Por Quintino Gomes Freire -13 de fevereiro de 2022

O imóvel, na esquina da Riachuelo com a Inválidos, é tombado desde 1938 e tem grande relevância histórica. De mãos atadas, o Iphan ingressou há anos com uma ação civil pública contra os donos, até hoje sem solução.

O Solar do Visconde de São Lourenço, no Centro, bem na esquina da Riachuelo com a Rua dos Inválidos, é um prédio em estilo colonial português, com três pavimentos, cuja construção foi iniciada no Século XVIII, e que é tombado pelo Iphan, órgão federal de patrimônio. O imóvel, um dos últimos da época colonial na região, se assemelhava muito ao Paço Imperial, mas, depois de anos utilizado como colégio e depois como casa de cômodos, acabou incendiado em 1990 e nunca restaurado.

Segundo especialistas, porém, suas paredes que ainda estão de pé possibilitam uma reconstrução sem grandes dificuldades, pois é de arquitetura reta e simples. Além disso é bem grande e ocupa boa parte de um quarteirão. Vem sendo utilizado de forma possivelmente irregular como um estacionamento, e é apelidado de farelo, porque os carros lá parados ficam cobertos do pó das ruínas.

Neste domingo, porém, moradores do entorno denunciaram que começou uma obra de demolição interna de uma de suas históricas e grossíssimas paredes de pedra, e também de trechos de sua fachada. Não há placa de obras no local. Nenhuma obra pode ser feita na fachada ou estrutura e volumetria de um imóvel tombado sem licenciamento. E este é tombado desde 1938.

A situação foi denunciada por Marconi Andrade, defensor do patrimônio histórico, no grupo SOS Patrimônio, em redes sociais: “o solar do Visconde de São Lourenço na rua do Riachuelo RJ, é tombado pelo IPHAN, e muito me estranha em pleno domingo uma pessoa demolindo os beirais da fachada principal”.

O seu primeiro proprietário foi Antônio da Cunha, oficial das ordenanças, que o vendeu para o célebre Francisco Targine, Visconde de São Lourenço, conselheiro de Dom João VI, o qual realizou uma grande reforma, e adicionou mais um andar. Foi aí que ficou parecido com o Paço Imperial.

Antes de um incêndio em 1990, esta era a cara do bonito Solar, hoje alvo de obra e ocupação irregulares

Após a morte do Visconde sediou o Colégio Marinho, entrando em declínio no Século XX, quando foi transformado em casa de habitação coletiva com lojas no térreo: havia barbeiros, bilhares.

Fontes do mercado imobiliário dizem que seus donos – uma família de Portugal – ofertam-no no mercado pelo valor de 5 milhões de reais, que, segundo corretores, seria um valor completamente absurdo. O imóvel necessita de muitas obras, tantas que foi cogitado no passado pela Prefeitura adquiri-lo em parceria com o Iphan para transforma-lo num Instituto de Arqueologia fluminense. O órgão federal teria também a prerrogativa de realizar as obras necessárias e depois cobrar na justiça de seus proprietários o valor gasto. E, por fim, se não tiverem como pagar, o imóvel vai a leilão – já com a obra feita – para pagar a dívida. O imóvel, segundo fontes, também teria dívidas de impostos.

O Iphan entrou com uma Ação Civil Pública contra seus proprietários anos atrás. Como quase tudo no judiciário que diz respeito à cultura, está lá mofando, sabe-se lá ate quando. Na verdade, sabemos. Até o prédio tombar de vez.

Segundo informações obtidas junto ao IPHAN-RJ, o imóvel histórico teria sido “destombado” por ordem de Brasília, no mandato do presidente anterior. Durma-se com mais este ato de desapreço à cultura nacional.

 

 

 

Representantes de coletivos literários participarão de curso para a elaboração de políticas públicas para a área. Curso terá duração de quatro meses e os representantes dos coletivos participantes receberão bolsa

Caroline Oliveira e Leonardo Couto/Brasil de Fato. 15 de Fevereiro de 2022

O coletivo deve preencher um formulário e entregá-lo até 18 de fevereiro – Divulgação/Periferia Brasileira de Letras

A Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) lançou o projeto Periferia Brasileira de Letras (PBL) que tem como objetivo estimular, por meio de coletivos literários em favelas e periferias de nove capitais, a elaboração e reivindicação de políticas públicas no campo da leitura para os territórios. Para participar do projeto é necessário passar por um processo seletivo. 

Os selecionados participarão do curso Promoção da Literatura em Periferias: curso de territorialização de políticas públicas saudáveis, composto por encontros virtuais em três etapas. A primeira é um curso para a rede ampliar a participação na construção de políticas públicas acerca do tema. A segunda envolve a produção de um documentário sobre a experiência dos coletivos e a diversidade literária brasileira. Por último, a criação de um fórum e uma agenda coletiva para articulação política e cultural da Rede PBL. 

O curso terá duração de quatro meses e os representantes dos coletivos participantes receberão uma bolsa de estudos mensal no valor de R$ 1 mil. As inscrições são gratuitas, bem como o curso. 

Apenas um representante do coletivo poderá participar do processo de seleção, na pessoa física, com conta corrente em banco ativa. Para fazer a inscrição, o coletivo precisa ter pelo menos um ano de atuação na área de leitura, livro e literatura, um portfólio com imagens publicadas nas redes sociais de eventos realizados ou publicações de atividades regulares e atuar em favelas ou periferias nas regiões metropolitanas de Porto Alegre, Brasília, Natal, Recife, Salvador, Fortaleza, São Paulo, Belo Horizonte ou Rio de Janeiro.  

O coletivo também deve preencher um formulário e entregá-lo até 18 de fevereiro.  

“Esses coletivos literários terão seus representantes com direito a uma bolsa durante o período de quatro meses, que é o tempo dessa formação, e depois terão o nosso acompanhamento de interlocução com o poder público, para a busca dessa articulação para polícias públicas que cheguem aos territórios periféricos”, afirma Felipe Eugênio, membro da Cooperação Social da Presidência da Fiocruz e um dos idealizadores do projeto PBL 

“Estamos falando de saraus poéticos, de bibliotecas comunitárias, mutirões de cartoneiras, residências literárias, estamos falando também das múltiplas experiências com o Slam e da força do teatro comunitário, além de outras possibilidades que estão abarcadas nesse conceito ampliado de literatura.” 

Para fazer a inscrição e saber mais, acesse o site da PBL.

Edição: Vivian Virissimo

 

 

Neste ano de 2022 as mulheres estarão à frente das ações para varrer do cenário político Jair Bolsonaro e tudo o que ele representa. E já começa com a organização do Dia Internacional das Mulheres, 8 de março, as mobilizações que culminarão com a Marcha das Margaridas, em agosto de 2023.

“Pela vida das mulheres, Bolsonaro nunca mais! Por um Brasil sem machismo, sem racismo e sem Fome!” é o lema do 8 de março/2022. Sob esse lema as mulheres e organizações feministas engajadas na Campanha Nacional Fora Bolsonaro e a Marcha Mundial das Mulheres (movimento feminista internacional) vêm trabalhando na construção das mobilizações.  

Inscreva-se!

“Uma grande mobilização vem sendo construída para ocupar redes e ruas no Dia Internacional de Luta das Mulheres! Vamos juntas!”, conclama o movimento feminista em sua página no Facebook. Uma Plenária Nacional (virtual) de Mulheres para organizar o 8 de março ocorrerá dia 21, segunda-feira, às 18h30. Para participar, é necessário se inscrever. O formulário para inscrição já está disponível: https://forms.gle/JKc7m1jtLdhwLeFNA

Marcha das Margaridas

As mulheres da cidade, do campo e das florestas já iniciaram a construção da 7ª edição da Marcha das Margaridas, que está prevista para ser realizada em agosto de 2023. Entre os dias 8 e 9 de fevereiro, na sede da Contag (Confederação Nacional dos Trabalhadores Rurais Agricultores e Agricultoras familiares) ocorreu a segunda reunião preparatória desta que é a maior ação protagonizada por mulheres na América Latina. 

Para esse encontro, as mulheres optaram pela modalidade presencial, seguindo todos os protocolos de segurança e com a testagem de todas as participantes a partir de uma parceria com a Fiocruz. Dessa reunião foi decidido que as mulheres trabalhadoras que constroem a Marcha das Margaridas, vão seguir em luta para derrotar o projeto fascista hoje representado por Jair Bolsonaro.

“Discutimos bastante sobre as eleições. Nós, mulheres, precisamos incidir fortemente no processo eleitoral com todas as nossas forças. O nosso objetivo é que as reflexões presentes na Plataforma Política da Marcha das Margaridas estejam presentes nos programas de governo das candidatas e candidatos, e que possamos eleger candidatas(as) do campo popular e ampliar a representação das mulheres nos espaços de poder”, ressaltou a secretária de Mulheres da Contag e coordenadora geral da Marcha das Margaridas.

O lançamento nacional da próxima Marcha das Margaridas será em agosto de 2022, um ano antes da realização. Além disso, ao longo de 2022, a partir de 8 de março, serão realizadas chamadas da 7ª Marcha das Margaridas em todos os eventos e ações promovidas pelo Movimento Sindical de Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais, bem como nas atividades realizadas pelos movimentos sociais e organizações parceiras.

Essa mobilização almeja um projeto que garanta não só a retomada de políticas públicas voltadas para as mulheres do campo, da floresta e da cidade, a reconstrução dos direitos sociais, a retomada da economia, a geração de emprego e o combate à miséria. 

Para Mazé Morais, iniciar o processo de construção da Marcha das Margaridas ainda este ano é importante pela força de mobilização que a Marcha apresenta. 

“Após um período de quase dois anos dentro de casa, sem acesso à internet, em um cenário de desmobilização, estimular a Marcha é uma maneira potente de acordar a mulherada pra luta porque ela acende a chama da esperança das Margaridas que estão nos seus territórios. Iremos construir uma Marcha forte, resistente, como uma frente ampla contra esse retrocesso político que vivemos dia a dia.”

Informações site da Contag

 

 

Economistas afirmam que, durante a campanha, presidente e ministro terão que explicar desemprego e inflação

Tiago Pereira/ Rede Brasil Atual| 13 de Fevereiro de 2022

O presidente Jair Bolsonaro e o ministro da Economia, Paulo Guedes, durante cerimônia alusiva à marca de 100 milhões de poupanças sociais digitais Caixa.

Paulo Guedes chegou ao governo com status de “superministro”. Hoje, o comandante da Economia parece ter jogado a toalha. Com a aproximação da eleições, as ditas “reformas” pretendidas pela equipe econômica têm cada vez menos chance de passar, assim como as tentativas de privatização. Nesse sentido, ganha o país, já que tratam-se de propostas contrárias aos interesses da população. Por outro lado, o “Posto Ipiranga” de Bolsonaro tem pouco a expor na vitrine durante a campanha. E muito a esconder.

Para desgosto dos seus apoiadores liberais, foi com Paulo Guedes que o teto de gastos virou praticamente uma peça de ficção. Para burlar o arrocho fiscal defendido por eles mesmos, também foi preciso dar uma espécie de calote nos precatórios. Ainda assim, o país vive uma “epidemia” de desemprego e precarização do trabalho. Além disso, a inflação de mais de dois dígitos não dá sinais de recuo. Como consequência, a taxa básica de juros explodiu, complicando ainda mais a vida das famílias e das empresas endividadas.

O resultado é que oito em cada 10 brasileiros reprovam a atuação de Bolsonaro no combate à inflação, de acordo com recente pesquisa Genial/Quaest. A maioria também desaprova o “jeito” que o presidente lida com a geração de emprego. E não há sinais que apontem para a melhora do quadro econômico que seja capaz de suavizar esse desgaste.

Pelo contrário, o Fundo Monetário Internacional (FMI) projeta crescimento de 0,3% para o Brasil em 2022, a menor taxa entre 30 países desenvolvidos e em desenvolvimento. E especialistas ouvidos pela RBA também não acreditam em qualquer possibilidade de reversão dessas tendências no curto prazo.

Ilusão e realidade

Para o professor do Departamento de Economia da Universidade de Brasília (UnB) José Luis Oreiro, “vamos continuar com desemprego alto, inflação alta e economia estagnada”. O economista André Roncaglia, professor da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), vai na mesma direção. “Temos uma combinação perversa de indicadores que, de fato, sinalizam o buraco que a economia brasileira se encontra.” E eles não poupam críticas a Guedes.

“Com a ruptura do teto de gastos pelo suposto ministro liberal, a Faria Lima, o pessoal do mercado financeiro, ficou sem uma referência. É uma desilusão que começou a aflorar ainda em 2020, logo no início da pandemia. E veio se acirrando”, diz Roncaglia.

“A concepção do governo era liberal. Agora, a sociedade brasileira não é liberal. Se você perguntar o que o povo brasileiro espera do governo, vão dizer que querem saúde, educação, transporte público, uma vida digna etc. No fundo, o perfil do eleitor mediano brasileiro é um perfil que quer mais Estado na economia, e não menos”, critica Oreiro.

Ele afirma que Paulo Guedes sofre de uma “deformação ideológica” e tem uma formação intelectual atrasada, ao ainda apostar nos preceitos liberais defendidos pela Escola de Chicago durante a década de 1970, que não vigoram mais “em nenhum lugar do mundo, diga-se de passagem”. “Ele chegou com um conjunto de diagnósticos para a economia brasileira que estava essencialmente errado”.

Para Roncaglia, o ministro da Economia foi “inepto” e “incompetente” politicamente. Isso porque contava a seu favor com “o Congresso mais conservador da história”, majoritariamente simpático à sua agenda liberal “Ele tinha a faca e o queijo na mão”, disse o professor. Ele destacou que Guedes “jogou a toalha” quando disse recentemente ao jornal O Estado de S.Paulo que “faltou apoio para a agenda liberal”.

Inflação e juros

Ambos destacam que a aceleração dos preços vem sendo causada principalmente por fatores externos, relacionados à pandemia. Nos Estados Unidos, por exemplo, O Consumer Price Index (CPI) – principal índice de inflação ao consumidor – chegou a 7,5% nos últimos 12 meses. A zona do euro também fechou 2021 com o recorde de 5% de inflação. A diferença, contudo, é a política monetária que foi adotada.

Por aqui, o Banco Central optou por elevar drasticamente a taxa Selic, saltando de 2% em meados do ano passado para os atuais 10,75% ao ano. Enquanto Federal Reserve (FED) e o Banco Central Europeu têm mantido as taxas juros nos mais baixos níveis.

Roncaglia explica que essa subida acelerada dos juros acaba sacrificando a produção e o emprego. Com as dívidas mais caras, sobra para os trabalhadores, já que as empresas preferem demitir, alegando corte de custos, ampliando o desemprego. Oreiro também afirma que a alta dos juros não vai ter efeito direto sobre a inflação, o que vai acabar colocando “mais lenha na recessão”.

Ainda que o Banco Central tenha se tornado independente, foi Paulo Guedes quem escolheu Roberto Campos Neto. Então, o descontrole inflacionário e a resposta equivocada com a subida dos juros acaba também respingando na equipe econômica do governo. Além disso os economistas também apontam para o “custo Bolsonaro”.

Falta investimento

O negacionismo durante a pandemia, a política ambiental “absurda”, com recorde de desmatamentos, além dos recorrentes ataques às instituições democráticas pelo presidente acabam afugentando os investidores estrangeiros. Sem a entrada desses capitais externos, o real se desvaloriza, o que tem impacto direto na inflação.

“Isso tudo forma um cenário que faz com que os investidores olhem para o Brasil como algo a fugir”, afirma o Roncaglia. “Esse ‘custo Bolsonaro’ fez com que o dólar, que estava em R$ 4,10 em 2022, passasse para R$ 5,80 recentemente”, acrescenta Oreiro.

Outro fator que contribui primordialmente para o atual cenário de estagnação é o retração no investimento público. Em 2022, o Orçamento Federal aprovado pelo Congresso prevê apenas R$ 44 bilhões para outras de infraestrutura e outros investimentos. É o menor patamar de toda a história recente. A saída, de acordo com os especialistas, passa necessariamente pela revogação do teto de gastos. Mas não apenas.

Durante o governo Bolsonaro, parte significativa das verbas federais foram capturadas pelo Centrão, por meio das emendas de relator. “É isso que a gente está vendo com o orçamento secreto, com emendas que ninguém sabe para onde vão”, critica Roncaglia.

“Do Temer para frente, se olhar as emendas e o investimentos, você vê que enquanto as emendas parlamentares sobem, o investimento público cai. Isso não é só efeito do teto de gastos. Mas da disfuncionalidade do sistema político brasileiro nesse período”, aponta Oreiro. Ele critica Guedes e sua equipe, que acreditavam que o espaço deixado pela retração do do Estado nos investimentos seria preenchido pelo capital privado, outra ideia considerada “ultrapassada”.

OCDE como miragem

No fim de janeiro Guedes comemorou a aprovação prévia do Brasil para os processos de adesão à Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). Os economistas, no entanto, não consideram esse um feito relevante. Pelo contrário. Ambos afirmam que uma eventual entrada do país no “Clube dos Ricos” restringiria ainda mais os instrumentos de política econômica.

Por exemplo, o país teria de aceitar a participação de empresas multinacionais nos programas de compras governamentais, tendo que abrir mão desse importante instrumento para incentivar determinas áreas e setores da economia. Além disso, teria ainda de fazer adequações legislativas de proteção ambiental e de combate à corrupção, o que não parecem prioridades do atual governo.

“Para os liberais, isso soa a melhor coisa possível. Desde uma família rica que quer ter offshore com facilidade, a fundos de investimentos que querem entrar e sair rapidamente, sacrificando a disciplina sistêmica de um projeto de desenvolvimento. Isso já é repudiado inclusive pelo FMI”, explica Roncaglia. “O Brasil vai perder autonomia em política cambial e monetária com a entrada na OCDE. E no final das contas, não temos nenhum benefício. A OCDE não tem recursos para investir no Brasil. É só um selo”, disse Oreiro.

 

 

Medida é ataque ao meio ambiente e facilita trabalho escravo, diz Movimento Pela Soberania Popular na Mineração

Paulo Motoryn/Brasil de Fato | Brasília (DF) | 14 de Fevereiro de 2022

Decreto foi publicado no Diário Oficial da União nesta segunda-feira (14) – EBC/Flickr

Um decreto assinado pelo presidente Jair Bolsonaro (PL) que determina o estímulo à “mineração artesanal” na Amazônia Legal representa um ataque ao meio ambiente e deve aprofundar as condições análogas à escravidão vivenciadas por garimpeiros na região. A constatação é de entidades e movimentos populares que atuam no tema da mineração, que criticam ainda o lobby de empresários junto ao governo federal.

Publicada no Diário Oficial da União (DOU), nesta segunda-feira (14), a medida explica que a “mineração artesanal e em pequena escala” representa a “extração de substâncias minerais garimpáveis”.

O decreto também cria a Comissão Interministerial para o Desenvolvimento da Mineração Artesanal e em Pequena Escala (Comape), composta por representantes do próprio governo e sob coordenação do Ministério de Minas e Energia. Clique aqui e leia a íntegra do documento.

Cristina, integrante da coordenação nacional do Movimento Pela Soberania Popular na Mineração (MAM) e membro do Coletivo Baixo Amazonas/Tapajós.

Segundo ela, “o decreto atende apenas os interesses do atual governo e, em particular, dos empresários que estão financiando o garimpo ilegal aqui na região amazônica”.

Moradora da região, a integrante do MAM questionou o interesse por trás da prioridade estabelecida à atividade justamente na Amazônia: “No artigo 10, o decreto prioriza a exploração mineral apenas na região amazônica. Ou seja, na Amazônia Legal. Qual é o interesse do governo em relação isso? Simplesmente, oficializar a exploração que já está acontecendo ilegalmente”.

Isabel Cristina aponta ainda que a medida serve também para “oficializar o trabalho escravo e a exploração do trabalho dessas pessoas, que estão necessitadas, e que veem o garimpo como uma alternativa de sobrevivência”.

Sem incentivos para permanecer na agricultura, integrantes pobres de comunidades ribeirinhas vêm abandonando o roçado para se dedicar ao garimpo, que oferece alta e rápida lucratividade, enquanto produz graves danos socioambientais e acentua a histórica desigualdade social na região.

Na visão do MAM, o decreto exclui as comunidades e populações afetadas pelo garimpo e pela mineração ao determinar que “poderão ser convidados representantes de entidades públicas ou de outras instituições para participar das reuniões, mas sem direito a voto nas decisões”.

“Isso serve para fragilizar ainda mais as lutas comunitárias, as lutas dos territórios, ou seja, colocando os indígenas contra os próprios indígenas, os quilombolas contra os próprios quilombolas e as comunidades tradicionais contra as próprias comunidades tradicionais. É um sinal de alerta muito grande. Tempos que aprender e, principalmente, fortalecer as organizações populares de base para enfrentar a organicidade do agrominério”, afirma.

O garimpo na Amazônia

A explosão da mineração ilegal na bacia do Rio Madeira, na Amazônia, ganhou atenção no ano passado e foi detectada em estatísticas por um levantamento do Mapbiomas. Segundo a organização, a área atingida mais do que dobrou entre os anos de 2007 e 2020, saltando de 37,5 para 96,6 quilômetros quadrados, o equivalente a todo o perímetro urbano de São Bernardo do Campo, cidade na região metropolitana de São Paulo. 

 “A conservação da Amazônia é um elemento central quando falamos sobre os esforços globais para conter a crise climática e da biodiversidade. A extração do ouro causa sérios impactos no ecossistema e certamente está aprofundando a crise ecológica do bioma”, afirma Carolina Marçal, porta-voz da campanha Amazônia do Greenpeace, em reportagem publicada pelo Brasil de Fato em dezembro.

Edição: Rebeca Cavalcante

 

 

 

No 2º maior colégio eleitoral do país, terra de Paulo Freire, Rachel de Queiróz e João Cabral de Melo Neto, entre outros, Bolsonaro tem 13% das intenções de voto, contra 61% dos que pretendem votar em Lula

Publicado: 14 Fevereiro, 2022 – Escrito por: Marize Muniz

ALEX CAPUANO/CUT

Líder do “gabinete do ódio” que se instalou no Palácio do Planalto desde que tomou posse, em 2019, o presidente Jair Bolsonaro (PL) dissemina a intolerância contra os nordestinos, com ofensas racistas, preconceituosas e xenofóbicas e ignora a contribuição de milhares de brasileiros da região ao país.

A resposta da população do segundo maior colégio eleitoral do país é rejeição e desejo de mudanças urgentes no comando do Brasil. Nos nove estados do Nordeste, Bolsonaro tem apenas 13%, que ironia do destino, das intenções de voto, contra 61% dos que pretendem votar no ex-presidente Lula.

Mas, o ódio ou a ignorância brutal de Bolsonaro e sua trupe se sobrepõem até aos desejos de permanência no poder. Enquanto vomitam suas agressões, desconhecem que os nordestinos têm orgulho da sua região e dos conterrâneos ilustres e também dos desconhecidos que muito fizeram para o desenvolvimento do país e em áreas como economia, educação, cultura, arte e tantas outras.

Entre os ilustres que saíram do Nordeste para o mundo estão nomes como o do educador pernambucano Paulo Freire, escritores como Jorge Amado (BA), Rachel de Queiróz (CE), João Cabral de Melo Neto (PE), Lêdo Ivo (AL), João Ubaldo Ribeiro (BA), Josué Montelo (MA) e Torquato Neto (PI), além de artistas como Catulo da Paixão Cearense, que na verdade, era maranhense, o cantor e compositor João do Vale (MA) e Ariano Suassuna (PB), dramaturgo, romancista, ensaísta, poeta, professor, advogado e palestrante brasileiro, entre tantos outros.

No 2º maior colégio eleitoral do país, popularidade de Bolsonaro desce a ladeira

A resposta do povo nordestino aos desaforos do presidente é a rejeição silenciosa e fatal para quem quer se releger. Mais da metade dos nordestinos reprova Bolsonaro, o xenófobo.

O termo xenofobia, ao contrário do que muitos pensam, não se refere apenas a aversão ou rejeição a pessoas ou coisas estrangeiras, também pode ser usado por quem tem preconceito contra pessoas que migram de um estado para o outro dentro do Brasil.

Em suas lives semanais ou em seus passeios pelo país, Bolsonaro já insultou a população dos nove estados do Nordeste usando termos como pau de arara (transporte precário que trazia nordestinos que migravam para o Sudeste), cabeçudo ou cabeça chata e todo tipo de estereótipos construídos ao longo dos anos em torno dos migrantes da região, como o de um ser humano inferior, ignorante, feio e sem capacidade de exercer atividades laborais intelectualizadas.

De acordo com pesquisa realizada pela Escola de Artes, Ciências e Humanidades (EACH) da Universidade de São Paulo (USP), até a  palavra “nordestino” está impregnada de preconceito e de construções sociais que levam alguns brasileiros de outros estados a enxergarem os migrantes do Nordeste como “seres inferiores” – crença totalmente infundada e que remete aos piores episódios de perseguição da história, tendo por base a ideologia eugenista de que supostamente a biologia poderia selecionar os “melhores” membros da raça humana, como o nazismo, regime que matou seis milhões de judeus na Segunda Guerra Mundial.

Bolsonaro deveria se preocupar com isso, pois em ano de eleição, e com sua pretensão de se reeleger, a baixa popularidade entre os eleitores do segundo maior colégio eleitoral do país – 40.654.818 (27,01% do total), segundo o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) -, pode ser um enorme empecilho.

61% dos nordestinos reprovam Bolsonaro

De acordo com a pesquisa Genial/Quaest divulgada nessa quarta-feira (9), 61% dos nordestinos reprovam o trabalho de Bolsonaro como presidente. O mesmo percentual (61%) diz que vai votar no ex-presidente Lula, que tem 45% das intenções de voto em todo o país e pode vencer no 1º turno.

“As formas pejorativas que Bolsonaro continua utilizando para se referir aos nordestinos só demonstra o preconceito e o descaso histórico das elites com o desenvolvimento econômico e social da região”, diz o Wil Pereira, presidente da CUT Ceará.

Segundo ele, Bolsonaro dificulta o repasse de recursos da União para os nove estados da Região, “ataca as nossas principais lideranças e ainda acha engraçado debochar do nosso povo”. 

“Não vamos mais aceitar essa situação, em outubro daremos uma boa resposta nas urnas”, conclui Wil.

O secretário-ajunto de Comunicação da CUT, o pernambucano, Admirson Medeiros Ferro Junior, mais conhecido como Greg, concorda com a avaliação de Will. A resposta a Bolsonaro será dada na eleição de outubro deste ano.

“O nordestino já deu a sua resposta aos comentários preconceituosos e fascistas de Bolsonaro na eleição passada. O percentual de votos nele foi pífio por aqui, mas ele não aprendeu a lição e continua sem reconhecer o valor daqueles que construíram São Paulo, Brasília e o Brasil. Prefere insultar. A resposta este ano será mais dura ainda”, avalia Greg.

“Vamos responder nas urnas aos constantes ataques que o povo nordestino vem sofrendo. Vamos eleger mais uma vez um nordestino, o primeiro a dar visibilidade a região, a respeitar o povo, investir pesado para desenvolvimento local, gerando emprego e renda. É por tudo isso que o Nordeste vai votar em Lula”, conclui o dirigente CUTista.  

“No Nordeste até Bolsonaro é 13, número do PT, como o povo brinca se referindo ao resultado da última pesquisa Genial/Quaest, que deu Lula com 61% das intenções de voto na região e Bolsonaro com apenas 13%”, conclui Greg.

 

 

100 anos depois, o acontecimento que marcou o modernismo no Brasil tem muito a ensinar, até nas inconsistências

Nara Lacerda/Brasil de Fato | São Paulo (SP) | 13 de Fevereiro de 2022

Charge do artista Belmonte publicada em 1923 na revista A Cigarra; modernismo foi marcado por críticas da imprensa e da sociedade no Brasil – Arquivo Público do Estado de São Paulo

Em meio a turbulências sociais e políticas e dividido entre o conservadorismo e os apelos da modernidade, o Brasil que abrigou a Semana de Arte Moderna de 1922 tem muitas semelhanças com o país de agora. Vivendo os últimos respiros, a Primeira República falhava em colocar a democracia em prática e matinha de pé estruturas sociais que reforçavam desigualdades históricas.

Foi nesse contexto que um grupo de intelectuais e artistas de São Paulo promoveu o evento cultural histórico. Entre os dias 13 e 18 de fevereiro, o Teatro Municipal da capital foi ocupado por uma agenda de música, poesia e artes plásticas que desafiava os padrões, buscava uma identidade genuinamente nacional, escandalizou a sociedade e mudou a arte.

“Contra a realidade social, vestida e opressora”

O modernismo chegou ao Brasil pelas mãos de filhos e filhas de famílias abastadas, o que os garantia acesso à educação, viagens e informações sobre o que estava acontecendo no mundo. Fortemente influenciado pelas vanguardas europeias, se juntava ao coro por mudanças, mas vinha das elites. A própria Semana de Arte Moderna de 1922 foi financiada pela aristocracia cafeeira de São Paulo.

Durante boa parte da Primeira República, o interior do país foi deixado de lado e as principais cidades estavam no litoral. No ambiente urbano, a industrialização engatinhava sem estruturas de trabalho justas e favelas e cortiços se multiplicavam. No campo, o coronelismo definia a realidade e, mesmo após a abolição da escravidão, a dinâmica mudou pouco.

Trabalhadores da fábrica Santa Catharina, na década de 1920; condições eram precárias e até crianças compunham a mão de obra / Wiki Commons

O período foi muito fértil para o surgimento de movimentos sociais, populares e operários e para uma nova visão crítica sobre a realidade da população. Entre 1910 e 1920, cerca de 400 greves foram realizadas. Foi fundada a Federação Brasileira pelo Progresso Feminino e, em 1922, foi criado o Partido Comunista.

Figuras icônicas populares como Antônio Conselheiro e João Cândido já eram conhecidas. A geração dos modernistas teve contato com os horrores da Guerra de Canudos e com os desdobramentos da Revolta da Chibata ainda jovem.

Ao mesmo tempo em que filhos e filhas da burguesia tinham cada vez mais acesso a educação no exterior e aos avanços tecnológicos, uma parte dessa juventude alinhava essas possibilidades a um interesse maior pelo Brasil e por uma identidade nacional.

“Só me interessa o que não é meu”

O grupo que realizou a Semana de Arte Moderna de 22 fazia parte dessa realidade. Entre os nomes por trás do evento estavam o poeta e historiador Mário de Andrade, o escritor, Oswald de Andrade, a artista plástica, Anita Malfatti e o escritor e poeta Menotti Del Picchia.

Nas expressões brasileiras, buscavam elementos para construir uma identidade cultural que conseguisse abraçar a diversidade, a mistura de raças e as manifestações populares. Ao abrir o evento, o escritor Graça Aranha resumiu esse sentimento.

“Uma vibração íntima e intensa anima o artista neste mundo paradoxal que é o universo brasileiro, e ela não se pode desenvolver nas formas rijas do arcadismo, que é o sarcófago do passado. Também o academismo é a morte pelo frio da arte e da literatura. (…) O que hoje fixamos não é a renascença de uma arte que não existe. É o próprio comovente nascimento da arte no Brasil.”

Grupo dos cinco: Anita Malfatti, Mário de Andrade, Menotti del Picchia, Oswald de Andrade e Tarsila do Amaral se consolidaram como símbolos do modernismo no Brasil / Wiki Commons

Vaiadas por um público escandalizado, as atrações e obras foram objeto de críticas na imprensa. A semana em si não foi assunto por muito tempo na época. O impacto histórico passou a ser construído posteriormente, a partir da percepção dos frutos e do legado para o movimento modernista no Brasil.

“Fizemos foi o Carnaval”

A veia crítica foi a espinha dorsal da Semana de Arte Moderna de 1922, concebida como uma resposta às comemorações oficiais do bicentenário da independência no mesmo ano. A tentativa de ruptura com as estéticas do passado e de construção de uma identidade genuinamente nacional nas artes foi condenada pelos conservadores da época.

Posteriormente, e até hoje, o movimento foi questionado pela falta de envolvimento com o Brasil real. Ironicamente, a busca não teria se aprofundado no objeto que procurava e a leitura ainda era a da burguesia.

Vinte anos depois da Semana, em uma conferência sobre o modernismo, Mário de Andrade criticou o movimento do qual fez parte. Afirmou que sua geração foi aristocrática, não captou realmente a realidade brasileira e fez pouco para muda-la.

Mário de Andrade (primeiro à esquerda, no alto) em foto de 1922. Na imagem aparecem também Rubens Borba de Moraes, os irmãos Tácito e Guilherme de Almeida, Baby de Almeida e Yan de Almeida Prado / Wiki Commons

Para o poeta, faltou no discurso “maior angústia do tempo, maior revolta contra a vida como está”. Em vez disso, disse ele, “fomos quebrar vidros de janelas, discutir modas de passeio, ou cutucar os valores eternos, ou saciar nossa curiosidade na cultura”.

É uma visão melancólica, mas a proposta era ser realista. Mário dizia que os modernistas não deveriam ser vistos como exemplo e que o movimento não ajudou “no amelhoramento político do homem”, usando as palavras dele.

Em um apelo final, indicou o caminho para superar o distanciamento, “Se de alguma coisa pode valer o meu desgosto: façam ou se recusem a fazer arte, ciências, ofícios. Mas não fiquem apenas nisto, espiões da vida, camuflados em técnicos da vida, espiando a multidão passar. Marchem com as multidões”.

Os títulos internos desta matéria são trechos do Manifesto Antropófago, tratado modernista escrito por Oswald de Andrade.

Edição: José Eduardo Bernardes

 

 

Estratégia do governo federal para reverter a preferência do eleitorado do Nordeste por Lula não surtiu efeito

Bolsonaro viajou ao Nordeste para inaugurar obra de transposição do Rio São Francisco, iniciada por Lula – Fotos: Divulgação | Montagem: Brasil de Fato

A primeira pesquisa sobre a corrida eleitoral pela Presidência da República feita pelo Ipespe (encomendada pela XP Investimentos) em fevereiro mostra estabilidade em relação ao levantamento feito na segunda quinzena de janeiro. Todas as oscilações de pré-candidatos ocorreram dentro da margem erro.

No principal cenário testado, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) perdeu um ponto, mas segue liderando com 43% das intenções de voto. Seu principal oponente, o presidente Jair Bolsonaro (PL), subiu um ponto e atingiu 25%. Clique aqui para ler a íntegra do levantamento.

O levantamento mostra que o Auxílio Brasil, uma das estratégias de Bolsonaro para reverter a preferência do eleitorado do Nordeste por Lula, não surtiu o efeito esperado pelo governo federal. O benefício começou a ser pago em 18 de janeiro e já chega a 18 milhões de contemplados, segundo o Executivo.

Na semana passada, Bolsonaro foi duramente criticado por falar em “pau de arara” para se referir a nordestinos durante live presidencial. Lula respondeu a declaração com uma provocação ao chefe do Executivo: “A transposição do São Francisco foi feita por um pernambucano, em pau de arara”.

O ex-juiz Sergio Moro (Podemos) e o ex-governador Ciro Gomes (PDT) continuam empatados com 8%. João Doria tem 3%, André Janones e Simone Tebet marcam 1%, enquanto Rodrigo Pacheco, Alessandro Vieira e Luiz Felipe D’Ávila ficam abaixo disso.

O levantamento aponta possibilidade de vitória de Lula no primeiro turno, já que a distância entre a soma de todos os outros candidatos (46%) e a pontuação de Lula (43%) é menor do que a margem de erro, que é de 3,2 pontos percentuais.

 
Pesquisas eleições 2022 – FEV
Infogram

No segundo cenário, sem Ciro Gomes na disputa, Lula, Bolsonaro, Doria, Simone Tebet, Rodrigo Pacheco e Alessandro Vieira ganham um ponto percentual cada. Nesse cenário, Lula supera a soma da intenção de voto nos demais candidatos por 1 ponto percentual, o que indica chances reais de vitória no primeiro turno.

No cenário de segundo turno entre Lula e Jair Bolsonaro, o ex-presidente continua à frente, com 13 pontos de distância. Nos demais cenários, Lula vence Doria por 36 pontos, Ciro por 27 e Moro por 20. Bolsonaro perde para todos: por 12 pontos para Ciro, 6 para Doria e 3 para Moro.

A pesquisa Ipespe foi encomendada pela XP Investimentos e divulgada em 11 de fevereiro de 2021. Foram feitas 1.000 entrevistas por telefone, nos dias 7, 8 e 9 de fevereiro. A margem de erro é de 3,2 pontos percentuais. O índice de confiança é de 95,5%. A pesquisa está registrada no TSE sob o protocolo BR-03828/2022.

Edição: Vivian Virissimo

Categoria está há três anos sem aumento salarial, mas governo Bolsonaro quer apenas reajustar valor de benefícios, que muitos nem usam, como o vale creche. Servidores podem entrar em greve em 9 de março

Publicado: 10 Fevereiro, 2022 – Escrito por: Rosely Rocha | Editado por: Marize Muni

Manifestação de servidores ( Arquivo) / MARCELLO CASAL JR / AGÊNCIA BRASIL

O desmonte do serviço público continua a passos largos no governo do presidente de Jair Bolsonaro (PL), que só autoriza consursos públicos, melhorias nos locais de trabalho, aumentos salariais e vantagens para os militares,  em sua maioria formada por bolsonaristas que vão trabalhar por sua reeleição, apesar da queda de popularidade e de índices de intenções de voto.  

A lei orçamentária de 2022, por exemplo, prevê R$ 1,7 bilhão para o reajuste de policiais e deixa de fora os demais servidores, que estão sem reajuste há três anos, inclusive o pessoal da saúde, que está há dois anos a frente do combate a pandemia.

O governo propôs substituir o aumento salarial pelo reajuste dos benefícios, como vale transporte e alimentação. A resposta dos servidores federais deverá ser uma greve, a partir do dia 9 de março.

“A categoria fará mobilizações neste mês, fóruns estaduais com os sindicatos que fazem parte da entidade nacional, para que eles organizem as assembleias nos locais de trabalho e no final de fevereiro definir o indicativo de greve para o 9 de março”, explica o secretário-geral da Confederação Nacional dos Servidores Públicos (Condsef), Sergio Ronaldo.

O dirigente defende um tratamento isonômico entre os servidores e reivindica um reajuste de 19,99%.

“A proposta do governo de reajustar apenas os benefícios, além de deixar os aposentados de fora, é uma afronta para quem vem se dedicando ao serviço público e não tem o seu valor reconhecido”, diz o dirigente.

Nós e as centrais sindicais e entidades do funcionalismo estamos com posição consolidada, não haverá brecha para uma negociata. O governo que resolva a confusão que ele criou.

– Sérgio Ronaldo

Orientações da CUT

Para o sucesso do movimento, a CUT orienta suas bases que definam em assembleias a adesão à greve, diz o secretário de Administração e Finanças da CUT Nacional, Ariovaldo de Camargo. Segundo ele, o descaso como o governo tem tratado os servidores vai garantir uma grande mobilização.

“Diante desse quadro é preciso enfrentar o governo e buscar a valorização da categoria com as ferramentas que temos: mobilizações e greves, para sensibilizar o parlamento a remanejar os recursos pela melhoria salarial dos servidores”, complementa Ariovaldo.

O dirigente da CUT ressalta que, além da falta de reajustes salariais e do descaso geral do governo Bolsonaro com relação ao serviço público, Bolsonaro, seus ministros e seguidores perseguem quem discorda da atuação do presidente.

“Além de nos três anos de governo Bolsonaro não ter nenhum reajuste salarial, houve um processo de perseguição e retaliação a alguns setores, como as universidades e outros que não se curvaram aos seus desmandos”, diz Ariovaldo de Camargo.

Os motivos para a greve

Os servidores públicos federais amargam três anos sem nenhum centavo a mais na remuneração, além da redução de pessoal em seus quadros funcionais. O último reajuste da categoria foi acordado no governo de Dilma Rousseff (PT), e foi executado em agosto de 2016 e janeiro de 2017.

Para tentar tapar o sol com a peneira, o governo Bolsonaro, diante do escândalo que é a proteção a componentes das Forças Armadas e polícias Federal e Militar, ofereceu aos demais servidores apenas o reajuste no valor dos benefícios, como auxílio alimentação, transporte e creche. Este último para quem tem filhos até seis anos e 11 meses.

“O vale creche é uma afronta por que sem concurso público a maioria dos servidores está prestes a se aposentar e não tem filhos com idade de frequentar uma creche. O governo sequer, ofereceu aumento na contrapartida do plano de saúde, que é de apenas 15%. De cada R$ 100 no valor do plano de saúde, o servidor paga R$ 85”, critica o secretário- Geral da Condsef.

Ele conta que o quadro do funcionalismo público quando da promulgação da Constituição de 1988 era de 712 mil servidores e hoje, 33 anos depois, não passa de 540 mil, sendo reduzido a cada ano por falta de concursos públicos, e vai piorar em breve com a aposentadoria de milhares.