foco da esquerda tem de ser a derrota do neoliberalismo e do bolsonarismo”, diz Nozaki.

As três trincheiras são: Porto Alegre (RS) em que Manuela D’Ávila (PCdo B) disputa o segundo turno com Sebastião Melo (MDB); Recife (PE) em que Marilia Arraes (PT) concorre com João Campos (PSB) e a capital de São Paulo onde Guilherme Boulos (PSOL) disputa a prefeitura contra Bruno Covas (PSDB).

“O alerta principal para o próximo período é que o bolsonarismo sofreu um revés, mas não necessariamente o neoliberalismo. Por isso, a esquerda não pode se descuidar”, analisa Nozaki.

A união das esquerdas também foi um dos resultados da pesquisa de Camila Rocha. Os eleitores mais progressistas acreditam que o bolsonarismo pode ser derrotado com a união das forças de esquerda.

“As pessoas estão frustradas com as lideranças políticas, mas veem numa aliança progressista, que incluam mais partidos além do PT e PSOL, uma forma de derrotar o bolsonarismo”, diz Camila.

Por outro lado, mesmo os arrependidos ou que tem críticas à gestão de Bolsonaro na pandemia, dizem que podem votar novamente no presidente por falta de opção em 2022.

“Para as faixas de classes de rendimentos mais baixos, que combina a classe média baixa e os empobrecidos, trabalhadores precarizados, que moram nas periferias das cidades, nenhuma candidatura anima particularmente para 2022,  por isso que a união da esquerda é importante para fazer frente à extrema direita”, conclui a pesquisadora do Cebrap.

Extrema direita no mundo

Para William Novak ainda há esperança que a extrema direita diminua sua influência na política em todo o mundo. Ele lembra que os resultados nas eleições nos Estados Unidos, com a vitória de Joe Badin sobre Donald Trump e a vitória do peronista Alberto Fernández sobre o liberal Mauricio Macri, na Argentina, tem enfraquecido os neoconservadores que têm tido dificuldade em se reeleger. Isto também pode ocorrer no Brasil nas eleições de 2022.

 

 

Vilmar Kalunga estará à frente da prefeitura de Cavalcante (GO) e dezenas de quilombolas ocuparão as câmaras municipais

Matéria retirada do Brasil de Fato. 

A participação expressiva de quilombolas nas eleições municipais deste ano rendeu bons resultados. Segundo a Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas (Conaq), 58 quilombolas foram eleitos em diversos estados do Brasil neste domingo (15).

Dos cerca de 500 quilombolas que concorreram, 56 foram eleitos vereadores, número comemorado pela organização.

“É um número muito significativo”, comemora Antônio Crioulo, coordenador executivo da Conaq que acompanhou de perto a pauta das candidaturas quilombolas.

“Com esse poder, entendemos que essas pessoas vão estar em seus municípios continuando na luta em defesa dos territórios, das comunidades”, afirma.

Leia também: Raio-x eleitoral: onde a esquerda cresceu, onde a direita liberal manteve hegemonia

Crioulo ressalta a importância dos resultados alcançados na atual conjuntura política do país e mesmo em meio às dificuldades materiais para colocar as candidaturas e as campanhas de pé. Para ele, as eleições de lideranças quilombolas representam a ruptura com um sistema político tradicional onde a compra de votos, por exemplo, é uma prática corriqueira.

“Vamos tentar nos organizar para que as ações desses mandatos sejam alinhadas com o pensamento da Conaq e das comunidades quilombolas, que é sempre a defesa do coletivo, do território, o fortalecimento da identidade e a resistência a um sistema opressor”, destaca a liderança quilombola.

Quilombolas eleitos

Para o Executivo, foram eleitos o quilombola Vilmar Kalunga  como prefeito da cidade de Cavalcante, em Goiás, e Nivaldo Araujo, em Alcântara, no Maranhão, como vice-prefeito.

A maioria dos quilombolas que estarão nas câmaras municipais em 2021 foram eleitos também no Maranhão, onde ocuparão 14 cadeiras.

Em Goiás, 9 candidaturas quilombolas foram eleitas, sendo 6 somente na cidade de Cavalcante.

Os números também são representativos nos demais estados: Na Bahia, 8 quilombolas foram eleitos. Em Pernambuco e Minas Gerais, 7 em cada estado.

No Tocantis, foram 4. Em Sergipe e no Piauí, foram 2 em cada estado. Pará e Ceará elegeram um quilombola cada um.

Os números ainda podem ser atualizados conforme a Conaq receber mais informações de candidatos em regiões mais distantes.

 

 

A reforma administrativa de Bolsonaro é sinônimo de aprofundamento do desmonte dos serviços públicos, que já ocorre lentamente. A saúde e a educação são os setores mais atingidos, embora imprescindíveis à população, principalmente para as mais pobres, que também são as mais penalizadas pela retirada de direitos, como ocorreu com a reforma trabalhista e a nova lei da terceirização: o trabalho precarizado passou a valer também para as atividades-fim.  

Na UFRJ, os trabalhadores das áreas de recursos humanos (RHs) são os que mais padecem no dia a dia hde trabalho com as quase diárias mudanças de rotina nos seus fazeres, em consequência da imposição, pelo governo federal, de novas resoluções, legislações, portarias, instruções normativas. Esses profissionais, cada vez em menor número nos setores, portanto, cumprindo jornadas extensas e sem gratificações, dão o jeito deles para atender às demandas dos servidores, e sem errar. Tudo isso em meio à pandemia do novo coronavírus.

Ler e reler os documentos recém-enviados por Brasília e ter que dizer não para um colega, por conta de mudanças nas leis do benefício que ele ou ela considerava garantido, é um estresse diário, como o que ocorre em relação às instruções normativas (INs) 28 e 65, que afetam direitos. Outros problemas que os RHs enfrentam atualmente estão relacionados à migração dos processos do meio físico para o Sistema Eletrônico de Informação (SEI) e a contagem de tempo especial para quem recebe adicional ocupacional, resultado da recente conquista histórica da categoria, em processo movido pelo Sintufrj. 

Mas driblar dificuldades com experiência e dedicação é com os profissionais de recursos humanos da universidade.Veja alguns depoimentos:   

Déficit de pessoal 

Advogada e especialista em direito público e controladoria, com 38 anos de UFRJ, Maria Efigênia Henriques Moutinho é a diretora adjunta de Recursos Humanos do Instituto de Atenção à Saúde São Francisco de Assis (ex-Hesfa), uma unidade com 170 trabalhadores. Ela lamenta que na universidade já tenha se tornado normal conviver com déficit de mão de obra no setor e a não qualificação para o exercício das tarefas, por falta de capacitação. Segundo ela, tudo isso provoca a sensação de que o problema está no DRH.

Um dos problemas apontados pela técnica-administrativa é o despreparo para uso das novas tecnologias, que se tornou mais explícito com a Covid-19, pela adoção necessária do trabalho remoto, no qual ela se inclui por fazer parte do grupo de risco. “Não estávamos preparados para enfrentar este momento”, disse, queixando-se de que há quem pense que ela não está com “vontade” de trabalhar. “Estou trabalhando muito mais do que se estivesse no hospital”, afirmou.  

Maria Efigênia acrescenta que tem consciência de que isso não ocorre somente no ex-Hesfa: “É uma situação generalizada por falta de treinamento e que foi acentuada com a pandemia”. Outra situação que ela acha injusta é a retirada de direitos, e citou como exemplo o corte do vale-transporte para quem está trabalhando de casa, “sem que seja considerado o aumento dos gastos com energia, telefonia e internet”. 

Maria Efigênia

 “A impressão que a gente tem é que o momento que estamos vivendo, de tanta incerteza, tanto perigo, está sendo oportunizado pelo governo para espremer a gente”. Maria Efigênia concluiu compartilhando um sonho: “Que a administração pública se preocupe com os servidores. É o mínimo, mas hoje em dia é um desejo meio utópico”.

Trabalho até madrugada  

Ednéa Martins chefia a Seção de Pessoal do Fórum de Ciência e Cultura (FCC) e há mais de três décadas é servidora da UFRJ. No início de outubro, ela ficou afastada do trabalho por contrair a Covid-19, e ainda hoje sofre com as sequelas deixadas em seu corpo pelo vírus, o que não a impede de enfrentar o dia a dia do setor, do qual não conseguiu se desligar nem durante a convalescença. Essa postura compromissada em garantir que a universidade continue funcionando a todo o vapor durante a pandemia, segundo a técnica-administrativa, não é um fato raro na UFRJ: “Hoje, até em função das novas demandas do setor de pessoal, os profissionais não estão conseguindo não se envolver com as tarefas, mesmo estando de licença médica, em função das responsabilidades”.

Ednea Martins

Ela reconhece que no Fórum de Ciência e Cultura a situação é diferente de muitos outros setores de RH da instituição, que se ressentem com a falta de pessoal suficiente para dar conta do trabalho e de estrutura. Lá, informou, há equipamentos, uma equipe com quatro pessoas, inclusive servidores recém-chegados e antenados com as novas tecnologias. Mas nem por isso a sobrecarga não é sentida. 

“Primeiro porque há o tempo todo demanda presencial, e as informações que chegam têm que ser colocadas no sistema, e os servidores possuem diferentes capacidades de lidar com a tecnologia no novo SEI”, explicou. O RH do FCC responde por mais de 400, inclusive pelo pessoal do Sistema de Bibliotecas e Informação da UFRJ (Sibi). Ednéa também chamou a atenção para o fato de que, trabalhando em casa, a carga horária muitas vezes se estende pela madrugada adentro, em detrimento das novas demandas, como a contagem de tempo especial para quem tem adicionais ocupacionais e a contagem do tempo celetista (antes do RJU, em 1990) para regularizar a situação de quem pretende pedir abono ou aposentadoria.  

Valorização necessária 

A responsável pela Seção de Pessoal do Núcleo de Rádio e Tevê do Fórum de Ciência e Cultura, Cristina Sari, lamentou que poucos deem valor ao trabalho dos profissionais de recursos humanos, e muitos inclusive criticam quando não conseguem ser atendidos em suas demandas, em seus direitos, sem entender que a origem do problema vai além da instituição. 

O Núcleo tem 22 servidores, mas Cristina sabe que há RHs na universidade que funcionam com apenas um profissional e respondem por mais de 200 pessoas. “Há deficiência de pessoal em grande parte da universidade”, disse, chamando atenção para o corte de funções e para situações em que os profissionais são pressionados “como se não fizessem nada”.

Cristina Sari

Quando, segundo ela, a realidade é bem outra, porque o profissional de RH tem que estar 24 horas alerta e sem ganhar nada a mais por isso. Ela considerou como um duplo ataque ao servidor ele ter que, por conta da pandemia, se adaptar à nova realidade e continuar sendo atacado pelo governo, cujos efeitos recaem sobre esses trabalhadores em efeito cascata. Como exemplo, a técnica-administrativa apontou a reforma administrativa, a IN 109, que quer a volta ao trabalho normal, mesmo com riscos, e a IN 65. “Tudo isso recai sobre as nossas costas, e ainda as contas de luz e internet. Estamos trabalhando pra caramba, ganhando menos e somos taxados de marajás. Os marajás não estão no pacote da reforma”, afirmou.

Concursada da UFRJ desde 2012, Cristina considerou importante jogar luz sobre o trabalho dos profissionais do setor, principalmente agora que redobrou o trabalho em função das novas exigências e atitudes do governo contra os servidores. “A pandemia está sendo um prato cheio para virem em cima da gente”.

 

“Estou até hoje porque amo o que faço”

Com mais de duas décadas de bons serviços prestados à UFRJ, Sara Teixeira responde pela Seção de Pessoal do Instituto de Matemática (IM). Durante o dia o trabalho é presencial, e à noite, remotamente. As tarefas são divididas com mais dois profissionais, e o número de atendidos chega a mais de 200 pessoas. “Chego do Fundão e continuo trabalhando. Só desligo o laptop antes das 20 horas, porque tenho compromisso pela manhã, senão ia até as 22 horas. Essa é a minha rotina, e sem receber hora extra”, contou a técnica-administrativa. 

Sara Teixeira

As atividades mais demandadas pelo setor atualmente, segundo Sara, são contagem especial de tempo, ressarcimento do plano de saúde, acompanhamento das contratações de professores substitutos, processos de insalubridade em fase de levantamento, revisão das averbações com contagem de tempo de serviço em período celetista para concessão de aposentadoria e abono pecuniário. Fora o atendimento ao público.

De acordo com Sara, o SEI está garantindo as condições para os RHs desenvolverem seu trabalho na pandemia, mas ela observa que há ainda muitos processos físicos. Outra dificuldade que apontou foi a falta de pessoal. “Uma das servidoras do setor, por exemplo, ingressou há pouco tempo na UFRJ e, embora esteja indo bem, está em fase de aprendizado. Há muita pressão. Faço o máximo que posso, mas nem todo mundo fica satisfeito”, desabafou.  

Sara admitiu que sente o desgaste e lamenta a decisão que tomou de se aposentar para preservar a saúde, porque sem o pagamento de gratificação é difícil conseguir quem a substitua. “O governo só sabe exigir cada vez mais dos servidores, eu estou até hoje no setor porque amo o que faço, mas tem um limite”, concluiu.