Presidente diz em redes sociais que não pode fazer nada se salário mínimo está baixo. Economista da Unicamp diz que nada o impede de retomar a política de valorização do mínimo do governo Lula

Matéria retirada do site da CUT. 

Em mais um desatino mostrando que nada entende de economia, o presidente da República, Jair Bolsonaro (ex-PSL), disse num vídeo em suas redes socais que reconhece que o salário mínimo está baixo (R$ 1.045,00), mas que nada pode fazer para resolver isso.

“Muita gente reclama: ‘Ah, o salário mínimo tá baixo’. Reconheço que tá baixo. Mas a gente não tem como aumentar”, disse Bolsonaro.

O presidente não faz nada para dar aumento real para o salário mínimo porque não quer, afirma a economista da Unicamp, Marilane Teixeira, rebatendo a declaração de Bolsonaro.

Segundo ela, não há nada que o impeça de encaminhar no orçamento de 2021 uma proposta de reajuste do salário mínimo, acima da inflação. Só depende de vontade política, como fez Lula, diz se referindo ao ex-presidente que implementou a Política de Valorização do Salário Mínimo, uma conquista da CUT e demais centrais, que Bolsonaro decidiu acabar, prejudicando aposentados, pensionistas e trabalhadores que ganham os mais baixos salários do país.

“A desculpa deste governo é a de sempre, de que o aumento do salário mínimo vai elevar os gastos com aposentadorias. O que ele quer na verdade é ter dinheiro para pagar o eleitoreiro programa renda cidadã e de alguma forma manter o auxílio emergencial”, diz a economista.

Impacto do salário mínimo nos rendimentos menores

Marilane critica ainda a obediência de Bolsonaro no campo econômico ao ministro da Economia, o banqueiro Paulo Guedes, que quer atender somente ao rentismo, mantendo uma política de austeridade fiscal, esquecendo que esse dinheiro, injetado direto na economia retorna para o governo em forma de receita tributária.

“Qualquer elevação do salário mínimo tem um impacto muito grande sobre os rendimentos menores, e as pessoas que ganham o mínimo gastam tudo consumindo alimentos, pagando contas. Do ponto de vista econômico tem um efeito muito importante”, afirma.

A técnica do Departamento Intersindical de Estudos e Estatísticas Socioeconômicas (Dieese), Adriana Marcolino também discorda do presidente Bolsonaro. Para ela, o impacto do aumento do salário mínimo é positivo porque  vai ter mais dinheiro circulando, para o consumo das famílias.

“Do ponto de vista social, principalmente neste período de crise, agravada pela pandemia , uma renda mais condizente ajuda numa alimentação mais saudável, ajuda a pagar ,inclusive, tarifas de serviços públicos”, diz Adriana.

Ao olhar para o número friamente, como gasto, e não como valor que beneficia a população e ajuda a retomar a economia, Bolsonaro demonstra ter uma visão míope e limitada do que é finança pública e desenvolvimento econômico e social

– Adriana Marcolino

Na mesma “live’, na noite da última quinta-feira (26), Bolsonaro disse que “ o governo não suporta um aumento real”, se referindo ao efeito do reajuste do mínimo sobre outros benefícios pagos pela União.

De fato, o reajuste do salário mínimo se reflete nos pagamentos da aposentadoria, auxílio-doença, salário maternidade, pensões, Benefício de Prestação Continuada (BPC), abono salarial e os pisos salariais de diversas categorias profissionais que utilizam o salário mínimo como parâmetro para suas reivindicações em acordos coletivos de trabalho.

“O salário mínimo funciona como uma bússola de referência. Mesmo quem está na informalidade, ou por conta própria, avalia seus ganhos pelo valor do mínimo”, explica Marilane Teixeira.

Outro ponto, destaca a economista, é que 29% da força de trabalho ocupada no país (a partir de 14 anos, em idade de trabalhar, sejam formais ou informais), ganham um salário mínimo. Esse contingente é de 30 milhões de pessoas. Se somarmos o número de aposentados e pensionistas são 50 milhões de pessoas recebendo R$ 1.045. Por isso que cada real de reajuste impacta na diminuição da desigualdade salarial e social.

Bolsonaro quer dar R$ 22,00 de reajuste do salário mínimo 

O novo valor do salário mínimo foi encaminhado ao Congresso Nacional, no final de agosto deste ano. A princípio o governo estimou seu valor em R$ 1.067,00 (+ R$ 22,00). Mas, com a inflação batendo acima de 4%, a expectativa é que ele suba para R$ 1.088,00. A legislação permite ajustes no índice que deve ser analisado e votado ainda este ano pelo Congresso, bem como toda a peça orçamentária de 2021,a partir do índice da inflação.

O salário mínimo de 2021, se aplicada a política de valorização do governo Lula, seria reajustado em mais 1% tendo em vista que o PIB do ano passado foi pouco acima disso. Mesmo assim seriam R$ 10,45 a mais. Ou seja, o índice da inflação somado ao crescimento do PIB, valorizaria o salário mínimo, de 2021, em pelo menos R$ 53,45.

“Isto significa comprar mais litros de leite, mais quilos de arroz e feijão. Mas este governo só pensa em arrochar e ampliar as condições de pobreza e  estimular a concentração de renda,  porque este dinheiro está indo para o rentismo, que está no topo da cadeia”, conclui Marilane.

 

 

Nova onda de Covid-19 foi constatada pelos cientistas que atuam no Centro de Testagem e Diagnóstico (CTD) da UFRJ. Instalado no bloco N do Centro de Ciências da Saúde (CCS), houve aumento da demanda e dos resultados positivos dos testes realizados. Diante da possibilidade de agravamento desse quadro, os pesquisadores do CTD recomendam recomendam a redução das atividades presenciais na UFRJ.

LEIA: UFRJ alerta sobre ondas da pandemia de COVID-19 se sobrepondo

A informação sobre o recrudescimento da propagação do novo coronavírus foi levada ao Grupo de Trabalho Pós-Pandemia da universidade na última semana pela chefe do Departamento de Doenças Infecciosas da Faculdade de Medicina e integrante do GT-Coronavírus da UFRJ, Terezinha Marta Castiñeiras.

Segundo a infectologista, no CTD Covid-19 da UFRJ, após período de relativa estabilidade que marcou os meses de julho, agosto e setembro, os pesquisadores observaram um aumento do atendimento a partir de meados de outubro. “Nas várias semanas esta demanda de testagem aumentou substancialmente, assim como a positividade dos testes realizados (37% contra 15% a 20% nos meses anteriores)”, disse.

Previsão é de piora. Veja as recomendações:  

Terezinha faz um alerta: “É necessário considerar a possibilidade de piora nas próximas semanas com a proximidade das festas de final de ano, que representam potencial de aglomeração explosivo ao qual se acrescenta a desmobilização geral, o descompromisso e a falta de recursos”.

Os pesquisadores do CTD recomendam a redução das atividades presenciais na universidade indicando que devem ser limitadas, rigorosamente, àquelas consideradas assistenciais de enfrentamento da pandemia, com algumas atividades adicionais de suporte e estágios de conclusão de curso, mesmo assim se as tarefas estiverem inseridas no combate à Covid-19.

Os pesquisadores também recomendam que a UFRJ retome efetivamente a dianteira no aconselhamento aos gestores externos (município/estado), visando maior impacto nas medidas de contenção da epidemia no âmbito coletivo.

Enquanto as autoridades não agem, cabe a cada um redobrar a atenção com os cuidados: máscaras, higiene das mãos, distanciamento. Há quem recomende o uso de duas máscaras em lugares como bancos ou supermercados.

GT indica ações emergenciais

Com o recrudescimento da pandemia no Rio de Janeiro e com as informações debatidas no GT-Pós-Pandemia, o GT-Multidisciplinar para Enfrentamento da Coivd-19 (GT-Coronavírus) reuniu-se na segunda-feira, dia 30 de novembro, e emitiu uma nota que deverá ser publicada nas próximas horas no site da UFRJ.

Segundo o coordenador do GT Multidisciplinar para Enfrentamento da Covid-19, Roberto Medronho, os dados do Centro de Testagem e Diagnóstico corroboram com o que se vê no município e nas várias regiões do estado: uma elevação sustentada no número de casos (o que significa que não é uma mera flutuação), e que ao longo das semanas vem acontecendo, cujos resultados já impactam os serviços de saúde.

O infectologista citou dados divulgados um dia antes pela Prefeitura: 93,5% dos leitos de UTI estão ocupados. “Esse número quer dizer que praticamente não há leitos disponíveis, e os leitos para internação hospitalar no município do Rio de Janeiro atingiram 100% de ocupação. Os pacientes estão nas Upas (unidades de pronto atendimento) sem poder ir para o hospital”, disse. Medronho também chamou a atenção para o aumento de casos de óbitos domiciliares por doenças como câncer, entre outras, que necessariamente não aconteceriam, mas estão ocorrendo em pessoas que tiveram a Covid-19.

O médico e pesquisador está preocupado com o possível colapso da rede hospitalar municipal, estadual e federal, e por isso alerta os governos para a necessidade de ações imediatas, como ampla testagem e campanhas, abertura de leitos, contratação de pessoal, suspensão de eventos presenciais, fechamento de praias, e que considerem até a possibilidade de lockdown, caso a situação se mantenha ou se agrave.

Covidímetro

De acordo com os números do Covidímetro (ferramenta desenvolvida por pesquisadores da UFRJ que mostra o índice de contágio no estado), a taxa está estacionada há algum tempo, mas segundo Medronho isso na verdade pode significar perspectiva de elevação. Dados mais recentes devem ser lançados na terça-feira, 1º de dezembro.

Esta frase marcou a cerimônia de lançamento da Liga Acadêmica de Enfermagem em Saúde da População Negra (Laespne) da UFRJ, e seu autor foi o professor Richarlls Martins, do Núcleo de Estudos de Políticas Públicas em Direitos Humanos (NEPP-DH/UFRJ), na sexta-feira, 27 de novembro, com transmissão pelo canal da Liga no YouTube.

“Dentro de uma sociedade racista, tornar-se negro é um ato de coragem. Amar a cor da sua pele, a textura do seu cabelo, o tamanho da sua boca, o nariz é uma cura, e celebra a ancestralidade. Nessa perspectiva, a Laespne/UFRJ não é apenas uma Liga Acadêmica, ela é fruto de um aquilombamento com atividades afrorreferenciadas que visam propagar de forma integral a saúde da população negra. E ser uma mulher negra e favelada, e a primeira da família a cursar uma universidade, abala as estruturas da sociedade”, pontuou a vice-presidente da Liga, Renata Laurindo.

A importância da criação da Liga foi destacada também pela sua presidenta, Giselle Natalina, e pelas professoras orientadoras Cecília Izidoro e Maria Soledade Simeão.

Conhecer a realidade

 para mudá-la

O evento debateu três temáticas importantes para a população afro- brasileira: “Racismo como Determinante Social em Saúde”, com a assistente social do Inca, Eliane Assis; “A Política de Saúde da População Negra”, com a enfermeira de Estratégias de Saúde da Família da Secretaria Municipal de Saúde do Rio de Janeiro, Débora Carvalho, e “A Saúde da População Negra como Direito Humano”, com o professor Richarlls Martins.

“Uma fábula que nos foi contada é a que somos todos iguais, calcada na ideia de democracia racial que não existe. O racismo é parte da estrutura social. Ele existe e está aí. O racismo é o componente ideológico do capitalismo, que precisa dele para sobreviver”, afirmou Eliane Assis. “Não se pode pensar em desenvolver os cuidados em saúde isento desta realidade racista existente na nossa sociedade”, acrescentou.

A enfermeira Débora Carvalho fez um relato sobre o que existe em termos de políticas de saúde para a população negra no país como consequência das lutas dos movimentos negros, mas que na prática precisam do envolvimento dos profissionais de saúde.

“Ao traçar o perfil da população negra, eu consigo estabelecer um plano de cuidados de qualidade que vai se adequar às necessidades desses cidadãos. É assim que tem que se estruturar o cuidado do enfermeiro. Os negros estão em todo o lugar, e eu preciso saber quem são eles. Quando a gente entende e conhece essa população, começamos a entender a importância da implantação dessa política e a entender nosso compromisso enquanto enfermeiro para sua implantação. É o nosso compromisso e a nossa missão implantar essa política e fazer a diferença na vida do nosso povo”, disse Débora.

“De acordo com a Síntese do IBGE, podemos reafirmar quem é a população pobre no Brasil. A pobreza no Brasil tem cor, e ela é hegemonicamente negra”, afirmou o professor Richarlls Martins, que apresentou números: “Do total de pessoas pobres no Brasil, 73% são pessoas negras, sendo 38% mulheres pretas e pardas e 35% homens pretos e pardos. Na extrema pobreza, é ainda maior a população negra. Os últimos dados oficiais do governo brasileiro indicam: 77% extremamente pobres no Brasil são negros; destes, 40% são mulheres negras e 37% homens negros.”

Richarlls sustenta que a pobreza no Brasil é um componente racial, o que demanda desafios: “Isso nos coloca um enorme desafio: que é o de pensar efetivamente quais são as estratégias enquanto sujeitos que estamos nesse lugar de produção do saber, de disputa acadêmica para o enfrentamento do racismo e a promoção da igualdade racial num contexto altamente racializado como o brasileiro”.

Para ele, iniciativas como a Liga têm um “papel central de possibilitar um movimento disruptivo de disputa”. E finaliza sua apresentação citando desafios colocados para a Liga Acadêmica de Enfermagem em Saúde da População Negra/UFRJ, como despertar na categoria de enfermeiros da universidade a discussão racial que os leve a realizar uma missão social externa, que é auxiliar na defesa dos postulados no campo da saúde da população negra e na defesa e implantação de uma Política Nacional de Saúde da População Negra.

Intensificar a luta contra a reforma administrativa proposta pelo governo federal, que reduz o tamanho do Estado brasileiro e acaba com os serviços públicos e os servidores, e retomar a mobilização contra a Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh) que voltou à pauta da UFRJ, em nível local e nacional, foram as duas principais resoluções contidas no Plano de Lutas aprovado pela categoria, na assembleia desta segunda-feira, 30 de novembro, após o debate sobre a conjuntura.

O Plano de Lutas também será levado à plenária nacional da Fasubra, que ocorrerá nos dias 12 e 13 de dezembro, pelos sete delegados eleitos na assembleia. Outra deliberação da categoria foi em relação à proposta da direção sindical de encerrar 2020 homenageando com um culto ecumênico os colegas de trabalho que faleceram durante o ano e de reverter o que seria gasto com a live artístico-cultural em investimentos nas lutas aprovadas pela categoria e também em auxílio às famílias dos sindicalizados que perderam a vida com a Covid-19.

Plano de Lutas na íntegra

A DEFESA dos hospitais universitários públicos e contra a adesão à Ebserh

O fantasma da Ebserh ronda a UFRJ. Em função disso, é fundamental que os trabalhadores e trabalhadoras se organizem e que o Sintufrj e a Fasubra encaminhem:

1) A realização de um forte movimento unificado da UFRJ para barrar a Ebserh, organizando a luta através do Fórum de Mobilização e Ação Solidária (Formas), composto pelas entidades representativas dos trabalhadores e estudantes da UFRJ – Sintufrj, Adufrj, DCE Mário Prata, Associação dos Pós-Graduandos (APG) e Associação dos Trabalhadores Terceirizados da UFRJ (Attufrj).

2) A realização de uma campanha utilizando todas as formas de divulgação dessa luta (notas, vídeos, panfletos, faixas, entre outros meios).

3) Que essa luta seja organizada interna e externamente (aproveitando os fóruns de servidores contra a reforma administrativa, manifestações dos diversos movimentos sociais e campanhas das federações e centrais sindicais).

4) Que o Sintufrj leve à plenária da Fasubra a necessidade de realização de uma campanha nacional contra a Ebserh e a unidade com os fóruns nacionais e estaduais contra a privatização da saúde.

5) Que seja feito aos parlamentares do Rio e de outros estados um pedido de audiência pública para tratar da questão da Ebserh.

6) Buscar apoio para essa pauta durante o encontro de trabalhadoras e trabalhadores dos HUs a ser realizado no dia 5 de dezembro pela Fasubra.

7) Que o Sintufrj se posicione frente à Reitoria sobre a Ebserh e dê ampla publicidade sobre essa posição.

Resolução 1

A direção sindical já havia anunciado o cancelamento da live artístico-cultural, e a assembleia optou por utilizar os recursos que custeariam a atividade (80 mil reais) para financiar a campanha de lutas aprovada no ponto de conjuntura e destinar uma cesta de Natal ou um vale para as famílias dos servidores mortos pela Covid-19.

VEJA A ÍNTEGRA DA ASSEMBLEIA:

 

Os trabalhadores da área de saúde da UFRJ estão preocupados com agravamento da pandemia da Covid-19, no Rio de Janeiro, devido à redução do número de profissionais nas unidades hospitalares da universidade com o fim dos contratos temporários emergenciais até a primeira semana de dezembro.

O pró-reitor de Planejamento, Desenvolvimento e Finanças, Eduardo Raupp, disse que as contratações para os hospitais foram condicionadas a recursos emergenciais de caráter temporário. “Temos buscado novos recursos, mas até aqui não há sinalização do governo de que vá disponibilizar (mais recursos extras)”, informou, acrescentando que a UFRJ continuará reivindicando.

Leôncio Feitosa, diretor do Complexo Hospitalar da UFRJ, também informou que solicitou ao governo recursos para enfrentar a nova onda da Covid-19, mas não houve respostas e o último contrato de profissionais temporários se encerra em dezembro, “quando os leitos terão mesmo que ser fechados”, admitiu. 

A Câmara dos Deputados, segundo Feitosa, aprovou um repasse de R$ 6 bilhões e 800 milhões em recursos para a Covid-19 que não foram distribuídos. “É um dinheiro que está estocado para isso, já foi aprovado, está lá e a gente sofrendo”, afirmou. 

O diretor lamentou que o governo tenha proibido a realização de concurso para suprir a carência das unidades hospitalares da UFRJ na pandemia, apenas liberando recursos para contratações temporárias por um determinado período. “Claro que a gente continua pressionando, mas não há sensibilidade para isso Opor parte do governo)”, lamentou. 

Toda emergência para a Covid-19

Apesar de estar com sua taxa de ocupação alta, o Hospital Universitário Clementino Fraga Filho (HUCFF) mantém sua rotina de cirurgias eletivas e de atendimentos ambulatoriais, mas por falta de leitos as internações clínicas eletivas foram suspensas. 

Porém, a situação na unidade se agrava com o aumento de pacientes com a Covid-19 e a falta de pessoal. Em novembro, o Hospital Universitário fechou 60 leitos – a oferta era de 320 e caiu para 260 leitos –, por conta da redução de profissionais. .  

Segundo o diretor geral, Marcos Freire, os casos de Covid-19 aumentaram a tal ponto que a emergência do hospital está lotada e desde o dia 27 de novembro só atende a vítimas do coronavírus referenciados pela unidade. A direção está definindo um espaço para acomodar a emergência-não covid.

“A emergência está superlotada, porque foram fechados leitos por falta de pessoal. Perdemos profissionais agora, daqui a uma semana vamos perder mais 50 da enfermagem e até o dia 31 de dezembro terão sido mais de 300, todos contratos da Rio Saúde. Por outro lado está aumentando o número de casos de Covid-19 e a gente não consegue dar vazão”, disse Marcos Freire em tom de desabafo.

Segundo Freire, já há casos na emergência de famílias inteiras, como pais e filho juntos, com a Covid-19 e na avaliação dele o aumento da disseminação do vírus começou a ser mais evidente nas duas últimas semanas. Ele acredita que seja resultado do afrouxamento do distanciamento e dos cuidados básicos, como o uso de máscaras e as regras de higiene. “A maioria dos que chegam ao hospital não tem alta logo, precisam às vezes de oxigênio e/ou são entubados na emergência”, relatou o diretor. 

Ele aguarda que ocorrerão novas contratações emergenciais de profissionais da saúde, conforme o Ministério da Saúde divulgou após o crescimento do número de contaminados em todo o país pelo novo cornavírus. Com isso, a expectativa é que o Hospital Universitário reabra 40 leitos de CTI e 22 de enfermagem para pacientes da Covid-19. Agora, segundo o diretor, é esperar o pessoal que deve ser contratado pela Fiotec (Fundação do Instituto Oswaldo Cruz). 

Marcos Freire lembra que recursos humanos no HUCFF não são necessários apenas para atender aos pacientes da Covid-19, mas a todos os que procuram a unidade.  

Rotina dramática

O técnico de enfermagem do Hospital Universitário, Marcos Padilha, disse que a falta de profissionais de saúde obriga que haja muito remanejamento de pessoal de local de trabalho e alguns setores chegaram a fechar por conta disso. Outra situação que segundo ele assusta é a distribuição de pacientes pelas enfermarias por motivo do aumento de casos de Covid-19 e a redução de leitos. 

“Antes eram dois CTs, agora, por falta de pessoal, temos somente um funcionando. Num plantão, uma baixa de mais de cem profissionais de enfermagem é um desfalque muito grande. O hospital também precisa de médicos e outros trabalhadores da área de saúde”, contabilizou Marcos.

Segundo o servidor, além da dispensa dos contratados emergencialmente, muita gente está de licença médica. Ao todo, incluindo extraquadros, ele calcula que chegam a 200 técnicos de enfermagem. Cada plantão de 12 x 60 (escala especial para evitar muito tempo de exposição dos servidores ao vírus, em conduções, por exemplo) demanda seis equipes de enfermagem (técnicos e um enfermeiro ou enfermeira). A maioria desses trabalhadores estão fazendo horas extras (PHs)..   

IPPMG se prepara para fechar leitos 

No Instituto de Puericultura e Pediatria Martagão Gesteira (IPPMG), o diretor Bruno Leite informou que com a saída dos temporários terá que fechar oito leitos de pediatria clínica e dois de CTI. O cenário na unidade, explicou, continua misto, entre casos de Covid-19 e outras doenças . 

“A perda de pessoal é muito complicada. Estamos fazendo um plano de contingência. Vamos ter que mudar vários setores. A partir do dia 2 de dezembro, quando se dá o fim dos contratos, vamos sofrer bastante”, disse Bruno. 

Ele espera que esse problema seja amplamente divulgado e mostrado aos órgãos do governo que os hospitais estão com alta atividade e cumprindo um importante papel no atendimento à população durante a pandemia. Segundo o diretor, é preciso lutar por recursos humanos junto as instâncias internas e externas à universidade e defender as unidades de saúde que estão enfrentando a Covid-19 com a mesma garra. 

Opinião do Sintufrj

Pressionar o governo para a liberação de recursos tendo a sociedade como aliada é o que defende a direção do Sintufrj para enfrentar a carência de verbas e de recursos humanos nas unidades hospitalares.

O problema dos hospitais da UFRJ não é de gestão, portanto não precisamos de soluções externas que comprometam a autonomia universitária e a preservação da saúde pública e gratuita.

 

 

 

 

 

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“A maior universidade federal do país mostra como se deve ter atitude com relação às cotas étnico-raciais implantadas com toda efetividade e de maneira correta.” Com esta declaração da reitora Denise Pires de Carvalho comemorou a aprovação, pelo Conselho Universitário (Consuni) – instância superior de deliberações da UFRJ –, na quinta-feira, 26, das normas que conduzirão a apuração de fraudes no sistema de cotas raciais para ingresso nos cursos de graduação da UFRJ. O texto final ficará pronto na sexta-feira, 27.

Na opinião do Sintufrj, a resolução aprovada é um avanço necessário para democratizar o acesso à Universidade e promover políticas afirmativas de fato, coibindo tentativas de fraude e de deslegitimação das cotas.

As denúncias sobre fraudes no processo de autodeclaração dos candidatos pretos e pardos deverão ser feitas exclusivamente à Ouvidoria da UFRJ, que as encaminhará à Pró-Reitoria de Graduação (PR-1). Dali, há dois caminhos a seguir: abertura de processo administrativo contra o suposto fraudador ou arquivamento (confira no final a íntegra do texto aprovado no link).

A Comissão de Heteroidentificação vai apurar a veracidade das autodeclarações, resguardando o amplo direito de defesa e contraditório. Porém, verificada a inconsistência entre a autodeclaração e a condição de fato do aluno, sua matrícula será cancelada e os autos serão encaminhados ao Ministério Público Federal para eventuais providências. Cabe ao Consuni a competência para o julgamento dos recursos em face da decisão da PR-1, que terá efeito meramente devolutivo.

Fraudadores sem punição

A decisão, aprovada com os votos da ampla maioria dos conselheiros e sob aplausos, foi considerada histórica e, segundo a reitora, não poderia ser mais postergada. Ela destacou o trabalho realizado pela Comissão de Heteroidentificação para Apuração de Fraudes e informou que, atualmente, há cerca de 400 processos em andamento: 180 dos quais analisados, com 90 pessoas identificadas como não aptas às cotas pelas quais ingressaram.

Mas faltava que o colegiado aprovasse uma regulamentação que garantisse os mecanismos de sanção aos fraudadores. Demorou tanto para que isso ocorresse que quase a metade deles já colou grau, perdendo o vínculo com a UFRJ.

O texto aprovado teve pequenas modificações no parecer final da Comissão de Legislação e Normas (CLN) por parte da bancada estudantil e do relator, o técnico-administrativo Francisco de Paula.

A reitora agradeceu à Câmara de Políticas Raciais da UFRJ e à Comissão de Heteroidentificação a participação na elaboração da proposta aprovada, citando o nome de todos os seus integrantes, especialmente da coordenadora Denise Góes. “Foram meses de trabalho”, disse ela.

O conselheiro Francisco Esteves também destacou o trabalho da CLN, da comissão e do grupo liderado pela técnica-administrativa. O professor contabilizou o envolvimento de cerca de 70 pessoas no processo que culminou na norma aprovada pelo Consuni.

A pró-reitora de Graduação, Gisele Pires, disse estar honrada em participar daquele momento histórico da UFRJ e defendeu a expressão “denúncia” no caso de possíveis fraudes, argumentando que este é o ponto de partida para uma apuração. “Não é uma simples reclamação”, ponderou.

A representante da bancada estudantil Juliana Paiva comentou que “o mais importante é que a UFRJ continue avançando nas políticas formuladas por e para negros e negras da universidade e da sociedade, e que a UFRJ seja uma universidade ativa no combate ao racismo e pulsante na luta antirracista”. A representante do Coletivo Negros da UFRJ, Maíza Kister, destacou: “A luta não é só nossa, a universidade deve ser antirracista, Não basta não ser racista. Tem que ser antirracista”.

“Mais um passo na luta antirracista”

Com esta afirmação, Denise Góes, coordenadora da Comissão de Heteroidentificação para Apuração de Fraudes e coordenadora da Câmara de Políticas Raciais, comemorou a decisão do Consuni. “A votação desta resolução era uma demanda que há muito tempo estava sendo aguardada, porque objetivamente recolocaria a comissão novamente no retorno de seu trabalho. Nós estávamos aguardando esta resolução”, disse ela.

Segundo Denise, a comissão entende que o processo de identificação (já aplicado nos mais recentes acessos à graduação da UFRJ) ficaria incompleto “se a gente então fechasse essa porta das fraudes. Caso contrário, estariam por um lado fazendo um trabalho absolutamente assertivo e, por outro, deixando uma janela aberta para que as fraudes continuassem acontecendo”.

“A votação de hoje coroou todo o esforço e a luta dos negros e negras da UFRJ voltados para a temática racial e para o controle social das políticas públicas de democratização do acesso. A gente agradece à Administração Central, que esteve ombro a ombro na elaboração desta resolução, o apoio incondicional, e avaliamos que avançamos, e que o trabalho e a luta continuam”, acredita Denise.

Para Denise, a UFRJ serve como espelho e exemplo: “É importante saudar a resolução. Agora, finalmente, fechamos portas e janelas. Fraudador nunca mais!, assim se espera”. A coordenadora destacou os dois servidores que, segundo ela, também se dedicaram ao trabalho da comissão: Frederico Nascimento e Vitor Matos.

A luta continua

A Câmara de Políticas Raciais e a Comissão de Heteroidentificação para Apuração das Fraudes emitiram nota sobre a decisão do Consuni, na qual apontam que a UFRJ é um exemplo a ser seguido. Mas manifestaram estranhamento pela ausência na sessão do Consuni de pessoa versada nas questões étnico-raciais e pelo fato de o relatório final destacar que os membros da Câmara foram os responsáveis por desenvolver, junto a outros atores, os processos de heteroidentificação e por formular a minuta da resolução votada. “Fomos lembrados hoje, mas não ouvidos”, diz o texto.

O que as normas estabelecem

Pelas normas sobre o procedimento de heteroidentificação complementar à autodeclaração dos candidatos pretos e pardos (o texto será finalizado no dia 27), as denúncias sobre eventuais fraudes às cotas raciais deverão ser feitas exclusivamente junto à Ouvidoria da UFRJ. Recebida as denúncias, a Ouvidoria deverá encaminhá-las à PR-1, que deverá convertê-las em processo administrativo ou arquivá-las.

A Comissão de Heteroidentificação vai apurar a veracidade das autodeclarações, resguardadas a ampla defesa e o contraditório. Porém, verificada inconsistência entre a autodeclaração e a condição de fato do aluno, sua matrícula será cancelada, e os autos serão encaminhados ao Ministério Público Federal para eventuais providências. Cabe ao Consuni a competência para o julgamento dos recursos em face da decisão da PR-1, que terá efeito meramente devolutivo.

Moção

O colegiado também aprovou, por ampla maioria, moção em que manifesta profunda consternação pelo assassinato de João Alberto Silveira Freitas. Diz o texto: “Mais uma entre tantas vidas negras perdidas com o mesmo tipo de violência. É fundamental reconhecer as feridas do racismo institucional e sistêmico no Brasil e sua origem na escravidão”.

“Nos manifestamos contra a violência, a discriminação e o racismo em suas formas individual, estrutural ou institucional. Ninguém deve ter sua vida em risco pela cor da sua pele, religião, orientação sexual, gênero ou deficiência.”

O texto foi produzido e aprovado originalmente pelo Instituto de Física e apresentado pelo representante dos professores titulares do CCMN, Nelson Braga, no Consuni.

 

VEJA A ÍNTEGRA DA RESOLUÇÃO APROVADA:

Versão preliminar da resolução

(A versão final deve ser divulgada nesta sexta-feira, 27)

CAPÍTULO I

Das Disposições Preliminares

Art. 1º A presente resolução estabelece normas sobre o procedimento de heteroidentificação complementar à autodeclaração dos candidatos pretos e pardos, visando, em especial, à efetivação do consubstanciado na Lei nº 12.711/2012.

Art. 2° A Administração Pública obedecerá, dentre outros, aos princípios da legalidade, finalidade, motivação, razoabilidade, proporcionalidade, moralidade, ampla defesa, contraditório, segurança jurídica, interesse público e eficiência.

Art. 3° O aluno tem os seguintes direitos perante a Administração, sem prejuízo de outros que lhe sejam assegurados:

I – ser tratado com respeito pelas autoridades e servidores, que deverão facilitar o exercício de seus direitos e o cumprimento de suas obrigações;

II – ter ciência da tramitação dos processos administrativos em que tenha a condição de interessado, ter vista dos autos, obter cópias de documentos neles contidos e conhecer as decisões proferidas;

III – formular alegações e apresentar documentos antes da decisão, os quais serão objeto de consideração pelo órgão competente;

IV – fazer-se assistir, facultativamente, por advogado, salvo quando obrigatória à representação, por força de lei.

Art. 4° São deveres do denunciado perante a Administração, sem prejuízo de outros previstos em

ato normativo:

I – expor os fatos conforme a verdade;

II – proceder com lealdade, urbanidade e boa-fé; e

III – prestar as informações que lhe forem solicitadas e colaborar para o esclarecimento dos fatos.

CAPÍTULO II

Da Comissão de Heteroidentificação

Art. 5° A Comissão de Heteroidentificação tem como função apurar a veracidade das autodeclarações, mediante procedimento de heteroidentificação, apreciar as alegações apresentadas pelo denunciado com expedição do relatório final e posterior encaminhamento à Pró-Reitoria de Graduação.

  • 1º A Comissão de Heteroidentificação será constituída por cidadãos:

I – de reputação ilibada;

II – que tenham treinamento adequado; e

III – preferencialmente experientes na temática da promoção da igualdade racial e do enfrentamento ao racismo.

  • 2º Os membros da Comissão de Heteroidentificação serão designados pela Reitora da UFRJ, que poderá delegar competência para que a Pró- Reitoria de Graduação faça a referida designação.
  • 3º Os membros da Comissão de Heteroidentificação irão se reunir conforme calendário estipulado para cada processo.

Art. 6° A Comissão de Heteroidentificação será constituída de quinze (15) integrantes e deverá atender ao critério da diversidade, garantindo que seus membros sejam, preferencialmente, distribuídos por gênero e raça.

CAPÍTULO III

Do Procedimento de Heterodidentificação

Art. 7° Considera-se procedimento de heteroidentificação a identificação por terceiros da condição autodeclarada.

Art. 8° As denúncias sobre eventuais fraudes às cotas raciais deverão ser feitas exclusivamente junto à Ouvidoria da UFRJ

Art. 9º Recebida a denúncia, a Ouvidoria deverá encaminhá-la à PR-1, que deverá convertê-la em processo administrativo ou arquivá-la.

  • 1° Tendo sido instaurado o processo, a intimação deverá conter:

I – identificação do intimado e nome do órgão ou entidade administrativa;

II – finalidade da intimação;

III – data, hora e local em que deve comparecer;

IV – se o intimado deve comparecer pessoalmente, ou fazer-se representar:

V – informação da continuidade do processo independentemente do seu comparecimento;

VI – indicação dos fatos e fundamentos legais pertinentes.

  • 2º A intimação observará a antecedência mínima de 7 (sete) dias corridos quanto à data de comparecimento.

Art. 10. A intimação e informes procedimentais deverão seguir a seguinte ordem:

I – Intimação via endereço eletrônico pelo email cadastrado no SIGA;

II – Intimação via Direção da Unidade Acadêmica, mediante ofício.

  • 1º Caso o aluno continue inerte, a intimação pode ser efetuada por ciência no processo, por via postal com aviso de recebimento, por telegrama ou outro meio que assegure a certeza da ciência do interessado.
  • 2º No caso de denunciado não localizado ou com domicílio indefinido, a intimação deve ser efetuada por meio do Diário Oficial da União.

Art. 11. As intimações serão nulas quando feitas sem observância das prescrições legais, mas o comparecimento do administrado supre sua falta ou irregularidade.

Art. 12. A Comissão de Heteroidentificação poderá fixar calendário para a prática de atos procedimentais, de forma a dispensar a intimação das partes para a prática desses atos.

Art. 13. O desatendimento da intimação não importa o reconhecimento da verdade dos fatos, nem a renúncia a direito pelo denunciado.

Parágrafo único. No prosseguimento do processo, será garantido direito de ampla defesa ao interessado.

Art. 14. O não comparecimento injustificado do denunciado ensejará a suspensão da matrícula acadêmica até o comparecimento do denunciado.

Art. 15. O procedimento de heteroidentificação submete-se aos seguintes princípios e diretrizes:

I – respeito à dignidade da pessoa humana;

II – observância do contraditório, da ampla defesa e do devido processo legal;

III – garantia da efetividade da ação afirmativa de reserva de vagas a candidatos por cotas raciais ao acesso ao ensino superior.

Art. 16. O procedimento de heteroidentificação será realizado por, no mínimo, 3 (três) membros integrantes da Comissão de Heteroidentificação.

Parágrafo Único. Em caso de impedimento ou suspeição, nos termos dos Artigos 18 a 21 da Lei nº 9.784, de 29 de janeiro de 1999, o membro será substituído.

Art. 17. A Comissão de Heteroidentificação utilizará exclusivamente o critério fenotípico para aferição da condição declarada pelo aluno.

  • 1º Serão consideradas as características fenotípicas do aluno ao tempo da realização do procedimento de heteroidentificação.
  • 2º Os traços fenotípicos preponderantemente característicos da população negra que são observados serão:

I – Cor da pele;

II – Textura do cabelo;

III – Formato do nariz e boca.

  • 3º Cabe, exclusivamente, à Comissão de Heteroidentificação deliberar se o aluno denunciado apresenta ou não o conjunto característico fenotípico necessário à reserva de vaga.

Art. 18. Na hipótese da Comissão de Heteroidentificação confirmar a declaração apresentada, será dada vistas dos autos ao aluno com promoção de arquivamento do feito.

CAPÍTULO IV

Dos Recursos

Art. 19. Finda a etapa de heteroidentificação, ao aluno cuja autodeclaração não for confirmada em procedimento de heteroidentificação, será oportunizada  a apresentação de recurso no prazo de 10 (dez) dias corridos para apresentação de razões de fato e de direito, caso discorde do parecer da Comissão de Heteroidentificação, que ensejará em novo procedimento de heteroidentificação.

Paragrafo único – O final da etapa de heteroidenficação se dará com a expedição do relatório final da Comissão de Heteroidenficação, da qual o aluno interessado deverá ser notificado oficialmente conforme estebeclecido no artigo 10 desta resoluão,  ocasição na qual se inicia o prazo recursal.

Art. 20. O procedimento de heteroidentificação previsto no Art. 19 será conduzido por uma Comissão Recursal composta por no mínimo 3 (três) integrantes, distintos dos membros da Comissão de Heteroidentificação que anteriormente avaliou a situação fenotípica do recorrente, observadas as disposições contidas nesta Resolução.

Parágrafo único. Caso entenda haver necessidade, o processo poderá ser encaminhado à Procuradoria para esclarecimento de dúvida jurídica formulada.

Art. 21. Expirado o prazo estabelecido no Art. 19 e a não apresentação de recurso, a Comissão de Heteroidentificação expedirá relatório final decidindo não se tratar de pessoa preta ou parda.

Art. 22. No relatório final deverá constar:

I – breve relato da denúncia apresentada;

II – relatório da Comissão de Heteroidentificação;

III – síntese da defesa;

IV – razões de decidir.

Art. 23. Expedido o relatório, o denunciado terá prazo de 7 (sete) dias corridos para manifestação.

Art. 24. Decorrido o prazo, o processo será encaminhado à Pró-Reitoria de Graduação para providências.

CAPÍTULO V

Das Disposições Finais

Art. 25. A qualquer momento anterior a expedição do relatório final, o aluno poderá pedir o cancelamento da matrícula, o que implicará na perda do objeto processo, sendo expressamente vedado, posterior descancelamento de matrícula.

Art. 26. Verificada a inconsistencia entre a autodeclaração e a condição de fato do aluno, sua matricula será cancelada e o autos serão encaminhados ao Ministério Público Federal para eventuais providencias.

Art. 27. Cabe ao CONSUNI a competência para o julgamento dos recursos em face da decisão da Pró-Reitoria de Graduação, que terá efeito meramente devolutivo.

Art. 28. disposto na presente resolução será aplicado aos processos de apuração de fraudes já em curso.

Art. 29. A presente Resolução entra em vigor na data de sua publicação no Boletim da Universidade Federal do Rio de Janeiro.

 

 

 

 

Presidente age como se não tivesse nada a ver com a disparada dos preços, em especial dos alimentos, que pesam mais no bolso dos trabalhadores de baixa renda. Nada mais falso. Confira

Matéria retirada do site da CUT.

Os trabalhadores de baixa renda são os que mais sofrem com os efeitos da inflação. Cada vez que vão a supermercados percebem que o poder de compra encolheu na mesma proporção em que os preços aumentaram. Mas, quando querem cobrar providências, ficam sem saber a quem procurar.

Afinal, de quem é a culpa pela alta nos preços? O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15 (IPCA-15) registrou alta de 0,81% em novembro, elevando para 4,22% a prévia do índice de inflação para os 12 meses de 2020.  E os alimentos e bebidas foram os produtos que mais subiram (+2,16%).

Cobrado pela alta dos preços por um apoiador na porta do Palácio da Alvorada, o presidente Jair Bolsonaro, insinuou que a alta da inflação é culpa do isolamento social, determinado para conter a expansão do novo coronavírus..

“[O] Pessoal tem reclamado do preço dos alimentos. Tem subido sim além do normal. A gente lamenta, mas também é consequência do fique em casa”.

Nada mais falso. O presidente sabe ou deveria saber que falta ao país neste momento uma política econômica eficaz para dar aos trabalhadores o mínimo de condições de sustento com dignidade.

Mas com a inflação subindo, a vida fica mais complicada.\

A renda familiar de Daiane Cristina Devito Silva, 38 anos, casada, dois filhos, auxiliar de limpeza, é de cerca de R$ 3.300,00, somando seu salário mais o de Rodrigo, seu esposo que trabalha como recepcionista em um condomínio de Araraquara, interior de São Paulo. Ela reclama que a cada vez que vai ao mercado, volta com menos produtos no carrinho.

“Que a inflação está alta, é nítido. A gente vê o absurdo que está o preço do arroz, do feijão, do leite, principalmente, que para quem tem filhos não pode faltar”, diz.

“Minha filha adora bolachas, o danone, mas não dá para comprar para o mês inteiro A gente passou a comprar menos e controlar o quanto a menina come”, completa Daiane.

Como todo brasileiro, o que Daiane espera é que o Governo Federal faça alguma coisa para não deixar os preços subirem e não que se esquivem, ignorem o problema ou culpem quem está tomando medidas para conter a pandemia.

“A gente sofre com isso. Pro Bolsonaro, que não é da nossa classe social, um pacote de arroz a R$ 27,00, ‘tá tudo certo’, mas para nós, pesa. Eles não se importam com o que a gente passa, na verdade”, lamenta a trabalhadora, que complementa: ”É fácil para ele [Bolsonaro] jogar a culpa no isolamento social e não fazer nada para resolver”.

O que Bolsonaro não explica é que a má-gestão de seu governo também na economia tem sido causa principal do aumento da inflação. O presidente tem, sim, culpa por não fazer nada para conter a disparada de preços. E aqui você vai entender por que.

 

Você errou, Bolsonaro!

A técnica da subseção da CUT do Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos (Dieese), Adriana Marcolino aponta falhas do governo que ocasionaram a alta nos preços e puxaram a inflação para cima.

 

1 – Estoques reguladores – Bolsonaro não fez

Adriana explica que é praxe o governo federal comprar parte da produção agrícola de produtos como grãos, café, arroz, milho e manter em estoque. “Em períodos em que há falta ou por alguma disfunção no mercado os preços sobem, o governo intervém vendendo seus estoques para equalizar o preço”, explica a técnica.

“E isso se faz também no período que há sobra na safra, quando o governo compra do produtor para manter os preços em um patamar que não represente prejuízo aos produtores”, completa Adriana.

“Bolsonaro, na verdade zerou os estoques e agora não tem mais a capacidade de controlar os preços”, critica.

2 – Dólar a R$ 1,00 – Bolsonaro não fez

Para o produtor, com dólar a mais de R$ 5,31 (câmbio de 25/11), vale mais a pena vender lá fora do que aqui no Brasil. “Eles vão ganhar muito mais”, explica Adriana.

De acordo com a técnica do Dieese, o mercado mundial, que também está desorganizado, se aproveita dessa situação e acaba comprando a produção de países como o Brasil.“

“Bolsonaro e o ministro da Economia, Paulo Guedes não têm nenhum política de controle para o dólar”.

3 – Ajudar o pequeno agricultor – Bolsonaro não fez

Desde o governo do ilegítimo e golpista Michel Temer (MDB-SP), a agricultura familiar vem sofrendo com o desmonte de políticas de fomento ao setor. As dificuldades vão desde a política de crédito até a comercialização dos produtos.

E se já era difícil antes, com Bolsonaro a situação ficou ainda mais crítica. O governo reduziu recursos para a agricultura familiar, dificultando ainda mais para o setor no que se refere tanto à produção quanto à comercialização, que ficou muito prejudicada com a pandemia.

“Não teve mais feiras e sacolões para vender o que foi produzido. A entrega também foi prejudicada e não houve nenhuma ação do governo para contemplar a agricultura familiar”, pontua Adriana.

4 – Conter o avanço da monocultura de alimentos – Bolsonaro não fez

Adriana Marcolino explica que apesar do nome complicado, o ‘esquema’ é simples. O governo protege o agronegócio que prioriza a produção de determinados produtos – grãos como a soja, o arroz, o feijão – como commodities e não sob o conceito de segurança alimentar. Esses produtos são direcionados à exportação em situações como a que vivemos hoje, de dólar alto e o mercado brasileiro sofre com a escassez de alimentos, potencializada pela falta de políticas voltadas à agricultura familiar.

“Resumindo, Bolsonaro governa para o latifúndio em detrimento do pequeno produtor”, diz Adriana.

 

Outros setores

De acordo com o técnico do Dieese, Leandro Horie, o que acontece nos itens industriais também deve ser avaliado quando se fala em alta da inflação. “Além do repasse das desvalorizações do dólar para os preços, a própria pandemia, na China, provocou problemas nas cadeias de fornecimento de insumos e matérias primas. Isso reduziu a oferta de produtos e elevou os preços”.

Leandro afirma também que boa parte dos produtos industriais vendidos no Brasil são derivados da produção de poucas empresas. “É uma concentração de produção que permite o repasse do aumento de custos aos preços finais, mesmo em cenário de recessão”, ele diz.

 

Outros países

O técnico avalia que não só o Brasil, mas o mundo todo vive hoje um choque de oferta.  “È uma alteração na disponibilidade de produtos e isso provoca um desequilíbrio comercial, principalmente quando vários países também têm desvalorizações cambiais de suas moedas frente ao dólar”, ele explica.

A diferença, segundo Leandro, é que a intensidade do fenômeno tem sido muito maior no Brasil, em relação aos países centrais justamente pela ausência de coordenação de política econômica, pela subestimação dos efeitos da pandemia e, em especial, “pela crença cega de que o mercado iria resolver tudo e que qualquer intervenção seria prejudicial”.

 

 

 

Quando um equipamento quebra em sua casa, se tiver conserto tudo bem, caso contrário, vai para o lixo. Mas quando se trata de um bem público o tratamento tem que ser outro. Na UFRJ, o servidor designado pela direção da unidade para ser o responsável pela gestão dos bens é o agente patrimonial. No entanto, a exemplo de outras áreas, falta pessoal para a função. 

Inclusive, para a realização do inventário de fim de ano, foi necessário formar comissões para que os poucos agentes dessem conta do trabalho – até porque nem todas as unidades acadêmicas contam com esses profissionais. A expectativa de mudança do sistema de gestão patrimonial é outro problema que preocupa os servidores.     

Reunião do Sintufrj com a PR-6

Atendendo à demanda dos servidores, a direção do Sintufrj reuniu-se, no dia 17 de novembro, com a Pró-Reitoria de Gestão e Governança (PR-6). Na avaliação dos trabalhadores, a intervenção da entidade foi positiva, e ficou acertado que ocorreram outros encontros periódicos entre as duas partes para acompanhar a implantação do novo sistema de controle do patrimônio da universidade.  

De acordo com a definição publicada no site da PR-6, o agente patrimonial faz o elo com a área de gestão patrimonial da Administração Central. A administração patrimonial da unidade compreende o contato com a Divisão de Gestão Patrimonial para tratar de retiradas, tombamento, envio de documentações de reformas em setores que impliquem a instalação de bens patrimoniais, entre outras atividades. O agente também deve auxiliar a Comissão de Inventário nas unidades. Mas o trabalho do agente, embora complemente, não substitui o da comissão, que é formada por servidores locais.

Servidor explica a apreensão

Em breve, as unidades terão que apresentar o resultado do levantamento patrimonial anual, mas, como a pandemia em curso, essa tarefa poderá não ser realizada. Por conta disso, os profissionais da área estão tensos, e a tensão aumenta com a expectativa de adoção de um novo sistema de gestão patrimonial, cuja implantação está prevista para ocorrer até ao longo de 2021. Embora o processo de migração do sistema atual para o novo seja longo, os trabalhadores reivindicam que a capacitação comece imediatamente.

Luiz Carlos Ribeiro da Silva, que há dois anos é o responsável pela seção de Patrimônio do Instituto de Psiquiatria da UFRJ (Ipub), aponta vários problemas decorrentes da mudança de um sistema para outro. Um deles tem a ver com os prazos, pois a migração exigirá tempo para adequação e para a organização dos dados da unidade e das inúmeras informações que constam no sistema atual. Segundo o servidor, serão necessárias reuniões conjuntas entre as Pró-Reitorias de Gestão (PR-6), Pessoal (PR-4) e Planejamento e Finanças (PR-3).

Nas unidades que não têm agente de patrimônio, o mais comum é o servidor acumular a função de almoxarife e se responsabilizar também pelo material. Luiz Carlos, por exemplo, também dá suporte à área de Patrimônio do Instituto de Neurologia Deolindo Couto, que, como o Ipub, fica no campus da Praia Vermelha. 

“A atenção para os agentes de patrimônio é tanta que nem a seção, que seria uma subdivisão de Patrimônio, por exemplo, existe nas unidades”, lamenta. Isso, segundo ele, reflete na falta de suporte para o exercício profissional e de pessoal. Ele solicitou o apoio do Sintufrj para que a seção fosse criada oficialmente.  

“É comum ouvirmos que os funcionários antigos têm medo de mudança. Não é disso que se trata. A questão é que projetam as mudanças, mas não qualificam o pessoal para as novas práticas”, criticou Luiz Carlos. “Não podem esquecer que tudo o que diz respeito à área de patrimônio envolve muita responsabilidade. Por isso, a instituição tem que qualificar seu pessoal”, afirmou. Segundo o servidor, deveria haver outra reunião para debater o assunto e planejar os passos futuros. “A data é dezembro de 2021, um prazo muito curto para algumas unidades que não têm nem agente de patrimônio”, acrescentou. 

Luiz Carlos também listou as dificuldades para formar as comissões, que verificarão os  bens que constam nas seções das unidades (trabalho esse que deveria ser feito periodicamente, para facilitar a elaboração do relatório anual). Segundo ele, o diretor da unidade tem autonomia para nomear qualquer servidor para a comissão, porém o problema começa com a falta de pessoal a ser nomeado. “Se tem pessoal para formar a comissão, ótimo, mas e onde não tem, como nos hospitais, como fica?”, pergunta. 

A experiência nada feliz do IPPMG

O diretor do Instituto de Puericultura e Pediatria Martagão Gesteira (IPPMG), Bruno Leite Moreira, disse que são muitas as dificuldades para fixar servidores na Seção de Patrimônio. Segundo ele, a unidade registrou perdas importantes de mão de obra nesta área e atualmente conta com um profissional que acumula a função de agente com chefe de Seção de Almoxarifado. 

“Patrimônio é uma coisa muito séria”, afirmou o diretor. Nos últimos anos, disse ele, o instituto tem conseguido adquirir muitos equipamentos considerados de investimento permanente e que precisam ser cadastrados, seguindo o trâmite normal na gestão de patrimônio na PR-6, assim como é preciso ser feito o relatório mensal, que é encaminhado pela unidade para compor o inventário anual, que é concluído junto com a contabilidade geral do ano da unidade. Porém, segundo ele, essas tarefas se tornam difíceis de serem feitas em função de algumas deficiências internas. 

Num curso oferecido pela PR-6, do qual participou, Bruno disse que percebeu, em contato com profissionais da área de patrimônio, que há situações ainda piores.

Temor compreensível 

Na avaliação de Bruno, o novo sistema trará mais agilidade à gestão de patrimônio, porque eliminará etapas burocráticas, facilitando as unidades mais bem preparadas realizem um trabalho com mais perfeição. Disse que compreende a preocupação dos agentes patrimoniais, porque assumirão uma grande responsabilidade. “O grande medo do pessoal é assumir uma tarefa extremamente difícil, com uma responsabilidade enorme, com sanções previstas e passível de punições. Mas acho que é um sistema interessante que precisa ser aprimorado. Os servidores precisam entender a responsabilidade que é a questão do patrimônio”, disse. 

Ainda de acordo com Bruno, não existe uma cultura na universidade sobre a responsabilidade pelo patrimônio. E citou como exemplo a movimentação de cadeiras entre os setores, sem que isso seja comunicado à Seção de Patrimônio. “É muito difícil quando não se conta com a colaboração dos usuários e os setores das unidades. É uma responsabilidade muito grande para o agente patrimonial, portanto. Acho que isso é que está gerando um pouco de medo em relação a esta prestação de contas”, concluiu o diretor do IPPMG.

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A conclusão dos estudos preliminares feitos pelo Grupo de Trabalho (GT) criado pelo Conselho Universitário (Consuni) para elaborar propostas à Instrução Normativa (IN) 65, do governo federal, é que a UFRJ está fora dos enquadramentos necessários pela definição de teletrabalho proposto pela IN, e que já possui programação de gestão, que é o PDI (Programa de Desenvolvimento Institucional). 

De acordo com a coordenadora do GT, Joana de Angelis, que faz parte da bancada dos técnicos-administrativos no Consuni e da direção do Sintufrj, os integrantes do grupo de trabalho (Pró-Reitoria de Pessoal, direções dos campi, decanos e a bancada técnico-administrativa no Consuni) fazendo uso da autonomia universitária indicam que seja construída e aprovada pelo colegiado uma Resolução normatizando o trabalho externo na universidade. 

“Além de regulamentar esse tipo de trabalho que já é realizado na universidade, contemplaríamos os que desejam continuar o seu trabalho à distância após a pandemia”, justificou Joana a proposta do GT. Ela também propôs que o GT fosse ampliado com as participações das entidades: Sintufrj, Adufrj, DCE Mário Prata e APG.

CONFIRA A ÍNTEGRA DO PARECER:

PARECER DO GT CONSTITUÍDO PARA ANALISAR A IN65 DE 30/07/2020 – ME

 

Prezada Reitora e demais Conselheiros,

O presente parecer explicita o posicionamento deste Grupo de Trabalho sobre a possibilidade de adoção na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) da Instrução Normativa 65, 30 de setembro de 2020 – ME, que estabelece orientações, critérios e procedimentos gerais a serem observados pelos órgãos e entidades integrantes do Sistema de Pessoal Civil da Administração Federal – SIPEC relativos à implementação de Programa de Gestão. 

O ponto focal da normativa instituída pelo Ministério da Economia é o estabelecimento de um programa de gestão descrito no art. 3º  como “ferramenta de gestão autorizada em ato normativo de Ministro de Estado e respaldada pela norma de procedimentos gerais, que disciplina o exercício de atividades em que os resultados possam ser efetivamente mensurados cuja execução possa ser realizada pelos participantes”. 

Este GT entende que o Plano de Desenvolvimento Institucional (PDI) elaborado pela comissão designada em portaria e aprovado pelo CONSUNI é o instrumento de planejamento de gestão e construção de processos de avaliação pertinente para o trabalho desenvolvido na universidade. Destaque-se que é responsabilidade do CONSUNI qualquer alteração, revisão, atualização que se faça necessária no PDI. Diferente do que o art. 20 da IN 65 estabelece: 

“O Ministro de Estado poderá, excepcionalmente, suspender o programa de gestão, bem como alterar ou revogar a respectiva norma de procedimentos gerais, por razões técnicas ou de conveniência e oportunidade, devidamente fundamentadas.”

Convém destacar ao fim deste segmento, e em raciocínio dialógico, que a instrução normativa 65 entra em conflito direto com o preceituado na Constituição Federal, em seu artigo 207, o qual confere às Universidades autonomia administrativa.

Em adição e na esteira do pensamento do fazer universitário, lembramos as atividades finalísticas desta Instituição Federal de Ensino Superior, quais sejam ensino, pesquisa e extensão, além das atividades de atendimento à sociedade por meio de suas unidades hospitalares. Essas atividades são de complexa mensuração e avessas à lógica produtivista que é proposta pela instrução normativa, tendo em vista que a visão precípua da Constituição Federal, bem como defendido pela UFRJ, não é de prestação de serviços à sociedade por um viés mercadológico, enxergando a educação como produto.

Abarcando estes sentidos aqui discutidos pelo grupo de trabalho, enxergamos que a UFRJ está fora dos enquadramentos necessários pela definição de teletrabalho apresentado pela IN 65, de modo a atender o fazer universitário:

“modalidade de trabalho em que o cumprimento da jornada regular pelo participante pode ser realizado fora das dependências físicas do órgão, em regime de execução parcial ou integral, de forma remota e com a utilização de recursos tecnológicos, para a execução de atividades que sejam passíveis de controle e que possuam metas, prazos e entregas previamente definidos e, ainda, que não configurem trabalho externo, dispensado do controle de frequência, nos termos desta Instrução Normativa”;

É preciso considerar que o contexto de elaboração e publicação da IN 65 se deu em meio a uma crise mundial da pandemia COVID-19 e o trabalho remoto precisou ser implementado sem planejamento e regulamentação, obedecendo a necessidade do isolamento social para conter a propagação do vírus. Portanto, um contexto de excepcionalidade que não se alinha ao teletrabalho proposto na IN 65.

A motivação do governo federal, através do Ministério da Economia, para editar essa normativa tem viés econômico. Isso se evidencia quando no dia 25 de setembro o Ministério da Economia informou que o Governo Federal economizou com o trabalho remoto, entre abril e agosto de 2020, cerca de R$ 1 bilhão, incluindo o pagamento de serviços de água, esgoto e energia elétrica, auxílios e adicionais, despesas com diárias, passagens e locomoções, cópias e reproduções de documentos, e quando transfere todo ônus da execução das tarefas remotas aos trabalhadores.

Questão importante que se impõe neste bojo está refletida no art. 23 da IN 65, quando se coloca a motivação de corte de gastos, com a imposição dos custos ao servidor, afirmando que “Quando estiver em teletrabalho, caberá ao participante providenciar as estruturas física e tecnológica necessárias, mediante a utilização de equipamentos e mobiliários adequados e ergonômicos, assumindo, inclusive, os custos referentes à conexão à internet, à energia elétrica e ao telefone, entre outras despesas decorrentes do exercício de suas atribuições”.

Observe que mesmo na iniciativa privada, onde a supressão de direitos nos últimos anos é intensa, especialmente após a Reforma Trabalhista de 2017, os direitos e garantias em relação ao teletrabalho são melhor observados(as). Assim, o artigo 75-D da CLT prevê que “as disposições relativas à responsabilidade pela aquisição, manutenção ou fornecimento dos equipamentos tecnológicos e da infraestrutura necessária e adequada à prestação do trabalho remoto, bem como ao reembolso de despesas arcadas pelo empregado, serão previstas em contrato escrito”. 

O teletrabalho, nos moldes acima discutidos, além de não se aplicar a maioria das atividades que são desenvolvidas na universidade, as poucas que se aplicam, de acordo com o programa de gestão proposto, retira direitos dos trabalhadores e diminui deveres e responsabilidades do governo para com os mesmos. 

Frise-se que a instrução normativa foi aplicada sem o debate necessário com os órgãos que constituem a administração pública federal direta, autárquica e fundacional no sentido de verificar suas peculiaridades, tal qual exposto neste parecer, por exemplo, as que envolvem o fazer universitário. A lógica produtiva para administração está posta na normativa, contudo, sem atentar para fato tão importante quanto às relações de trabalho, no sentido amplo, bem como no sentido estrito da saúde física e mental do trabalhador. 

Estabelecer o trabalho à distância também implica estrutura que proporcione a boa execução das tarefas – ergonomia, por exemplo –, assim como atentar para os cuidados necessário com a saúde mental dos trabalhadores provocada pela quebra de fronteiras entre trabalho e lazer, ambiente de trabalho e ambiente doméstico, tempo de trabalho e tempo de não trabalho e a falta de convívio com os colegas; tendo uma relação limitada quase que exclusivamente pelo contato individualizado com a chefia imediata, potencializando o assédio moral.

Em vias de conclusão, destacamos o artigo sétimo da instrução normativa:

“A implementação de programa de gestão é facultativa à Administração Pública e ocorrerá em função da conveniência e do interesse do serviço, não se constituindo direito do participante.”

Em referência à mesma instrução, a definição de trabalho externo contida no artigo 3º: 

“…atividades que, em razão da sua natureza, da natureza do cargo ou das atribuições da unidade que as desempenha, são desenvolvidas externamente às dependências do órgão ou entidade e cujo local de realização é definido em função do seu objeto;”

E o decreto n.º 1.590, de 10 agosto de 1995, que define o controle de frequência:

Art. 6º O controle de assiduidade e pontualidade poderá ser exercido mediante:

(…)

  • 4º Os servidores, cujas atividades sejam executadas fora da sede do órgão ou entidade em que tenha exercício e em condições materiais que impeçam o registro diário de ponto, preencherão boletim semanal em que se comprove a respectiva assiduidade e efetiva prestação de serviço. (Vide Decreto nº 1.867, de 1996)

 

Neste sentido, bem como evocando o preceito constitucional da autonomia universitária, aliado ao trabalho de construção do PDI, sugerimos a normatização, através de Resolução do CONSUNI, do trabalho externo, assim resolveremos a situação de servidores que se ausentam de sua unidade laboral para reuniões em vários outros órgãos e entidades, e em razão de seus cargos ou natureza do trabalho. E também atender às experiências bem-sucedidas de trabalho à distância que não impactaram negativamente a qualidade das atividades de ensino, pesquisa, extensão e gestão da UFRJ.